Atriz vem ao Brasil e está tentando marcar encontro com a presidente Dilma
SÃO PAULO - Barbarella está ficando velha, mas garante que está na melhor fase de sua vida. Não tem medo das rugas e nem da morte. Faz ótimo sexo, acredita na masturbação e no ponto G. Sabe até onde encontrar os melhores vibradores. Namora, viaja, medita, faz ioga, TV, cinema, luta em causas humanitárias e, agora, escreve literatura de autoajuda. Autoajuda? É bom deixar qualquer preconceito de lado porque Jane Fonda, a intérprete da lendária sex symbol, não tem nenhum, pesquisou e se expôs bastante até lançar “O melhor momento — aproveitando ao máximo toda a sua vida” (Paralela), uma delícia de leitura. Para mulheres mais jovens e mais velhas como ela, que mês que vem completa 75 anos, o livro traz dicas (misturadas com experiências pessoais) sobre como chegar ao “terceiro ato da vida”, que, segundo a autora, começa aos 60, simplesmente ... bem.
E se alguém pensa que está muito jovem para se preocupar com isso, Jane dá um recado:
— Dos 40 aos 50 é quando a coisa fica pior, quando os hormônios começam a mudar. Eu, por exemplo, achava que estava ficando louca. A velhice é algo que deve ser planejado com antecedência. Emocionalmente, fisicamente e financeiramente porque ela simplesmente chega para todo o mundo.
Semana que vem Jane estará no Rio e em São Paulo, autografando o livro. No Rio, o evento será na sexta, dia 30, das 14h às 16h, na Travessa do Leblon. Em São Paulo, ela dará ainda palestra no Fórum da Longevidade, dia 27, no Hotel Transamérica. Antes disso, conversou com o ELA, atendendo ela mesma o telefone de sua casa em Los Angeles.
— Vocês têm uma presidente mulher! Estou tentando agendar um encontro com ela e não consigo. Peço que corram para publicar a entrevista para que essa mensagem chegue: “Dilma, quero conhecer você, você é o meu tipo de mulher!” — brinca.
O passado guerrilheiro da presidente Dilma Rousseff interessa à atriz vencedora de dois Oscar e ativista desde os anos 60, quando foi às ruas e in loco protestar contra a guerra do Vietnã (a polêmica em torno do apelido que ganhou, Hanoi Jane, ainda a acompanha nos EUA). Jane acredita que mulheres emocionalmente fortes, quando, no poder, fazem governos mais justos.
— Quero viver para ver a Hillary (Clinton) presidente dos EUA. Faria campanha para ela, mas sei que sou uma figura polêmica, então simplesmente votarei e comemorarei quando ela ganhar — conta a atriz, que até hoje celebra a reeleição de Obama. — Estou feliz e agradecida às mulheres, aos hispânicos e aos jovens que votaram por ele e disseram: “Não queremos esses homens brancos que desrespeitam as mulheres, que não gostam dos imigrantes e só se preocupam com os ricos. Queremos eles fora da Casa Branca!”
Escrever um livro de autoajuda foi um caminho natural para uma mulher que sempre inovou, se preocupou com a sua saúde e a dos outros (quanta gente não começou a malhar com seus vídeos de ginástica nos anos 80?) e, principalmente, disse o que pensava. Na obra, Jane reedita episódios dolorosos que já haviam sido expostos por ela em “Minha vida até agora”, sua autobiografia lançada em 2006.
No livro, ela relata abertamente o suicídio da mãe, Frances Ford Seymour, abusada na infância, assim como a própria batalha contra mais de 20 anos de distúrbios alimentares. Fala sobre seus três casamentos. O primeiro, com o francês Roger Vadim, o diretor de “Barbarella”, que lhe deu a filha Vanessa, produtora de cinema, além de dois netos. Do segundo, com o ativista Tom Hayden, nasceu o ator Troy Garity. Do terceiro, com o fundador da CNN Ted Turner, restou-lhe um de seus melhores amigos. Turner é presença constante no livro, em fotos e em relatos.
— Ted é péssimo para dar conselhos, mas aprendi demais sobre jornalismo e negócios simplesmente o observando (no seriado da HBO, “Newsroom”, Jane interpreta a CEO da emissora). Não me dou bem com todos os meus exs, mas o Ted é um grande amigo — conta a atriz, atualmente em cartaz nos cinemas com a comédia “E se vivêssemos todos juntos?”.
Mas “O melhor momento” é mesmo sobre envelhecer bem. E Jane não tem nenhum pudor em defender que as pessoas façam o que for preciso para isso acontecer, desde que sob orientação de bons médicos. Ela, por exemplo, tem uma vida sexual ativa (namora desde 2009 o produtor Richard Perry) e conta, para isso, com doses de testosterona, “que ajudam na libido”. Já fez duas plásticas: no fim dos seus 40 anos, para tirar as bolsas sob os olhos, “herdadas de papai” (o ator Henry Fonda), e aos 72.
— Não quero ser hipócrita, já fiz plástica, não há nada de errado nisso. O que é errado é fazer demais, tentar parecer ter 30 quando tem 50, apagar as rugas. Eu disse pro médico: não quero que você leve as minhas rugas, porque não quero parecer idiota. Plástica é bom para você se parecer com você, só um pouquinho melhor, menos cansada e triste.
Além de partes hilárias sobre masturbação e dicas sobre onde encontrar os melhores vibradores (“a mulher precisa conhecer seu corpo e estar lubrificada”), o livro revela a rotina de dieta e exercícios para o corpo e para a mente de Jane Fonda. Com próteses no joelho e nos quadris, a atriz não malha pesado como antigamente, mas diz que para estar em forma se exercita de 3 a 5 vezes por semana, misturando exercícios aeróbicos, de força e alongamento. Além disso, ressalta a importância de se ter amigos, do investimento em planos de aposentadoria e da necessidade de revisar, constantemente, a vida, olhando para trás “para entender quem você é”.
A melhor forma, ensina Jane, de encarar os problemas da idade é abraçar o “vácuo fértil”, tentando não se ocupar demais.
— Você tem que ficar um pouco quietinha, prestando atenção em você. Se preparar para encarar uma nova realidade. Não tentar permanecer superjovem, saber que as coisas estão mudando e entender para onde quer que essas mudanças levem você — diz a atriz, afirmando não dar a mínima para quando vê imagens suas nos anos 60. — Hoje sou bonita de outra maneira. Não dá para pensar que o tempo vai voltar, o importante é o agora.
Jane Fonda — que se curou de um câncer de mama em 2010 — não tem medo de morrer e diz que o medo passou ao acompanhar a morte dolorosa de Henry Fonda, em 1982.
— Ele demorou muito para morrer e percebi que não era o fato de morrer que me assustava. O que me assustava era chegar ao fim da minha vida com muitos arrependimentos, quando seria muito tarde para fazer algo por isso. A partir daí comecei a agir.