quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Por que algumas dietas não funcionam para todos



Cada pessoa tem um conjunto único de fatores genéticos e ambientais que contribuem para a saúde metabólica

Dieta
(Thinkstock)
"Devemos parar de procurar uma saída comum e começar a aceitar que este é um problema complexo que pode ter uma solução diferente para cada indivíduo”, disse a pesquisadora Laura K. Reed
O desejo de perder alguns quilos extras já tem lugar fixo entre as metas estabelecidas pelas mulheres. Com o objetivo de emagrecer, elas buscam estratégias normalmente já testadas por outras pessoas, mas que nem sempre dão o resultado esperado. A novidade é que há uma razão biológica para isso.
De acordo com uma pesquisa publicada pelo periódico científico Genetics, existe uma interação entre a genética e o tipo de dieta - que depende das características específicas de uma pessoa para funcionar. Os cientistas chegaram a essa conclusão ao estudar 146 diferentes linhagens de moscas-das-frutas. Elas foram alimentadas com quatro dietas diferentes: balanceada, baixa quantidade de calorias, excesso de açúcar e excesso de gordura. A partir disso, os pesquisadores listaram as características metabólicas dos grupos e deram um tipo de alimentação a cada um.
Segundo os resultados, moscas pertencentes a algumas linhagens genéticas demonstraram grande sensibilidade a determinadas dietas e tiveram alteração no peso corporal. Por outro lado, quando as moscas foram submetidas a dietas sem a preocupação com características genéticas, os resultados não foram tão satisfatórios, e houve pouca alteração no peso.
“Cada pessoa tem um conjunto único de fatores genéticos e ambientais que contribuem para sua saúde metabólica. Devemos parar de procurar uma saída comum e começar a aceitar que este é um problema complexo que pode ter uma solução diferente para cada indivíduo”, disse Laura K. Reed, pesquisadora do departamento de Genética da North Carolina State University, Estados Unidos. De acordo com ela, a descoberta pode ajudar a trazer uma outra visão para o tratamento contra diabetes e obesidade.

A saúde está na mesa



Um novo estudo questiona os benefícios
da dieta na prevenção de doenças como
o câncer. Mas ele é cheio de falhas. Acredite:
há alimentos que podem, sim, ajudá-lo a ter
uma vida mais saudável

