terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Planejamento, força de vontade e foco ajudam a manter a dieta saudável

Programa desta segunda-feira mostrou como não cair em tentações.
Tudo depende das porções que você come.

Muita gente começa a dieta, mas nunca consegue manter. Isso porque elas não conseguem resistir às tentações. O Bem Estar desta segunda-feira (2) deu dicas para a sua dieta não sair dos trilhos. Os convidados do programa, o endocrinologista Bruno Halpern e a nutricionista Tânia Rodrigues, também mostraram como manter o peso e evitar o efeito sanfona.
Esses argumentos não servem de desculpa. Por exemplo, dá para fazer uma dieta balanceada que caiba no bolso. A nutricionista Tânia Rodrigues explica que uma refeição balanceada precisa de carboidratos, proteínas, gorduras saudáveis em pequena quantidade, vitaminas/minerais e fibras.
Ninguém tem tempo, então por que algumas pessoas conseguem manter a dieta e outras não? O que falta é planejamento.
Você seguiu a dieta direitinho, chegou ao peso que queria. E agora, como manter? O endocrinologista Bruno Halpern diz que é preciso controle e disciplina. Faça atividades físicas, não coma muito fast-food e não enfie o pé na jaca nos eventos sociais. Halpern também diz que o número de visitas ao médico também é importante para a perda de peso ao longo prazo. “Dados científicos mostram que a pessoa que visita o médico periodicamente perde mais peso do que quem não frequenta. Essa pessoa precisa ‘prestar contas’.”
Uma última dica para você que quer emagrecer: fuja dos sabotadores! Vale até contar uma mentirinha do bem pra recusar aquele convite tentador. Existem três tipos: o que só querem uma companhia para um evento social, com a desculpa do ‘só hoje’; o marido/mulher, que quer alguém pra sair pra jantar; e os invejosos.
E lembre-se: não tem alimento que engorda mais ou não. Tudo depende das porções que você come.

Laboratório lança insulina inalável para diabéticos nos Estados Unidos

Laboratório lança insulina inalável para diabéticos nos Estados Unidos

Medicamento deve ser administrado com a ajuda de um pequeno inalador.
Inalação promete agir mais rápido e ser mais conveniente que injeções.

Inalador portátil para uso do Afrezza, insulina inalável que teve sua comercialização nos EUA autorizada pela FDA  (Foto: Divulgação/MannKind Corporation)Inalador portátil para uso do Afrezza, insulina inalável que teve sua comercialização nos EUA autorizada pela FDA (Foto: Divulgação/MannKind Corporation)
A partir de agora, diabéticos que vivem nos Estados Unidos e cujo tratamento inclui o uso de insulina terão uma alternativa ao produto injetável. O laboratório Sanofi lançou uma insulina em pó inalável. O produto já tinha sido aprovado pela Agência de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA) em junho de 2014.
A inalação promete agir mais rapidamente e ser muito mais conveniente do que as injeções.No entanto um produto inalável já falhou no passado e há preocupações sobre os potenciais riscos associados com o ato de respirar a insulina em pó.
Chamado Afrezza, o medicamento deve ser inalado com a ajuda de um pequeno inalador de fácil uso. O produto dissolve-se rapidamente quando atinge o pulmão e fornece insulina para a corrente sanguínea, cumprindo o papel de regular a quantidade de açúcar no sangue.
O Afrezza não deverá ser usado em pacientes com asma ou por aqueles que sofrem de certas complicações. Também não é recomendado para fumantes ou ex-fumantes.
Uma outra insulina inalável produzida pela concorrente Pfizer chamada Exubera foi aprovada em 2006, mas deixou de ser vendida logo depois. O inalador era grande e desajeitado e os pacientes acabaram desistindo de usá-lo, desencorajados pelos testes de função pulmonar periódicos a que tinham de submeter.
XI Congresso Ciências do Desporto e Educação Física
dos países de língua portuguesa
Atividade física e envelhecimento saudável
Wilson JACOB FILHO
Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, Brasil
Introdução
A incomparável transformação do perfil etário da população
verificada no século passado, principalmente nas suas últimas
décadas, decorreu de vários fatores, entre os quais a melhora do
saneamento básico e das condições de saúde pública,
determinando a redução da mortalidade precoce e a nítida
diminuição das taxas de fertilidade e natalidade para níveis que,
em países desenvolvidos, já são inferiores ao fator de reposição
populacional (2,1 nascidos vivos / mulher adulta), o que resulta
em redução absoluta do número de habitantes.
Ademais, a expectativa média de vida para quase toda a
humanidade ainda deve aumentar consideravelmente, mormente
para os habitantes dos países em desenvolvimento, em relação
aos números verificados atualmente.
Por outro lado, o incremento da eficácia das técnicas diagnósticas
e terapêuticas das doenças crônico-degeneretivas contribui para a
crescente prevalência do número de idosos portadores de múltiplas
enfermidades, para os quais temos de encontrar opções interessantes
de vida que, além do aumento da longevidade, também confiram a
estes pacientes a possibilidade da manutenção e/ou recuperação da
sua autonomia e independência.
Vivemos, portanto, um momento marcante e inusitado na
história do homem: nunca tantos viveram tanto.
Estamos diante de um dos grandes desafios da saúde pública
mundial: como combinar o aumento da prevalência de idosos
portadores de intensa co-morbidade sem destinar a este grupo
praticamente todos os recursos de saúde disponíveis (ou não).
Apesar desta ser uma questão preocupante para os países
desenvolvidos, embora estes já estejam atentos e atuantes há muito
mais tempo, tende a ser ainda mais importante nos países em
desenvolvimento, onde os problemas de saúde pública das primeiras
fases da vida ainda não foram resolvidos e os das idades mais
avançadas já se encontram em pé de igualdade aos do primeiro mundo.
O Brasil é um excelente exemplo desta situação. Além das
diferenças regionais, onde podemos observar índices semelhantes
aos dos países africanos (Paraíba, Pernambuco, Alagoas, etc.)
ou aos europeus (Rio Grande do Sul e Santa Catarina),
convivemos com realidades extremas em um mesmo ambiente:
ao lado de uma constante necessidade de aprimorar as condições
de saúde pública relacionadas ao início da vida temos que atentar
ao desenvolvimento das doenças crônico degenerativas para
evitar que venham a comprometer esta crescente população
que atingirá as idades mais avançadas.
