quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Mudando a mensagem para incentivar o exercício físico

Apesar de os benefícios da atividade física serem conhecidos, maioria não inicia a prática

O diretor do Laboratório de Psicologia da Universidade da Georgia, Rod Dishman fica incomodado quando estudantes se inscrevem em uma das aulas de fitness oferecidas pela universidade. Isso porque é uma aula da caminhada.
— É um pecado um jovem saudável e capaz se inscrever numa aula de caminhada. Eles estão ganhando crédito por evitar fazer qualquer esforço — disse.
E aí reside um problema, afirma Dishman e outros pesquisadores. A mensagem da saúde pública sobre exercícios é que qualquer quantidade é benéfica e a caminhada tem seu papel. Todos dizem, repetidamente, que exercício regular melhora saúde e torna as pessoas mais felizes e mais dispostas. Praticamente todos os americanos dizem que já ouviram estas mensagens. Eles sabem que exercício faz bem e eles deveriam praticar algo. Mesmo assim eles não o fazem.
Cerca de 40% dos americanos afirmam que eles nunca se exercitam, um sintoma que tem permanecido estável em décadas. Apenas 3,5% dos americanos com idades entre 18 e 59 anos fazem a mínima quantidade de atividade física recomendada, de 150 minutos por semana de exercício moderado. Entre os com mais de 60 anos, a percentagem é ainda menor: 2,5%.
Se os americanos sabem que o exercício faz bem, por que eles não incorporam a mensagem? E se a atividade física faz as pessoas se sentirem tão bem, por que elas apenas não começam a praticá-la?
Talvez, alguns pesquisadores dizem, o problema é a mensagem. Obviamente ela não teve muito efeito. A ideia agora é fazer uso das ferramentas que a psicologia desenvolveu para para avaliar o humor das pessoas durante o exercício, perguntando o quão bem ou mal elas se sentem na medida em que a intensidade varia.
Numa série de estudos, o pesquisador da Universidade de Iowa, Panteleimon Ekkekakis e seus colegas descobriram que a intensidade e o tempo do exercício se mostravam prazerosos para os indivíduos de formas diferentes.
Segundo os cientistas, não está claro o motivo deste fenômeno no cérebro, mas apenas prescrever uma série de exercícios, como de 20 minutos de caminhada por dia, cinco dias por semana, realmente não está funcionando. Nem os programas que se dizem muito intensos e curtos.
Para se encorajar o exercício físico, talvez as mensagens deveriam orientar as pessoas a encontrar uma atividade e um nível de intensidade que as faça sentir bem.
— As pessoas gostam de fazer coisas que as façam sentir melhor, e elas vão evitar aquilo que as sinta pior. A ideia é motivá-las a se exercitar também no dia seguinte — afirmou Ekkekakis.

Pâncreas artificial é nova promessa para tratar diabete

 
Um pâncreas artificial, que calcula o índice de glicose no sangue e libera insulina automaticamente sem a intervenção do paciente, é a mais nova promessa tecnológica para o tratamento de diabete tipo 1. Ainda em fase experimental, não há data para sua chegada ao mercado. Estima-se que 10% dos pacientes com diabete tenham o tipo 1.


O diabete tipo 1 é uma doença autoimune, caracterizada pela destruição das células do pâncreas que produzem insulina - o hormônio responsável pelo transporte do açúcar para dentro das células. Como nesses pacientes os níveis de açúcar no sangue ficam aumentados, eles precisam aplicar várias injeções de insulina diariamente para normalizá-los. Por isso o desenvolvimento de um pâncreas artificial, que assuma essas funções sem a intervenção do paciente, é uma das principais buscas de pesquisadores do mundo todo há mais de 15 anos.

O projeto Dream (sigla de Consórcio para o Pâncreas Artificial sem Fio, na tradução livre, e também "sonho", em inglês) é um dos experimentos nessa área. Trata-se de uma pesquisa internacional, liderada pelo pesquisador israelense Moshe Phillip, cujos resultados serão apresentados no Brasil no início de setembro, durante o Tratamentos & Tecnologias Avançadas para o Diabete, evento no Rio de Janeiro voltado às novidades.

Sob a pele

O grupo de Phillip desenvolveu um sistema chamado MD Logic. Trata-se de um sensor de glicose subcutâneo, que monitora os níveis de glicemia associados à bomba de insulina. Ambos são conectados por programas que informam e estipulam a quantidade de insulina a ser liberada para manter a glicemia dentro dos parâmetros normais. Tudo isso sem que o paciente tenha de realizar testes de ponta de dedo e calcular a quantidade de insulina a ser aplicada.

Os pesquisadores avaliaram o funcionamento do pâncreas artificial em 18 jovens de 12 a 15 anos, durante um acampamento de três dias. Foi a primeira vez que um aparelho do tipo foi testado em um ambiente real, fora do hospital. Um estudo anterior de outro grupo, usando um sistema semelhante, foi feito com 24 pacientes hospitalizados.

No caso de Israel, um grupo de engenheiros e médicos ficava em uma sala de controle, de onde supervisionavam remotamente as variações de glicemia das crianças, que realizavam atividades de lazer normalmente. Os resultados demonstram que a ideia funcionou - ainda que de maneira experimental.

Bomba

Hoje em dia já existe no mercado a bomba de infusão de insulina, que funciona de maneira parecida: um aparelho monitora a glicemia e envia um sinal para a bomba, que fica presa à cintura do paciente. Mas, para a bomba funcionar e liberar a insulina, o paciente precisa fazer o cálculo da quantidade e acionar o botão.

"As crianças tomam de quatro a seis picadas de insulina todos os dias, além de fazer o controle da ponta de dedo. O sonho de todo paciente é não ter de lembrar de tomar insulina várias vezes. E a promessa do pâncreas artificial é fazer tudo isso sozinho", diz o endocrinologista Luis Eduardo Calliari, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

Técnica experimental da USP livra diabéticos das injeções de insulina

Tratamento testado no HC de Ribeirão Preto faz com que 21 dos 25 voluntários, todos portadores do tipo 1 da doença, deixem de receber as aplicações