Paula Neiva


Otavio Dias de Oliveira
Na semana passada, foi publicado pela Associação Médica Americana o maior estudo já realizado no mundo para avaliar o papel da dieta pobre em gorduras na prevenção de doenças cardíacas e câncer. O resultado surpreendeu porque está na contramão de todas as evidências recolhidas até hoje sobre a influência dos alimentos na manutenção da saúde. Segundo seus autores, comer pouco e se fiar em refeições escassas em gorduras e ricas em grãos, frutas, verduras e legumes não garante a redução dos riscos de distúrbios cardiovasculares e tumores colorretais e de mama. O trabalho, que consumiu 415 milhões de dólares dos cofres do governo americano, faz parte de uma pesquisa mais ampla, a Women's Health Initiative. Ele acompanhou, desde meados da década de 90, cerca de 50.000 mulheres, entre 50 e 79 anos, na pós-menopausa. As voluntárias foram divididas em dois grupos e, ao longo de oito anos, um deles modificou o cardápio e o outro manteve os hábitos alimentares anteriores. De acordo com os pesquisadores, a diferença entre o número de problemas registrados nos dois grupos foi insignificante (veja quadro). Eles explicam que, apesar de o número de mulheres doentes entre as que fizeram dieta ter sido menor, a diferença revelou-se pequena demais para garantir que o mesmo cenário se repetiria em nível populacional. Isso fez com que o estudo chamasse a atenção de todas as pessoas que seguem a cartilha dos médicos e nutricionistas, segundo a qual é possível prevenir doenças pelo que se coloca no prato. Apesar do alvoroço e da grande base de dados do trabalho, o estudo está longe de ser conclusivo. "A metodologia apresenta muitas falhas que podem ter influenciado negativamente os resultados", diz o cardiologista Raul Santos, diretor da unidade de clínica de lípides, do Instituto do Coração, de São Paulo. Curiosamente, esse mesmo estudo levantou, há cerca de quatro anos, uma forte polêmica ao questionar os benefícios da reposição hormonal para a saúde do coração feminino. As conclusões dele, também nesse caso, não foram reafirmadas por outras pesquisas.
Os especialistas que questionam a validade dos dados divulgados agora acreditam que o tempo de estudo – oito anos – é insuficiente para descartar possíveis benefícios da dieta a longo prazo. Outro ponto duvidoso é expandir para a população como um todo os dados obtidos por meio da análise restrita a mulheres com idade acima de 50 anos e na pós-menopausa. Além disso, os pesquisadores recomendaram a redução do consumo total de gorduras e não diferenciaram, na análise, os subtipos de gordura presentes na dieta. Sabe-se que as gorduras saturadas e trans são extremamente danosas à saúde e aumentam os riscos de infarto, derrame e diabetes, mas gorduras poliinsaturadas protegem as artérias e possuem ação antioxidante, o que reduz os riscos de formação de tumores malignos. Há ainda outro problema: o desenho inicial do estudo previa uma diminuição de 20% no consumo de gorduras, mas as pacientes não conseguiram atingir a meta. No primeiro ano, a redução foi de apenas 10,7%. No sexto ano de acompanhamento, a taxa foi ainda menor: 8%. "Todas essas considerações mostram que o estudo é falho", afirma a oncologista Nise Yamaguchi, pesquisadora da Universidade de São Paulo.
Embora a nutrição seja um dos ramos mais especulativos da medicina, a influência dos alimentos sobre a saúde é um tema recorrente na literatura médica há séculos. O artigo mais antigo a esse respeito de que se tem notícia foi escrito 2.600 anos antes de Cristo. Ele relaciona o ritmo elevado e forte dos batimentos cardíacos com a ingestão exagerada de alimentos temperados com sal marinho. No século XVIII, foi publicado o estudo considerado o clássico dos clássicos da literatura médica sobre o tema, em que o médico escocês James Lind discorre sobre a relação entre o escorbuto e o consumo de limão. Depois que foi demonstrado que os marinheiros que ingeriam a fruta, rica em vitamina C, não tinham escorbuto, as frutas cítricas tornaram-se obrigatórias no cardápio da Marinha britânica. No século XX, proliferaram estudos científicos de peso sobre o cardápio nosso de cada dia. Na década de 70, o Estudo dos Sete Países, coordenado por pesquisadores da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, mostrou, pela primeira vez, que existem gorduras saudáveis e outras nocivas ao organismo. Ao longo de doze anos, a equipe analisou a dieta e o tecido adiposo de europeus, americanos e japoneses. Os resultados indicaram que, nas regiões onde é grande a ingestão de gorduras saturadas, houve maior acúmulo de adiposidade nas artérias e, conseqüentemente, aumentou a incidência de doenças cardíacas. No fim da década de 80, foi identificado um tipo de gordura diferente, a trans. Os estudos sobre ela se multiplicaram e, cerca de dez anos depois, descobriu-se finalmente que a trans é o tipo mais perigoso de gordura, pois eleva o colesterol ruim, o LDL, e diminui o bom, o HDL. Com a sua ingestão, aumentam consideravelmente os riscos de infartos, derrames, diabetes e outras doenças. Em 2000, a FDA, a agência do governo americano que controla alimentos e remédios naquele país, incluiu a gordura trans na lista dos alimentos a ser consumidos com moderação. E o cerco a ela se aperta. Há três anos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou que, até o mês de julho deste ano, todos os rótulos de produtos industrializados vendidos no Brasil informem a quantidade de gordura trans em sua composição.
Nos últimos dez anos, dezenas de pesquisas sobre dieta e alimentação foram realizadas por grandes universidades e centros de saúde dos Estados Unidos e da Europa e outras tantas ainda estão em andamento. Nesse período, houve grandes descobertas e constatações importantes, como as de um estudo publicado no mês passado por pesquisadores da Universidade de Londres. Os ingleses revisaram dados de cerca de 300.000 pessoas, em vários países, e chegaram à conclusão de que comer mais frutas, verduras e legumes diminui o risco de derrame cerebral em até 26%. Outra pesquisa abrangente, divulgada no ano passado pelo Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos, que acompanhou 500.000 pessoas de dez países europeus e avaliou a influência do consumo de carnes na incidência do câncer colorretal, concluiu que o consumo diário de mais de 160 gramas de carne vermelha aumenta em 35% o risco de desenvolver o câncer e a ingestão de no mínimo 80 gramas de peixe por dia está relacionada à redução do risco desse tipo de tumor em 30%.
Existe uma profusão de constatações a respeito de como a chave da saúde está na mesa. Há dois anos, médicos de Harvard reviram as principais pesquisas sobre dieta e saúde feitas na década anterior. Eles atribuíram a uma alimentação equilibrada a capacidade de prevenir 25% de todos os tipos de câncer. Se a dieta for combinada com exercícios físicos, os efeitos serão ainda melhores. Ela pode evitar até nove de cada dez casos de diabetes tipo 2 e reduzir o risco de doenças cardíacas em 90%. "Sabe-se há vários anos que certos tipos de alimentos são saudáveis, especialmente frutas, verduras, legumes e grãos", diz o relatório. A diferença é que na última década se descobriu por que isso acontece. Hoje, os cientistas podem apontar os nutrientes específicos e outras substâncias contidas nos alimentos que combatem doenças, incluindo vitaminas e minerais. O tomate, por exemplo, é rico em licopeno, um pigmento que, além de dar cor ao fruto, auxilia na prevenção do câncer de próstata. Os benefícios da substância são ainda maiores se o tomate for cozido e acompanhado de um fiozinho de azeite, o que melhora sua absorção. Outra revelação foi que peixes de águas profundas e geladas, como salmão, bacalhau, sardinha e atum, contêm uma gordura ótima para a saúde, o ômega-3. Ela ajuda a diminuir a possibilidade de formação de coágulos nas artérias. Uma série de estudos recentes mostra que a gordura também reduz dores de artrite, melhora a depressão e protege o cérebro contra doenças, entre elas o Alzheimer.
Apesar do enorme volume de informações, existem muitos pontos obscuros a respeito da relação entre alimentação e saúde. "Na verdade, essa é uma área em que ainda há mais perguntas do que conclusões", diz o endocrinologista Ricardo Botticini Peres, de São Paulo. Por isso mesmo, alguns alimentos ora são considerados benéficos, ora maléficos. Nada ilustra melhor esse vaivém científico que as considerações sobre o café e seu principal componente, a cafeína. Na década de 50, a FDA considerou a cafeína boa para o consumo. Em 1978, a mesma agência colocou em dúvida a segurança da substância. Em 1988, pesquisadores americanos afirmaram que o consumo de duas xícaras de café por dia poderia levar à redução da fertilidade feminina. Menos de uma década depois, outro estudo americano descartou essa hipótese. E, finalmente, no ano passado, uma pesquisa de peso, coordenada pelos Institutos Nacionais de Saúde, nos Estados Unidos, concluiu que consumir café sem cafeína pode aumentar os riscos de doenças do coração. O mesmo ocorreu com o chocolate. Antigo vilão das dietas saudáveis (por conter alto teor de gordura e açúcar), ele foi inocentado por estudos que apontam os benefícios da guloseima para a memória e para o combate ao colesterol alto.
A partir das pesquisas sobre o impacto da dieta sobre a saúde, foram montadas cartilhas da boa alimentação, pirâmides alimentares e guias que orientam portadores de determinados problemas de saúde, como o diabetes tipo 2, doença que afeta cerca de 170 milhões de pessoas no mundo. Nesse caso, especificamente, a dieta desempenha um papel fundamental, como mostrou um amplo levantamento de Harvard, realizado há cerca de um ano. O guia da alimentação saudável para diabéticos ou pessoas com propensão a desenvolver a doença foi elaborado pela universidade com base em evidências científicas inquestionáveis. São 48 páginas com explicações minuciosas sobre o efeito dos alimentos no controle da doença e até receitas específicas para esse grupo. Todas requerem o controle rigoroso do consumo de carboidratos, como batata e arroz, e de sal.
As primeiras cartilhas alimentares surgiram na década de 70, como instrumentos de orientação do grande público. Eram esquemas relativamente toscos, que classificavam os alimentos segundo sua função – construtores, energéticos e reguladores. O primeiro guia em forma de pirâmide surgiu em 1992, criado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Em linhas gerais, essa pirâmide propunha o corte das gorduras e era extremamente liberal no consumo de carboidratos. Passados dez anos, a Universidade Harvard apresentou uma nova versão da pirâmide, que incluía exercícios físicos e na qual o corte radical das gorduras e a ingestão indiscriminada de carboidratos não apareciam mais como garantia de saúde. O novo desenho recomendava a ingestão de carboidratos ricos em fibras, como pães e grãos integrais, e de gorduras insaturadas. No ano passado, a pirâmide alimentar ganhou outra versão do Departamento de Agricultura americano. Foram incorporadas modificações como o aumento das porções de frutas, hortaliças e de grãos integrais e a redução da quantidade de gordura saturada. Seu visual também é diferente. Suas faixas não são horizontais, mas verticais – o que significa que não se deve deixar de comer nada. Essa é a primeira pirâmide que permite ao usuário calcular uma dieta personalizada, levando em conta seu estilo de vida, pela internet (www.mypyramid.gov).