Temos, portanto, que escolher o nosso futuro modificando, de
maneira eficaz, o nosso atual modelo de envelhecimento; caso
contrário, estaremos condenados a viver em meio a uma grande
comunidade de idosos dependentes e mal assistidos. Apenas esta
opção nos permitirá atingir os reais benefícios que esta grande
revolução etária pode propiciar ao ser humano: além de viver mais,
viver melhor.
Esta busca ativa pelas melhores condições do envelhecimento
é denominada Promoção da Saúde do Idoso que, segundo a
Organização Mundial de Saúde(OMS) (1982), foi conceituada
como “ações que se manifestam por alterações no estilo de vida
e que resultam em uma redução do risco de adoecer e de morrer”.
Por entendermos ser esta questão eminentemente
gerontógica, criamos em 1985 o termo senecultura, definindoo
como “conjunto de ações interdisciplinares cujo resultado
contribui, efetivamente, para a Promoção da Saúde do Idoso”.
Dentre os inúmeros fatores que podem contribuir para a obtenção
destes resultados, a prática de atividade física vem assumindo papel
fundamental nos diferentes níveis de intervenção. Infelizmente,
porém, apesar do grande acúmulo de evidências que justificam os
seus benefícios, todos os avanços tecnológicos têm propiciado uma
progressiva redução das atividades motoras, seja no âmbito da
moradia, do trabalho ou do lazer.
Trata-se, pois, de um interessante paradoxo. Ao mesmo tempo
em que justificamos, cada vez mais, a prática de atividade física pelo
maior número de pessoas, observamos uma progressiva tendência
da sociedade, principalmente nos grandes centos urbanos, em limitar
ao máximo as suas possibilidades de movimentação.
A prevalência do sedentarismo é elevada em qualquer faixa
etária. Atualmente, torna-se preocupante até em crianças mas,
dentre os adultos jovens e principalmente nos idosos, chega a
cifras superiores a 90%, o que exigirá de todos os profissionais
e instituições relacionadas à Promoção da Saúde do Idoso uma
verdadeira força-tarefa para reduzir estas estatísticas alarmantes.
Sedentarismo: fator de risco ou doença
A cada novo estudo que compara a incidência,
prevalência, g ravidade, eficácia da terapêutica e
mortalidade da maioria das doenças crônico-degenerativas,
bem com de suas complicações, são demonstradas as
influências da atividade física em proteger (ou do
sedentarismo em prejudicar) a sua evolução.
Mesa Redonda
Atividade Física na Terceira Idade e Relações Intergeracionais74 • Rev. bras. Educ. Fís. Esp., São Paulo, v.20, p.73-77, set. 2006. Suplemento n.5.
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dos países de língua portuguesa
Atividade física em idosos: conceitos e preconceitos
São reconhecidos os efeitos deletéricos do sedentarismo em
praticamente todos os fenômenos biológicos, fisiológicos ou
fisiopatológicos, dentre os quais podemos destacar:
· Aterogênese.
· Capacidade ventilatória.
· Captação de oxigênio pelos tecidos.
· Coagulação do sangue.
· Composição dos lípedes plasmáticos.
· Equilíbrio emocional.
· Estabilidade articular.
· Hemodinâmica.
· Imunidade humoral e celular.
· Massa e qualidade muscular.
· Metabolismo dos hidratos de carbono.
· Motilidade intestinal.
· Neoformação vascular.
· Obesidade.
· Osteogênese.
· Sociabilização.
Estas evidências são confirmadas por ampla e crescente
literatura científica, envolvendo casuísticas de variadas idades,
de ambos os sexos e portadores de diferentes estados de saúde.
Em gerontes, porém, ocorre uma situação peculiar. Não é
raro que encontremos um paciente acamado, geralmente “muito
idoso” (denominação atual para aqueles que têm 80 ou mais
anos de idade), cujo histórico clínico demonstre que o início da
sua limitação foi decorrente de uma situação episódica,
geralmente circunstancial (dor, queda, ausência temporária do
cuidador, condições ambientais, dentre outras) e que, com o
passar do tempo teve sua movimentação progressivamente
comprometida.
Esta condição é conhecida por síndrome da imobilidade ou
imobilismo e constitui um dos cinco principais problemas que
podem comprometer a saúde do idoso (Cinco Is ou Cinco
Gigantes da Geriatria).
Quando devidamente diagnosticada e tratada, há recuperação
(por vezes plena) da aptidão motora e conseqüentemente da
auto-estima, o que muito contribui para o aumento da
independência e da longevidade. Caso não detectada, o paciente
passa a ser alvo de inúmeros procedimentos que visam tratar
suas conseqüências, sem que a causa comum seja abordada, o
que limita muito a eficácia destas ações.
A atividade física tem-se confirmado como o principal
procedimento terapêutico da síndrome da imobilidade, donde
podemos entender que o quadro funcional desfavorável tenha
se instalado pela progressiva redução da atividade motora e, por
intermédio da sua reativação, seja progressivamente revertido.
Assim, fica evidente que o sedentarismo pode ser, isoladamente,
responsável por grave estado de limitação da saúde do idoso,
mormente os mais longevos e o seu tratamento, exclusivamente
baseado na prática de atividade física, tem a capacidade de restituir a
estes pacientes o seu estado funcional prévio, a despeito de quaisquer
outras ações terapêuticas dirigidas às demais co-morbidades presentes.
Esta condição caracteriza, ao nosso ver, o sedentarismo como
uma doença potencialmente responsável por importante
limitação funcional em idosos e cujo tratamento específico, com
atividade física programada, pode evitar sua instalação, limitar a
progressão ou mesmo corrigir as disfunções dela decorrentes.
Concluímos, portanto, que sedentarismo é uma doença
particularmente importante entre idosos, que pode ser prevenida
ou tratada pela atividade física devidamente orientada.
Dentre as causas mais comuns do sedentarismo entre idosos,
devemos salientar:
· Orgânicas: são freqüentes as justificativas de interrupção da
prática de atividade física por algum tipo de lesão que, mesmo em
idade jovem, foi utilizada como fator limitante para a sua continuidade.
