quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

PREVENÇÃO PRECOCE DA DOENÇA CARDIOVASCULAR



MANUTENÇÃO DE UM BAIXO PERFIL DE RISCO CARDIOVASCULAR NO ADULTO JOVEM CONTRIBUI PARA PREVENÇÃO DE DCV EM IDADES AVANÇADAS

Nas últimas décadas, a mortalidade por doenças cardiovasculares (DCV) diminuiu em países desenvolvidos. Nos EUA, aproximadamente 50% desse declínio está relacionado ao tratamento da doença, os outros 50% estão associados às mudanças nos fatores de risco, tais como redução no colesterol total (24%), na pressão arterial sistólica (20%), na prevalência de fumo (12%) e no sedentarismo (5%). No entanto, apesar deste declínio, ainda observa-se aumento dos índices de gordura corporal da população, incidência de diabetes e fatores riscos para DCV, o que contribui para manutenção da elevada incidência de cardiovasculares.

Muitos médicos europeus utilizam o escore de risco da Sociedade Europeia de Cardiologia para avaliar o risco de desenvolvimento de DCV nos próximos 10 anos de vida dos pacientes. O tratamento somente é iniciado quando o paciente apresenta risco significativo para DCV, de acordo com o resultado do escore. Por conta dessa conduta muitos pacientes com idade inferior a 40 anos que apresentam baixo risco para o desenvolvimento de DCV em curto prazo, permanecem sem tratamento, apesar de já apresentarem fatores de risco.

Em contrapartida a este cenário, a Associação Americana do Coração (American Heart Associtation- AHA) está voltada para um novo foco da prevenção da DCV na prática clínica, que combina duas estratégias: além de tratar fatores de risco já existentes (prevenção primária), atuar também na prevenção do desenvolvimento dos fatores (prevenção primordial).

Berry et al.(2012)1 conduziram uma meta-análise com 18 estudos de coorte norte-americanos envolvendo mais de 250.000 indivíduos negros e brancos, de ambos os sexos. Os voluntários foram estratificados em 5 fatores de risco, dentro de 4  faixas etárias: 45, 55, 65 e 75 anos. Os principais fatores de risco considerados no estudo foram: diabetes, hipercolesterolemia em tratamento, colesterol total alterado e não tratado (≥ 240 mg / dL), hipertensão e pressão sanguínea não tratadas ( sistólica > 160 mg Hg sistólica e diastólica > 100 mm Hg ). Não foram observadas diferenças entre brancos e negros. Os resultados indicaram que quase dois terços dos participantes apresentavam um ou mais fatores de risco para DCV. Os riscos de mortalidade por DCV, doença coronariana ou infarto do miocárdio não-fatal foram duas vezes maiores para os homens quando comparados às mulheres. Segundo os autores, independentemente de qual fator de risco estivesse elevado, a presença de um deles no adulto jovem foi suficiente para apontar forte relação com o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares em idades mais avançadas.

Outro estudo sobre a temática, a pesquisa multicêntrica longitudinal CARDIA (The Coronary Artery Risk Development in Adults), foi realizada por Liu et al. (2012)2 e contou com a participação de 3154 participantes adultos jovens (18-30 anos), negros e brancos, de ambos os sexos, com idade entre 18-30 anos e sem doenças cardiovasculares. Foi investigada a relação entre os fatores associados à adoção de um estilo de vida saudável no adulto jovem e a prevalência de baixo risco para DCV em idades avançadas nos anos 0, 7 e 20 do estudo. As variáveis consideradas como indicadores de estilo de vida saudável foram: IMC <25Kg/m2, consumo moderado ou ausente de álcool, elevada pontuação em dieta saudável, elevada pontuação em prática de atividade física e nunca ter fumado. Foi observado que as taxas de prevalência de perfil de baixo risco para DCV no ano 20, ajustadas por sexo, raça e idade foram de 3%, 14,6%, 29,5%, 39,2% e 60,7% para pessoas com 0 ou 1, 2, 3, 4 ou 5 indicadores de vida saudáveis, respectivamente, indicando assim uma relação inversamente proporcional entre as duas variáveis. O estudo concluiu que a manutenção de um estilo de vida saudável pelo adulto jovem está associada a um baixo risco para DCV na meia idade (40 a 60 anos).

A elevada prevalência de fatores de risco para DCV, associada à epidemia de obesidade em crianças3, 4, indica a relevância da adoção de medidas como dietas com baixo teor de gordura saturada e ricas em ácidos graxos poli-insaturados (AGPI)  para a manutenção do LDL- colesterol em níveis adequados nessa  faixa etária da população5,6,7. Os adultos, além de terem essa substituição como ferramenta para promover a redução do LDL-colesterol, podem também beneficiar-se do consumo de alimentos enriquecidos com fibras dietéticas e fitoesteróis8.

Assim, ressalta-se que a adoção de um estilo de vida  saudável o mais cedo possível e a manutenção de perfil de risco cardiovascular ótimo em todo o ciclo de vida tem um potencial relevante na prevenção dos eventos cardiovasculares na meia idade e em idades mais avançadas, o que pode ser alcançado pela adoção e manutenção de uma dieta saudável, manutenção ou perda de peso, prática de atividade física e não adesão ao tabagismo


Referências:

1- Berry JD, Dyer A, Cai X et al. Lifetime risks of cardiovascular disease. N Engl J Med 2012;366:321-9.
2- Liu K, Daviglus ML, Loria CM et al. Healthy Lifestyle Through Young Adulthood and the Presence of Low Cardiovascular Disease Risk Profile in Middle Age: The Coronary Artery Risk Development in (Young) Adults (CARDIA) Study. Circulation 2012;125:996-1004.
3- Corvalan C, Uauy R, Kain J, Martorell R. Obesity indicators and cardiometabolic status in 4-y-old children. Am J Clin Nutr 2010;91:166-74.
4- Ford ES, Li C, Zhao G, Mokdad AH. Concentrations of low-density lipoprotein cholesterol and total cholesterol among children and adolescents in the United States. Circulation 2009;119:1108-15.
5- Lauer RM, Obarzanek E, Hunsberger SA et al. Efficacy and safety of lowering dietary intake of total fat, saturated fat, and cholesterol in children with elevated LDL cholesterol: the Dietary Intervention Study in Children. Am J Clin Nutr 2000;72:1332S-42S.
6- Lapinleimu H, Viikari J, Jokinen E et al. Prospective randomised trial in 1062 infants of diet low in saturated fat and cholesterol. Lancet 1995;345:471-6.
7- Niinikoski H, Lagstrom H, Jokinen E et al. Impact of repeated dietary counseling between infancy and 14 years of age on dietary intakes and serum lipids and lipoproteins: the STRIP study. Circulation 2007; 116:1032-40.Catapano AL, Reiner Z, De Backer G et al. ESC/EAS Guidelines for the management of dyslipidaemias: the Task Force for the management of dyslipidaemias of the European Society of Cardiology (ESC) and the European Atherosclerosis Society (EAS). Atherosclerosis 2011;217. Suppl 1:S1-44.
8- Catapano AL, Reiner Z, De Backer G et al. ESC/EAS Guidelines for the management of dyslipidaemias: the Task Force for the management of dyslipidaemias of the European Society of Cardiology (ESC) and the European Atherosclerosis Society (EAS). Atherosclerosis 2011;217 Suppl 1:S1-44.

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