quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

EVIDÊNCIAS RECENTES SOBRE ÔMEGA-6 E SAÚDE



O CONSUMO DE Ω-6 PODE PROMOVER OUTROS BENEFÍCIOS ALÉM DA REDUÇÃO DE LDL-C

O ácido graxo poli-insaturado ômega-6 (ω-6) mais consumido na dieta é o linoléico (LA; 18:2), que pode ser encontrado em óleos vegetais como soja, milho e girassol, bem como em alimentos produzidos à base destes óleos, como creme vegetal e maionese. O consumo de ω-6 é reconhecidamente benéfico para a saúde, sobretudo pela sua capacidade de reduzir as concentrações de LDL-c, contribuindo para proteção cardiovascular. Porém, durante algum tempo, estes ácidos graxos foram considerados próinflamatórios por serem precursores de eicosanóides, como prostaglandina E2, tromboxano A2 e leucotrieno B4, o que trazia cautela com relação ao seu consumo2. Entretanto, pesquisas demonstram que a suplementação com doses moderadas de ω-6 não piora a resposta inflamatória8, e seu consumo na quantidade recomendada se justifica pelos potenciais efeitos positivos à saúde.

Lee et al. (2012)5 estudaram em homens japoneses e norteamericanos de 40-49 anos a associação entre a concentração plasmática de ω-6 (indicador de consumo alimentar) e a concentração do inibidor do ativador do plasminogênio-1 (PAI-1), inibidor da fibrinólise que representa fator de risco para doença coronariana isquêmica. Observou-se associação inversa estatisticamente significante entre ω-6 e PAI-1 no plasma, sugerindo que o consumo de ω-6 exerce efeitos favoráveis sobre a fibrinólise.

Até os dias de hoje, não estava esclarecido como o ω-6 reduz o risco de aterosclerose, apesar de sua vulnerabilidade à oxidação. No início de 2012, Penumetcha et al.6 publicaram resultados de um estudo experimental que evidenciou que a exposição a uma dieta rica em ω-6 reduz lesões ateroscleróticas em comparação a uma dieta rica em gordura monoinsaturada. Uma hipótese plausível é que, por serem mais vulneráveis à oxidação, os ácidos graxos ω-6 geram estresse oxidativo sustentado, que promove o aumento dos mecanismos de defesa antioxidante. Estudos futuros em animais e humanos poderão demonstrar se o consumo de ω-6 não só diminui o desenvolvimento de lesões, como também a gravidade da aterosclerose.

Recentemente, Bjermo et al. (2012)1 acompanharam 61 adultos obesos durante 10 semanas, seguindo dietas ricas em ω-6 ou em gordura saturada. No grupo que consumiu mais ω-6, observou-se diminuição significativa da proporção de gordura no fígado, além de menores concentrações de mediadores inflamatórios e da PCSK9, um regulador hepático do receptor de LDL. O consumo de ω-6 não causou nenhum sinal de inflamação ou estresse oxidativo. 

Em outro artigo recém publicado, Petit et al. (2012)7 encontraram associação inversa entre a concentração de ω-6 e ω-3 nos eritrócitos (biomarcador de consumo) e a prevalência de esteatose hepática em uma amostra de 162 pacientes com diabetes tipo 2. O mecanismo envolvido com este efeito positivo parece ser a alteração na expressão de genes hepáticos relacionados com a oxidação de ácidos graxos e inibição da lipogênese de novo. Trabalhos futuros devem investigar a suplementação de ácidos graxos poli-insaturados como tratamento para a esteatose hepática em pacientes com diabetes.

Tendo em vista sua atuação na redução do risco cardiovascular (sobretudo quando consumido em substituição à gordura saturada), além dos prováveis benefícios de melhora da sensibilidade à insulina, redução do acúmulo hepático de gordura e diminuição do desenvolvimento de lesões ateroscleróticas, dentre outros sob estudo atualmente4, é recomendado o consumo de ácidos graxos ω-6 em quantidades entre 6% a 11% do VCT3.



Referências:

1) Bjermo H, Iggman D, Kullberg J, et al. Effects of n-6 PUFAs compared with SFAs on liver fat, lipoproteins, and inflammation in abdominal obesity: a randomized controlled trial. Am J Clin Nutr 2012; 95(5): 1003-12.

2) Czernichow S, Thomas D, Bruckert E. n-6 Fatty acids and cardiovascular health: a review of the evidence for dietary intake recommendations. Br J Nutr 2010; 104(6): 788-796.

3) Food and Agriculture Organization. Interim Summary of Conclusions and Dietary Recommendations on Total Fat & Fatty Acids. From the Joint FAO/WHO Expert Consultation on Fats and Fatty Acids in Human Nutrition, November 10-14, 2008, WHO HQ, Geneva.

4) Harris WS, Mozaffarian D, Rimm E, et al. Omega-6 fatty acids and risk for cardiovascular disease. A scientific advisory from the American Heart Association Nutrition subcommittee of the Council on Nutrition, Physical activity, and Metabolism; Council on Cardiovascular Nursing; and Council on Epidemiology and Prevention. Circulation 2009; 119: 902–907.

5) Lee S, Curb JD, Kadowaki T, et al. Significant inverse associations of serum n-6 fatty acids with plasma plasminogen activator inhibitor-1. Br J Nutr 2012; 107(4): 567-572.

6) Penumetcha M, Song M, Merchant N, et al. Pretreatment with n-6 PUFA protects against subsequent high fat diet induced atherosclerosis--potential role of oxidative stress-induced antioxidant defense. Atherosclerosis 2012; 220(1): 53-58.

7) Petit JM, Guiu B, Duvillard L, et al. Increased erythrocytes n-3 and n-6 polyunsaturated fatty acids is significantly associated with a lower prevalence of steatosis in patients with type 2 diabetes. Clin Nutr 2012; 31(4): 520-525.

8) Thies F, Miles EA, Nebe-von-Caron G, et al. Influence of dietary supplementation with long-chain n-3 or n-6 polyunsaturated fatty acids on blood inflammatory cell populations and functions and on plasma soluble adhesion molecules in healthy adults. Lipids 2001; 36: 1183–1193.

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