sábado, 17 de agosto de 2013

Por que o chocolate faz bem à saúde?

Em excesso, engorda e faz mal à saúde. Na quantia adequada, o chocolate faz bem para o coração e o cérebro e até ajuda a emagrecer

Vivian Carrer Elias
Ovo de Páscoa
Páscoa: Exagerar no chocolate faz mal à saúde e não deve ser um hábito, mas consumi-lo em quantidades moderadas pode até fazer bem à saúde (Pedro Rubens)
Apesar de ser calórico e conter gordura e açúcar, os vilões de qualquer dieta, o que faz do chocolate uma ameaça à saúde não é o doce em si, mas a sua ingestão em excesso. Por isso, mesmo durante a Páscoa é preciso maneirar para aproveitar os vários efeitos benéficos do alimento. Em quantidades pequenas, ele não faz mal, não engorda e, melhor ainda, pode até ser bom à saúde. A confirmação disso está nos resultados de muitas pesquisas científicas que concluíram que o chocolate, especialmente o amargo, pode evitar doenças cardíacas, beneficiar a cognição e até ajudar a emagrecer.
Os grandes responsáveis por fazer com que o chocolate seja saudável são os flavonoides, compostos com propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias encontrados no cacau. Por esse motivo, quanto mais amargo é o chocolate – ou quanto maior for o teor de cacau dele – melhor para a saúde. "Os antioxidantes protegem as células dos radicais livres produzidos em excesso. Essa proteção reduz o risco de problemas cardiovasculares e desacelera o envelhecimento", afirma Celso Cukier, nutrólogo do Hospital Albert Einstein. "Nenhum estudo mostrou efeitos benéficos à saúde com o consumo de chocolate branco, apenas com os tipos mais amargos."
Segundo o médico, consumir 13 gramas de chocolate amargo por dia — mais ou menos dois quadradinhos de uma barra de chocolate — já é suficiente para obter os benefícios antioxidantes dos flavonoides. "Comer muito menos do que isso não adianta, mas é preciso tomar cuidado com o excesso para não engordar, uma vez que, em média, o chocolate possui seis calorias por grama", afirma. "A dica é comer chocolate com moderação e, em momentos como a Páscoa, se divertir e consumir um pouco mais, mas não tornar o exagero parte da sua rotina."

Chocolate quente pode beneficiar memória de idosos.

Pesquisa americana aponta que a ingestão diária da bebida melhora o fluxo de sangue no cérebro — melhorando a memória de idosos

Chocolate quente
Por um período de trinta dias, participantes do estudo ingeriram duas xícaras diárias de chocolate quente (Thinkstock)
Um estudo publicado no periódico Neurology, da Academia Americana de Neurologia, traz boas notícias para os amantes de chocolate. De acordo com o artigo, tomar duas xícaras de chocolate quente por dia pode ajudar a melhorar o fluxo sanguíneo no cérebro de pessoas idosas — o que contribui para aperfeiçoar a atividade de diversas regiões do órgão, como a memória. O chocolate, porém, parece ajudar somente nos casos em que o fluxo já se mostra deficiente.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Neurovascular coupling, cerebral white matter integrity, and response to cocoa in older people

Onde foi divulgada: periódico Neurology

Quem fez: Farzaneh A. Sorond, Shelley Hurwitz, David H. Salat, Douglas N. Greve, Naomi D.L. Fisher