Por vezes contribuem para esta limitação e opinião médica que, pela
falta de conhecimento sobre a importância da atividade física para o
estado global da saúde, desaconselha sua continuidade sem qualquer
razão justificada. Como veremos adiante, são poucas as situações
clínicas que contra-indicam a sua realização. Exceto nestas, sempre
haverá uma alternativa segura para dar continuidade à programação,
a fim de não permitir a sua nefasta interrupção.
· Culturais: além de haver um tradicional estímulo para evitar
qualquer atividade motora entre as ações cotidianas, por serem
estas entendidas como sinal de menor status econômico, há
também o excesso de cuidados com que geralmente se priva o
idoso das suas potencialidades, tornando-os cada vez mais
passivos a despeito das suas possibilidades de autonomia e
independência. Haveremos de presenciar o dia em que um idoso
subir um ou dois lances de escada não será considerado
“retrógrado” nem “temeroso” por aqueles que aprenderam a
depender totalmente de elevadores ou escadas rolantes.
· Ambientais: dependendo do local em questão, existem
verdadeiras “armadilhas” no trajeto destinado à locomoção de
idosos: irregularidades do solo, ausência de corrimões, de
semáforos, de faixa de pedestres, presença de vendedores
ambulantes, ciclistas, skatistas, patinadores, etc. Poucos são os
espaços destinados à prática segura das atividades físicas nesta
faixa etária.
Dada a recente aquisição de conhecimento nas duas áreas
envolvidas (ciências da atividade física e gerontologia), há ainda grande
dificuldade ao estabelecimento de parâmetros bem fundamentados
nesta interação de áreas do conhecimento científico.
Preferimos conceituar atividade física para idosos como “o
fenômeno biológico que envolve a contração muscular”.
Enfatizamos esta aspecto para descaracterizar uma freqüente
identidade entre exercício e movimento. Em qualquer idade, mas Rev. bras. Educ. Fís. Esp., São Paulo, v.20, p.73-77, set. 2006. Suplemento n.5. • 75
XI Congresso Ciências do Desporto e Educação Física
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principalmente entre os idosos os movimentos poderão ser
limitados (por paralisia e/ ou por dor), o que não contra-indica
a realização de contrações isométricas que, além de prevenir a
atrofia muscular da imobilidade, também pode ser uma estratégia
terapêutica da própria etiologia da lesão.
Muitas contratações já estão, neste momento, devidamente
fundamentadas, como a importância da atividade física como fator
de proteção (ou do sedentarismo como fator de risco) das principais
doenças crônico-degenerativas que freqüentemente acometem idosos.
Outras, porém, encontram ainda algumas resistências para
se tornar consensuais, provavelmente porque decorrem de
evidências mais recentes e/ou contrariam dogmas que
persistiram por muito tempo na prática médica.
Um bom exemplo desta condição é o classicamente preconizado
repouso absoluto para tratamento da insuficiência cardíaca congestiva
(ICC) descompensada. Temos hoje evidências da contribuição de
um programa de atividade física cuidadosamente elaborado na
recuperação do equilíbrio hemodinâmico. Nestes estudos, o que
resultou ainda mais surpreendente foi a constatação da possibilidade
de melhora global da condição funcional, incluindo a captação
periférica de oxigênio, sem que haja obrigatoriamente alteração do
desempenho cardíaco . Isto atesta que os benefícios da atividade
física são sistêmicos e incluem vários mecanismos de ação.
Mas a evolução do conhecimento não parou por aí. A partir
das evidências de que atividades físicas podem (e muitas vezes
devem) ser feitas pelo idoso, emergiram as questões inerentes a
esta indicação, relacionadas ao tipo de exercício, bem como às
diversas particularidades do programa a ser proposto.
Os exercícios mais estudados foram, durante muito tempo,
predominantemente os aeróbicos, o que resultou num longo
período em que predominou a idéia de que apenas estes
poderiam ser benéficos ao idoso, principalmente quando
portador de ampla comorbidade. Vários trabalhos recentes,
porém, têm documentado importantes benefícios do
treinamento com pesos para a reabilitação e profilaxia de
incapacidade física em pessoas idosas.

Possíveis efeitos da atividade física em idosos
Com a evolução do conhecimento gerontológico, tornou-se
mais evidente que o determinante maior do estado de saúde
não é um órgão ou sistema isoladamente, mas o estado funcional
do conjunto, nele incluindo os aspectos emocionais e ambientais,
corroborando o conceito amplificado emitido pela OMS em
1947, no qual “saúde é um estado de pleno bem-estar físico,
psíquico e social”.
Embora esta definição seja aplicável a qualquer faixa etária, é
particularmente representativa entre os idosos, permitindo a
possibilidade de atingirmos um adequado estado de saúde tendo
doenças devidamente diagnosticadas e tratadas, permitindo que
o processo de envelhecimento transcorra de maneira natural,
sem as limitações impostas pelas doenças cujas conseqüências
são a exclusão do idoso das atividades previamente
desempenhadas ou daquelas que tivessem interesse em se dedicar.
Para atingirmos este objetivo, principalmente em grande
escala, devemos reconhecer quais são as principais limitações
que desabilitam o idoso, comprometendo sua autonomia e
independência.
Como já foi apresentado anteriormente, a maior parte das
suas causas está intimamente relacionada ao sedentarismo e pode,
em conseqüência, ser prevenida ou tratada com estratégias que
envolvem a atividade física nas suas mais diferentes modalidades
e com os mais diversos objetivos.
Ampliaram-se, portanto, os universos de atuação e ainda mais
os de possibilidades a serem alcançadas
No passado, classicamente, os programas de atividade física,
principalmente baseados em exercícios aeróbicos, buscavam
incrementar a reserva funcional do aparelho cardio-circulatório,
otimizando o seu desempenho mecânico paralelamente a uma
melhora de distribuição e captação de oxigênio periférico.
Admitia-se ser um aspecto fundamental por entender
erroneamente que eram as cardiovasculopatias as principais
responsáveis pelas limitações dos idosos.
Foi nesta última década, porém, que os estudos foram
dirigidos para um outro segmento da condição da saúde do
idoso: a sua funcionalidade global. Estas e outras co-morbidades,
isoladas ou em associação, são responsáveis pela maioria das
situações de incapacidade dos idosos.
