quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

POLUIÇÃO E SAÚDE CARDIOVASCULAR



A POLUIÇÃO INFLUENCIA DIVERSOS PARÂMETROS, COMO A VISCOSIDADE DO SANGUE E A PRESSÃO ARTERIAL

A poluição do ar é composta por uma mistura heterogênea de componentes, incluindo ozônio, monóxido de carbono, dióxido de enxofre, óxidos de nitrogênio e material particulado, sendo reconhecida como um fator ambiental que aumenta o risco de doenças do sistema respiratório1,7. Em virtude de seu pequeno tamanho, o material particulado (MP) é inalado profundamente nos pulmões, atingindo os alvéolos, e pode também entrar na circulação sistêmica. Dessa maneira, nos últimos anos, pesquisadores têm estudado intensivamente os efeitos da poluição também sobre a saúde cardiovascular7.

A associação entre exposição à poluição e a ocorrência de infarto do miocárdio foi investigada em metanálise de Mustafic et al. (2012)5, com inclusão de 34 estudos. Os principais poluentes do ar (monóxido de carbono, dióxido de enxofre, dióxido de nitrogênio e MP10 - partículas ≤ 10 µm de diâmetro), com exceção do ozônio, aumentaram significativamente o risco de infarto.

Em outro estudo sobre esta temática, Zhang et al. (2011)10 examinaram dados coletados na cidade industrial Shenyang (China) entre 1998 e 2009. O nível médio anual de MP10 foi 154 µg/m3, considerado inadequado, e a exposição em longo prazo foi associada a aumento da mortalidade por doenças cardiovasculares. Os grupos mais vulneráveis aos efeitos da poluição foram: mulheres, indivíduos não fumantes e aqueles com Índice de Massa Corporal (IMC)<18,5 kg/m2.

Em estudo que analisou hospitalizações por causas respiratórias e cardiovasculares em São Paulo no período 1996-2000, o nível médio de PM10 (54,4 µg/m3) foi associado a aumento significativo de internações por doença isquêmica do coração em idosos2.

Recentemente, os mecanismos envolvidos no aumento da morbidade e mortalidade cardiovascular relacionada à poluição vêm sendo elucidados. Um deles é a inflamação, uma vez que estudos observaram incremento nos níveis de marcadores inflamatórios, como a proteína C-reativa (PCR), em resposta à exposição à poluição do ar6. Isto pode estar relacionado ainda com aumento da viscosidade do sangue, que contribui para a formação de trombos e acelera a progressão da aterosclerose e o aumento da liberação de vasoconstritores, como endotelina5.

Além disso, estudos observacionais relacionam altos níveis de poluição do ar com disfunção do sistema autonômico, verificando aumento da pressão arterial e diminuição da variabilidade da frequência cardíaca3. Em ratos, a exposição à poluição acarreta em hipertrofia de cardiomiócitos, disfunções valvares e alterações nas funções sistólica e diastólica, o que leva os animais a apresentarem sinais condizentes com insuficiência cardíaca incipiente9.

Felizmente, é possível que os danos sejam atenuados com a redução da exposição à poluição. Em pesquisa de Langrish et al. (2012)4, pacientes com doença coronariana que utilizaram uma máscara facial específica para filtrar material particulado ao caminharem apresentaram melhora na pressão arterial e na variabilidade da frequência cardíaca. Outra forma de mitigar os efeitos deletérios pode ser a suplementação da dieta com ômega-3. Em pacientes saudáveis, uma intervenção de quatro semanas com 3 g/dia de óleo de peixe abrandou os efeitos da exposição à material particulado ultrafino8. Mais estudos devem ser feitos para confirmar este benefício.

As políticas para melhorar a qualidade do ar por meio da diminuição da emissão de poluentes nas grandes cidades certamente constituem a melhor estratégia para reduzir os danos causados pela exposição à poluição, porém medidas individuais tais como a suplementação dietética com nutrientes específicos, poderão beneficiar as pessoas que pertencem aos grupos mais suscetíveis4.

Referências:

1) Brauer M. How much, how long, what, and where: air pollution exposure assessment for epidemiologic studies of respiratory disease. Proc Am Thorac Soc 2010; 7: 111–115.

2) Gouveia N, de Freitas CU, Martins LC, et al. Respiratory and cardiovascular hospitalizations associated with air pollution in the city of São Paulo, Brazil. Cad Saude Publica 2006; 22(12): 2669-2677.

3) Huang W, Zhu T, Pan X, et al. Air pollution and autonomic and vascular dysfunction in patients with cardiovascular disease: interactions of systemic inflammation, overweight, and gender. Am J Epidemiol 2012; 176(2): 117-126.

4) Langrish JP, Li X, Wang S, et al. Reducing personal exposure to particulate air pollution improves cardiovascular health in patients with coronary heart disease. Environ Health Perspect 2012; 120(3): 367-372.

5) Mustafic H, Jabre P, Caussin C, et al. Main air pollutants and myocardial infarction: a systematic review and meta-analysis. JAMA 2012; 307(7): 713-721.

6) Pope CA 3rd, Hansen ML, Long RW, et al. Ambient particulate air pollution, heart rate variability, and blood markers of inflammation in a panel of elderly subjects. Environ Health Perspect 2004; 112(3): 339-345

7) Sun QH, Hong XR, Wold LE. Cardiovascular effects of ambient particulate air pollution exposure. Circulation 2010; 121: 2755–2765.

8) Tong H, Rappold AG, Diaz-Sanchez D, et al. Omega-3 fatty acid supplementation appears to attenuate particulate air pollution-induced cardiac effects and lipid changes in healthy middle-aged adults. Environ Health Perspect 2012; 120(7): 952-957.

9) Wold LE, Ying Z, Hutchinson KR, et al. Cardiovascular remodeling in response to long-term exposure to fine particulate matter air pollution. Circ Heart Fail 2012; 5(4): 452-461.

10) Zhang P, Dong G, Sun B, et al. Long-term exposure to ambient air pollution and mortality due to cardiovascular disease and cerebrovascular disease in Shenyang, China. PLoS One 2011; 6(6): e20827.

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