Tratamento testado no HC de Ribeirão Preto faz com que 21 dos 25 voluntários, todos portadores do tipo 1 da doença, deixem de receber as aplicações; o procedimento, estudado ao longo de nove anos, é baseado no autotransplante de células-tronco saudáveis
O teste de glicemia capilar é feito para monitorar os níveis de açúcar no sangue dos diabéticos - Jose Patricio/AE
Jose Patricio/AE
O teste de glicemia capilar é feito para monitorar os níveis de açúcar no sangue dos diabéticos
Uma terapia testada durante nove anos por pesquisadores do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto conseguiu livrar de aplicações de insulina 21 dos 25 pacientes com diabete do tipo 1 que participaram do estudo. Um deles está há oito anos sem tomar as injeções.
Os médicos utilizaram um procedimento chamado autotransplante de células-tronco saudáveis. A ideia é tentar construir um novo sistema imunológico para o paciente, uma vez que a diabete do tipo 1 é autoimune, ou seja, é o próprio sistema de defesa do corpo que passa a atacar as células do pâncreas responsáveis pela produção de insulina.
Um dos beneficiados pelo estudo é o jovem Humberto Flauzino Guimarães, de 22 anos, livre das injeções de insulina há cinco anos. Ele diz que sua qualidade de vida mudou muito desde que passou a se tratar com células-tronco. Mas as recomendações médicas de fazer exercícios físicos regularmente e de ter uma alimentação saudável não foram abandonadas.
O estudo em Ribeirão Preto é conduzido pelo endocrinologista Carlos Eduardo Barra Couri. Hoje, antes da abertura do Congresso Brasileiro de Endocrinologia, em Goiânia (GO), o médico falou ao Estado sobre os avanços no tratamento. A evolução dos pacientes, diz, é algo “notável”.
Os resultados favoráveis no tratamento têm sido destacados em publicações especializadas, como o jornal da Associação Médica Americana. Isso porque, pela primeira vez no mundo, os níveis do peptídeo-C, uma espécie de marcador do funcionamento das células produtoras de insulina, aumentou nos pacientes submetidos à terapia.
Para Couri, as muitas dúvidas que a comunidade científica internacional levantou no início da descoberta já não se justificam. “Hoje, temos resultados práticos que provam que estamos no caminho certo”, garante. Mas, de acordo com o médico, ainda não é possível prever quando a tecnologia estará disponível a todos os diabéticos. “É uma terapia de longo prazo. Estamos falando de célula-tronco, algo ainda novo e que vem sendo discutido”, explica.
Procedimento. Na técnica aplicada por Couri, para evitar que o paciente tenha as células que produzem insulina destruídas, são realizadas sessões de quimioterapia que praticamente desligam o sistema imunológico do diabético. Mas, antes disso, são retiradas células de sua medula óssea, que depois são aplicadas na corrente sanguínea para construir um novo sistema imunológico. Esse transplante de células-tronco do próprio paciente faz com que o pâncreas volte a funcionar e elimina a necessidade da aplicação de insulina. Portadores do tipo 1 geralmente se tornam dependentes de insulinoterapia por toda a vida.
O estudo conta com os apoios do Ministério da Saúde, da Fapesp, do CNPQ e do SUS (Sistema Único de Saúde). Couri diz ter comprovado que os pacientes hoje produzem mais insulina do que quando iniciaram o tratamento. “Alguns deles estão com excelente qualidade de vida, muito diferente da vida que levavam antes”, afirma. A diabete do tipo 1 atinge entre 5% e 10% da população de diabéticos. No Brasil, a estimativa é de sete pacientes a cada 100 mil habitantes.

PARA ENTENDER


Doença costuma atingir crianças
Na diabete do tipo 1, também conhecida como diabete infanto-juvenil, uma vez que a doença costuma se manifestar na infância ou na adolescência, a produção de insulina pelo pâncreas é insuficiente, pois suas células são destruídas pelo próprio corpo.
Por isso, os pacientes necessitam de injeções diárias de insulina para manter o nível de glicose no sangue em valores considerados normais. Há risco de vida se as injeções não forem tomadas diariamente, em doses adequadas.
De acordo com os médicos, algumas condições podem estar relacionadas à doença: ter familiares próximos portadores de diabete ou apresentar excesso de peso, pressão alta e colesterol elevado. O mesmo vale para mulheres cujos filhos nasceram com mais de 4 quilos.
Os sintomas mais comuns da doença são: urinar excessivamente, ter muita sede e apetite aumentado, perder peso e sentir-se cansado, com a vista embaçada. Infecções recorrentes, principalmente de pele, também são comuns.

Maioria de pacientes com pé diabético atendidos em hospitais do Rio acaba amputada

Levantamento feito pela Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular avaliou pacientes do Sistema Único de Saúde em 30 hospitais do estado

Controle inadequado da doença leva a complicações como o pé diabético - José Patrício/Estadão
José Patrício/Estadão
Controle inadequado da doença leva a complicações como o pé diabético
 Mais da metade das pessoas que procuram a emergência hospitalar no estado do Rio com problema de pé diabético acabam sofrendo amputação. A constatação está em um levantamento feito pela Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular - Regional Rio de Janeiro (SBCV-RJ), entre 6 de agosto e 14 de setembro deste ano, com pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) de 30 hospitais do estado. Eles foram acompanhados durante todo o tempo de permanência no hospital. De acordo com o presidente da SBCV, Carlos Eduardo Virgini, o número de amputações é preocupante.

“O pé diabético é uma complicação muito grave, muito comum, em qualquer emergência hospitalar você encontra vários pacientes internados, e o que é mais grave é que eles acabam sendo amputados. Nós vimos, por exemplo, que de cada dez pacientes que se internam nas emergências, seis amputam, um índice altíssimo, é uma coisa muito grave, que precisa ser discutida na sociedade. A gente precisa procurar formas de amenizar essa questão”, disse.

No período da pesquisa, foram 193 casos de pacientes diabéticos com lesão no pé. 59% eram homens, com mais de 62 anos de idade e mais de 11 anos de diabetes. De acordo com Virgini, o principal motivo que leva à amputação em diabéticos é a falta de cuidados preventivos.

“Tem a ver com o fato do paciente não ter conhecimento da doença, não cuidar bem da lesão, que pode começar com um arranhão que não é bem tratado. Mas, sem dúvida, a falta de acesso ao atendimento básico é uma questão essencial. Ou o paciente vai ao posto de saúde tratar da ferida ou ele vai no final da linha, chega na emergência com uma lesão muito avançada, com infecção, com infecção do osso, aí não tem muito o que fazer e acaba sendo amputado por causa disso. Falta o atendimento no meio do caminho, intermediário”.

De acordo com o médico, para prevenir essas amputações é fundamental a educação sistemática do paciente, da família e das equipes de atenção básica, além de organizar o atendimento das equipes multidisciplinares e em nível secundário.

O assunto foi debatido em audiência pública hoje (8) na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), dentro das atividades da 8ª Semana Estadual de Saúde Vascular.

A médica endocrinologista Solange Travassos, integrante da União de Associações de Diabéticos do Estado do Rio de Janeiro (Uaderj), declarou que a diabetes foi a causa de 4,6 milhões de mortes no mundo em 2011. A cada cinco segundos uma pessoa fica diabética e uma morre a cada dez segundos por causa da doença.

De acordo com Solange, os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que 80% dos diabéticos vivem em países pobres e que 183 milhões de pessoas não sabem que têm a doença e, portanto, não se cuidam. Consequentemente, quando ocorre o diagnóstico, metade dos pacientes já desenvolveu complicações crônicas como alterações na retina, nos rins e o pé diabético, um problema vascular e neurológico que normalmente começa com a perda de sensibilidade nas extremidades do corpo.