Instituição: Brigham and Women's Hospital, EUA, e outras instituições

Dados de amostragem: 60 idosos com cerca de 70 anos de idade

Resultado: O chocolate pode ajudar a reparar os fluxos sanguíneos de idosos, auxiliando em uma melhora de diversas funções cerebrais — a exemplo da memória
"Estamos aprendendo mais sobre o fluxo sanguíneo no cérebro e seu efeito nas habilidades de raciocínio", explicou Farnazeh A. Sorond, autora responsável pelo estudo, aoNeurology. "Algumas áreas do cérebro precisam de mais energia para desempenhar suas tarefas, implicando na necessidade de um maior fluxo de sangue. Essa relação pode cumprir um importante papel em doenças como o Alzheimer, por exemplo."
Pesquisa — Para chegar à conclusão, os pesquisadores reuniram um grupo de 60 pessoas com cerca de 70 anos de idade. Durante um mês, os voluntários tomaram diariamente duas xícaras de chocolate quente — que foi única maneira de ingestão do chocolate. Ao final do período, todos foram submetidos a testes de memória e habilidades de raciocínio, além de passarem por ultrassonografias. 
Um grupo com 18 participantes que já apresentavam fluxos sanguíneos deficientes foi o único a apresentar melhoras na memória com a ingestão do chocolate quente. Além da redução do tempo necessário para resolver um desafio de memória (de 167 para 116 segundos), houve também uma melhora de 8,3% na distribuição do sangue para o cérebro. Nos demais participantes, a experiência não surtiu efeito. 
Flavonoides — Um estudo anterior, realizado na Universidade de Áquila, na Itália, já havia descoberto os benefícios do chocolate para a memória e raciocínio de idosos com a cognição comprometida. Segundo os cientistas italianos, os efeitos deviam-se à presença de flavonoides (compostos com propriedades antioxidantes) no cacau — quanto mais amargo o chocolate, ou seja, quanto maior a sua quantidade de cacau, mais flavonoides ele tem. 
No estudo comandado pelos americanos, a presença dos flavonoides também foi testada: metade do grupo recebeu doses de chocolate quente rico em flavonoides (609 miligramas), enquanto a outra metade, uma versão pobre em relação ao composto (13 miligramas). De acordo com os pesquisadores, a concentração de flavonoides não teve relevância nos resultados finais do estudo.

Três motivos pelos quais você deve comer chocolate

Protege o coração



Entre as pesquisas que apontam para efeitos positivos do consumo do chocolate, as mais numerosas são, de longe, aquelas que associam o alimento a benefícios ao coração. Segundo um estudo publicado no ano passado no British Medical Journal (BMJ), por exemplo, é possível diminuir o risco de eventos cardiovasculares comendo chocolate amargo (com pelo menos 60% de cacau) todos os dias. Outro trabalho, feito na Universidade de Cambridge e divulgado em 2011, mediu o quão benéfico o chocolate pode ser ao coração: segundo o estudo, o consumo sem excessos do alimento diminui em 37% o risco de doenças cardíacas e em 29% as chances de acidente vascular cerebral (AVC).
Parte da redução das chances de doenças cardíacas proporcionada pelo chocolate pode ser explicada pelo fato de ele, antes disso, evitar o surgimento de fatores de risco ao coração, como hipertensão ou colesterol alto. De acordo com pesquisa australiana publicada em 2010 no periódico BMC Medicine, por exemplo, o chocolate amargo ajuda a diminuir a pressão arterial de pessoas que sofrem de hipertensão.

Ajuda a emagrecer


Em 2012, um estudo feito por pesquisadores da Universidade da Califórnia em San Diego, nos Estados Unidos, quebrou o mito de que chocolate engorda e ainda concluiu, surpreendentemente, que o alimento pode, na verdade, ajudar uma pessoa a emagrecer. Isso porque, das 1.000 pessoas que participaram da pesquisa, aquelas que comiam chocolate com maior frequência, embora consumissem mais calorias em um dia, foram as que apresentaram, em média, um índice de massa corporal (IMC) menor. Essa relação aconteceu principalmente quando o indivíduo consumia chocolate amargo. Segundo os autores do estudo, pode ser que as calorias no chocolate sejam 'neutras' — ou seja, que pequenas quantidades do alimento beneficiem o metabolismo, reduzam o acúmulo de gordura no corpo e, assim, compensem as calorias consumidas. Além disso, os pesquisadores acreditam que as propriedades antioxidantes do chocolate estejam por trás dos efeitos positivos demonstrados pelo trabalho.

