O CONSUMO DE ÔMEGA-3 PODE CONTRIBUIR PARA REDUÇÃO DA MORBIDADE ASSOCIADA A ESTA CONDIÇÃO
A doença arterial obstrutiva periférica (DAOP) resulta de um estreitamento progressivo das artérias dos membros inferiores, em decorrência do processo aterosclerótico, e está relacionada à elevada morbidade e mortalidade cardiovascular. Tem como principal manisfestação clínica a claudicação intermitente, caracterizada pela dor ao deambular, que limita as atividades diárias. Além disso, outro aspecto relevante desta condição é sua associação com maior risco de eventos aterotrombóticos, como infarto agudo do miocárdio (IAM) e acidente vascular cerebral (AVC)5.
A prevalência de DAOP é de aproximadamente 5% da população acima dos 40 anos de idade, chegando a 15% em indivíduos com 70 anos ou mais. Sua incidência é maior em homens negros e na presença de fatores de risco relacionados ao comportamento, como tabagismo, diabetes, hipertensão, hipercolesterolemia e altas concentrações plasmáticas de fibrinogênio e proteína C reativa (PCR). Sendo assim, sua prevenção tem como foco inicial mudanças no estilo de vida1,6.
A associação entre fatores dietéticos e a prevalência de DAOP foi estudada por Lane et al. (2008)3 a partir de dados do National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES), inquérito representativo da população norteamericana. Os nutrientes associados com reduzida prevalência de DAOP foram: ácidos graxos poli-insaturados da série ômega-3, vitaminas A, C, E e B6, fibras e folato.
Em publicação recente de Naqvi et al. (2012)4, os dados do NHANES foram novamente analisados com o objetivo de examinar a associação entre consumo de ácidos graxos (obtido por meio de recordatórios de 24 horas) e a prevalência de DAOP. Dos 6.352 adultos estudados, 489 tinham DAOP (5,2%). Observou-se que a ingestão de gordura saturada esteve relacionada com maior prevalência de DAOP, enquanto o ácido alfa-linolênico (ALA) teve efeito protetor.
O efeito benéfico de ácidos graxos ômega-3 sobre a DAOP parece estar relacionado à sua capacidade de melhorar o status inflamatório e a função endotelial, assim como a prevenção da formação de trombos pela diminuição da agregação plaquetária. Os ácidos graxos saturados, por sua vez, apresentam associação positiva com a DAOP por contribuírem para a formação da placa aterosclerótica4.
Considerando os resultados de estudos observacionais e os prováveis mecanismos envolvidos na melhora do quadro clínico e desfechos, foram realizadas intervenções com ácidos graxos ômega-3 em indivíduos com DAOP. Em ensaio clínico aleatorizado, Schiano et al. (2008)5 realizaram suplementação durante três meses com ômega-3 (EPA e DHA, 1 g/dia) e verificaram melhora nos níveis plasmáticos de trombomodulina solúvel e da dilatação fluxo-mediada da artéria braquial, parâmetros relacionados à função endotelial.
No Japão, pacientes com DAOP participantes do estudo de intervenção JELIS (Japan EPA Lipid Intervention Study) que receberam suplementação de EPA na dose de 1,8 g/dia apresentaram menor incidência de eventos coronarianos, demonstrando que o consumo de ômega-3 pode auxiliar na redução da morbidade e mortalidade cardiovascular associada à DAOP2.
Estes achados são promissores, embora ainda não conclusivos. Pesquisas futuras poderão comprovar o papel de ácidos graxos ômega-3 na prevenção e tratamento da DAOP, em conjunto com mudanças comportamentais que promovam o controle dos fatores de risco, otimizando assim a redução do risco cardiovascular associado a esta condição.
Referências:
1) Eraso LH, Fukaya E, Mohler ER 3rd, et al. Peripheral arterial disease, prevalence and cumulative risk factor profile analysis. Eur J Prev Cardiol 2012 [Epub ahead of print].
2) Ishikawa Y, Yokoyama M, Saito Y, et al. Preventive effects of eicosapentaenoic acid on coronary artery disease in patients with peripheral artery disease. Circ J 2010; 74(7): 1451-1457.
3) Lane JS, Magno CP, Lane KT, et al. Nutrition impacts the prevalence of peripheral arterial disease in the United States. J Vasc Surg 2008; 48(4): 897-904.
4) Naqvi AZ, Davis RB, Mukamal KJ. Dietary fatty acids and peripheral artery disease in adults. Atherosclerosis 2012; 222(2): 545-550.
5) Schiano V, Laurenzano E, Brevetti G, et al. Omega-3 polyunsaturated fatty acid in peripheral arterial disease: effect on lipid pattern, disease severity, inflammation profile, and endothelial function. Clin Nutr 2008; 27(2): 241-247.
6) Selvin E, Erlinger TP. Prevalence of and risk factors for peripheral arterial disease in the United States: results from the National Health and Nutrition Examination Survey, 1999-2000. Circulation 2004; 110(6): 738-743.
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