Os cientistas descobrem que superdoses de algumas vitaminas podem ajudar a evitar o enfarte, certos tipos de câncer e retardar o envelhecimento
Os médicos estão reaprendendo quase tudo sobre as vitaminas. Algumas descobertas recentes mostram que essas substâncias podem retardar o aparecimento dos sinais da velhice, afastar alguns tipos de câncer e diminuir pela metade as chances de um ataque cardíaco. Mas atenção: as pesquisas mostram também que as dietas mais saudáveis e diversificadas, aquelas à base de legumes, carnes, peixes e frutas, fornecem apenas a quantidade e variedade de vitaminas necessárias à boa nutrição. É pouco. Para se beneficiar dos efeitos de cura, as pessoas precisam ingerir algumas vitaminas em dosagens tão elevadas que é preciso recorrer às cápsulas, à venda no mercado. A indústria farmacêutica está rindo à toa.
Os cientistas de alguns dos mais sérios centros de pesquisa do mundo garantem que não se trata de um golpe publicitário. "Os resultados são fortes demais para ser ignorados", diz o americano Meir Stampfer, pesquisador da Escola de Medicina de Harvard, co-autor de um trabalho revolucionário sobre as vitaminas e a saúde do coração que saiu no mês passado no The New England Journal of Medicine, a mais respeitada publicação médica dos Estados Unidos. Stampfer e seus colegas chegaram à conclusão de que 100 unidades de vitamina E por dia, seis vezes mais que a dosagem convencionalmente recomendada pelos médicos, diminuem em mais de 40% o risco de ataques cardíacos em homens.
EM CAUSA PRÓPRIA - Para obter com alimentos 100 unidades de vitamina E, a pessoa precisa comer 1,5 quilo de alface, 3,5 quilos de gema de ovo ou 20 quilos de banana. A vitamina E é vendida em cápsulas de 100 a 1.000 unidades em farmácias brasileiras a preços que variam de 400.000 a 1,2 milhão de cruzeiros cada caixa. Se o que se busca é apenas a vitamina em questão, fica mais barato comprar a cápsula em vez de passar na feira. "A nova geração de pesquisas sobre vitaminas pode estar encontrando um jeito muito mais econômico de tratar e prevenir as doenças crônicas", acredita o médico Charles Butteworth, da Universidade do Alabama. A conta de Butteworth se baseia em conclusões que muitas pesquisas estão revelando. Doses elevadas de vitaminas, além de proteger o coração, ajudam a combater a fadiga crônica e adiar a perda de cálcio dos ossos, que começa por volta dos 40 anos de idade.
Alguns tipos de câncer, como o de pulmão, ao qual os fumantes são mais suscetíveis, poderiam ser evitados em muitas pessoas com megadoses de vitaminas. Um estudo recente da Universidade do Alabama, nos Estados Unidos, mostrou que os fumantes que tomam vitamina B 12 e ácido fólico (1.000 microgramas por dia) têm menos chance de desenvolver câncer de pulmão que os fumantes que não ingerem suplementos. Esse novo poder atribuído às vitaminas está surpreendendo os médicos. A maior surpresa é que eles próprios estão se servindo das pílulas, convencidos de que elas podem ajudá-los a viver melhor e por mais tempo. O médico americano Jerome Cohen, professor de Medicina Interna da Universidade de Saint Louis, confessou à revista Newsweek que nunca acreditou que as vitaminas pudessem fazer alguma coisa "por um adulto já saudável". Mudou de idéia. Hoje Cohen toma todos os dias uma cápsula com 400 unidades de vitamina E - a mesma quantidade de vitamina que seria fornecida por 25 xícaras cheias de amendoins.
