Jaime, de 82 anos, e Philomena, 76, vivem o romantismo do relacionamento que começou na Uerj
RIO - O amor não tem idade. Nem o namoro. Por isso, Jaime Ramos, de 82 anos, e Philomena de Medeiros Vieira, 76, vivem um dos momentos mais românticos para os apaixonados. Sim, eles são um casal de namorados . E, como muitos outros, moram em casas separadas, passam os fins de semana juntos e passeiam bastante. O relacionamento começou há dois anos, na Universidade Aberta da Terceira Idade (UnAti/Uerj), e no próximo dia 12, eles pretendem comemorar, mais uma vez, o Dia dos Namorados.
Jaime e Philomena se conheceram em 2009, na oficina de dança de salão da UnAti. Ela estava viúva havia dois anos e passou a frequentar a instituição por recomendação de um amigo.
— Fui casada com um menino lindo por 50 anos. Quando ele se foi, fiquei deprimida. Um amigo indicou a UnAti e, realmente, foi muito bom para mim ter vindo para cá — conta Philomena, moradora de Tomás Coelho.
As trocas de olhares entre os dois nas aulas acabou chamando a atenção de Kátia Ceargnin, professora de dança de salão da UnAti/Uerj.
— Eu sabia que ia dar certo — lembra Kátia, que formou o par pensando no desempenho na aula. — Eles não se entendiam bem com os parceiros com os quais dançavam. Percebi que o conjunto ia ficar muito bonito se os dois dançassem juntos. Mas eu me considero a madrinha deles, sim — diz a professora.
Philomena diz que teve duas sortes na vida: o casamento duradouro, do qual nasceram dois filhos e três netos; e o atual namoro com Jaime. Viúvo duas vezes, ele retribui o carinho.
— Dizem que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. No meu caso, caiu três. Posso dizer que tive três sorte na vida — diz Jaime, que mora com o único filho, solteiro, no Rio Comprido.
O casal se encontra durante a semana na UnAti e passa os fins de semana junto, quando Philomena costuma dormir na casa de Jaime. Teatro, shows e restaurantes são alguns dos programas preferidos dos dois, que gostam muito de passear. Há várias explicações para tanta disposição, e uma delas pode ser o simples fato de estarem curtindo o relacionamento. Para o presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG-RJ), Rodrigo Serafim, o namoro não pode ser considerado uma exclusividade dos jovens.
— O namoro não é uma prerrogativa da juventude. Na terceira idade, traz benefícios importantes como socialização e estímulo a um recomeço de sua vida. Segundo dados do IBGE, estima-se que 11% dos idosos vivam sozinhos no Brasil, o que traz um enorme peso às famílias. A presença de um companheiro serve de estímulo, evitando confinamento e depressão, e mantendo sua qualidade de vida. Estudos já mostraram que os idosos são mais afetivos em seus relacionamentos que os jovens — afirma.
Outro fator muito importante, segundo Serafim, é a atividade que ambos praticam. Além da dança de salão, Jaime faz outras cinco oficinas. Philomena também participa das aulas de dança holística, entre outras oferecidas na UnAti.
— A dança é familiar às pessoas e, principalmente, àqueles de gerações anteriores. Possui a grande vantagem de proporcionar um exercício físico e mental, porém, de uma forma mais prazerosa. Mesmo indivíduos com déficits cognitivos graves podem, pela música, ativar centros de memória ainda intactos, trazendo prazer e bem-estar. O fato de (Jaime e Philomena) terem se conhecido em uma oficina de dança confirma o poder de socialização que estas atividades conjuntas têm sobre os idosos, e daí, deverem ser estimuladas — afirma o médico.
Para Kátia, que trabalha há 32 anos com dança de salão, e há dois anos dá aulas na UnAti/Uerj, os resultados em alunos da terceira idade são muito positivos.
— Geralmente, as apessoas chegam meio tristes e desanimadas. Com o tempo, passam a cuidar mais do corpo, a se vestirem melhor e a terem conversas alegres — afirma.
Para as fotos que ilustram esta reportagem, Jaime e Philomena andaram por vários lugares na Uerj, entraram e saíram da oficina de dança, foram até o Boulevard Vinte e Oito de Setembro, em Vila Isabel. Tudo isso, com sorrisos, corpos esguios e palavras agradáveis. Não deixaram dúvidas quanto à jovialidade que têm.
— Somos ávidos por viver e desfrutar a vida. Meu neto diz assim: “Minha velha”; e eu digo: “Velha é a avó” — conta Philomena.