Sobre as amputações, a endocrinologista disse que o problema é antigo e mundial, sendo a diabetes a maior causa de amputação não traumática em todo o mundo, por falta de prevenção.

“Quando você tem uma política de prevenção eficaz, quando o paciente é bem tratado, quando ele tem o pé examinado em toda consulta, quando ele tem acesso aos medicamentos que ele precisa para atingir a meta de tratamento, isso não acontece. Então é muito triste você ver uma pessoa perder algum dedo, um pé, uma perna, o que seja, sabendo que se fossem tomadas algumas medidas um pouco antes, isso poderia ter sido completamente evitado”, ressaltou.

A gerente do programa de diabético da Secretaria Municipal de Saúde, Cláudia Ramos, disse que, desde 2009, o governo passou a ter como foco melhorar a atenção primaria à saúde, o que demora um pouco a refletir nos números e estatísticas.

De acordo com ela, o Rio de Janeiro estava muito atrasado na área de atendimento, mas agora conta com 191 unidades de atenção primária, para acompanhar as doenças crônicas não transmissíveis diretamente nas comunidades. “Hoje nós temos mais de 70 clínicas da família e 800 equipes completas. A Rocinha, por exemplo, que era uma prioridade, está com 100% de cobertura”, declarou.

Segundo a gerente, o Rio de Janeiro tem cerca de 300 mil diabéticos, que contam com atendimento específico pelas equipes da Saúde da Família. A insulina também está disponível em todos os pontos de atendimento da secretaria, com um médico capacitado para receitá-la ao paciente.

Diabete mata mais que aids e trânsito no Brasil

Dados do Ministério da Saúde indicam que 54 mil brasileiros morreram em 2010 em decorrência da doença

Governo lançou plano de ações para doenças crônicas, que inclui medidas de prevenção do diabete - José Patrício/Estadão
José Patrício/Estadão
Governo lançou plano de ações para doenças crônicas, que inclui medidas de prevenção do diabete
 Dados do Ministério da Saúde indicam que 54 mil brasileiros morreram em 2010 em decorrência do diabetes. Isso significa que a doença matou quatro vezes mais do que a aids (12 mil óbitos) e superou o total de vítimas de trânsito (42 mil) no país.

A pasta alertou que o total de mortes provocado pelo diabetes é ainda maior quando se considera que a doença age como fator de risco para outras enfermidades, como câncer e doenças cardiovasculares. Em 2010, o diabetes esteve associado a 68,5 mil mortes, o que totaliza cerca de 123 mil mortes direta e indiretamente.

De 2000 a 2010, a doença foi responsável por mais de 470 mil mortes em todo o Brasil, enquanto a taxa de mortalidade avançou de 20,8 para 28,8 casos para cada 100 mil habitantes.

As mulheres são as principais vítimas e responderam, em 2010, por 30,8 mil mortes contra 24 mil entre os homens. Em 2000, 20 mil mulheres morreram por causa do diabetes, ante 14 mil homens.

A faixa etária com o maior número de mortes, em 2010, é acima dos 80 anos, totalizando 15,7 mil. O número mais que dobrou quando comparado ao ano 2000, quando 6,7 mil mortes foram notificadas na mesma faixa etária.

Para o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, o diabetes constitui um problema contemporâneo. Ele lembrou que, atualmente, 15% da população brasileira são obesos e que o quadro é um facilitador para a doença.

“Esta é a hora de revertermos a possibilidade do nosso país ser cada vez mais um país de diabéticos”, disse, ao citar mudanças como melhoria dos hábitos alimentares e aumento da atividade física. “É um momento fundamental para que o conjunto da população brasileira, sobretudo os profissionais de saúde, tenham atitudes em relação à prevenção”, completou.

No ano passado, o governo federal lançou o Plano de Ações para o Enfrentamento de Doenças Crônicas Não Transmissíveis, que inclui medidas para a redução de casos e de mortes por diabetes.

A meta é alcançar queda de 2% ao ano nas mortes prematuras provocadas por doenças crônicas, a partir da melhoria de indicadores relacionados ao consumo de álcool, alimentação inadequada, sedentarismo e obesidade, fatores considerados de risco para o diabetes.

Força muscular pode estar ligada à longevidade, aponta estudo

Homens com melhor porte físico duranta a adolescência têm menos chance de morrer precocemente porte muscular dos homens durante a adolescência pode ser um indicativo de quanto tempo vão viver, afirmam pesquisadores suecos. A equipe acompanhou mais de um milhão de adolescentes por mais de 24 anos e descobriu que aqueles com menos força nos músculos tinham um risco maior de morrer precocemente. 

Boa forma física, porém, não é sinônimo de vida mais longa, dizem especialistas - Divulgação
Divulgação
Boa forma física, porém, não é sinônimo de vida mais longa, dizem especialistas
Os pesquisadores acreditam que a força muscular seja um reflexo do estado geral do corpo, o que explicaria a relação apontada. Especialistas, porém, lembram que manter um corpo musculoso não é sinônimo de ter uma vida mais longa.
Os efeitos da fraca estrutura muscular entre os indivíduos estudados foram similares ao fatores de risco, como pressão alta e obesidade. Quando os pesquisadores levaram em conta esses aspectos, descobiram que existe uma relação entre a morte precoce e a força muscular.
Durante o estudo, 2,3% dos indivíduos morreram (pouco mais de 26 mil). As principais causas foram ferimentos acidentais, suicídio, câncer, doenças cardíacas e derrames. Um terço das mortes ocorreram por outras causas, mas os cientistas levaram todas as mortes em consideração para os cálculos.
Os adolescentes que tinham uma força muscular acima da média no início da pesquisa tinham de 20% a 35% menos chances de morte precoce, inclusive para doenças cardiovasculares. Eles ainda tinham até 65% menos chances de sserem diagnosticados com doenas psiquiátricas, como depressão ou esquizofrenia.
Em comparação, os adolescentes com a menor força muscular tiveram mais chances de morrer antes mesmo de chegar aos 60 anos. Todos os indivíduos estudados compunham o corpo militar da Suécia e fizeram alguns exercícios para que suas capacidades fossem calculadas.
Um porta-voz da Fundação do Coração Britânica disse que "os benefícios de ser ativo fisicamente em qualquer idade são bastante destacados por estudos que mostram que ciranças podem prevenir o desenvolvimento de doenças futuras, além de melhorar sua concentração na escola, a saúde mental e o bem estar".
Stephen Evans, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, disse que embora haja evidências de que os exercícios são benéficos à saúde, o estudo não mostra que manter a boa forma necessariamente é sinônimo de longevidade. "Isso, porém, não desestimula eu ou outras pessoas a fazer exercícios", disse.


Fumo 'apodrece' cérebro, diz estudo britânico

Segundo pesquisa, cigarro e maus hábitos afetam memória, aprendizado e cognição cigarro 'apodrece' o cérebro ao danificar a memória, o aprendizado e o raciocínio lógico, aponta um estudo feito por pesquisadores da universidade King's College London. 