Faz bem para a mente

Em uma pesquisa realizada em 2012 na Universidade de Áquila, na Itália, 90 idosos com mais de 70 anos que já apresentavam sinais de comprometimento cognitivo passaram dois meses consumindo diariamente uma bebida que misturava leite a um achocolatado com alto teor de cacau. A quantidade do achocolatado variava de acordo com o participante, podendo ser de 990, 520 ou 45 miligramas por dia. Ao final desse período, os pesquisadores avaliaram os idosos e descobriram que aqueles que consumiram quantidades alta e média do achocolatado, em comparação com o restante dos participantes, apresentaram uma melhora nos reflexos, na capacidade de realizar mais de uma atividade ao mesmo tempo, na memória verbal e na de trabalho (ou a curto prazo), além de melhores resultados em testes que avaliaram o raciocínio. Os autores do estudo atribuíram tais benefícios aos flavonoides, compostos presentes no cacau que, entre outros efeitos positivos, também são associados a benefícios ao coração — desde que aliados a uma dieta saudável.

Músculos de farinha

  • Polêmica na internet traz à tona má qualidade de suplementos proteicos e levanta debate sobre seu uso indiscriminado por atletas amadores.



Suplementos. Em cápsulas ou pó, são usados por esportistas para otimizar o ganho de massa muscular Foto: Terceiro / Latinstock
Suplementos. Em cápsulas ou pó, são usados por esportistas para otimizar o ganho de massa muscular Terceiro / Latinstock
Populares principalmente nas academias de ginástica, os suplementos à base de proteína viraram alvo de uma polêmica que tem provocado calorosos debates na internet. Dono da empresa “Atacado do Suplemento”, de Londrina (PN), Félix Bonfim virou hit depois que decidiu pagar um laboratório particular, o MKassab, de São Paulo, para avaliar a qualidade de produtos brasileiros. O material está no Youtube e na sua fanpage no Facebook, que superou 20 mil seguidores. Até agora, há 28 laudos prontos, dos quais 15 resultados (53%) estão fora dos parâmetros. A medida não é novidade no meio, foi feita também por usuários fora do Brasil e já até virou livro. Além da intensa discussão sobre a composição das fórmulas, especialistas alertam para seu uso indiscriminado.
Em pó ou cápsulas, os suplementos proteicos, os whey protein, são feitos do soro do leite. Pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), são definidos como “alimento para atletas”. A agência afirma que “as evidências científicas mostraram que eles só são relevantes para pessoas que praticam atividade física intensa. Para os demais indivíduos, uma alimentação balanceada é o suficiente”. Na prática, no entanto, eles se multiplicaram no mercado porque são fontes fáceis de nutrientes para esportistas interessados no ganho de massa muscular.
- Eu compro whey protein em lojas especializadas. Malho há algum tempo e ele ajuda no treino. Escolhi a marca pela indicação de amigos - conta o estudante Flávio Oliveira.
Professor de pós-graduação em Ciências do Exercício e do Esporte na Universidade Gama Filho, Cláudio Gil Araújo conta que os suplementos surgiram para o consumo de pacientes com câncer e em pós-operatório, em geral debilitados, além de indivíduos com dificuldade de se alimentar adequadamente. O uso por atletas foi uma readaptação, que começou a partir de estudos apontando suas potencialidades. Mas Gil lembra que a proteína deve representar de 20% a 30% da dieta.
- Em excesso, a proteína é ruim, pois sobrecarrega o rim e o fígado. O esportista comum deve ficar longe dos suplementos, porque o benefício para a saúde é zero, e os riscos, alguns - afirma.
Especialista em nutrição esportiva, Letícia Azen explica que quem pratica atividade física tem uma necessidade proteica adicional se comparado ao sedentário. O que não quer dizer, segundo ela, que a alimentação não seja capaz de supri-la.