VELHA TRINCHEIRA - Os médicos brasileiros também aderiram. Esse é o indicador mais confiável de que o papel das vitaminas na manutenção da saúde e exorcização das doenças mudou para melhor. Até bem pouco tempo atrás, havia muita resistência à idéia de que superdosagens de vitaminas pudessem ter um papel na prevenção de doenças cardíacas, de alguns tipos de câncer ou na atenuação dos sinais da velhice. Como regra geral, os médicos preferiam receitar a seus pacientes as pequenas dosagens recomendadas oficialmente pelas autoridades de saúde. As novas pesquisas abriram a possibilidade para os médicos de receitar doses maiores a si próprios e a seus pacientes. "Existem evidências concretas de que as vitaminas A, C e E desaceleram o envelhecimento. É por isso que eu as estou tomando", diz Elisaldo Carlini, professor de Psicobiologia da Escola Paulista de Medicina. Uma das maiores autoridades brasileiras em drogas e medicamentos, Carlini é uma voz insuspeita. Ele dirige o Cebrid, um centro de pesquisas que há anos é uma trincheira de combate a laboratórios fraudulentos e à mania brasileira de automedicação. A trincheira de Carlini continua a mesma. A vitamina é que virou coisa séria.
VELHO MITO - O cardiologista carioca Carlos Scherr, um médico jovial de vida social intensa, é um entusiasta dos efeitos da vitamina C. Ele toma até 4 gramas dela todos os dias. A vitamina C parece ser uma boa aposta. As pesquisas mais recentes serviram para dinamitar um velho mito em torno dessa vitamina. Descobriu-se que, ao contrário do que se acreditava, ela pode pouco contra os resfriados. Em compensação, mostrou-se uma promissora arma de ataque contra alguns males mais insidiosos do mundo moderno. Toda a popularidade das vitaminas começou nos anos 60, quando o prestigiado cientista americano Linus Pauling, duas vezes ganhador do Prêmio Nobel, anunciou que curava suas gripes com doses de até 10 gramas diárias de vitamina C. Até hoje nenhuma pesquisa conseguiu mostrar que a vitamina C tem o poder de curar a gripe ou de preveni-la. O máximo que se comprovou nesse campo, numa pesquisa com 641 crianças americanas em 1974, é que os sintomas da gripe duram menos e são menos intensos em pessoas que tomam 500 miligramas diárias de vitamina C.
COQUETEL DE SAÚDE - Pauling, hoje com 92 anos, está sofrendo de câncer na próstata. O Nobel de Química não se abalou quando admitiu em público a doença. "Ganhei vinte anos", disse ele. O câncer de próstata se manifesta mais comumente por volta dos 70 anos de idade. Em Pauling a doença só apareceu depois dos 90. O velho cientista, hoje aposentado em seu rancho na Califórnia, aconselha as pessoas a ficar de olho: "Agora que a ciência resolveu levar a sério as vitaminas muitas novidades boas surgirão para quem as toma regularmente". Os cientistas conseguiram decifrar recentemente o que se passa no íntimo das células quando elas são banhadas com hiperdosagens de um coquetel de vitaminas C, E e betacaroteno. Esse grupo de vitaminas chamadas "antioxidantes" é uma das mais promissoras fronteiras de combate preventivo a doenças abertas pela medicina moderna.
O que os cientistas enxergaram no metabolismo celular regado por esse coquetel foi algo formidável. Essas vitaminas mostraram-se capazes de conter a ação dos chamados radicais livres, substâncias que, à semelhança de seus homônimos na política, destroem o tecido celular, deixando o organismo mais vulnerável a todo tipo de agressão. As vitaminas funcionariam como poderosos lança-chamas químicos, fortes o bastante para volatilizar os radicais livres, compostos tóxicos que vagam pela corrente sanguínea corroendo as membranas das células e perturbando o bom funcionamento dos órgãos internos. Os radicais livres, que as vitaminas combatem, estão na raiz de muitos males, desde a fadiga até doenças mais graves como o câncer e moléstias degenerativas como a catarata. Para muitos médicos as evidências atuais já bastam para que os adultos sadios aumentem seu consumo de vitaminas. Antes eles aconselhavam que, na dúvida, era preciso esperar mais para aderir aos coquetéis de vitaminas. Agora dizem que, mesmo que algumas dúvidas ainda persistam, o melhor a fazer é correr até a farmácia da esquina.