Fumar prejudica uma série de funções cerebrais, segundo o estudo - Arquivo/Estadão
Arquivo/Estadão
Fumar prejudica uma série de funções cerebrais, segundo o estudo
A pesquisa feita com 8,8 mil pessoas com mais de 50 anos mostrou que alta pressão sanguínea e estar acima do peso também afetam o cérebro, mas não na mesma medida.
Cientistas envolvidos na pesquisa afirmam que as pessoas precisam perceber que o seu estilo de vida afeta tanto a mente quanto o corpo. A pesquisa foi publicada na revista científica Age and Being. Os pesquisadores estudaram o elo entre o cérebro e as probabilidades de ataque cardíaco e derrame.
Os voluntários da pesquisa - todos com mais de 50 anos - participaram de testes de memorização de novas palavras. Eles também eram instigados a dizer o maior número de nomes de animais em um minuto. Os mesmos testes foram realizados após quatro anos e depois oito anos.
Os resultados mostraram que o risco de ataque cardíaco e derrame "estão associados de forma significativa com o declínio cognitivo". As pessoas com maior risco foram as que mostraram maior declínio. Também foi identificada uma "associação consistente" entre fumo e baixos resultados no teste.
"O declínio cognitivo fica mais comum com o envelhecimento e para um número cada vez maior de pessoas interfere com o seu funcionamento diário e bem-estar", diz Alex Dregan, pesquisador que trabalhou no estudo.
"Nós identificamos uma série de fatores de risco que poderiam ser associados ao declínio cognitivo, e todos eles podem ser modificados. Nós precisamos conscientizar as pessoas para a necessidade de mudanças de estilo de vida por causa do risco de declínio cognitivo", completa.
Para Simon Ridley, pesquisador da entidade Alzheimer's Research UK, o declínio cognitivo ao longo dos anos pode levar a doenças como demência.
Outra entidade britânica de estudo do Alzheimer - a Alzheimer's Society - emitiu uma nota na qual elogia o estudo da King's College London. "Todos sabemos que cigarro, alta pressão sanguínea, altos níveis de colesterol e alto índice de massa corpórea fazem mal ao coração. Essa pesquisa acrescenta vários indícios de que isso pode fazer mal à cabeça também."

Conheça os tipos de AVC

Acidente vascular cerebral pode ser isquêmico ou  hemorrágico; saiba reconhecer os sintomas

Sequelas dependem da área atingida e da agilidade do atendimento - Reprodução
Reprodução
Sequelas dependem da área atingida e da agilidade do atendimento
 O acidente vascular cerebral (AVC) ocorre quando há uma alteração no fluxo de sangue do cérebro. O AVC pode ser de dois tipos:


Acidente vascular hemorrágico


É o tipo mais grave e acontece quando um vaso se rompe, levando a um sangramento no cérebro. Há dois tipos de AVC hemorrágico: intracerebral, quando o sangramento está localizado dentro do cérebro, e a hemorragia subaracnóide, na região entre o crânio e o cérebro. O tipo hemorrágico responde por 13% a 20% do total dos AVCs.
  

Acidente vascular isquêmico

O tipo mais comum de AVC é causado pela interrupção no fluxo de sangue em uma região específica do cérebro. A falta de sangue, que também é responsável por levar oxigênio aos tecidos, causa danos às funções neurológicas e pode paralisar temporariamente o paciente. Também conhecido como isquemia cerebral ou derrame, o acidente vascular isquêmico é responsável por cerca de 87% dos AVCs.


Sintomas

A maior parte dos acidentes vasculares isquêmicos e hemorrágicos apresentam os mesmos sintomas. Entre os principais, estão:

- Dor de cabeça muito forte, às vezes acompanhada de vômito;
- Fraqueza;
- Dormência na face, nas pernas ou nos braços, em geral em um dos lados do corpo;
- Dificuldades motoras, problemas na movimentação;
- Incapacidade de comunicação, perda da fala;
- Dificuldade para enxergar com um ou ambos os olhos.


Sequelas

O AVC pode deixar sequelas leves ou graves, que podem ser temporárias ou irreversíveis, dependendo da gravidade do problema. Entre as mais comuns, estão as paralisias nos membros e problemas de visão, de memória e de fala.
A gravidade também depende da rapidez do diagnóstico e do tratamento. Por isso, diante da menor suspeita de um AVC, o paciente deve ser levado a um pronto-socorro imediatamente.

Drogas e álcool podem causar derrames precoces, aponta estudo

Abuso dessas substâncias na juventude provoca mudanças prejudiciais nas artérias e no coraçãbuso do álcool e das drogas durante a juventude pode aumentar as chances de derrames cerebrais (ou acidentes vasculares cerebrais - AVCs) antes mesmo da meia idade, aponta um estudo conduzido com mil pacientes pela Universidade de Cincinnati, dos Estados Unidos e publicado no jornal especializado Stroke

Cocaína e  meta-anfetaminas podem ter efeito ainda mais imediato que as demais drogas - Divulgação
Divulgação
Cocaína e meta-anfetaminas podem ter efeito ainda mais imediato que as demais drogas
Derrames geralmente ocorrem em pessoas idosas, mas o pesquisadores afirmaram que mudanças a longo-prazo causadas no coração, nas artérias e no sangue resultantes do abuso do álcool e das drogas podem colocar o indivíduo em risco ainda durante a juventude.
"O abuso dessas substâncias é comum entre jovens que sofrem derrames", escreveu Brett Kissela, um dos autores do estudo. "Pacientes com menos de 55 que sofreram derrames devem passar por exames e receber acompanhamento e aconselhamento sobre o uso de drogas e álcool frequentemente."
Também é possível que algumas drogas, como a cocaína e meta-anfetaminas, ajam mais rápido no sentido de causar um AVC, segundo Andrew Josephson, neurologista da Universidade da Califórnia, que estuda a relação entre o uso das drogas e os derrames, mas não esteve envolvido no estudo.
"Sabemos que mesmo com fatores de risco, como o cigarro e pressão alta, muitas pessoas não sofrem derrames até que sejam mais velhas. Quando uma pessoa jovem sofre um AVC, é provável que a causa seja algo diferente dos fatores de risco tradicionais", afirmou.
Segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, cerca de 800 mil pessoas sofrem derrames no país todos os anos. Os AVCs também são a maior causa de invalidez. Um estudo de 2007 mostrou que quase 5% das pessoas que tiveram esse tipo de problema tinham entre 18 e 44 anos.
O estudo de Cincinatti avaliou pessoas que sofreram derrames antes dos 55 anos. Os pesquisadores analisaram exames de sangue e urina de cerca de 1,2 mil pacientes para avaliar se havia substâncias presentes em drogas.
Em 2005, o ano mais recente avaliado na pesquisa, apenas metade dos pacientes fumava e apenas um em cinco usava drogas ilícitas, incluindo maconha e cocaína. Cerca de 13% haviam usado drogas nas 24 horas precedentes ao derrame.
"A taxa de abuso dessas substâncias, particularmente o de drogas, é subestimada, porque nem todos os pacientes fizeram exames toxicológicos", disse Steven Kittner, professor de neurologia da Universidade de Maryland.
Kissela e sua equipe, porém, não sabem definir se as diferenças notadas se devem ao uso de fato dessas substâncias ou se os médicos desenvolveram técnicas mais eficazes de detectar o abuso de álcool e drogas. O estudo também não consegue provas que esses hábitos estejam ligados aos AVCs.
O pesquisador, porém, disse que a pesquisa enfatiza as necessidades de que sejam conhecidos os sintomas dos derrames, mesmo em pessoas jovens, já que alguns tratamentos só podem ser conduzidos em uma pequeno período após o AVC.