- É um modismo - afirma. - Muitos optam por um produto em detrimento do alimento porque é mais prático. Não são proibidos, nós prescrevemos, mas antes, avaliamos se o paciente realmente precisa deles.
Letícia ainda alerta que, por uma compensação natural do corpo, o resultado do consumo pode não ser o físico sarado: quando se consome muita proteína e pouco carboidrato, o corpo transforma essa proteína em energia. O que garante massa muscular, ela explica, é consumir a quantidade de energia adequada. Em outras palavras, pode ser proteína desperdiçada. Além disso, o consumo excessivo também provoca o ganho de peso. Portanto, a velha máxima é repetida por ambos os especialistas: “sempre procurar um profissional antes de comprar o produto”.
Polêmica também nos Estados Unidos
Nos Estados Unidos, o tema também é popular. Publicado no Brasil, o livro “Malhar, secar, definir - A ciência da musculação”, do personal trainer Michael Matthews, autor de sete publicações, aponta erros de praticantes de atividades físicas e é enfático: “quase tudo o que existe por aí em termos de suplemento é praticamente inútil”, afirma sobre o mercado internacional. “Não só experimentei todo tipo de suplemento que você possa imaginar, como estudei os dados científicos, e só sigo aquilo que foi objetivamente comprovado”.
Na internet, pipocam debates e laudos de laboratórios apontando a má qualidade dos suplementos brasileiros e estrangeiros. Tanto a FDA, agência reguladora dos EUA, quanto a Anvisa enquadram estes produtos como alimentos, e não como medicamentos.
- Não existe um controle cuidadoso do conteúdo listado no rótulo, porque não é verificado como remédio - critita Gil Araújo, que ressalta: - A Anvisa segue um modelo mundial, há limitações de se controlar tudo, é muito caro.
Ainda assim, a Anvisa informou por nota que um erro no rótulo é considerado infração sanitária. Pela lei federal, em instâncias mais graves, empresas podem ser multadas em até R$ 200 mil ou ter o estabelecimento fechado. O órgão pondera que esta divergência no rótulo pode ser de até 20% para mais ou para menos no valor declarado, o que ocorre por fatores como diferenças de matérias-primas e de condições do solo e clima. Não informou, no entanto, como usuários, a exemplo de Félix Bonfim, podem fazer quando desconfiados. Nem se os laudos encomendados por ele serão reavaliados pelo órgão.
Patrocinador de atletas, ex-atleta e vendedor de suplementos, Félix teve a ideia ao notar que a conta não fechava: um quilo da matéria-prima é vendida por cerca de R$ 25, e havia empresas vendendo o produto final próximo deste valor. Ele pediu então a avaliação da quantidade de proteína e carboidrato.
- Eu queria ver se no lugar de proteína estavam preenchendo o produto com carboidrato - afirma Bonfim. - Um atleta consome uma quantidade de nutrientes minuciosamente balanceados. Isto prejudica a performance dele.
No resultado, 15 laudos tinham divergências na descrição de carboidratos e proteínas. A maior distorção foi do produto Whey X Treme, da empresa X Pharma Suplemento, que embora tenha informado 1,7g de carboidrato e 24g de proteína no rótulo, pelo laudo tinha 22,95g (1.250% a mais) e 3,37g (95% a menos), respectivamente. A empresa foi contatada pelo número disponível na internet (0800 773 2762) e pelo e-mail (sac@xpharmasuplementos.com.br), mas não deu resposta.
Apenas três tinham as mesmas quantidades das declaradas no rótulo e no produto: as empresas Growth Supplements, Pro Corps e Supley Laboratório. Outras onze tinham quantidades normais de proteína, mas carboidrato acima dos 20%, entre elas, a Midway, que explicou em nota: “Quando nos laudos se aponta um teor de carboidratos acima do declarado na rotulagem, temos que dizer que o objetivo dos produtos é fornecer proteínas” e acrescenta que “em métodos de análises podem haver variações razoáveis”.