Ajuda extra
Combinada a medicamentos, uma dieta correta ajuda (e muito) no tratamento de doenças crônicas ou de determinadas condições clínicas que podem levar ao desenvolvimento de um distúrbio. Alguns exemplos:
• COLESTEROL  
As estatinas em doses médias podem reduzir o colesterol ruim, o LDL, em até 40%Mas, se acompanhadas de uma dieta rica em vegetais, frutas, grãos integrais, óleos vegetais e azeite de oliva e pobre em carnes, leite integral e gorduras trans, o colesterol pode baixar em até 50%

• HIPERTENSÃO  
Usados isoladamente, os anti-hipertensivos da classe dos bloqueadores de cálcio reduzem a pressão arterial máxima em17 milímetros de mercúrio e a mínima, em 12. Ou seja, uma pessoa que tem pressão 15 por 9 passa a ter pressão13 por 7. Se o medicamento for associado a uma dieta que contenha frutas, vegetais, alimentos integrais, leite desnatado, nozes, carnes brancas e seja restritiva a alimentos salgados e com excesso de gorduras saturadas, o mesmo paciente pode ter sua pressão reduzida para 12 por 7

• OSTEOPOROSE
O medicamento de referência, da classe dos alendronatos, só faz efeito quando há cálcio circulante no sangue. Associado a uma dieta pobre dessa substância, ele é capaz de recuperar apenas 1,5% da massa óssea. Mas, em combinação com uma dieta rica em leite e derivados, e restritiva a álcool e café, o remédio pode levar a um ganho de massa óssea de até 5%

• PRÉ-DIABETES  
Quando administrado isoladamente, o remédio metformina diminui em cerca de 30% a possibilidade de um pré-diabético vir a desenvolver diabetes do tipo 2. Esse efeito dobra quando o remédio está associado a uma dieta que inclua grande quantidade de legumes e verduras e seja restritiva a açúcares e carboidratos contidos na farinha branca e na batata
Fontes: Raul Santos, cardiologista,
Eduardo Zlotnik, ginecologista,
e Ricardo Peres, endocrinologista

Você é...o que você come



E também quanto e como você come. Os alimentos podem
ajudar ou prejudicar sua saúde. Mas não é recomendável
sentar-se à mesa como se vai a uma farmácia ou lançar-se
a excessos como um condenado em sua última refeição.
O prazer do equilíbrio é a chave de tudo