Cigarro pode triplicar o risco de morte súbita cardíaca entre mulheres

A boa notícia é que abandonar o hábito pode reduzir de forma significativa ou até eliminar essa probabilidade

Saúde feminina: Deixar de fumar pode reduzir de forma significativa o risco de morte súbita cardíaca
Saúde feminina: Deixar de fumar pode reduzir de forma significativa o risco de morte súbita cardíaca (Thinkstock)
Fumar pode triplicar o risco de uma mulher sofrer uma morte súbita cardíaca — e quanto mais tempo dura o vício e mais cigarros são consumidos ao dia, maiores são essas chances, concluiu um novo estudo da Universidade Harvard, nos Estados Unidos. A pesquisa, por outro lado, também mostrou que abandonar o hábito pode reduzir de forma significativa ou até eliminar essa probabilidade.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Smoking, Smoking Cessation and Risk of Sudden Cardiac Death in Women

Onde foi divulgada: revista Circulation: Arrhythmia and Electrophysiology

Quem fez: Roopinder Sandhu, Monik Jimenez, Stephanie Chiuve, Kathryn Fitzgerald, Stacey Kenfield, Usha Tedrow e Christine Albert

Instituição: Universidade Harvard, Estados Unidos

Dados de amostragem: 101.018 mulheres

Resultado: Cada cinco anos de tabagismo aumenta o risco de morte súbita cardíaca em 8%. Mulheres que fumam há mais de 35 anos têm uma chance 2,5 maior de ter o problema e aquelas que consomem mais do que 25 cigarros ao dia, um risco três vezes maior.
A morte súbita cardíaca ocorre de maneira repentina, geralmente em decorrência de uma arritmia cardíaca, que é uma sequência de batimentos irregulares, ou muito rápidos, ou muito lentos. O problema pode levar a um fraco desempenho do coração e, consequentemente, a uma fraca circulação sanguínea, falta de sangue no cérebro e perda de consciência.
Leia também: Mulheres que param de fumar antes dos 30 anos reduzem risco de morte prematura em até 97%
O trabalho, publicado nesta terça-feira no periódico Circulation: Arrhythmia and Electrophysiology, da Associação Americana do Coração, acompanhou 101.018 mulheres ao longo de trinta anos. Durante esse período, 351 participantes sofreram morte súbita cardíaca. De acordo com os resultados, cada cinco anos de tabagismo eleva em 8% o risco de uma mulher sofrer uma morte súbita cardíaca — aquelas que fumavam há mais de 35 anos foram, no geral, 2,5 vezes mais propensas a apresentar o problema do que as participantes que não fumavam.
Além disso, mostrou o estudo, as fumantes que consumiam ao menos 25 cigarros por dia tiveram uma chance três vezes maior de ter o problema em relação às não fumantes. Mesmo as mulheres que fumavam menos — até 14 cigarros por dia — também apresentaram um risco duas vezes maior de morte súbita cardíaca.
Doença determinante — A pesquisa ainda mostrou que parar de fumar tem um efeito significativo e imediato na redução desse risco entre mulheres que ainda têm o coração saudável. Abandonar o vício também beneficia aquelas que já sofrem alguma doença cardíaca, mas o efeito positivo leva mais tempo para ocorrer. A mesma redução do risco que ocorre entre mulheres saudáveis cinco anos após abandonarem o cigarro, por exemplo, leva entre 15 e 20 anos para ser observada entre aquelas que já tinham o coração prejudicado quando deixaram o vício.
Para Roopinder Sandhu, pesquisadora do Hospital Brigham and Women, da Universidade Harvard, e coordenadora do estudo, uma possível explicação para isso está no fato de que a nicotina surte efeitos tanto a longo quanto a curto prazo sobre o coração. A substância, por exemplo, age de forma imediata sobre a desregulação dos batimentos cardíacos, mas também prejudica o tecido cardíaco aos poucos, quadro que persiste por muito mais tempo. "O tabagismo é um importante fator de risco modificável para morte súbita cardíaca para mulheres com e sem doença cardíaca. Por isso, as fumantes não devem esperar até o desenvolvimento dessa condição para abandonar o vício”, diz Sandhu.

"Vocês estão dez anos atrás de nós", diz médico americano

Jeffry Life, ícone do antienvelhecimento nos Estados Unidos, fala sobre a proibição dessa prática no Brasil

Juliana Santos
Dr. Jeffrey Life

“Eu não estaria aqui se não tivesse começado a terapia com testosterona dez anos atrás, provavelmente estaria morto”, afirma Jeffry Life (Eladio Machado)

Aos 74 anos, Jeffry Life tem um corpo musculoso e — afirma — muita disposição e uma ótima vida sexual. O fisiologista americano se tornou símbolo do envelhecimento saudável e da chamada medicina antienvelhecimento — termo que ele próprio rejeita. Sua transformação teve início aos 59 anos quando, acima do peso e com problemas cardíacos, decidiu participar do concurso Body For Life (algo como "Corpo para a Vida"). Em 12 semanas de dieta e exercícios físicos,  ele perdeu gordura, ganhou massa muscular e venceu o concurso.

Apesar de satisfeito com os novos hábitos, Life conta que, aos 63, já não sentia o mesmo resultado de suas atividades físicas. Foi nessa época que ele conheceu a clínica Cenegenics, na qual trabalha até hoje, que pratica a reposição hormonal. "Eu não estaria aqui se não tivesse começado a terapia com testosterona dez anos atrás. Provavelmente estaria morto", afirma ele.

Para evitar problemas de interpretação, Life prefere usar o termo age management medicine (medicina de gerenciamento do envelhecimento), aos invés do anti-aging. A ideia é que essa técnica não é capaz de reverter o processo de envelhecimento, mas fazer com que ele ocorra da maneira mais saudável possível. 