VIDA LONGA - Só agora surgiram as primeiras evidências científicas incontestáveis de que o banho químico das vitaminas pode ser um bom investimento no corpo. No ano passado, o médico James Enstron, epidemiologista da Escola de Saúde Pública da Universidade da Califórnia, Los Angeles, divulgou um estudo que mostra o impacto do consumo de vitamina C na atenuação de alguns sinais de envelhecimento. Durante dez anos, Enstron monitorou 11.348 pessoas, com idade entre 25 e 74 anos. Descobriu diversos efeitos positivos em homens que tomaram uma boa quantidade de vitamina C - em média de 300 miligramas por dia, ou cinco vezes a dose mínima convencional. Em primeiro lugar, quem ingeriu vitamina C teve 42% menos ataques cardíacos do que o grupo que não tomou nenhum nutriente. Em segundo lugar, observou-se que os consumidores de altas doses de vitamina C tiveram menos distúrbios de visão ao longo do tempo. Com base em suas observações, Enstron fez uma projeção: as pessoas que tomam 300 miligramas de vitamina C por dia têm chances de viver, em média, seis anos mais do que aquelas que não ingerem suplementos vitamínicos.
A promoção das vitaminas da condição de alimento para a de remédio está permitindo aos médicos abordar certas doenças com mais sucesso do que podiam há alguns anos. Uma vitamina chamada ácido fólico, que até recentemente era receitada em pequenas doses para evitar o aparecimento de um tipo de anemia comum apenas entre populações miseráveis submetidas a uma fome etíope, agora é vista de outra forma. Médicos do Centro de Controle de Doenças de Atlanta descobriram que ele é capaz de reduzir à metade o risco de uma deformação congênita da espinha dorsal do embrião que ataca uma em cada 1.000 crianças. Para proteger-se, não basta que as mulheres grávidas comam alimentos ricos em ácido fólico. Segundo as pesquisas recentes, elas precisariam tomar pílulas com megadosagens de 400 a 800 microgramas diárias da substância durante as seis primeiras semanas de gravidez.
Outro exemplo de virada espetacular é a nicotinamida. Há décadas os médicos sabem que a ausência total dessa vitamina na dieta aprofunda as anemias. O que se descobriu agora é que altas doses de nicotinamida podem aliviar os efeitos de uma doença muito mais séria, a diabete juvenil. Uma pesquisa mostrou que os diabéticos juvenis que tomaram várias vezes a dosagem diária convencional de nicotinamida conseguiram preservar uma parte das células pancreáticas que normalmente são danificadas pela diabete. "Essa pesquisa é uma revolução no tratamento da diabete juvenil", diz o endocrinologista paulista Geraldo Medeiros, um dos mais atualizados médicos brasileiros. "Doses grandes de nicotinamida administradas na idade certa podem preservar até metade das células que, de outra forma, seriam destruídas pela doença."
DESCALCIFICAÇÃO - Médicos da universidade americana de Tufts mostraram no ano passado que as pessoas com mais de 60 anos precisam tomar quase 3 miligramas de vitamina B 6 por dia, ou seja, 30% a mais do que os adultos jovens. O mesmo estudo demonstrou que a necessidade de vitamina D cresce com o passar dos anos. De 200 unidades diárias na idade adulta a pessoa deve aumentar o consumo para 400 unidades depois dos 60 anos, para evitar danos aos rins e adiar os efeitos da perda de cálcio pelos ossos. Os médicos recomendam que as mulheres depois da menopausa tomem também todos os dias até 500 microgramas de vitamina K. Essa vitamina, que nos organismos jovens regula a coagulação sanguínea, nas mulheres mais velhas ajudaria a diminuir em até 50% a velocidade da descalcificação óssea.
MERCADO DA PREVENÇÃO - São chamadas vitaminas treze substâncias orgânicas que desempenham um papel vital no organismo: ajudam a regular as reações bioquímicas que mantêm vivas as células. Na primeira metade deste século, descobriu-se que doenças como o beribéri e o escorbuto são causadas pela escassez de vitaminas e que elas têm um papel no combate às deficiências nutricionais. A ciência vive hoje a segunda onda das vitaminas, marcada pela descoberta de que seus efeitos vão muito além da nutrição. Vitaminas são encaradas como remédios poderosos capazes de prevenir doenças crônicas e até segurar um pouco o passo do relógio do envelhecimento.