Anna Paula Buchalla
Montagem sobre fotos Pedro Rubens


Quando o francês Jean Anthelme Brillat-Savarin cunhou, em 1825, a expressão "diga-me o que comes e eu te direi o que és", referia-se, sobretudo, aos prazeres de uma boa refeição. Em seu tratado de gastronomia A Fisiologia do Gosto, a primeira obra sobre a relação do homem com a comida, ele dizia que a elaboração de um novo prato causava mais felicidade à espécie humana do que a descoberta de uma estrela. Pouco mais de um século depois, na década de 1950, o sabor de uma boa refeição ganhou um tempero de culpa com a descoberta de que a gordura, em excesso, trazia malefícios à saúde. De lá para cá, uma série de estudos vem contribuindo para medicalizar o pão (e a carne, e a massa, e o doce) nosso de cada dia. Para o bem e para o mal. Alguns alimentos passaram a ser vistos como venenos e outros, como remédios. Entre os dois extremos, está você, fazendo a conta de quantas calorias vai ingerir no almoço, imaginando se suas artérias entupirão de vez com a feijoada programada para o sábado e pensando se, afinal de contas, não seria melhor evitar beber o quinto copo de vinho tinto da semana. É claro que as descobertas de médicos nutrólogos e nutricionistas são para ser levadas a sério. Mas não é igualmente evidente que elas não devem servir para criar neuroses. Você é, sim, o que você come – desde que entenda que, quando nos sentamos à mesa, o fazemos por motivos que vão além da nutrição pura e simples. Entre eles, degustar iguarias, compartilhar um grande momento com os amigos, participar de rituais e cerimônias familiares e até explorar novas culturas (mesmo que isso signifique não ultrapassar os limites de um frango xadrez). Tudo isso se perde quando você começa a encarar uma refeição como uma ida à farmácia. Qual a saída? Ter uma dieta equilibrada – em qualidade e quantidade. Tão equilibrada que lhe dê a chance de, vez por outra, cometer alguns "crimes" nutricionais. "A manutenção da saúde deve ser uma conseqüência, e não o único objetivo do ato de comer bem", diz o americano Michael Pollan, autor do livro In Defense of Food (Em Defesa da Comida), que está na lista dos mais vendidos do jornal The New York Times.
Pollan está certo, mas é um radical, digamos, livre demais. Ele chega a afirmar que "a nutrição está na mesma posição que a cirurgia no século XVII: é uma ciência jovem e promissora, da qual você não quer ser a cobaia". Menos, Pollan. Repita-se que não se trata de jogar no lixo as descobertas feitas ao longo do último meio século. Já está provado que, das dez doenças que mais matam no mundo, cinco estão diretamente associadas a uma dieta de má qualidade: obesidade, infarto, derrame, diabetes e câncer – sobretudo o de mama, o de próstata e o de intestino. "Quem quer que seja o pai de uma doença, a mãe foi uma dieta deficiente", diz o nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran). Não é preciso ser um freqüentador compulsivo de spas de emagrecimento para perceber que basta uma semana de alimentação regrada, frugal e saudável para o organismo funcionar melhor. O hálito melhora, o cabelo fica mais sedoso, a pele mais viçosa. Surge o ânimo para acordar mais cedo e, por que não, fazer inclusive uma caminhada. "A boa alimentação favorece o metabolismo, o sono e a regularidade do intestino e controla os radicais livres, as moléculas responsáveis pelo envelhecimento celular", diz a nutricionista Cristina Menna Barreto, de São Paulo. Até o nosso humor pode ser modulado pela alimentação. Certos nutrientes têm efeito direto sobre a produção ou a inibição de determinados neurotransmissores, responsáveis pelas oscilações do estado de espírito. "Uma pessoa que acorda, toma uma xícara de café e não come nada até a hora do almoço tem maior probabilidade de ficar com o humor azedo", diz o nutrólogo Daniel Magnoni, do Hospital do Coração, de São Paulo. Existem, ainda, estudos que mostram a relação entre deficiência de ácido fólico e depressão. E uma pesquisa publicada recentemente noBritish Journal of Psychiatry indica que o uso de determinados suplementos nutricionais reduz a ocorrência de problemas de comportamento – entre eles a agressividade.
Muitos dos alimentos hoje demonizados foram essenciais para a evolução do homem. O consumo de carnes vermelhas garantiu a sobrevivência de nossos ancestrais em tempos de escassez de comida. Estocada sob a forma de tecido adiposo, a gordura animal representava a principal fonte de energia do pessoal das cavernas. Também se devem à dieta carnívora as proteínas que permitiram ao homem, entre outras coisas, criar o alfabeto, fabricar papel, inventar a tipografia e escrever livros que condenam... a carne. No século XVI, a inclusão da batata, tubérculo oriundo da América, no cardápio europeu possibilitou o ganho calórico que resultaria na Revolução Industrial. Mas nossos antepassados obtinham do mel e das frutas a quase totalidade do açúcar que constava de sua dieta. O doce vilão, que está na origem dos distúrbios metabólicos mais nocivos, não era onipresente como hoje. No entender de pesquisadores da história da alimentação, o gatilho para a epidemia de obesidade dos Estados Unidos, que se alastrou pelo mundo, foi justamente um açúcar: o amido de milho. "A adoção do milho é o fenômeno alimentar mais importante – e preocupante – da modernidade", diz o historiador Henrique Carneiro, autor do livro Comida e Sociedade. Dessa substância são fabricados os adoçantes e xaropes presentes em boa parte dos produtos industrializados, como os refrigerantes.