Disto decorre uma visão de atuação muito mais ampla e
globalmente dirigida. Para tal, a prática de atividade física vem sendo
progressivamente estudada na sua eficácia de reduzir a probabilidade
de ocorrência da maior parte das doenças (ação preventiva) ou
contribuir para a eficácia do seu tratamento (ação terapêutica).
Embora estes efeitos sejam mais explícitos na Segunda
metade da vida, serão mais evidentes se o sedentarismo for
combatido desde o seu início. Trata-se, portanto, de uma medida
de saúde que deve ser estimulada em qualquer idade.
Por esta grande diversidade de objetivos e em decorrência
desta nova visão das possibilidades da atividade física, tornouse
necessária a inclusão de outras formas de exercícios para atingir
objetivos mais amplos, como o desenvolvimento da capacidade
funcional do paciente.
Neste propósito, destaca-se a importância da preservação
ou desenvolvimento da capacidade motora do indivíduo que
envelhece, reconhecendo seus principais determinantes. Sabese
que flexibilidade e força diminuídas são as maiores limitações
para as atividades da vida diária.
A quase totalidade das atividades cotidianas depende da
associação desta variáveis: andar em segurança, levantar-se
de uma cadeira ou do vaso sanitário, subir ou descer uma
escada, cuidar da casa ou fazer compras são exemplos
Mesa Redonda
Atividade Física na Terceira Idade e Relações Intergeracionais76 • Rev. bras. Educ. Fís. Esp., São Paulo, v.20, p.73-77, set. 2006. Suplemento n.5.
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Os riscos devem ser conhecidos
evidentes de como a aptidão motora determina a condição
funcional do idoso.
Por outro lado, as quedas representam importante situação
de risco entre idosos, não apenas pela sua potencial capacidade
de provocar traumas e fraturas, mas também pelas suas
conseqüências emocionais, hoje conhecidas como “síndrome
pós-queda”. Atualmente já se reconhece que a redução da força
muscular é o principal fator relacionado às quedas em idosos.
Por outro lado, há fatores predisponentes que proporcionam
maior probabilidade de que um desencadeante, como a queda,
possa provocar o evento potencialmente responsável pela
limitação: a fratura. Dentre estes estados progressivos, geralmente
crônicos e assintomáticos, destaca-se a osteoporose.
Torna-se, portanto, fundamental que as ações preventivas
sejam dirigidas não apenas a um fator isolado, mas também
para todos os envolvidos no processo. Este é um bom
exemplo para justificar a crescente ênfase que a literatura
científica vem dando aos exercícios realizados contra
resistências mecânicas, mais conhecidos como “exercícios
com pesos, “exercícios resistidos” ou “musculação”. Tratase
de um treinamento muito eficiente para aumentar a força
muscular, a densidade óssea e a flexibilidade de idosos, mesmo
aqueles mais longevos ou portadores de grande comorbidades,
adaptando-os aos limites de amplitude que
eventuais processos degenerativos possam determinar.
Há situações porém, em que o idoso tem de ser tratado em
outro tipo de modalidade, mesmo que seja apenas para vencer
artigos, preconceitos ou prévias indicações. O profissional
habilidoso deverá conduzir sua orientação preferencial
fornecendo o caminho e o tempo necessário para atingir os
objetivos programados.
Esta é mais uma evidência de quão peculiar pode ser a orientação
do programa em idosos e de como a combinação de diferentes
estratégias de prática da atividade física permitem a obtenção de
resultados não alcançáveis com qualquer destas atividades
isoladamente.
Outros benefícios, porém, podem ser almejados. Dentre eles,
a redução de gordura corpórea tem sido cada vez mais almejada,
em função da verdadeira epidemia que a obesidade representa
hoje em todas as idades e em diferentes níveis sociais. A perda
de peso pode ser obtida tanto por exercícios aeróbicos quanto
pelos anaeróbicos como a ginástica com pesos. Seus efeitos são,
porém, potencializados com a associação destes com a dieta
hipocalórica. Este efeito é ainda mais pronunciado nos exercícios
com pesos por causa do aumento da massa magra.
Nos diabéticos, a atividade física em geral é útil não apenas
em função da captação de glicose insulino-independente durante
os exercícios, mas também em caso do aumento da sensibilidade
insulínica nos músculos. Os exercícios com pesos parecem ser
particularmente úteis por causa do aumento da massa muscular,
o que leva a uma maior quantidade de tecido captador de glicose,
mesmo em repouso.
Distúrbios posturais e doenças pulmonares crônicas são
algumas situações nas quais a atividade física desempenha
importante papel na recuperação das aptidões. Dentre todas as
técnicas utilizadas, detecta-se que aquelas que provocam aumento
de força e elasticidade muscular são as que permitem maior
adaptação às limitações existentes.
Vários são os parâmetros que podem nos ajudar a reconhecer
o risco inerente à prática de atividade física em idosos,
principalmente quando portadores de alguma cardiopatia. O teste
ergométrico (ECG de esforço) continua sendo o simulador mais
recomendado para a avaliação inicial, quando houver evidência
clínica de doença e/ou grande probabilidade da sua ocorrência.
No treinamento com pesos, o controle que se pode ter sobre
fatores como a carga, a amplitude, a velocidade, a duração e a
freqüência dos exercícios é total, permitindo que os esforços
sejam adaptados às condições físicas de cada praticante. Esta
plasticidade das características do treinamento com pesos é
particularmente útil para os exercícios de pessoas debilitadas.
As antigas considerações dos efeitos deletérios dos exercícios,
principalmente dirigidas contra as suas conseqüências
cardiocirculatórias, estão sendo progressivamente revistas. As
evidências atuais não sustentam quaisquer efeitos de elevação
da pressão arterial, de hipertrofia inadequada da massa ventricular
ou indução de arritmias. Ao contrário, demonstra-se um efeito
positivo da atividade física em portadores prévios destas e de
outras afecções. Mesmo com exercícios resistidos, o sistema
cardiocirculatório reage de maneira fisiológica.A fórmula sanguínea
se altera favoravelmente com relação aos fatores de risco para doença
ateromatosa, tal como ocorre com o treinamento aeróbico.
Todas as evidências apresentadas terão maior aplicabilidade prática
se resumirmos as recomendações fundamentais para a avaliação do
risco em situações especiais. Elas se baseiam no último consenso do
Colégio Americano de Medicina Esportiva e preconizam que a
atividade física em idosos é contra-indicada nas seguintes condições:
· Angina instável.