Britânico reverte diabetes com dieta de apenas 11 dias

Caso reforça recente teoria, mas ainda traz dúvidas sobre eficácia em pacientes que têm a condição há bastante tempo.

Robert Doughty: "foi muito difícil, mas consegui" (Foto: Arquivo pessoal/BBC)Robert Doughty: "foi muito difícil, mas consegui"
(Foto: Arquivo pessoal/BBC)
Na Grã-Bretanha, mais um caso de sucesso na reversão do diabetes tipo 2 voltou a chamar a atenção para a teoria de que por meio de uma dieta de restrição calórica, feita por um período determinado de tempo, é possível se livrar da condição que afeta cada vez mais pessoas em todo o mundo.
O jornalista britânico Robert Doughty, de 59 anos, que até o ano passado estava entre os 371 milhões de portadores do diabetes no mundo, reverteu o quadro da própria condição com uma dieta de apenas 800 calorias por dia.
Num período de apenas 11 dias, Doughty enfrentou o duro regime de ingerir três doses diárias de shakes de reposição alimentícia com 200 calorias cada, somada a uma uma porção de legumes e vegetais de mais 200 calorias. Como parte da dieta, ele também teve que tomar um total de três litros de água por dia.
O drástico regime, que para efeito de comparação tem menos calorias do que apenas um dos lanches vendidos pela rede de fast food Mc'Donalds - o Big Tasty tem 843 calorias - não foi 'nada fácil de enfrentar', contou o jornalista em entrevista à BBC Brasil.
'Frequentemente me sentia muito cansado... Uma noite, depois de ir ao teatro, quase não consegui subir as escadas da minha estação local de trem, e caminhar para casa parecia praticamente impossível. Também sentia muito frio, chegando a colocar quatro camadas de roupa no meio do verão, quando sentia meus dedos ficarem dormentes', disse o jornalista.
Doughty seguiu a dieta depois de procurar na internet estudos referentes ao diabetes tipo 2. Antes de começar o regime, ele procurou o pesquisador Roy Taylor, da Universidade de Newcastle, autor da teoria da dieta de 800 calorias, além do próprio médico, de quem obteve o aval para cortar as calorias diárias.
Ele já havia tentando uma dieta considerada menos radical, com cerca de 1.500 calorias por dia, com a qual emagreceu, mas não reduziu a glicose no sangue para o nível adequado.
A teoria
O diabetes tipo 2 se desenvolve quando o pâncreas para de produzir insulina em quantidades suficientes para manter o nível normal de glicose no sangue. No caso do diabetes tipo 1 - também chamado de diabetes congênito -, o pâncreas para totalmente de produzir insulina, que precisa ser injetada no paciente.
Nos dois casos, sem o controle adequado, o nível de glicose no sangue alcança um patamar de risco, o que pode gerar a longo prazo diversas complicações nos rins, pressão arterial alta, perda parcial ou total da visão, problemas no coração, dentre outros males.
No caso da diabetes tipo 2, a condição está fortemente associada à obesidade, uma condição que se alastra em todo o mundo.
Roy Taylor: o "criador" da dieta 800 calorias (Foto: Arquivo pessoal/BBC)Roy Taylor: o "criador" da dieta 800 calorias (Foto:
Arquivo pessoal/BBC)
Foi justamente a associação com a gordura que intrigou professor Roy Taylor, da Universidade de Newcastle, no norte da Inglaterra, quando iniciou seus estudos sobre o diabetes tipo 2 há dois anos.
Ele notou que pacientes que se submetiam à cirurgia para redução de estômago passavam por um período de transição, logo após a cirurgia, de redução drástica da quantidade de calorias ingeridas.
'Até se acostumarem com a redução do próprio estômago, os pacientes comiam muito pouco, porque se sentiam saciados muito rápido e tinham náuseas. Com isso eles perdiam muito peso, num espaço de tempo bem curto', afirmou Taylor em entrevista à BBC Brasil.