O derradeiro jantar
Stephane de Sakutin/AFP
Gordon Ramsay: rosbife dos tempos da infância
A fotógrafa americana Melanie Dunea lançou a seguinte pergunta a cinqüenta grandes chefs: "Se você fosse morrer amanhã, qual seria sua última refeição?". Em seu livro My Last Supper (Meu Último Jantar), foram poucos os que optaram por trufas, caviar e foie gras. A maioria escolheu refeições absolutamente simples. Gordon Ramsay, apresentador dos programas Hell’s Kitchen e Kitchen Nightmares,decidiu-se por rosbife com yorkshire pudding. A carne assada com molho, acompanhada de pudim salgado, é um clássico dessa licença nada poética chamada culinária britânica. E era um prato freqüente na mesa da família do escocês Ramsay. Jamie Oliver, chef inglês e também apresentador de programas de culinária, optou por spaghetti all’arrabiata e, de sobremesa, pudim de arroz. "É impressionante quão simples, rústica e despretensiosa é a maioria das seleções", escreve o chef Anthony Bourdain, no prefácio do livro. Ele próprio comeria em seu último jantar ossobuco com salsinhas e salada de alcaparras com torradas de baguete. "Há sempre uma volta às coisas da infância ou aos sabores regionais. A palavra ‘mãe’ é citada em pelo menos um terço das vezes", observou Bourdain em entrevista à revista americana Time. A lembrança de um prato não se resume ao seu sabor. Remete também a tempos felizes.
Ah, os refrigerantes, as batatas fritas, os hambúrgueres... Se eles não fossem tão gostosos, não teriam ganhado o planeta. Já as frutas, as verduras, os legumes... Bem, a verdade nua e crua (ou cozida, como queira) é que são alimentos difíceis de engolir para oito em cada dez pessoas (e para dez em cada dez crianças). Pesquisadores da Universidade de Oxford, na Inglaterra, desvendaram os mecanismos cerebrais que tornam uma fritura mais apetitosa do que um rabanete. Eles descobriram que as comidas gordurosas ativam uma região cerebral conhecida como córtex cingulado, a mesma que se acende quando recebemos um carinho ou sentimos o cheiro de um perfume.
A educação dos sentidos, no entanto, não é tão difícil como parece. Há uma máxima antiga segundo a qual "as doenças não afetam quem sabe o que comer, o que não comer, quando comer e como comer". Isso está ao seu alcance. A chave, aqui, é cultural. Gostar de vegetais implica educar o paladar – e antes dele, óbvio, o cérebro. Na verdade, trata-se de uma reeducação. Foi comprovada a existência de um instinto natural de seleção da comida. Um estudo realizado nos Estados Unidos é particularmente interessante. Os pesquisadores entregaram a crianças de péssimos hábitos à mesa dez tipos de alimentos naturais. Ao longo de uma semana, privadas de sua dieta habitual, elas conseguiram combinar tais ingredientes de forma a construir uma dieta variada e saudável. Não se recusaram a comer nada, nem repetiram sempre o mesmo prato. A capacidade de adestrarmos nosso paladar de modo a extrair prazer de comidas antes intragáveis também ficou evidente graças ao inglês Jamie Oliver, aquele chatinho dos programas de televisão. Há três anos, ele realizou uma campanha para banir as porcarias dos lanches e refeições servidos às crianças nas escolas públicas inglesas. Oliver ajudou a promover mudanças drásticas nesse cardápio – a merenda "junkie" à base de nuggets e salsichas cedeu lugar a saladas, frutas e receitas italianas. Tudo isso acompanhado do desafio de agradar aos estudantes. Deu certo. Em poucas semanas, o paladar da moçada, "mascarado" pelo consumo abusivo de gorduras artificiais, ficou, como dizer, menos inglês.
Se ainda não veio à sua cabeça a expressão, aqui está ela: bom senso. Pois é, nesse caso não dá para variar. E bom senso significa não exagerar nem no consumo nem na privação. Quer um exemplo? A exclusão de carne vermelha da dieta é responsável por carências de ferro e vitamina B12, nutrientes fundamentais para o organismo. Mais: de nada adianta seguir cegamente dietas como a japonesa e a mediterrânea, tidas como as mais saudáveis, sem levar em conta que você não vive no Japão ou às margens do Mediterrâneo. Uma dieta para ser equilibrada e prazerosa tem de se combinar ao ambiente em que se vive e à genética de cada um. Coma de tudo um pouco e tente transformar o ato de comer numa experiência mais agradável do que se restringir a uma porção de brócolis ou se entupir de frituras. De vez em quando, dá vontade de comer um hambúrguer? Não se prive desse prazer. Coma com calma, sem tanta gordura pingando no prato. Esforce-se para que pelo menos uma de suas refeições diárias seja uma experiência estética e, com o perdão da palavra, sinestésica. Tente melhorar a apresentação dos pratos, capriche na combinação dos alimentos e no seu colorido. Você dificilmente (e põe difícil nisso) se tornará um Marcel Proust, que escreveu o primeiro romance do monumental Em Busca do Tempo Perdido a partir das evocações proporcionadas por uma madeleine – mas, decerto, será alguém mais saudável e feliz.

Lailson Santos


Lailson Santos


Lailson Santos


Fabiano Accorsi





Fotos Lang, Alfredo Franco, Carlos Cubi, Gustavo Arrais, Oscar Cabral, Claudio Meletti

Vitaminas ajudam a prevenir câncer, diz estudo



Pesquisa realizada nos Estados Unidos com cerca de 15 mil homens mostrou uma diminuição de 8% na incidência de câncer entre os que ingeriram um comprimido por dia

Multivitamínicos
  Multivitamínicos: suplementos normalmente utilizados para prevenção de deficiências nutricionais podem reduzir os riscos de aparecimento de câncer, de acordo com estudo (Thinkstock)
A ingestão de suplementos vitamínicos, geralmente associada à prevenção de deficiências nutricionais, pode reduzir o aparecimento de câncer. É o que mostra um estudo americano que acompanhou cerca de 15.000 homens durante mais de dez anos, publicado nessa quarta-feira no periódico Journal of the American Medical Association (JAMA).
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Multivitamins in the Prevention of Cancer in Men - The Physicians' Health Study II Randomized Controlled Trial

Onde foi divulgada: periódico Journal of the American Medical Association

Quem fez: J. Michael Gaziano; Howard D. Sesso; William G. Christen; Vadim Bubes; Joanne P. Smith; Jean MacFadyen; Miriam Schvartz; JoAnn E. Manson; Robert J. Glynn; Julie E. Buring