· Pressão sistólica >200mmHG e/ou pressão diastólica
>110mmHg em repouso.
· Hipotensão ortostática (>20mmHg) sintomática.
· Estenose aórtica com gradiente>50mmHg e/ou orifício
valvar <0,75cm2
.
· Doença sistêmica aguda ou febre.
· Arritmia atrial ou ventricular descontrolada.
· Taquicardia sinusal com freqüência cardíaca >120bpm.
· Insuficiência cardíaca congestiva descompensada.
· Bloqueio atrioventricular de 3.º grau sem marca passo.
· Pericardite ou miocardite em atividade. Rev. bras. Educ. Fís. Esp., São Paulo, v.20, p.73-77, set. 2006. Suplemento n.5. • 77
XI Congresso Ciências do Desporto e Educação Física
dos países de língua portuguesa
Conclusões
Atualmente, a busca pela melhor forma de tratar o idoso
encontra., cada vez mais, a opção de incentivar, insistentemente,
o incremento da sua atividade física.
O conceito antigo, preconizado por Hipócrates há quase 2.500
anos, de que “as partes do corpo que se mantém ativas envelhecem
com saúde enquanto as inúteis ficam doentes e envelhecem
precocemente”, parece ainda não Ter sido incorporado aos nossos
hábitos atuais ou às nossas recomendações profissionais.
Infelizmente, todas as evidência apontam para um futuro
preocupante caso não sejam tomadas medidas drásticas para
reverter este “sedentarismo epidêmico”, que não se restringe
mais aos adultos ou idosos mas assola cada vez mais os jovens e
as crianças.
Há níticas evidências pelas quais a prática de atividade física
pode interferir na saúde, principalmente quando se acompanham
de maiores possibilidades de satisfação pessoal e de possibilidades
de interação social.
Enfatiza-se a importância da diversidade de estratégias de
ação, preconizando a utilização sem preconceito de atividades
antes restritas a jovens, como os exercícios com pesos, ou as
atividades divididas em sessões durante o dia.
Principalmente nas atividades em grupo há o chamado
“ganho secundário”, que inclui o equilíbrio emocional, a autoestima
e a integração social, benefícios menos comumente
ressaltados na prática clínica cotidiana, porém extremamente
vantajosos para idosos.
Salientam-se, ademais, as possibilidades de riscos inerentes à
prática de atividade física por idosos portadores de doenças,
culminando com um resumo objetivo das condições em que a
prática dos exercícios deva ser evitada.
Um olhar cuidadoso detectará facilmente que isto ocorre
apenas em situações muito especiais, o que garante que, na
maioria dos casos, a atividade física deva ser estimulada em todas
as orientações dirigidas à promoção do envelhecimento saudável.

Fatores determinantes do envelhecimento saudável

Fatores determinantes do envelhecimento
saudável em idosos residentes em centro
urbano: Projeto Epidoso, São Paulo
Determinant factors for healthy aging among
senior citizens in a large city: the Epidoso
Project in São Paulo
1 Departamento
de Medicina,
Centro de Estudos
do Envelhecimento,
Universidade Federal de
São Paulo. Rua dos Ottonis
731, São Paulo, SP
04025-002, Brasil.
luizramos.dmed@epm.br
Luiz Roberto Ramos 1
Abstract Population aging leads to an increase in the prevalence of chronic and disabling diseases,
as well as a change in the public health paradigm. Diseases diagnosed in the elderly are
generally not curable; if not properly treated and monitored over time, they tend to generate
complications and sequelae that impair patients’ independence and autonomy. Health is no
longer measured by the presence or absence of disease, but by the degree of preservation of functional
capacity. Factors for healthy aging with good functional capacity and those which increase
the risk of death and disability need to be identified by longitudinal surveys that include
the elderly population living in the community. This article presents data from the first followup
survey of senior citizens in Brasil, called the Epidoso Project (from “epi” as in “epidemiologic”
and “idoso” or “elderly” in Portuguese) implemented since 1991 in the city of São Paulo. The socio-demographic,
clinical, and functional characteristics of a cohort of elderly are discussed,
with a risk analysis for death and disability, and the implications for health planning are considered.
Key words Aging Health; Demographic Aging; Chronic Disease; Longitudinal Studies
Resumo Com o envelhecimento populacional, temos um aumento da prevalência de doenças
crônicas e incapacitantes e uma mudança de paradigma na saúde pública. As doenças diagnosticadas
num indivíduo idoso geralmente não admitem cura e, se não forem devidamente tratadas
e acompanhadas ao longo dos anos, tendem a apresentar complicações e seqüelas que comprometem
a independência e a autonomia do paciente. A saúde não é mais medida pela presen-
ça ou não de doenças, e sim pelo grau de preservação da capacidade funcional. Quais os fatores
que determinam um envelhecimento saudável, com boa capacidade funcional, e quais os fatores
que aumentam o risco de morte e incapacidade são questões que terão que ser respondidas por
inquéritos longitudinais que incluam a população idosa residente na comunidade. Este artigo
apresenta dados do primeiro inquérito populacional de seguimento com idosos na comunidade
no Brasil – Projeto Epidoso, em curso desde 1991 na cidade de São Paulo. São discutidas as características
sócio-demográficas, clínicas e funcionais de uma coorte de idosos, com análise de
risco para morte e incapacidade e considerações sobre as implicações para o planejamento em
saúde.
Palavras-chave Saúde do Idoso; Envelhecimento da População; Doença Crônica; Estudo Longitudinal
794 RAMOS, L. R.
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 19(3):793-798, mai-jun, 2003
Capacidade funcional:
um novo paradigma em saúde
Embora a grande maioria dos idosos seja portadora
de, pelo menos, uma doença crônica
(Ramos et al., 1993), nem todos ficam limitados
por essas doenças, e muitos levam vida
perfeitamente normal, com as suas enfermidades
controladas e expressa satisfação na vida.
Um idoso com uma ou mais doenças crônicas
pode ser considerado um idoso saudável, se
comparado com um idoso com as mesmas doenças,
porém sem controle destas, com seqüelas
decorrentes e incapacidades associadas. Assim,
o conceito clássico de saúde da Organiza-
ção Mundial da Saúde (OMS) mostra-se inadequado
para descrever o universo de saúde dos
idosos, já que a ausência de doenças é privilé-
gio de poucos, e o completo bem-estar pode ser
atingido por muitos, independentemente da
presença ou não de doenças.
