quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

GORDURAS, DENSIDADE ENERGÉTICA E CONTROLE DO PESO



ALIMENTOS DE ALTA DENSIDADE ENERGÉTICA PROMOVEM MENOS SACIEDADE QUE OS DE BAIXA DENSIDADE ENERGÉTICA
A obesidade, especialmente quando há acúmulo de adiposidade na região abdominal, é um dos principais fatores de risco para doença cardiovascular, diabetes tipo 2, hipertensão e câncer8.
O padrão alimentar mais comumente associado ao acúmulo de gordura corporal inclui o consumo de alimentos do tipo fast food, de grandes porções de alimentos e o baixo consumo de frutas e hortaliças6.
As principais mudanças no hábito alimentar do brasileiro no decorrer dos anos, verificadas a partir da evolução da disponibilidade domiciliar de alimentos, incluem a diminuição da participação de cereais e leguminosas e o aumento de carnes, leite, açúcar e óleos. O que mais chama a atenção, contudo, é que entre 1975 e 2003 houve um aumento muito expressivo na participação de refrigerantes, embutidos, biscoitos e alimentos prontos, da ordem de 400%5. Este padrão de alimentação, rico em gorduras saturadas e trans e pobre em frutas, hortaliças e grãos, tem como característica a elevada densidade energética.

O termo densidade energética se refere à quantidade de energia (calorias) em uma determinada porção de alimento (em gramas). Alimentos de menor densidade energética fornecem menos kcal/g do que alimentos de maior densidade energética4. A densidade energética dos alimentos é fortemente influenciada pelo seu conteúdo de água e de gordura: alimentos com grande proporção de seu peso correspondente à água apresentam baixa densidade energética, enquanto alimentos ricos em gordura apresentam densidade energética elevada1.

Vários estudos em condições controladas confirmaram que as pessoas tendem a consumir menos energia quando são apresentadas a alimentos de baixa densidade energética do que quando são oferecidos alimentos semelhantes, com maior densidade energética4. É possível ainda que o consumo de dietas de alta densidade energética interfira nos sistemas neuro-hormonais que controlam o apetite, levando a um maior consumo alimentar e por fim à obesidade1.

Outros estudos investigaram a influência da densidade energética da dieta sobre a sensação de saciedade. Em uma pesquisa que mediu o índice de saciedade associado à ingestão de porções de 240 kcal de 38 alimentos comumente consumidos, observou-se que os alimentos de alta densidade energética promoveram menos saciedade que os de baixa densidade energética3. Contudo, os alimentos que promoveram maior saciedade também foram indicados como sendo os menos palatáveis, corroborando informação já apontada em outros estudos. Assim, os alimentos de alta densidade energética podem levar a um maior consumo alimentar subsequente e, portanto, a uma maior ingestão total de calorias1.

Um estudo realizado com 7356 adultos norteamericanos baseado em dados de consumo alimentar provenientes de recordatórios de 24 horas demonstrou que homens e mulheres com dietas de menor densidade energética de fato apresentaram menor ingestão total de calorias do que aqueles com dietas contendo alimentos de alta densidade energética, consumindo 425 e 245 kcal/dia a menos, respectivamente. Isto ocorreu mesmo com maior consumo de alimentos em gramas (400 e 300 g/d a mais, respectivamente). Observou-se também que pessoas com peso adequado tinham dietas com menor densidade energética. Os indivíduos que consumiam mais frutas e hortaliças apresentaram os menores valores de densidade energética e a menor prevalência de obesidade4.

Um ensaio clínico para verificar se a redução da densidade energética da dieta resultaria em redução do peso corporal demonstrou que, ao incorporar duas porções de uma sopa de baixa densidade energética em uma dieta hipocalórica, houve significativa perda de peso em comparação à introdução de snacks e biscoitos de valor calórico semelhante, porém de densidade energética maior7. Assim, o consumo de alimentos de baixa densidade energética, como frutas e hortaliças, permite que as pessoas consigam reduzir a sua ingestão de calorias ao mesmo tempo em que mantêm a sensação de saciedade, podendo ajudar no controle do peso2.

Outras estratégias para diminuir a densidade energética da dieta incluem a redução do conteúdo de gordura, substituindo versões tradicionais de alimentos por aquelas com teor reduzido de gordura, e aumentar o consumo de grãos integrais e leguminosas em substituição a alimentos gordurosos. Na prática, por exemplo, considerando uma salada de macarrão com presunto, cebola, queijo amarelo e maionese, a substituição do presunto por presunto magro ou peito de peru, do queijo amarelo por queijo branco, da maionese tradicional pela versão light e a inclusão de hortaliças (tomate, brócolis e cenoura) é capaz de reduzir a densidade energética de 2 kcal/grama para 1 kcal/grama7.


Referências:

1. Drewnowski A, Almiron-Roig E, Marmonier C, Lluch A. Dietary Energy Density and Body Weight: Is There a Relationship? Nutrition Reviews 2004; 62(11): 403-413.
2. Ello-Martin JA, Ledikwe JH, Rolls BJ. The influence of food portion size and energy density on energy intake: implications for weight management. Am J Clin Nutr 2005; 82(suppl): 236S-41S.
3. Holt SH, Miller JC, Petocz P, Farmakalidis E. A satiety index of common foods. Eur J Clin Nutr 1995; 49:675-690.
4. Ledikwe JH, Blanck HM, Khan LK, Serdula MK, Seymor JD, Tohill BC, Rolls BJ. Dietary energy density is associated with energy intake and weight status in US adults. Am J Clin Nutr 2006;83: 1362-1368.
5. Levy-Costa RB, Sichieri R, Pontes NS, Monteiro CA. Disponibilidade domiciliar de alimentos no Brasil: distribuição e evolução (1974-2003). Rev Saúde Pública 2005; 39(4): 530-540.
6. Paeratakul S, Ferdiand DP, Champagne CM, Ryan DH, Bray GA. Fast-food consumption among US adults and children: Dietary and nutrient intake profile. J Am Diet Assoc. 2003;103:1332-1338.
7. Rolls BJ, Drewnowski A, Ledikwe JH. Changing the Energy Density of the Diet as a Strategy for Weight Management. J Am Diet Assoc 2005; 105:S98-S103.
8. World Health Organization. Obesity: preventing and managing the global epidemic. Report of a WHO consultation group on obesity. Geneva: WHO; 2000. (WHO Technical Report Series, No. 894)

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