Life faz musculação e bicicleta ergométrica diariamente. Três vezes por semana pratica pilates — para manter a flexibilidade —  e, duas vezes, artes marciais. Além disso, ele atende pacientes em Los Angeles, onde vive com sua esposa, de 55 anos, cuida de seu website e escreve livros. Sua primeira obra, The Life Plan (Um Plano de Vida, que faz um trocadilho com seu sobrenome), dá dicas para quem quer seguir seus conselhos de alimentação, exercícios e terapia hormonal. O segundo livro, Mastering the Life Plan (Dominando o Plano de Vida), será lançado em março e aborda de forma mais específica a rotina de Jeffry para manter a forma.

O médico esteve no Brasil em outubro deste ano, e promoveu um evento para médicos sobre a medicina antienvelhecimento - coincidentemente, no dia seguinte à publicação da resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) que proíbe a terapia hormonal em idosos. Ele falou ao site de VEJA sobre essa decisão e as críticas que costumam ser feitas sobre a medicina antienvelhecimento.

A medicina antienvelhecimento foi proibida no Brasil, de modo que hormônios não podem ser prescritos para pacientes que não tenham uma deficiência específica. Isso significa que um paciente com pouca testosterona, mas com níveis compatíveis para sua idade, não é considerado apto para receber reposição. O que o senhor pensa a respeito? 
Isso é um pensamento antiquado. Essa recomendação foi feita por pessoas que não estão familiarizadas com a literatura que tem sido produzida nos últimos dez anos. Um homem de 70 anos deveria ter um nível de testosterona de um homem de 35, 40 anos. A razão é que isso melhora sua saúde, reduz os riscos de câncer — até câncer de próstata — ataque cardíaco, derrame, diabetes e outras doenças. Nós sabemos hoje que homens que têm níveis baixos de testosterona têm baixa qualidade de vida, perdem massa muscular e força e vão custar para a sociedade mais dinheiro do que se nós cuidarmos deles e colocarmos seus níveis hormonais onde eles devem estar para pessoas mais novas e saudáveis.

Uma das hipóteses levantadas por endocrinologistas é que, à medida que você envelhece, seus níveis de hormônios diminuem porque o corpo não pode mais lidar com a mesma quantidade de hormônios, então essa redução seria benéfica. 
A causa de morte número um nos EUA são ataques cardíacos. Em segundo lugar, derrames. E níveis baixos de testosterona colocam os homens em grande risco de ter ataques cardíacos, derrames e doenças cardiovasculares. Não há literatura que mostre que quando nós envelhecemos nossos níveis de hormônio devem diminuir, que isso é parte do envelhecimento saudável. É colocar as pessoas em risco para todas as doenças relacionadas com o envelhecimento, que estão matando a maior parte dos americanos e eu tenho certeza que brasileiros também.

Muitos médicos que não são a favor da terapia antienvelhecimento afirmam que é natural ter baixos níveis de hormônios quando se envelhece e a suplementação só é recomendada para aqueles que apresentam sintomas.
Parte do processo de envelhecimento é que as pessoas desenvolvem doenças cardíacas, então se você seguir esse tipo de pensamento, por que fazer angioplastias e outros tratamentos, se é parte do envelhecimento? É um pensamento insano. Por que a gente deveria fazer qualquer coisa se é tudo parte do processo de envelhecimento e é natural? Ignorar os níveis de testosterona à medida que se envelhece é o mesmo que ignorar níveis de colesterol e pressão sanguínea. Nós precisamos tratá-los. Não temos que seguir os mesmos caminhos que nossos pais seguiram. A gente não deve se render a essa noção de que envelhecer é ficar doente, que é o que está acontecendo. Isso precisa parar e grande parte de impedir isso é fazer com que as pessoas não percam massa muscular, façam exercícios e comam corretamente. E corrigir suas deficiências hormonais porque isso faz muita diferença, faz toda a diferença. Eu não estaria sentado aqui te dizendo isso se eu não tivesse começado a terapia com testosterona dez anos atrás, Tenho 74 anos, eu provavelmente estaria morto, porque tinha doenças cardíacas. O meu programa, do qual eu falo no meu livro, reverteu isso. E uma grande parte disso é devido à terapia de reposição hormonal, especialmente testosterona.

Quais são os riscos?
Não há nenhum estudo que comprove algum risco e há um número imenso de estudos que mostra que níveis saudáveis de testosterona reduzem o risco dos homens desenvolverem câncer de próstata. Mais uma vez, é um pensamento antiquado. A medicina mudou, nós estamos seguindo em frente e pensar assim é impedir o que nós podemos fazer para ajudar os pacientes.

Qual é a situação da medicina antienvelhecimento nos EUA? 
Existem duas organizações nos EUA, o grupo antienvelhecimento e o grupo de manutenção do envelhecimento, que é a Cenegenics, da qual eu faço parte. Eu acredito que o que nós fazemos é muito mais relacionado a saúde e bem estar. Agora estamos focados em doenças cardíacas, na prevenção de ataques cardíacos e derrames. O hormônio do crescimento é muito regulamentado. Nós fazemos muitos testes se temos um paciente que tem deficiência desse hormônio. Se ele não passar nos testes, a gente sabe que pode tratá-lo.

E quanto à testosterona?
Agora nós temos empresas farmacêuticas produzindo-a em cremes e em gel, vendendo na televisão, eu estou muito preocupado porque os fisiologistas vão prescrever isso e depois não fazer um acompanhamento do paciente, não farão todos os testes que nós fazemos a cada três ou quatro meses. Quando eu comecei na Cenegenics, há dez anos, a testosterona era um dos hormônios considerados ruins, como aqui no Brasil agora. Vocês estão dez anos atrás de nós. Mas agora há muitas evidências, e pesquisas que apóiam o uso de testosterona em pessoas envelhecendo. Os benefícios são incríveis.

O senhor acha que alguns médicos estão vendendo a medicina antienvelhecimento de forma exagerada, prometendo parar o tempo e rejuvenescer pessoas, e isso contribui para a formação de uma má-reputação a respeito dessa especialidade? 
Sim, eu concordo. Sou contra usar esses hormônios para parar de envelhecer. Eu sou completamente a favor de utilizá-los para alcançar o que nós sabemos das pesquisas médicas, que eles ajudam a saúde das pessoas, melhoram a qualidade de vida e a habilidade de pensar. Não é antienvelhecimento, é envelhecimento saudável. 

A batalha da medicina antienvelhecimento

A prática foi recentemente proibida no Brasil por falta de comprovação científica mas, para seus adeptos, é apenas uma questão de tempo até que novas pesquisas atestem sua eficácia

Juliana Santos
Dr. Jeffrey Life

"Eu sinto que me tornei um exemplo vivo do que os homens podem fazer para manter a qualidade de vida, evitar doenças”, diz Jeffry Life, 74 anos, médico americano ícone da medicina antienvelhecimento (Eladio Machado)

Desde a publicação de uma resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) que proíbe a prática da chamada medicina antienvelhecimento no Brasil, no dia 19 de outubro, a discussão sobre a terapia de reposição hormonal ganhou força. Está vetada a prescrição de qualquer tipo de hormônio ou outras substâncias com finalidade de reduzir os efeitos do envelhecimento.  A terapia hormonal é permitida apenas em caso de deficiência comprovada da substância e os médicos que não seguirem a resolução estão sujeitos a punições. De acordo com o relatório do CFM, uma revisão dos estudos publicados sobre o assunto nos últimos seis anos concluiu que “encontram-se evidências claras de riscos e prejuízos à saúde e nenhuma ou pouca evidência de benefícios para a capacidade funcional, qualidade de vida, cognição e para prevenir doenças crônicas associadas à idade”.