Na verdade, o que está em jogo na velhice é
a autonomia, ou seja, a capacidade de determinar
e executar seus próprios desígnios. Qualquer
pessoa que chegue aos oitenta anos capaz
de gerir sua própria vida e determinar quando,
onde e como se darão suas as atividades de lazer,
convívio social e trabalho (produção em algum
nível) certamente será considerada uma
pessoa saudável. Pouco importa saber que essa
mesma pessoa é hipertensa, diabética, cardíaca
e que toma remédio para depressão – infelizmente
uma combinação bastante freqüente
nessa idade. O importante é que, como resultante
de um tratamento bem-sucedido, ela
mantém sua autonomia, é feliz, integrada socialmente
e, para todos os efeitos, uma pessoa
idosa saudável.
Uma outra pessoa com a mesma idade e as
mesmas doenças, porém sem controle destas,
poderá apresentar um quadro completamente
diferente. Inicialmente sob a influência da depressão,
essa pessoa poderá apresentar uma
progressiva reclusão social, com tendência ao
sedentarismo, déficit cognitivo, perda de autoestima
e abandono de autocuidados. Paralelamente,
o diabetes e o problema cardíaco, que de
início não limitavam, passam a limitar fisicamente,
agravando o problema mental e aumentando
o risco para complicações cardiovasculares.
Nesse momento a capacidade funcional
encontra-se já bastante comprometida, com
dependência física e mental para a realização
de atividades da vida diária mais complexas,
como, por exemplo, limpar a casa, fazer compras,
cuidar das finanças. No momento seguinte,
o advento de um acidente vascular cerebral
ou infarto do miocárdio não fatais pode remeter
essa pessoa para um novo patamar de dependência,
no qual será necessário assistência
continuada para a realização das atividades
mais básicas da vida cotidiana, como comer,
vestir, ou tomar banho. Eventualmente, o adequado
tratamento dessas doenças pode reverter
o quadro, mas não a ponto de retornar ao
patamar inicial. Nesse caso, ninguém hesitaria
em caracterizar essa pessoa como doente.
Capacidade funcional surge, portanto, como
um novo paradigma de saúde, particularmente
relevante para o idoso (Fillenbaum, 1984;
Kane & Kane, 1981). Envelhecimento saudável,
dentro dessa nova ótica, passa a ser a resultante
da interação multidimensional entre saúde
física, saúde mental, independência na vida diá-
ria, integração social, suporte familiar e independência
econômica. A perda de um ente querido,
a falência econômica, uma doença incapacitante,
um distúrbio mental, um acidente,
são eventos cotidianos que podem, juntos ou
isoladamente, comprometer a capacidade funcional
de um indivíduo. O bem-estar na velhice,
ou saúde num sentido amplo, seria o resultado
do equilíbrio entre as várias dimensões da
capacidade funcional do idoso, sem necessariamente
significar ausência de problemas em
todas as dimensões.
Avaliação multidimensional do idoso
Com base no conceito de saúde do idoso como
capacidade funcional, foram desenvolvidos inú-
meros instrumentos abrangendo as várias dimensões
pertinentes à avaliação global da capacidade
funcional de um idoso. Um dos primeiros
instrumentos deste tipo foi o Olders Americans
Research and Services (OARS), Multidimensional
Functional Assessment Questionnaire
(OMFAQ), concebido nos Estados Unidos
(Duke University Center for the Study of Aging
and Human Development, 1978) e traduzido e
adaptado para o português – BOMFAQ (Brazilian
version of OMFAQ) (Ramos & Goihman,
1989). Trata-se de um questionário fechado que
fornece dados sócio-demográficos, avalia a percepção
subjetiva do idoso, a saúde física e mental
(aspectos cognitivos e emocionais), independência
no dia-a-dia, suporte social e familiar e
utilização de serviços. O objetivo desse instrumento
é proporcionar um perfil de saúde multidimensional,
identificando quais as dimensões
que mais diretamente comprometem a
capacidade funcional da população e, com isso,
indicando soluções que transcendem uma
linha programática baseada no aumento da cobertura
diagnóstica e terapêutica das doençasCad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 19(3):793-798, mai-jun, 2003
crônicas não transmissíveis (DCNT) que acometem
o idoso.
Um dos primeiros estudos populacionais,
com avaliação multidimensional de idosos residentes
na comunidade, no Brasil, foi realizado
na cidade de São Paulo em 1984 (Ramos &
Goihman, 1989). Os dados desse estudo mostraram
que o idoso residente num grande centro
urbano latino-americano apresentava um
perfil muito semelhante ao que se esperaria de
uma população de idosos residente em um país
desenvolvido, porém com algumas idiossincrasias
marcantes.
Em geral, a população de idosos apresentou
uma alta prevalência de doenças crônicas –
quase 90% referiram pelo menos uma DCNT –,
principalmente hipertensão arterial, dores articulares
e varizes. Quase a metade referiu precisar
de ajuda para realizar pelo menos uma
das atividades da vida diária, instrumentais ou
pessoais (limpar a casa, ir ao banheiro, comer,
trocar de roupa, etc.), e cerca de um quarto teve
um screening positivo para distúrbio emocional
tipo distimia. Esses dados poderiam
perfeitamente dizer respeito a uma população
urbana européia, por exemplo. No entanto, alguns
dados da caracterização sócio-demográfica,
em particular, eram bastante distintos.
A começar pela idade média (72 anos), que
era baixa quando comparada à de países desenvolvidos,
e pela razão de homens/mulheres,
que foi mais elevada do que em países desenvolvidos,
onde a proporção de mulheres é bastante
superior à de homens. Todavia, as duas
variáveis que se mostraram mais diferenciadas
de um padrão europeu ou norte-americano foram
o nível sócio-econômico e o arranjo domiciliar
do idoso.
A renda média per capita no domicílio do
idoso da amostra foi de US$100/mês, variando
de US$32, no subdistrito periférico de baixa
renda, a US$233. no subdistrito central de alta
renda. O nível de renda mostrou-se fortemente
associado com a saúde física e mental. A proporção
de idosos com DCNT, ou depressão, ou
dependência no dia-a-dia foi significativamente
mais alta entre idosos de baixa renda.