Como seria de esperar, os laboratórios já perceberam o mercado explosivo que se está abrindo para eles com a terapia das megadoses. "As vitaminas são um campo ainda inexplorado para as indústrias, que sempre investiram em como curar e não em como prevenir", afirma Luís Roberto Bonecker, gerente de marketing do laboratório Roche, líder do mercado brasileiro de vitaminas. Na corrida para ganhar o mercado, muitas vezes o atropelo funciona em prejuízo do consumidor. São tantas as marcas e as formulações de suplementos vitamínicos que é imprescindível consultar um médico antes de começar a engolir as cápsulas. Só os médicos ou as pessoas que já puseram o pé na senda das vitaminas sabem que marcas são mais adequadas. O problema é que há vitaminas e vitaminas. Numas, os números do rótulo podem estar mentindo sobre a composição. Noutras, são feitas associações de ingredientes que não interessam igualmente a todas as pessoas. Muitas vitaminas vendidas no Brasil, entre elas algumas importadas, lançaram-se num verdadeiro pôquer químico.
"MAIS VIRIL" - O exemplo mais gritante é o das cápsulas de vitamina E. A dosagem máxima diária que as pesquisas sérias admitem é de 400 unidades. Isso já significa multiplicar por 25 a dose convencional. Não satisfeitos, alguns laboratórios sugerem nas bulas de seus remédios que cada pessoa tome 1.200 unidades diárias de vitamina E, o que significa multiplicar por oitenta a dose convencional recomendada. Nessa dosagem a vitamina E só faz bem para o bolso daqueles que a vendem. Outros oferecem vitaminas em combinação com elementos que há alguns anos se julgavam inócuos, mas cujos benefícios foram colocados em dúvida por pesquisas feitas recentemente. É o caso do ferro, que de panacéia passou a ser visto com ressalvas pelos médicos. "Os homens que tomam doses suplementares de ferro correm riscos maiores de sofrer ataques cardíacos", conclui o médico Medeiros. No Brasil, estão à venda fórmulas, como o Geri-All do laboratório americano Sundown, que oferecem numa única cápsula 50 miligramas de ferro, cinco vezes a dose recomendada. É por coisas assim que vale a pena obter o conselho de um profissional antes de fazer a lista das vitaminas e sair para a ronda das prateleiras.
Outra esperteza muito comum dos importadores de vitaminas é "esquentar" a bula. É o caso do polivitamínico importado dos Estados Unidos Maximum Potential for Men, fabricado pelo laboratório Good'N Natural. O rótulo americano não faz nenhuma promessa de aumento da potência sexual, mas a tarja brasileira, feita pela importadora Greenville, de São Paulo, informa que a vitamina "ajuda a desenvolver mais potência ao homem, tornando-o mais viril". A importadora comete dois crimes na bula. Um contra a língua portuguesa. Outro contra a boa-fé das pessoas. Nos Estados Unidos essa mentira daria cadeia. Os balconistas das farmácias costumam sugerir a compra de cápsulas de vitamina E para combater a impotência sexual. Outra armadilha. A vitamina E, em estudos com ratos de laboratório, teve um papel no aumento da fertilidade. Isso não tem nada a ver com potência sexual.
CUIDADOS ÓBVIOS - Os médicos advertem também que ninguém deve consumir cápsulas com muita vitamina B 5 na esperança de que o cabelo volte a crescer. Também é bobagem tomar superdoses de vitamina A na expectativa de enxergar melhor ou empanturrar-se de B 12 para aguçar a memória e a concentração. Não existe ainda a cápsula da beleza, da inteligência ou da vida eterna. Tampouco há a cápsula que substituiu todos os nutrientes de uma bela refeição - nem os prazeres. Mas já é possível, à luz da ciência, comer fartamente sem sobrepeso ao organismo ou à consciência. Pesquisas recentes mostram que o vinho tinto, o azeite de oliva e uma iguaria, o foie gras, apesar de saborosos fazem um bem enorme à saúde. O que se descobriu a respeito das superdoses de vitaminas aponta para ganhos extraordinariamente significativos que afastam o espectro de doenças fatais como o enfarte e o câncer. Mas não se trata, ainda, de uma droga mágica. Muitos médicos temem que o entusiasmo pelas vitaminas contamine os pacientes, que, sentindo-se protegidos, passem a negligenciar cuidados óbvios com a saúde, como fazer algum tipo de exercício físico, alimentar-se com uma dose razoável de bom senso e não abusar de álcool ou do fumo. "É um erro entupir-se de cápsulas de vitamina e achar que só isso dá saúde", diz Scherr.
