quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

ESTILO DE VIDA E URBANIZAÇÃO: IMPACTOS NA SAÚDE CARDIOVASCULAR



A GLOBALIZAÇÃO E A URBANIZAÇÃO PODEM EXERCER IMPACTO NEGATIVO NO AUMENTO DO RISCO PARA DOENÇAS CARDIOVASCULARES
As doenças cardiovasculares (DCV) são, atualmente, um grave problema de saúde pública, e representam a primeira causa de morte no país6, sendo que as doenças cerebrovasculares (DCBV), e as doenças isquêmicas do coração (DIC) totalizam mais de 60% dos óbitos por DCV8.

Diversos estudos analisaram a variação geográfica das DIC e verificaram que o processo de urbanização, as condições socioeconômicas da população e a mudança no estilo de vida são fatores determinantes no aumento do risco às DCV 2,3,4,9,10,17,16. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia, a urbanização parece promover um aumento na prevalência de alguns fatores de risco cardiovascular, com maior incidência destas patologias em aglomerados urbanos. Desta forma, o termo 'doenças da urbanização' é atribuído às condições crônicas e surgiu em função do crescente número de pessoas que migram para as áreas urbanas12. Dados referentes à urbanização mostram que, entre 1970 e 2000, houve aumento de 37% para 47% da população mundial em áreas urbanas, sendo que, em 2015, a população urbana superará a rural15.

Um estudo transversal, multicêntrico, avaliou a prevalência e os fatores de risco associados à doença arterial obstrutiva crônica (DAOP) de 1170 indivíduos maiores de 18 anos, em 72 centros urbanos, participantes do Projeto Corações do Brasil. O diagnóstico da DAOP baseou-se na medida do índice tornozelo-braquial (ITB) = 0,90. A prevalência de DAOP foi de 10,5% e estava associada à presença de diabetes, obesidade, acidente vascular cerebral (AVC) e DIC. Estes dados lançam um alerta à comunidade médica sobre a necessidade de rastreamento da DAOP na prática clínica. Verificou-se, também, que a simples adoção da medida do ITB como parte da avaliação dos pacientes de moderado a alto risco cardiovascular implicaria em substancial impacto sobre a detecção precoce dos portadores assintomáticos da doença5.

Estudo semelhante foi realizado por Sodjinou e col (2008)13 com 200 adultos residentes na área urbana de Benim/África, com o objetivo de avaliar os fatores de risco para as DCV associadas ao status sócio-econômico, à urbanização e ao estilo de vida. Avaliou-se o consumo alimentar (Recordatório 24 horas), o nível de atividade física, os parâmetros antropométricos (peso, altura e circunferência abdominal), os exames bioquímicos, além de informações sobre o estilo de vida (tabagismo e álcool). Entre os fatores de risco para DCV, os mais prevalentes foram a obesidade abdominal (32%), a hipertensão (23%) e o baixo valor HDL-colesterol (13%). Observou-se também que o maior risco à hipertensão era decorrente do tempo de exposição ao ambiente urbano.

Entre os fatores de estilo de vida, a falta de atividade física (sedentarismo) foi a mais fortemente associada ao risco de DCV. Concluiu-se, enfim, que as pessoas com maior tempo de exposição ao ambiente urbano são alvo prioritário para intervenções com o intuito de reduzir o risco às DCV13. A globalização e a urbanização podem exercer impacto negativo no aumento do risco às DCV, uma vez que cria barreiras ao comportamento alimentar saudável (estimula o consumo de alimentos fontes de sal, gorduras trans e saturadas e açúcar) e à prática de exercícios 1,7,11,14,16.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as cidades proporcionam grandes oportunidades para a prosperidade das famílias, porém, ao mesmo tempo, nota-se que a maioria dos indivíduos vive em condições que os expõe a muitos perigos extremos que afetam tanto a sua qualidade, quanto a expectativa de vida 16. Mais estudos científicos são necessários para avaliar o impacto do processo da urbanização e globalização sobre a saúde, bem como ações em conjunto entre profissionais da área da saúde, governos, universidades, meios de comunicação e organizações não governamentais com o intuito de orientar e conscientizar a população, em torno de questões ligadas à saúde e a urbanização.

Referências:

1. Capon AG. Health impacts of urban development: key considerations. New South Wales Public Health Bulletin, 2007, 18(9-10):155-156.
2. Das M , Pal S , Ghosh A . Rural urban differences of cardiovascular disease risk factors in adult Asian Indians. Am J Hum Biol. 2008;20(4):440-5.
3. Diez Roux AV, Green Franklin T, Alazraqui M, Spinelli H. Intraurban variations in adult mortality in a large Latin American city. J Urban Health. 2007;84(3):319-33.
4. Gatrell A, Lancaster G, Chapple A, Horsley, Smith M. Variations in use of tertiary cardiac services in part of North-West England. Health Place. 2002; 8 (3): 147-53.
5. Makdisse M. Prevalência e Fatores de Risco Associados à Doença Arterial Periférica no Projeto Corações do Brasil. Arq Brás Cardiol 2008; 91 (6): 402-4014.
6. Ministério da Saúde. [Acesso em 28 de março 2011]. Disponível em http://portal.saude.gov.br/portal/saude/visualizar_texto.cfm?idtxt=23615
7. Moore M, Gould P, Keary BS. Global urbanization andimpact on health. International Journal of Hygiene and Environmental Health, 2003, 206(4-5):269-278.
8. Oliveira G, Klein C, de Souza e Silva N. Mortalidade por doenças cardiovasculares em três estados do Brasil de 1980 a 2002. Rev Panam Salud Publica. 2006; 19 (2): 85-93.
9. Pesisse G, Medronho RA, Escosteguy CC. Espaço urbano e a mortalidade por doença isquêmica do coração em idosos no Rio de Janeiro. Arq. Bras. Cardiol. 2010, 94(4):463-471.
10. Philbin EF, McCullough PA, DiSalvo TG, Dec GW, Jenkins PL, Weaver WD. Socioeconomic status is an important determinant of the use of invasive procedures after acute myocardial infarction in New York State. Circulation. 2000; 102 (Suppl III): 107-15.
11. Rayner G et al. Trade liberalization and the diet transition: a public health response. Health Promotion International, 2006, 21(Suppl. 1):67-74.
12. Sociedade Brasileira de Cardiologia. Disponível em http://www.cardiol.br/ [Acesso em 26 de março 2011].
13. Sodjinou R, Agueh V, Fayomi B, Delisle H. Obesity and cardio-metabolic risk factors in urban adults of Benin: relationship with socio-economic status, urbanisation, and lifestyle patterns. BMC Public Health. 2008;8:84.
14. Thompson S. A planner's perspective on the health impacts of urban settings. New South Wales Public Health Bulletin, 2007, 18(9-10):157-160.
15. United Nations. Nations Unies. Population Division. Department of Economic and Social Affairs. World Urbanization Prospects: The 2001 Revision. Data indigital Form. New York; 2001. Disponível em: http://www.un.org/esa/population/publications/wup2001/WUP2001orderform.pdf.
16. World Health Organization. Equity, social determinants and public health programmes. Geneva, Switzerland: World Health Organization, 2010. Disponível em http://whqlibdoc.who.int/publications/2010/9789241563970_eng.pdf [Acesso em 25 de março 2011].
17. Yusuf S, Reddy S, Ounpuu S,Anand S. Global Burden of Cardiovascular Diseases: Part I: General Considerations, the Epidemiologic Transition, Risk Factors, and Impact of Urbanization. Circulation. 2001;104:2746-2753.

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