O arranjo domiciliar, por sua vez, mostrou
que o idoso nessa região do Brasil ainda vive
majoritariamente dividindo o domicílio com
seus filhos e muitas vezes com filhos e netos.
Esse tipo de domicílio, chamado multigeracional,
acomodava mais de 50% dos idosos, e em
metade das residências o idoso vivia com filhos
casados e com netos. Esse achado contrastava
com o que se verifica em países desenvolvidos,
onde menos de 5% dos idosos vivem em domicílios
com os filhos e muito raramente com os
FATORES DETERMINANTES DO ENVELHECIMENTO SAUDAVEL EM IDOSOS 795
netos. A maioria vive com o cônjuge apenas, ou
só. Em São Paulo, apenas 10% dos idosos viviam
sós, menos de um terço do que se espera
em qualquer população européia, por exemplo.
Os dados aparentemente confirmaram a
concepção de que os idosos no Brasil, assim
como nos países latino-americanos, em geral,
teriam um suporte familiar mais intenso do
que os idosos na Europa, evidenciando um tra-
ço cultural, que de certa forma compensaria o
desnível sócio-econômico.
Por outro lado, os diferentes tipos de arranjos
domiciliares abrigavam idosos com características
bastante distintas. Os idosos vivendo
em domicílios com filhos e netos eram, geralmente,
viúvas, bem idosas, de origem rural, com
uma renda muito baixa ou inexistente. Apresentavam
uma prevalência acima da média de
DCNT, de dependência severa no dia-a-dia, e
de distúrbio afetivo, como depressão. Apesar
da presença física de vários familiares, eram
idosos que, com uma freqüência acima da mé-
dia, referiam sensação de solidão.
O idoso morando apenas com filhos era, em
geral, do sexo masculino, de origem rural, casado,
mais jovem, com melhor condição sócioeconômica
e mais independência no dia-a-dia.
No caso dos domicílios em que vivia apenas um
casal, o idoso era geralmente homem, de origem
urbana, também no grupo etário mais jovem,
com poucas doenças crônicas e total independência
no dia-a-dia.
Os idosos vivendo sós eram, em geral, mulheres
com uma origem urbana, viúvas, de ní-
vel sócio-econômico baixo, com várias doenças
e um nível intermediário de dependência no
dia-a-dia, já que os estados de dependência grave
mostraram-se incompatíveis com a vida só.
Alternativamente, essa idosa morando só poderia
ser uma pessoa solteira, com renda pessoal
mais alta e condição de saúde e independência
acima da média.
A conclusão a que se chegou foi que os arranjos
domiciliares multigeracionais, além de
serem extremamente prevalentes, associavamse
significativamente com um nível sócio-econômico
baixo, geralmente afetando mulheres
viúvas com várias doenças e um grau de moderado
a severo de dependência no dia-a-dia.
Mais do que uma opção sócio-cultural, tais arranjos
mostraram-se uma forma de sobrevivência.
Na verdade, os idosos com nível sócioeconômico
mais alto viviam majoritariamente
apenas com o cônjuge ou sós, reproduzindo o
modelo verificado nos países mais desenvolvidos.
Vale referir que nesses casos não havia, necessariamente,
uma falta de suporte familiar;
havia, sim, um esquema de intimidade a dis-796 RAMOS, L. R.
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 19(3):793-798, mai-jun, 2003
tância entre os membros da família, nos moldes
que se verificam nos países mais desenvolvidos
(Ramos, 1992; Ramos et al., 1992).
Fatores de risco para mortalidade
A velhice é um período da vida com uma alta
prevalência de DCNT, limitações físicas, perdas
cognitivas, sintomas depressivos, declínio sensorial,
acidentes e isolamento social. Entretanto,
tem crescido o interesse em estabelecer quais os
fatores que, isolada ou conjuntamente, melhor
explicam o risco que um idoso tem de morrer em
curto prazo, uma noção útil do ponto de vista
epidemiológico e clínico. Para responder a essa
questão, no entanto, faz-se necessário estudos
longitudinais, que acompanhem coortes de idosos,
controlando os possíveis fatores de risco.
Estudos longitudinais com amostras populacionais,
especialmente desenhados para avaliar
fatores de risco para mortalidade em idosos,
ainda são relativamente raros na literatura.
Alguns estudos discutem fatores de risco
para mortalidade em idosos, mas baseiam-se
em amostras não populacionais, ou analisam
amostras populacionais que não foram originalmente
selecionadas para estudar idosos.
O principal fator de risco para mortalidade
continua sendo a própria idade. Quanto mais
se vive maior é a chance de morrer. A maioria
dos estudos longitudinais com idosos residentes
na comunidade parece concordar que, além
da idade, o sexo do indivíduo pode ser determinante
do risco morte, com os homens apresentando
um risco maior do que as mulheres (Jagger
et al., 1993; NCHS, 1985). Todas as demais
variáveis são dependentes de uma complexa
interação entre o indivíduo e o meio ambiente,
que, por sua vez, varia de cultura para cultura e
de tempos em tempos. Mesmo o fator sexo pode
vir a ter sua relação de risco alterada no futuro,
com a evolução social promovendo um
aumento significativo de mortes por DCV entre
as mulheres, agora mais expostas do que antes
aos fatores de risco ocupacionais e ambientais,
devido a sua progressiva incorporação à população
economicamente ativa.
Outros fatores objetivos da avaliação multidimensional
de pessoas idosas os quais gozam
de uma concordância entre os vários estudos
são o grau de incapacidade, avaliado pelo desempenho
nas atividades da vida diária (AVDs),
e história de hospitalização prévia no último
ano.
Uma variável que tem merecido considerá-
vel atenção nessa área de determinantes de
mortalidade entre idosos é a auto-avaliação
subjetiva de saúde do idoso. Por ser uma variá-
vel simples de ser obtida, com potencial de sintetizar
uma complexa interação de fatores envolvidos
na saúde de um idoso, e com alto valor
preditivo de mortalidade, a maioria dos estudos
dedica atenção especial à discussão das
implicações práticas dessa variável como um
indicador de saúde (Mossey & Shapiro, 1982).