Dados de amostragem: 14.641 homens americanos com mais de 50 anos

Resultado: O grupo que ingeriu um comprimido multivitamínico por dia durante dez anos apresentou uma redução de 8% nos casos de câncer, em comparação com o grupo de controle, que ingeriu placebos.
Os participantes, acima dos 50 anos de idade, foram divididos em dois grupos: um deles ingeriu um comprimido multivitamínico por dia, enquanto o outro tomou placebos. Após o período analisado, o grupo que ingeriu os suplementos vitamínicos apresentou uma quantidade de casos de câncer 8% menor do que outro. O câncer de próstata, porém, foi a única variação da doença que não teve a incidência reduzida pelo estudo.
De acordo com a pesquisa, a redução da incidência da doença apresentada no estudo mostra que uma combinação de vitaminas e sais minerais, como a contida no multivitamínico, pode ser de grande importância para a prevenção do câncer. "O papel de uma estratégia de prevenção de câncer focada na alimentação, como consumo de frutas e verduras, continua sendo promissor, mas ainda não é comprovado, dada a inconsistência das evidências", disseram os autores.
Mais importante que vitaminas —Para Artur Katz, chefe do serviço de oncologia clinica do Hospital Sírio Libanês, o estudo pode dar pistas para uma possível prevenção, mas apresenta alguns problemas. "É muito difícil em um estudo com 15.000 homens monitorar os efeitos de um único fator. Cada um tem um tipo de hábito, um peso, podem fumar ou não, é difícil anular tudo e avaliar apenas os efeitos das vitaminas", afirma.
Além disso, ele explica que uma pessoa bem nutrida extrai todas as vitaminas de que precisa de sua dieta, não existindo necessidade de ingerir suplementos vitamínicos. Kartz receia que, ao ingerir vitaminas, as pessoas deixem de prestar atenção a outros fatores essenciais para a prevenção do câncer. "Se alguém tiver que escolher uma única coisa para fazer,a mais importante é parar de fumar. Se já não fuma,  ela deve controlar o peso e fazer exercícios, que que é mais importante do que tomar vitaminas", diz o médico.

Níveis de atividade física são melhores indicadores de mortalidade do que obesidade e hipertensão



Essa é uma das conclusões de um estudo que procurou mensurar a influência dos esportes sobre a saúde da população dos países

Atividade intensa: exercícios rápidos aumentam o uso do açúcar disponível na corrente sanguínea, prevenindo o diabetes 2
Atividade física: países ainda não têm dados consistentes sobre níveis de exercícios praticados pela populaçao(Thinkstock)
Baixos índices de atividades físicas entre a população de um país são melhores indicadores de mortalidade do que problemas como obesidade ou hipertensão. Por isso, os níveis de exercícios devem ser considerados como um sinal vital, e o hábito precisa ser mais frequentemente aconselhado aos pacientes pelos profissionais de saúde. Essas são as conclusões de um estudo feito por um time de pesquisadores de universidades dos Estados Unidos, Canadá, Austrália e Noruega, que buscaram mensurar a influência do esporte sobre a saúde da população mundial. A pesquisa foi publicada nesta sexta-feira na revista The Lancet, e é o primeiro de uma série de artigos que o periódico vai divulgar sobre exercícios físicos, aproveitando a proximidade da Olímpiada de 2012, que começa neste mês em Londres.
Segundo os autores do estudo, ainda são escassos os dados dos países sobre os níveis de exercícios praticados pela população, mas as evidências existentes já mostram que, se as pessoas passarem a fazer mais atividade física, a saúde física e mental da população vai melhorar drasticamente. Eles acreditam que isso possa ser possível se os médicos e outros profissionais de saúde passarem a aconselhar o hábito — e recomendá-lo como parte do tratamento — aos pacientes. É o mesmo, de acordo com os pesquisadores, que ocorreu quando os médicos começaram a indicar o fim do tabagismo a pacientes com determinadas doenças — o que, segundo o artigo, reduziu as taxas de fumantes em muitos países.
No artigo, a equipe cita alguns estudos recentes que respaldam essas conclusões. Uma pesquisa feita em 2010, por exemplo, mostrou que pessoas sedentárias que passaram a jogar futebol de duas a três vezes por semana demonstraram significativa redução do risco de doenças cardiovasculares, diabetes e osteoporose. Além disso, segundo os pesquisadores, outros trabalhos indicaram que comprometer-se com algum esporte melhora a percepção e o conhecimento das pessoas em relação à saúde. “A evidência de que a atividade física é a principal e mais eficaz abordagem de saúde pública para a prevenção de doenças, além de uma potencial abordagem de tratamento, aumentou significativamente nos últimos anos. Nós acreditamos que pequenas mudanças nas políticas e iniciativas dos países para aumentar os níveis de exercício físico entre a população são necessárias e suficientes para melhorar a saúde", concluíram os autores.