O mercado brasileiro de vitaminas já começa a mudar ao sabor da revolução que está em andamento nas farmácias, principalmente dos Estados Unidos. Até pouco tempo atrás as pessoas consumiam dois tipos básicos de vitamina: as cápsulas de vitamina (sobretudo a C, como o Redoxon, do laboratório Roche) e alguns poucos compostos que misturavam vitaminas com outros princípios ativos, como o Rarical. Hoje há uma invasão de vitaminas importadas nas farmácias e uma nova geração de complexos lançados pelos laboratórios instalados no país. A variedade é enorme e pode confundir o consumidor desavisado. Algumas vitaminas, como a E, por exemplo, são medidas em unidades. No caso específico da vitamina E, cada unidade equivale a 1 miligrama. Outras, como a C, são dosadas em miligramas. Outras ainda são vendidas em microgramas. Há vitaminas associadas entre si ou com sais minerais. Outras são vendidas isoladamente. São essas as mais receitadas pelos médicos.
PRIMEIRO LUGAR - Há uma tendência entre os médicos de receitar cada vitamina em separado, em vez de recorrer aos complexos. As informações sobre as dosagens mudaram muito e nem todos os multivitamínicos acompanharam as novas pesquisas. Há compostos com ferro demais e vitamina E de menos que foram formulados numa época em que as pesquisas não haviam ainda mostrado a importância relativa dessas duas substâncias. Receitando vitaminas isoladamente, os médicos conseguem fazer uma cesta básica mais de acordo com as necessidades de cada paciente.
Estima-se que cerca de 1 milhão de brasileiros consome regularmente vitaminas em cápsulas, movimentando um mercado de 140 milhões de dólares por ano. São números que não se comparam à legião dos aficionados nos Estados Unidos, onde quatro em cada dez pessoas tomam cápsulas de vitaminas. Mas o número de brasileiros que colocam fé nas vitaminas está crescendo. Há cerca de dois anos, as vitaminas desbancaram os analgésicos no primeiro lugar do mercado de medicamentos vendidos sem receita médica.
REVOLUÇÃO JÁ - Há uma superexposição às vitaminas no Brasil. Nas farmácias elas já têm prateleiras especiais colocadas na frente do caixa, bem ao alcance dos clientes. São comercializadas em supermercados e até em academias de ginástica. É impossível não vê-las. Muita gente já as coloca no arsenal de beleza ao lado dos cremes de última geração que prometem adiar o aparecimento das rugas. A modelo carioca Fernanda Barbosa, diretora da agência Ford Models, sempre que viaja para o exterior compra potes do complexo vitamínico Centrum. A modelo e atriz mineira Patrícia Novais, 29 anos, também toma 4 gramas diários de vitamina C e 400 unidades de vitamina E. Patrícia tomou a decisão por influência de colegas da academia de ginástica. Até a atriz e modelo Luiza Brunet começou, há quatro meses, a ingerir doses diárias de vitamina C.
Embora não seja prioridade número 1 para as crianças - nessa fase da vida as proteínas e minerais, como ferro, são muito mais vitais do que as vitaminas -, já se está tornando um hábito complementar a alimentação delas com cápsulas mastigáveis vitaminadas. "Fico satisfeita quando as crianças tomam as vitaminas", afirma a pedagoga paulista Regina Gonçalves, que dá vitaminas americanas da marca Solotron Junior a seus dois filhos, Luís Cláudio, de 6 anos, e Daniel, de 10. "As crianças adoram porque elas têm um formato imitando bichinhos", acrescenta.
A revolução das superdoses chegou agora graças às pesquisas que começaram a ser feitas no começo da década de 80. Elas prometem desovar grandes novidades nos próximos anos. Ao contrário de outras promessas da ciência médica, como a vacina contra a Aids ou um tratamento eficaz para todos os tipos de câncer, que vão exigir ainda muito investimento dos centros de pesquisa e paciência dos doentes para esperar alguns anos pelos resultados, a terapia das vitaminas está já ao alcance de quase todo mundo.