A resolução causou descontentamento em parte da classe médica, seja praticante ou simpatizante dessa técnica. Foi nesse cenário que o médico americano Jeffry Life, ícone da medicina antienvelhecimento, voltou ao Brasil promover um evento sobre o assunto, no dia 21 de outubro, em um luxuoso hotel de São Paulo.

História de vida - Aos 59 anos, Dr. Life tinha problemas cardíacos e estava acima do peso. A mudança em sua vida teve início quando ele resolveu participar de um concurso chamado Body for Life, destinado a pessoas que desejavam transformar seu corpo e estilo de vida em apenas 12 semanas. Ele entrou em uma dieta rigorosa e num elaborado programa de exercícios e, em 1998, aos 60 anos, se tornou o vencedor do concurso.
Satisfeito com a mudança em seu estilo de vida, o médico continuou a rotina de dieta e exercícios, mas aos 63 anos, percebeu que os efeitos alcançados já não eram os mesmos. Jeffry decidiu então adicionar um tratamento com suplementação hormonal a sua rotina e, segundo ele, os resultados foram ainda melhores.

Life se tornou uma espécie de ícone do antienvelhecimento. Suas fotos de "antes e depois", sem camisa, aos 59 anos e, atualmente, aos 74, aparecem em diversos programas de televisão e matérias de jornal. "Eu sinto que me tornei um exemplo vivo do que os homens podem fazer para manter a qualidade de vida, evitar doenças. Considero isso uma grande responsabilidade, porque impacta na saúde e bem estar de milhões de pessoas nos Estados Unidos e outros países, como o Brasil, apenas por mostrar às pessoas o que eu posso fazer, por ser um exemplo", disse Life ao site de VEJA.

Evidências científicas — Nos Estados Unidos, a medicina anti-aging, como é chamada, também não é reconhecida pelo American Board of Medical Specialties (Conselho Americano de Especialidades Médicas, organização sem fins lucrativos que ajuda a desenvolver e implementar parâmetros para avaliação de especialistas), mas a regulamentação da prática fica a cargo de cada estado, como é comum no país. No Brasil, a resolução do CFM e a alegação de falta de evidências científicas é contestada por adeptos da prática. O próprio Dr. Life, quando questionado sobre quais estudos comprovam a eficácia da terapia hormonal, não hesita em mostrar a extensa bibliografia ao final de seu livro, The Life Plan. A maior parte dos estudos citados, porém, foram realizados em um número reduzido de pessoas e publicados em periódicos de menor impacto.

Um dos estudos citados por Life, publicado em 1992 no periódico Journal of Obesity and Related Metabolic Disorders, foi realizado apenas com 23 homens obesos de meia-idade. Metade deles foi tratada com testosterona e os demais com placebo. Os resultados encontrados no grupo que utilizou testosterona foram bons: houve redução da gordura abdominal, dos níveis de açúcar no sangue, da pressão arterial e do colesterol. O estudo também relatou um pequeno aumento no volume da próstata dos participantes, mas os níveis de antígeno protático específico (PSA, considerado um marcador tumoral) não sofreram alterações.

Já um estudo dos pesquisadores Nicole Nigro e Mirjam Christ-Crain, publicado este ano no periódico Swiss Medical Weekly, concluiu que o uso de testosterona em idosos pode trazer benefícios como o aumento de massa muscular e densidade óssea, mas outros efeitos, como força muscular e aumento da qualidade de vida, ainda apresentam dados contraditórios. Os autores afirmam que mais estudos são necessários, uma vez que nem mesmo sobre os riscos há um consenso, e por enquanto a terapia hormonal com testosterona deve ser restrita àqueles que apresentam deficiência do hormônio.

Nem tão distantes assim - Mesmo em um assunto controverso como a medicina antienvelhecimento, parte dos argumentos tanto dos médicos que são contra e quanto dos que são a favor de tal prática coincidem em muitos pontos.
O primeiro deles tem relação com o próprio nome da prática. "Não é antienvelhecimento, é envelhecimento saudável", defende Life. Edson Peracchi, presidente da Academia Brasileira de Medicina Antienvelhecimento, compartilha a visão de Jeffry: "O termo medicina antienvelhecimento dá a impressão de que os médicos tem o poder de parar o relógio e fazer as pessoas voltarem no tempo. Isso não existe. O que existe é o seguinte: a pessoa pode envelhecer com doença ou envelhecer com saúde." A prática também tem sido chamada de age management medicine (medicina de gerenciamento do envelhecimento) nos Estados Unidos.
O segundo ponto em comum se refere à realização de exercícios físicos e alimentação adequada. Quando questionado sobre qual a parte mais importante da medicina antienvelhecimento, Jeffry Life não tem dúvidas: "Faça exercícios de forma inteligente e tenha uma alimentação saudável, o que eu chamo de 'alimentação limpa'. Isso é mais importante do que os hormônios."  Ruth Clapauch, diretora da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, tem restrições em relação a terapia antienvelhecimento. "Não há nada que possa retardar o envelhecimento, o que você pode fazer é ter o envelhecimento o mais saudável possível. E o que a gente sabe é que dieta e atividade física são praticas essenciais que levam à promoção da saúde."

Terapia hormonal — O principal causador de divergências a respeito da medicina antienvelhecimento é o uso da terapia hormonal. A resolução do Conselho Federal de Medicina deixa claro que a terapia hormonal é um tratamento reconhecido, mas só deve ser utilizado quando há uma deficiência comprovada no paciente e que acarreta sintomas para ele. É na interpretação do que vem a ser "deficiência" e "sintomas" que recai a grande dissidência entre os dois lados.
Para Ruth Clapauch, a terapia hormonal é útil em casos de deficiência, ou seja, ausência incomum da substância. Quanto utilizada em jovens, ela pode restaurar todas as características de uma condição hormonal normal. "No idoso existem outros fatores, não é só a reposição que vai anular todas as consequências. Existe uma diminuição da função cardíaca, da função renal, artrofia muscular, diminuição da massa óssea, as articulações vão ficando mais rígidas. Em uma pessoa idosa [a reposição hormonal] não vai ter o mesmo efeito do que num organismo jovem", diz Ruth. Ela explica que um nível normal de testosterona é aquele que fica dentro de uma faixa que vai de em torno de 220 até 800 nanogramas por decilitro de sangue, com pequenas variações dependendo do laboratório. Isso significa que, mesmo que um indivíduo sofra uma redução nos níveis de testoterona com o passar dos anos, desde que ele continue acima do valor mínimo, ele não é considerado deficiente.
Com o passar dos anos, os níveis de hormônio presentes no organismo vão sendo reduzidos. De acordo com Ruth, uma das hipóteses para explicar essa redução seria a necessidade dos níveis hormonais acompanharem a desaceleração do metabolismo que ocorre com o envelhecimento, de modo que o organismo teria dificuldades de lidar com a mesma quantidade de hormônios que tinha antes.

