quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

IMPACTO DE DIFERENTES DIETAS SOBRE O CORAÇÃO



ESTUDOS BUSCAM A IDENTIFICAÇÃO DE PADRÕES DE DIETAS RELACIONADOS COM UMA BOA SAÚDE CARDIOVASCULAR

A dieta é um componente chave a ser modificado para a redução do risco de doenças cardiovasculares. Resultados do estudo Seven Countries na década de 70 aumentaram o interesse científico em relação ao papel de fatores dietéticos, especialmente a quantidade de gorduras saturadas, sobre o risco de doença coronariana. Com o acúmulo de evidências sobre o tema modificou-se o foco, passando a valorizar também a qualidade das gorduras1.

Ao mesmo tempo em que se investiga o efeito de nutrientes e/ou alimentos específicos sobre a redução de risco cardiovascular, por exemplo, vitamina D, ômega-3, frutas, hortaliças, grãos integrais, os estudos epidemiológicos buscam também a identificação de padrões de dietas relacionados à saúde em geral1.

O INTERHEART, publicado em 2004, foi um estudo caso-controle conduzido em 52 países que investigou a relação entre infarto do miocárdio e tabagismo, história de hipertensão ou diabetes, razão cintura/quadril, padrões alimentares, atividade física, consumo de álcool, apolipoproteínas plasmáticas (Apo) e fatores psicossociais. Neste trabalho, o consumo regular de frutas e hortaliças associou-se com redução de 30% no risco de infarto9.

A Dieta Mediterrânea, descrita na década de 60 por Ancel Keys, é um dos padrões alimentares mais estudados. Caracteriza-se pelo consumo diário de azeite de oliva, frutas, hortaliças, grãos integrais e laticínios; consumo semanal de peixe e aves, batatas e leguminosas; consumo mensal de carne vermelha e consumo moderado de vinho tinto7.
 
A adesão à Dieta Mediterrânea parece ter efeito benéfico na redução do risco de mortalidade por todas as causas, de diabetes tipo 2 e de doenças cardiovasculares. Com relação à doença coronariana, os resultados do estudo Seven Countries (2004)3, com 25 anos de seguimento, assim como do Nurses' Health Study (2009)4 evidenciam o seu papel protetor.  Uma metanálise recente que incluiu 35 artigos demonstrou o papel da Dieta Mediterrânea na redução do risco de doença coronariana devido ao seu efeito benéfico na redução de fatores de risco, especialmente por levar à redução do peso e da prevalência de obesidade7.

A dieta DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension), que surgiu a partir de um estudo multicêntrico realizado por pesquisadores norteamericanos com apoio do National Heart, Lung, and Blood Institute (NHLBI)8, também apresenta bons resultados na redução de fatores de risco para doenças cardiovasculares. Sua composição é baseada em frutas, hortaliças, e laticínios desnatados e apresenta baixa quantidade de gordura total, gordura saturada e colesterol. Embora tenha sido desenvolvida inicialmente para a prevenção e controle da hipertensão, é recomendada atualmente como padrão alimentar para adultos de forma geral2.

Em estudo que investigou o impacto da dieta DASH sobre a doença coronariana, Chen et al. (2010)2 compararam três padrões de dietas: controle, frutas e hortaliças (FH) ou DASH. Comparada à dieta controle e à dieta FH, a dieta DASH reduziu o risco de doença coronariana em 10 anos, estimado pelo escore de Framingham, em 18% e 11%, respectivamente, sendo a mais eficaz.
 
Recentemente, Jenkins et al. (2011)6 compararam uma intervenção de aconselhamento nutricional com baixa quantidade de gordura saturada (controle) versus uma dieta baseada em um portfólio enfatizando a incorporação de fitoesteróis, proteína de soja, fibras solúveis e oleaginosas na alimentação (dieta portfólio), com seguimento de seis meses. Houve redução significativamente maior nas concentrações sanguíneas de LDL-colesterol dentre indivíduos que seguiram a dieta portfólio, mostrando que componentes dietéticos podem ter efeitos potencializados quando associados.

Assim, as evidências provenientes da literatura indicam que a adesão a padrões alimentares ricos em frutas, hortaliças e grãos integrais, e com gorduras adequadas quanto à qualidade, incluindo azeite, óleos vegetais e produtos feitos à base deste, como creme vegetal, podem oferecer redução do risco de doença coronariana. Tais dietas devem ser aliadas à atividade física regular, abandono do tabagismo e manutenção de um peso corporal saudável para a prevenção da maioria das doenças cardiovasculares5.

Referências: 

1. Bhupathiraju SN, Tucker KL. Coronary heart disease prevention: nutrients, foods, and dietary patterns. Clin Chim Acta 2011; 412(17-18): 1493-1514.

2. Chen ST, Maruthur NM, Appel LJ. The effect of dietary patterns on estimated coronary heart disease risk: results from the Dietary Approaches to Stop Hypertension (DASH) trial. Circ Cardiovasc Qual Outcomes 2010; 3(5): 484-489.

3. Fidanza F, Alberti A, et al. Mediterranean Adequacy Index: correlation with 25-year mortality from coronary heart disease in the Seven Countries Study. Nutr Metab Cardiovasc Dis 2004; 14(5): 254-258.

4. Fung TT, Rexrode KM, et al. Mediterranean diet and incidence of and mortality from coronary heart disease and stroke in women. Circulation 2009; 119(8): 1093-1100.

5. Hu FB, Willett WC. Optimal diets for prevention of coronary heart disease. JAMA 2002; 288(20): 2569-2578.

6. Jenkins DJ, Jones PJ, et al. Effect of a dietary portfolio of cholesterol-lowering foods given at 2 levels of intensity of dietary advice on serum lipids in hyperlipidemia: a randomized controlled trial. JAMA 2011; 306(8): 831-839.

7. Kastorini CM, Milionis HJ, et al. Mediterranean diet and coronary heart disease: is obesity a link? - A systematic review. Nutr Metab Cardiovasc Dis 2010; 20(7): 536-551.

8. Sacks FM, Obarzanek E, et al. Rationale and design of the Dietary Approaches to Stop Hypertension trial (DASH). A multicenter controlled-feeding study of dietary patterns to lower blood pressure. Ann Epidemiol 1995; 5(2): 108-118.

9. Yusuf S, Hawken S, et al. Effect of potentially modifiable risk factors associated with myocardial infarction in 52 countries (the INTERHEART study): case-control study. Lancet 2004; 364(9438): 937-952.

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