Passados alguns meses depois do emagrecimento, o pesquisador notou que a maioria dos pacientes que tinham diabetes tipo 2 tinham se livrado da condição.
Todos eles tinham algo em comum: haviam perdido uma grande quantidade de gordura na região abdominal.
Estudos preliminares mostraram, então, que esse tipo de gordura, localizada na barriga, próxima de órgãos como o pâncreas e o fígado, tinha uma associação com o desenvolvimento do diabetes tipo 2.
'Descobrimos que a gordura na região abdominal provoca uma reação metabólica que dificulta a digestão da glicose pelo pâncreas. A simples presença da gordura nessa região causa uma mudança no metabolismo, que dificulta a produção de insulina', explicou Taylor.
Ao fazer a relação entre calorias ingeridas, tempo gasto para perder peso e a quantidade de gordura perdida, principalmente na região abdominal, Taylor chegou à teoria da dieta de hiper redução calórica.
'Cada pessoa é diferente, mas notamos que a redução calórica para algo em torno de 800 calorias por dia causava a reversão do diabetes. Alguns pacientes demoram mais que outros, mas todos conseguem reverter a condição dentro de oito semanas', afirmou o pesquisador.
O estudo de Taylor foi divulgado em 2011, na publicação científica Diabetologia.
Riscos
A dieta das 800 calorias é considerada segura, mas precisa ser feita com acompanhamento médico, pois há vários riscos e fatores que devem ser levados em consideração.
De acordo Taylor, o primeiro passo é saber se o indivíduo está bem nutrido e não possui falta de vitaminas no organismo, principalmente o ferro.
O obesidade é citada por especialistas como a principal "vilã" no desenvolvimento do diabetes tipo 2. Alguns cientistas, como o professor Roy Taylor, já defendem que o aspecto genético já não é mais relevante. Segundo ele, "qualquer um pode desenvolver a  (Foto: BBC)O obesidade é citada por especialistas como a
principal "vilã" no desenvolvimento do
diabetes tipo 2. Alguns cientistas, como o professor
Roy Taylor, já defendem que o aspecto genético já
não é mais relevante. Segundo ele, "qualquer um
pode desenvolver a condição se não adotar habitos
mais saudáveis" (Foto: BBC)
Ele ressalta que a dieta de hiper restrição calória poderia ser um meio seguro de reduzir o índice de diabetes 'até mesmo em países pobres, desde que todas as precauções sejam tomadas'.
'Seria importante, porém, se tomar extrema precaução com pessoas que são mal nutridas, que devem ter os níveis de vitaminas e especialmente o ferro verificados antes de se iniciar a dieta. Ainda assim, seria muito barato prover suplementos vitamínicos para estas pessoas e continuar a recomendar a dieta para reverter o diabetes'.
Curto prazo X longo prazo
O Brasil ocupa a quarta colocação no ranking dos países com maior índice de diabetes no mundo, com 13,4 milhões de portadores no país, o que equivale a 6,5% da população, de acordo com o último levantamento da Federação Internacional do Diabetes (FID).
Em primeiro lugar está a China (92,3 milhões), seguida da Índia (63 milhões) e Estados Unidos (24,1 milhões).
'Notamos que há uma relação direta entre aumento poder de compra e o crescimento de casos de diabetes no mundo. Em Países como o Brasil, China e Índia, onde a população está podendo consumir mais, o aumento do diabetes é tipo 2 é assustador', ressaltou o presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes, Balduino Tschiedel, em entrevista à BBC Brasil.
Para Tschiedel, 'a pesquisa britânica de hiper redução calórica na reversão da diabetes tipo 2 tem uma validade científica muito grande, porque vem a confirmar a importância da alimentação como fator fundamental no combate a doença'.
No entanto, ele ressalta que manter-se livre da obesidade e consequentemente do diabetes tipo 2 por um longo período de tempo é o maior desafio.