Do ponto de vista da medicina antienvelhecimento, porém, essa redução de níveis hormonais não deve ser encarada com naturalidade. "Um homem de 70 anos deveria ter um nível de testosterona de um homem de 35, 40 anos. A razão é que isso melhora sua saúde, reduz os riscos de câncer, até câncer de próstata, reduz os riscos de ataque cardíaco, derrame, diabetes e outras doenças. Nós sabemos hoje que homens com níveis baixos de testosterona têm baixa qualidade de vida, perdem massa muscular e força e vão custar para a sociedade mais dinheiro do que se nós cuidarmos deles e colocarmos seus níveis hormonais onde devem estar para pessoas mais novas e saudáveis", afirma Jeffry Life.

Riscos x benefícios — Os pontos em comum e variações de interpretação vão chegando ao fim quando o assunto são os riscos e os benefícios da utilização de hormônios. Enquanto diversos médicos apontam para os riscos dessa prática, seus adeptos afirmam que eles podem ser controlados quando o acompanhamento adequado é realizado. "Existem riscos, sim. E eles devem ser monitorados muito de perto, por meio de acompanhamento médico, exames de rotina periódicos. Mas hormônio não é um bicho de sete cabeças, não é mais um mistério, já se tem o domínio científico sobre as vantagens e as desvantagens dele", diz Edson Peracchi.
Para a endocrinologista Ruth Clapauch, a testosterona, hormônio principalmente masculino mas também presente nas mulheres, quanto utilizada em indivíduos que não apresentam deficiência, eleva o risco de câncer de próstata, aumento de glóbulos vermelhos e tumores do fígado (se administrado por via oral).

O mesmo ocorre com o hormônio do crescimento, que pode elevar os riscos do aparecimento de diabetes, doenças articulares e até alguns tipos de câncer. Jeffry Life explica que o uso do hormônio do crescimento é bastante regulamentado pelas autoridades americanas, mas pode ser utilizado depois que o paciente é submetido a alguns testes que comprovam a necessidade do hormônio.

Menopausa — O tratamento com hormônios, indicado para algumas mulheres na menopausa, é um capítulo à parte na discussão da terapia hormonal. Ela não faz parte das práticas vetadas pelo CFM, pois sua finalidade principal não é o antienvelhecimento. "Nesse caso, trata-se de um problema de saúde, causado pela deficiência de um hormônio que não só está em falta, mas também está causando sintomas", afirma Salo Buksman, diretor da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Ele explica que se for realizada uma medição hormonal em mulheres na menopausa, todas apresentarão níveis baixos mas, mesmo assim, nem todas são indicadas para o tratamento.
"Tem que haver sintomas muito sérios, que justifiquem o risco dela desenvolver essas doenças que são provocadas pela ingestão do hormônio. É preciso pesar o risco, pesar o benefício e ver se vale a pena. É bem diferente de dar hormônios para qualquer mulher, mesmo que ela não tenha sintoma nenhum de menopausa. Seria expô-la a riscos desnecessariamente", diz Buksman.
Os principais sintomas ligados à menopausa são ondas de calor, ressecamento vaginal, incontinência urinária e até osteopenia (um caso mais leve de osteoporose). Além disso, a terapia hormonal só pode ser indicada para pacientes que não apresentam contraindicações: histórico pessoal de trombose e histórico pessoal ou de pelo menos dois parentes próximos de câncer relacionado a hormônios (mama, endométrio e ovários). "Se não tiver contraindicação ela é elegível para fazer a terapia hormonal, mesmo assim acompanhada muito de perto pelo ginecologista, com exames bem frequentes", afirma Buksman.

Outro ponto importante desse tipo de tratamento é o momento de início. A reposição hormonal deve começar a ser feita no início da menopausa, e de seus sintomas, que ocorre por volta dos 50 anos. "Se a mulher começou o tratamento no inicio da menopausa, ela pode continuar após os 60 anos, mas não é uma terapia para ser feita a partir da idade idosa. Trabalhos atuais mostram que esse início em torno dos 50 anos é fundamental", diz Ruth Caplauch

Bioidênticos – A resolução do Conselho Federal de Medicina também se refere aos hormônios bioidênticos. A prescrição desses hormônios com finalidade antienvelhecimento fica proibida, de acordo com o documento, por falta de evidências que comprovem sua eficácia.
O termo "bioidêntico" se refere ao fato de que esses hormônios têm a constituição química exatamente igual ou o mais próximo possível aos hormônios que o organismo produz. "O estradiol, por exemplo, é um hormônio produzido pelo ovário. Ele é fabricado por indústrias farmacêuticas há muitos anos e sua estrutura química é idêntica ao feito pelo ovário. A versão produzida pela natureza mais próxima possível do estradiol é um fitoestrogênio denominado isoflavona, encontrado em diversas espécies vegetais, principalmente a soja. Ela tem uma ação no organismo semelhante à do estradiol, mas como eles não são bioidênticos, têm efeitos um pouco diferentes. As isoflavonas podem ter um efeito mais fraco ou provocar alguma coisa que o estradiol não provoca", explica Ruth Clapauch.
De acordo com a endocrinologista, os bioidênticos podem ser utilizados, desde que com a mesma finalidade da terapia hormonal permitida no país atualmente: suprir carências do organismo. Para ela, a questão problemática é que alguns médicos, adeptos do antienvelhecimento, utilizam-se do termo para se referir apenas a hormônios feitos em farmácias de manipulação, o que é incorreto. "Os bioidênticos apresentam os mesmos riscos dos demais, caso utilizados de forma não-indicada", diz Ruth.

Abusos – A discussão sobre a medicina antienvelhecimento tem início em uma etapa anterior à prática clínica. Trata-se de um debate que ainda está sendo travado no campo da pesquisa científica. Edson Peracchi, presidente da Academia Brasileira de Medicina Antienvelhecimento, acredita que novos trabalhos científicos levarão a uma revisão nas determinações do CFM. Para ele, essa proibição tem caráter mais preventivo, para evitar os abusos que vinham ocorrendo em relação à medicina antienvelhecimento: "Infelizmente, no processo de implantação de qualquer técnica, tem a fase inicial que gera um deslumbramento e só depois vem uma sedimentação." Por enquanto, e pelo menos até uma nova revisão dos trabalhos científicos sobre o assunto, o que vale é a resolução do CFM.