quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

PANORAMA DAS DCV NO MUNDO



EPIDEMIA DE FATORES DE RISCO PODERÁ IMPACTAR A INCIDÊNCIA DE DOENÇAS CARDIOVASCULARES

Doenças cardiovasculares (DCV) constituem a principal causa de mortalidade, contribuindo para um terço das mortes em todo o mundo1,8. Os números relacionados a estas doenças são alarmantes: mais de 2200 norte-americanos morrem de DCV todos os dias, com média de 1 morte a cada 39 segundos6.
Dados do Global Burden of Disease Study4 mostraram proporção de mortalidade por doenças isquêmicas do coração de 29,7% na Europa e Ásia Central. Nas Américas, em 2007, as doenças do aparelho circulatório foram responsáveis por 30% da mortalidade por todas as causas, sendo que quatro condições foram responsáveis por 87% destas mortes: doença isquêmica coronariana, doença cerebrovascular, insuficiência cardíaca e hipertensão5.
Neste mesmo ano, a Organização Mundial de Saúde projetou aumentos nas mortes por DCV nos países em desenvolvimento, como China e Índia, com estimativa de crescimento do número de anos produtivos de vida perdidos entre 2000 e 2030 correspondendo a cerca de 8 milhões de anos perdidos9. O impacto econômico decorrente das DCV é substancial. Uma análise conduzida em 23 países em desenvolvimento, nos quais as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) correspondem a 50% da carga total de doenças, estimou que intervenções custoefetivas, como a redução da ingestão de sal e do uso de tabaco, poderiam diminuir o número de mortes em 24 milhões, reduzindo o custo com tratamentos em oito bilhões de dólares3.
Em muitos países do mundo, inclusive no Brasil, tem-se observado declínio na mortalidade por DCV na última década, embora estas doenças ainda prejudiquem milhões de pessoas não só em termos financeiros, mas também em qualidade de vida. Existem, além disso, desigualdades sociais na distribuição destas doenças, sendo que a população pobre é a mais afetada7.
Infelizmente, ainda, o aumento expressivo de fatores de risco cardiovascular poderá ofuscar os ganhos obtidos na redução de desfechos. Pesquisas em todos os continentes indicaram que, em 2008, 1,5 bilhão de adultos tinha Índice de Massa Corpórea (IMC) acima de 25 kg/m2 e mais de 500 milhões estavam obesos. As prevalências de hipertensão arterial e de hipercolesterolemia, apesar de estarem caindo em países desenvolvidos, continuam a aumentar nos países em desenvolvimento. Estes fatores de risco são modificáveis, mas demandam serviços de saúde integrados e fortes lideranças em saúde pública1.
Nesse contexto, em setembro de 2011, Chefes de Estado e de Governo reuniram-se na sede da Organização das Nações Unidas (ONU) para discutir sobre a prevenção e controle das DCNT. Esta foi uma oportunidade histórica para inserir as DCNT na agenda política global como um dos principais obstáculos ao desenvolvimento futuro. Desse encontro resultou uma Declaração Política que reconhece que as DCNT ameaçam a economia de muitos países e podem ampliar as desigualdades entre populações, e que os governos têm a responsabilidade de encarar este desafio em parceria com todos os segmentos da sociedade5.
Conclui-se que as DCV representam uma grande preocupação em nível global que não pode ser efetivamente abordada por nenhuma estratégia, intervenção ou iniciativa isolada. Desde o estudo de placas ateroscleróticas vulneráveis até o apoio da ONU, há muitas ações em progresso que poderão ajudar a minimizar o problema. O esforço orquestrado entre múltiplos setores e a determinação para superar obstáculos inevitáveis são necessários para defender esta geração e a próxima contra as DCV2.

Referências:
1)     [No authors listed] An epidemic of risk factors for cardiovascular disease. Lancet 2011; 377(9765): 527.
2)     Kovacic JC, Castellano JM, Fuster V. Cardiovascular defense challenges at the basic, clinical, and population levels. Ann N Y Acad Sci 2012; 1254: 1-6.
3)     Labarthe DR, Dunbar SB. Global cardiovascular health promotion and disease prevention: 2011 and beyond. Circulation 2012; 125(21): 2667-2676.
4)     Mathers CD, Lopez AD, Murray CJL. The burden of disease and mortality by condition: data, methods, and results for 2001. In: Lopez AD, Mathers CD, Ezzati M, Jamison DT, Murray CJL, eds. Global Burden of Disease and Risk Factors. Washington, DC: International Bank for Reconstruction and Development/World Bank; 2006:45–240.
5)     Ordúñez P. Cardiovascular health in the Americas: facts, priorities and the UN high-level meeting on non-communicable diseases. MEDICC Rev 2011; 13(4): 6-10.
6)     Roger VL, Go AS, Lloyd-Jones DM, et al. Heart disease and stroke statistics--2011 update: a report from the American Heart Association. Circulation 2011; 123(4): e18-e209.
7)     Schmidt MI, Duncan BB, Azevedo e Silva G, et al. Chronic non-communicable diseases in Brazil: burden and current challenges. Lancet 2011; 377(9781): 1949-1961.
8)     Waldman SA, Terzic A. Cardiovascular health: the global challenge. Clin Pharmacol Ther 2011; 90(4): 483-485.
9)     World Health Organization. Prevention of Cardiovascular Disease: Guidelines for Assessment and Management of Cardiovascular Risk. Geneva, Switzerland: World Health Organization; 2007.

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