Uma terapia que dá gosto
A boa mesa que protege o coração
Uma dieta de saúde que protege o coração e afasta o perigo do câncer deve incluir um copo de bom vinho tinto, de preferência um Bordeaux, patê de fígado, muito azeite e um pouco de alho. Parece bom demais para ser verdade? Segundo pesquisadores de algumas das escolas de medicina mais conceituadas do mundo, o único problema com a dieta acima é o preço. Com respeito à saúde não pode haver comida melhor. Em 1991 o Inserm, o equivalente francês do Ministério da Saúde, anunciou os resultados de uma longa pesquisa sobre hábitos alimentares. O Inserm concluiu que o vinho tinto protege o coração, dissipando as plaquetas, que provocam coágulos e entopem as artérias. "Os franceses comem mais gordura, exercitam-se menos, mas têm 40% menos ataques cardíacos do que os americanos graças ao consumo de vinho tinto", afirma a pesquisa do Inserm.
Na mesma época descobriu-se que o componente benéfico da bebida é o resveratrol, presente em quase todos os tipos de vinho tinto mas especialmente abundante naqueles da região de Bordeaux. Viva a França! Poucos meses depois, os cientistas encontraram substâncias protetoras da saúde em outra glória da mesa francesa, o foie gras, o fígado de ganso. Isso mesmo, aquela deliciosa pasta gordurosa faz bem ao coração. Os habitantes da Gasconha, região francesa onde se come, em média, cinqüenta vezes mais foie gras do que no resto do mundo, têm as menores taxas de ataque cardíaco do país.
Da boa mesa de saúde já faziam parte dois outros ingredientes preciosos, o azeite de oliva e o alho. Embora contenha muitas calorias, o azeite de oliva apresenta certos componentes, como o ácido linoléico e o ácido oléico, que ajudam o fígado a sintetizar HDL, o chamado bom colesterol, que funciona como um desentupidor de artérias. As potencialidades do alho na supressão de células cancerosas estão sendo estudadas nas universidades de Yale e Stanford, ambas de grande tradição científica nos Estados Unidos. Os resultados preliminares são encorajadores. Na Alemanha, numa pesquisa supervisionada pelo governo, 261 pacientes receberam diariamente cápsulas com 800 miligramas de extrato de alho desodorizado. O resultado foi uma redução de 12% nas taxas de colesterol. Vinho, foie gras, azeite e alho já permitem fazer um belo almoço. No final, tendo ou não dor de cabeça por causa do vinho, pode-se tomar um comprimido de aspirina. Um estudo publicado no The New England Journal of Medicine há quatro anos mostrou que um comprimido de aspirina a cada dois dias pode diminuir em 44% as chances de um ataque cardíaco.
O sono difícil de Itamar
A única vitamina que o presidente Itamar Franco toma com regularidade é a C. Mas sua relação com os remédios não é apenas brigar com os laboratórios. Itamar só tem dormido com a ajuda de um sonífero, o Dormunid, do laboratório Roche, que induz o sono profundo em apenas vinte minutos. "A vantagem do Dormunid é que ele não se acumula no organismo e é facilmente eliminado pelo corpo. Em doses grandes e continuadas, no entanto, pode causar dependência", diz Eliane Gandolfi, presidente do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo. "O remédio é seguro, mas, se o presidente precisar acordar durante a noite, pode ter problemas de concentração e memória", diz o endocrinologista Geraldo Medeiros. Até recentemente, Itamar dormia sob o efeito de um calmante, o Lexotan. De dois meses para cá, o Lexotan perdeu o efeito para o presidente. Foi aí que ele apelou para o Dormunid. A colunista Danuza Leão já tomou o sonífero e aprovou. "Ele derruba rapidamente", diz ela.
Itamar evita tomar vários remédios ao mesmo tempo. Só faz isso quando é necessário. Há dois meses teve uma gripe forte acompanhada de infecção dentária. Usou o analgésico Parenzyme para combater a dor de dente e já achou demais tomá-lo junto com a vitamina C. O presidente também não gosta de complexos vitamínicos. Há algumas semanas, o ministro de Minas e Energia, Paulino Cícero, ofereceu a Itamar um multivitamínico comprado nos Estados Unidos, mas o presidente refugou. Disse que não ia ter paciência para tomar treze pílulas diárias - a dose recomendada da droga.