Hormônios são culpados pela eterna briga com a balança



Pessoas que se submetem a dietas restritivas têm mais dificuldade para não recuperar o peso perdido. A culpa, segundo estudo, seria o desbalanço entre os hormônios que controlam o apetite

Mulher pesando balança
Pessoas que se submetem a dietas restritivas têm mais dificuldade para não recuperar o peso perdido (Creatas)
Quem tenta emagrecer, mas depois recupera todo o peso perdido, pode culpar o desequilíbrio hormonal pelo insucesso na briga com a balança. É o que sugere um estudo da Universidade de Melbourne, na Austrália, publicado nesta quinta-feira pelo New England Journal of Medicine.
LEPTINA 
A leptina avisa ao cérebro que já existe um excesso de gordura acumulada e que está na hora de moderar a ingestão de comida.
GRELINA
A grelina é produzida no estômago e no intestino e sinaliza, no cérebro, a vontade de comer.
De acordo com o estudo australiano, quando uma pessoa perde peso, especialmente em uma dieta mais restritiva, o organismo altera a produção de hormônios: ajusta para a perda de reservas de gordura e, ao mesmo tempo, promove uma forte vontade de comer mais para suprir as reservas. Ou seja, o desejo de emagrecer não vence a ordem química que diz: coma mais.
Para chegar aos resultados, os pesquisadores recrutaram 50 voluntários que tinham sobrebeso ou obesidade. Eles foram submetidos a uma dieta extremamente restritiva, com um consumo diário de 500 calorias. Até o fim do programa, 34 deles haviam perdido 10% do peso corporal e começaram a reintroduzir gradualmente outros alimentos à dieta.
Durante um ano, os pesquisadores monitoraram nove hormônios diferentes no sangue dos pacientes, conhecidos por influenciar o apetite. Eles descobriram que, mesmo após 12 meses, seis dos hormônios ainda estavam desequilibrados.
Por exemplo, os níveis do hormônio grelina aumentaram bastante após a perda de peso, mas continaram aumentando durante todo o acompanhamento. Por outro lado, os níveis do hormonio leptina, caíram (leia mais no quadro ao lado).
De acordo os autores, a pesquisa mostra que, quando as pessoas perdem peso, a reação natural dos hormônios é fazer com que elas recuperem esse peso. "Pessoas que recuperam o peso não devem se culpar tanto, já que comer é o nosso instinto mais básico", disse Joseph Proietto, autor do estudo da Universidade de Melbourne, na Austrália.
"É necessário encontrar mais uma solução para a obesidade. Uma combinação de medicamentos que seja segura para o uso contínuo", escreveram os pesquisadores.

Antes de começar a dieta, faça um 'aquecimento'



Pessoas que, antes de tentar perder peso, receberam instruções sobre hábitos saudáveis e passaram a adotá-los, foram mais bem-sucedidas em manter a nova forma. É o que mostra uma pesquisa americana

Dieta: Tentar emagrecer antes de se acostumar com hábitos saudáveis pode ser pior para a manutenção do peso
Dieta: Tentar emagrecer antes de se acostumar com hábitos saudáveis pode ser pior para a manutenção do peso(Thinkstock)
Deixar de fumar, emagrecer ou se engajar em uma atividade física: mudar um hábito, mas especialmente mantê-lo a longo prazo, pode ser extremamente difícil. Por isso é tão comum que, ao ingressar em uma dieta, uma pessoa consiga perder alguns quilos, mas volte a engordar após certo tempo. Para pesquisadores da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, porém, há uma solução: a perda de peso pode ser mais duradoura se o indivíduo passar a seguir determinados hábitos saudáveis, como se alimentar corretamente e caminhar com frequência, antes de tentar, de fato, emagrecer. Esse "aquecimento" vai treinar e preparar o organismo para a dieta — o que, a longo prazo, é mais eficaz para manter o peso perdido no programa de emagrecimento. Essa conclusão faz parte de um estudo publicado nesta semana no periódicoJournal of Consulting and Clinical Psychology, da Associação Americana de Psicologia.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Promoting Healthy Weight With “Stability Skills First”: A Randomized Trial

Onde foi divulgada: revista Journal of Consulting and Clinical Psychology

Quem fez: Michaela Kiernan, Susan Brown, Danielle Schoffman, Katherine Lee, Abby King, Barr Taylor, Nina Schleicher e Michael Perri

Instituição: Universidade Stanford, Estados Unidos

Dados de amostragem: 267 mulheres maiores do que 21 anos com sobrepeso ou obesidade

Resultado: Passar oito semanas aprendendo sobre hábitos saudáveis e manutenção do peso para, somente depois, tentar emagrecer é mais eficaz para manter o peso a longo prazo do que tentar emagrecer direto
A pesquisa selecionou 267 mulheres maiores do que 21 anos que tinham sobrepeso ou obesidade. As participantes foram, então, divididas em dois grupos. Metade delas passou a seguir imediatamente um plano de emagrecimento durante 20 semanas, seguido de um programa de manutenção de peso de oito semanas. O restante das participantes, por outro lado, passou as oito primeiras semanas recebendo instruções sobre como ter hábitos mais saudáveis e as formas de manter o peso. Para ‘se acostumar com os altos e baixos de uma dieta’, as participantes do segundo grupo foram aconselhadas a, algumas vezes, consumir alimentos calóricos e gordurosos. Somente nas 20 semanas seguintes elas se engajaram a emagrecer. O método de perda de peso foi o mesmo para os dois grupos.
Manutenção — Após 28 semanas, as mulheres de ambos os grupos emagreceram uma média de 7,5 quilos (ou perderam 9% do seu peso inicial). Porém, um ano após o fim do estudo, quando essas participantes tiveram que manter o peso por conta própria, as mulheres que tentaram perder peso logo no início da pesquisa recuperaram uma média de 3,2 quilos, enquanto as participantes do outro grupo ganharam apenas 1,3 quilo.
Segundo os pesquisadores, essas oito semanas de ‘treinamento’ foram fundamentais para que as pessoas mudassem suas crenças em relação ao emagrecimento. No entanto, eles acreditam que outras pesquisas precisam ser feitas para definir quais são os efeitos da abordagem a longo prazo, já que o estudo acompanhou as participantes somente durante um ano após o término da pesquisa.
Conheça 5 formas de transformar alimentação saudável e exercícios em hábitos duradouros:
 Faça planos a longo prazo e dê um passo de cada vez
Saiba quais são seus objetivos e procure não cometer loucuras para alcançá-los. A melhor maneira de transformar mudanças em hábitos que levará para a vida toda é torná-los parte de sua rotina aos poucos, de maneira saudável e sem correr riscos. Mais do que uma dieta ou atividade física momentânea, você conseguirá, aos poucos, mudar o seu estilo de vida. Os resultados podem demorar para aparecer, mas são muito mais benéficos e duradouros.