Entretanto, poucos estudos incluíram a medida
do estado cognitivo do idoso entre as variáveis
independentes do modelo multivariado
de determinação de risco de morte, e praticamente
nenhum estudo avaliou o grau de depressão
do entrevistado. Ambas as variáveis podem,
em teoria, confundir a associação entre
auto-avaliação de saúde e o risco de morte entre
idosos.
Epistemologicamente a morte vem associada
com a doença física, numa concepção, em geral
válida, de que as pessoas doentes morrem
mais. Contudo, os estudos sobre determinantes
de mortalidade em idosos têm mostrado
que as doenças crônicas referidas ou diagnosticadas
não afetam significativamente o risco
de morte (Wolinsky et al., 1995). Provavelmente
devido à variabilidade com que a mesma
doença afeta a capacidade funcional.
Vale lembrar, no entanto, que nenhum dos
estudos longitudinais, acima referidos, sobre
risco de morte em idosos foi conduzido em país
em desenvolvimento, onde a pobreza, o nível
educacional baixo e uma estrutura familiar diferenciada
podem introduzir variações idiossincráticas
no modelo preditivo de morte.
O Projeto Epidoso é o primeiro estudo longitudinal
com idosos, na América Latina, que avaliou
pessoas residentes na comunidade, com
um instrumento multidimensional e seguiu a
coorte em busca de fatores associados ao envelhecimento
saudável e fatores de risco para
mortalidade. Há mais de dez anos, pessoas que
tinham 65 anos ou mais em 1991 são seguidas
no domicílio e acompanhadas em ambulató-
rio, na área de captação do Centro de Estudos
do Envelhecimento (CEE) da Escola Paulista de
Medicina, Universidade Federal de São Paulo
(EPM/UNIFESP), no Município de São Paulo
(Ramos et al., 1998).
A mortalidade por todas as causas nessa
coorte de idosos residentes em zona urbana foi
de quase 10% em dois anos. Os fatores que aparentemente
influenciaram o risco de morte, resultado
de uma análise bivariada, foram: sexo
(masculino), idade (avançada), auto-avaliação
subjetiva de saúde (negativa), história pregressa
de sedentarismo, edentulismo, quedas, acidente
vascular cerebral e incontinência uriná-
ria, hospitalização e visita ao médico nos últi-FATORES DETERMINANTES DO ENVELHECIMENTO SAUDAVEL EM IDOSOS 797
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 19(3):793-798, mai-jun, 2003
mos seis meses, positividade para depressão,
déficit cognitivo e dependência no dia-a-dia.
Utilizando-se um modelo multivariado de
análise, com regressão logística, poucas variá-
veis mantiveram um efeito independente e significante
no risco de morte, a saber: sexo, idade,
hospitalização prévia e positividade nos rastreamentos
para déficit cognitivo e dependência
no dia-a-dia (Ramos et al., 2001).
Na prática, os únicos fatores de risco mutá-
veis que poderiam diminuir o risco de morte foram
o estado cognitivo e o grau de dependência
no dia-a-dia, avaliados, respectivamente, através
de do mini-exame do estado mental (Folstein
et al., 1975) e da escala de atividades da vida
diária (Ramos et al., 1993), ambas escalas
simples, confiáveis e validadas, que poderiam
ser incorporados ao protocolo clínico de aten-
ção à saúde do idoso em nível primário.
A saúde pública e o novo paradigma
O desafio maior no século XXI será cuidar de
uma população de mais de 32 milhões de idosos,
a maioria com nível sócio-econômico e
educacional baixos e uma alta prevalência de
doenças crônicas e incapacitantes.
A principal fonte de suporte para essa população
de idosos ainda é a família, principalmente
aquela que, em domicílios multigeracionais,
coabita com o idoso, o qual representa
uma parcela da população de idosos que tende
a ser mais pobre, com mais problemas de saúde
e mais dependente no dia-a-dia do que a mé-
dia dos idosos. Afora as limitações financeiras
para aderir aos múltiplos tratamentos necessá-
rios, geralmente em bases crônicas, a disponibilidade
de suporte familiar para o idoso dependente
deverá decair marcadamente em face
da diminuição do tamanho da família, o aumento
do número de pessoas atingindo idades
avançadas e a crescente incorporação da mulher
– principal cuidadora – à força de trabalho
fora do domicílio.
O sistema de saúde terá que fazer frente a
uma crescente demanda por procedimentos
diagnósticos e terapêuticos das doenças crônicas
não transmissíveis, principalmente as cardiovasculares
e as neurodegenerativas, e a uma
demanda ainda maior por serviços de reabilitação
física e mental. Será preciso estabelecer
indicadores de saúde capazes de identificar
idosos de alto risco de perda funcional e orientar
ações concentradas de promoção de saúde
e manutenção da capacidade funcional. Ações
que tenham um significado prático para os profissionais
atuando no nível primário de atenção
à saúde e que tenham uma relação de custo-benefício
aceitável para os administradores dos
parcos recursos destinados à área da saúde.
Estudos transversais já haviam demonstrado
que os idosos em um centro urbano apresentam
uma alta prevalência de incapacidades
físicas e mentais geradoras de dependência no
dia-a-dia. O seguimento longitudinal mostrou
que essas limitações aumentavam significativamente
o risco de morte nessa população.
Medidas de intervenção visando identificar
causas tratáveis de déficit cognitivo e de perda
de independência no dia-a-dia deveriam tornar-se
prioridade do sistema de saúde, dentro
de uma perspectiva de reestruturação programática
realmente sintonizada com a saúde e o
bem-estar da crescente população de idosos. O
objetivo principal do sistema deve ser a manutenção
da capacidade funcional do idoso, mantendo-o
na comunidade, pelo maior tempo possível,
gozando ao máximo sua independência.
A manutenção da capacidade funcional é,
em essência, uma atividade multiprofissional
para a qual concorrem médicos, enfermeiras, fisioterapeutas,
terapeutas ocupacionais, psicó-
logos e assistentes sociais. A presença desses
profissionais na rede de saúde deve ser vista como
uma prioridade. Contudo, para que a aten-
ção ao idoso possa se realizar em bases interprofissionais
é fundamental que se estimule a
formação de profissionais treinados, mediante a
abertura de disciplinas nas universidades, de residências
médicas e de linhas de financiamento
a pesquisas que identifiquem a área da geriatria
e gerontologia.798 RAMOS, L. R.
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 19(3):793-798, mai-jun, 2003
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