'O maior problema está em manter uma dieta adequada por um longo período de tempo. Esse é o nosso maior desafio, porque envolve uma mudança comportamental muito difícil de ser alcançada num mundo em que a oferta de alimentos hiper calóricos é muito grande', explica Tschiedel.
Ele ainda ressalta que o esforço para combater a obesidade e o diabetes envolve uma ação conjunta de várias entidades.
'Nós, da Sociedade Brasileira de Diabetes, acreditamos que uma mudança nos hábitos da população só seja possível com um conjunto de medidas que envolvam o governo, sociedade civil e a mídia num esforço conjunto para conscientizar e educar as pessoas sobre a importância de se manter uma alimentação mais saudável e atividades físicas regulares', alerta.
No longo prazo, a eficácia da teoria do professor Roy Taylor ainda está sendo testada.
'Notamos em nossos estudos, que as pessoas que contraíram o diabetes tipo 2 há menos de quatro anos são as que melhor respondem ao tratamento da dieta de 800 calorias. Com mais de quatro anos, notamos que se torna mais difícil a reversão da diabetes tipo 2. Então, ainda é muito cedo para dizer que o mesmo método vá funcionar em pessoas que têm diabetes há muito tempo. Estamos tentando entender qual seria o melhor método para essas pessoas', disse Taylor.
Os dados da Federação Internacional do Diabetes (acima) revelam que países que aumentaram o poder de compra são os que mais têm casos de diabetes. Mas para o presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes, Balduino Tschiedel, "o consumo, principalmente no Brasil, que segue os padrões americanos, com grandes quantidades de açúcar adicionados a quase todos os alimentos, está entre as principais causas do aumento da dieta calórica". (Foto: BBC)Os dados da Federação Internacional do Diabetes
revelam que países que aumentaram o poder de
compra são os que mais têm casos de diabetes.
Mas para o presidente da Sociedade Brasileira de
Diabetes, Balduino Tschiedel, "o consumo,
principalmente no Brasil, que segue os padrões
americanos, com grandes quantidades de açúcar
adicionados a quase todos os alimentos, está
entre as principais causas do aumento da dieta
calórica". (Foto: BBC)
Genética x hábitos
De acordo com estudos feitos na Universidade de Newcastle, a genética parece não ser mais um fator fundamental no desenvolvimento do diabetes tipo 2.
'Mesmo pessoas com tendência genética ao diabetes tipo 2 podem evitar o desenvolvimento da condição se mantiverem uma dieta mais restrita de açúcares e uma rotina de exercícios regulares. O mais importante é não chegar ao ponto de acumular gordura na região abdominal', explicou o professor Taylor.
'Pessoas com histórico na família estão mais suscetíveis a desenvolver o diabetes tipo 2, porque isto é uma tendência genética. Mas o fato é que, qualquer pessoa pode desenvolver a doença pelo simples fato de acumular gordura, principalmente na região do abdômen. Então, hoje em dia, podemos dizer que as pessoas desenvolvem o diabetes tipo dois mais por hábitos alimentares inadequados e falta de exercício físico - com um estilo de vida sedentário - do que pela questão genética'.
O jornalista Robert Doughty disse que, apesar da dieta ter sido difícil de ser seguida, ele não desistiu porque acreditou nos benefícios.
'Durante a dieta, fiquei relembrando a mim mesmo os benefícios do regime pare reduzir a glicose no sangue. O fato dos portadores do diabetes tipo 2 terem 36% mais risco de morrer mais cedo e grandes chances de ter ataques cardíacos, aneurisma, danos na visão e problemas de circulação que podem provocar até esmo amputação de membros, e 50% mais chance de tomarem medicação para o resto da vida, foi meu grande incentivo'.
Ele disse que sua maior alegria foi quando seu médico ligou e disse: 'O seu diabetes se reverteu completamente, parabéns!