Diminua as quantidades aos poucos

Para a nutricionista chefe do serviço de atendimento ambulatorial do Hospital das Clínicas, Sônia Trecco, para uma pessoa adotar uma alimentação saudável, de uma vez por todas, ela deve diminuir de maneira gradativa a quantidade dos alimentos não saudáveis que são consumidos em um dia. "Por exemplo, se uma pessoa toma dez copos de refrigerante diariamente, pode tentar reduzir essa quantidade para um copo por semana, até o dia em que consumirá a bebida apenas esporadicamente", afirma a nutricionista.

Escolha um alimento saudável por vez

Mudar radicalmente os hábitos alimentares é difícil, pode desanimar uma pessoa e até fazê-la desistir de adquirir uma vida mais saudável. Além da redução da quantidade, é importante substituir alimentos não saudáveis por outros mais nutritivos e menos calóricos. "Pode ser uma troca por semana: por exemplo, primeiro passar a comer queijo branco em vez de queijo prato ou arroz normal pelo integral. Na outra semana, troca o leite por um desnatado. E assim por diante”. Outras trocas também podem ser feitas nas formas de preparo de um prato, como trocar alimentos fritos por assados, por exemplo.

Encontre uma atividade física da qual você goste

Para que um exercício físico passe a fazer parte da rotina de uma pessoa, ele deve, principalmente, ser agradável. "Todos devem encontrar uma atividade com a qual se identifiquem. Quem tem dificuldades de motivação pode se dar bem em atividades em grupo ou simplesmente em companhia de alguém. Tornar o esporte social é fundamental para a motivação continuar”, afirma o professor de educação física e colunista de VEJA, Renato Dutra.

Acrescente pouca intensidade aos exercícios por vez

Para quem foi sedentário a vida toda, ou em grande parte dela, é difícil começar um exercício já com alta intensidade. Além de desmotivador, pode provocar lesões musculares e distúrbios como o do sono e hormonais. "O ideal é traçar um objetivo a longo prazo e organizar pequenas metas que farão uma pessoa chegar a esse resultado", diz Renato Dutra. Por exemplo, um sedentário que resolve fazer caminhada deve começar com poucos minutos da atividade e, a cada dia, semana ou mês, ir aumentando em alguns minutos o tempo da atividade. "Mesmo antes de atingir as metas, a pessoa vai perceber melhora no sono, maior facilidade de emagrecer e melhora no humor, na disposição e na produtividade no trabalho", diz.





Qualidade do sono muda com o passar do tempo





RIO - Com a passagem do tempo, o sono sofre mudanças. Fica mais leve, o adormecer é mais demorado, ocorrem interrupções à noite e o tempo dormindo não ultrapassa as oito horas. A neurologista Andréa Bacelar, vice-presidente da seção do Rio de Janeiro da Sociedade Brasileira do Sono (SBSono), afirma que pelo menos metade da população de idosos sofre, além das mudanças naturais do organismo, de dificuldades para dormir.
Isso porque, após os 65 anos, o sono deixa de ser monofásico, aquele que dura aproximadamente toda uma noite, tornando-se polifásico, ou seja, dividido em vários cochilos ao dia. Já o sono noturno fica fragmentado e mais curto. Essas alterações são naturais e não causam nenhum prejuízo à vida dos idosos, segundo a neurologista.
Apesar de os cochilos serem normais, Andrea explica que eles não devem exceder ao período de uma hora.
Segundo Ricardo Spilborghs, clínico médico e geriatra da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, é comum os familiares pedirem a recomendação médica de tranqüilizantes. Mas ele reforça que é o uso deste tipo de remédio pode agravar os distúrbios de sono na pessoa idosa.
- É preciso tratar a causa do problema, não o sintoma. A insônia pode estar relacionada à depressão, por exemplo - afirma Spilborghs.
O sono é dividido em três fases: sonolência, sono leve, o sono profundo, momento em que as onda cerebrais se reorganizam, período quando se consolida a memória e o sono REM, sigla em inglês para movimento rápido dos olhos. Nesta hora ocorre o pico da atividade cerebral. É quando ocorrem os sonhos e o relaxamento muscular atinge seu ponto máximo.
Além dos anos, outras doenças podemafetar a qualidade do sono. Entre elas a depressão, o Mal de Azheimer, o diabetes, a demência, a próstata cheia, a artrose. Há também causas secundárias, ligadas ao sono, como a apnéia, quando a pessoa deixa de respirar por alguns períodos, o distúrbio comportamental do sono REM e a síndrome das pernas inquietas.
No distúrbio do sono REM, a pessoa que deveria estar com os músculos relaxados, faz movimentos bastante agitados reagindo aos sonhos como se fossem reais.
São comuns, segundo Andrea, os relatos de pessoas que foram agredidas por seus companheiros durante a noite. No caso da síndrome das pernas inquietas, ela diz que 50% das pessoas acima de 60 anos sofrem com o distúrbio que acarreta despertares inconscientes de três a dez segundos por causa da agitação motora e dos movimentos involuntários das pernas.