quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

GORDURAS E RISCO DE AVC



ÁCIDOS GRAXOS POLI-INSATURADOS Ω-3 CONTRIBUEM PARA REDUÇÃO DO RISCO DE AVC?

O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é a maior causa de mortalidade no Brasil9, assim como em outros países. Além disso, é motivo de comprometimentos funcionais, sendo que 15 a 30% dos sobreviventes de um AVC tornam-se permanentemente incapacitados4. Estes dados justificam a necessidade de estratégias de prevenção, por meio do controle de seus fatores de risco. Estimativas indicam que 90% dos casos seriam prevenidos por meio do controle adequado da pressão arterial, glicemia e perfil lipídico, além de cessação do tabagismo3. A composição da dieta também tem sido estudada como estratégia de prevenção do AVC, incluindo a quantidade e qualidade das gorduras5.

As pesquisas que investigam a relação entre gorduras dietéticas e risco de AVC são mais conflitantes do que as que analisam a relação entre gorduras e doenças coronarianas. Uma explicação plausível é que a aterosclerose em artérias cerebrais tem diferentes mecanismos causais, dificultando o achado de associações significantes6. Trabalhos recentes têm buscado esclarecer as controvérsias ainda presentes na literatura.

O ácido alfa-linolênico (ALA), ácido graxo poli-insaturado da série ômega-3, é encontrado principalmente em óleos vegetais de soja, canola, linhaça, e nos produtos feitos à base de óleos vegetais, como a maionese e o creme vegetal. Em estudo observacional na Holanda com 20.069 adultos, os participantes com maior consumo de ALA tiveram risco de AVC 35 a 50% menor do que os que consumiam menos de 1 g de ALA/dia2.

Larsson et al. (2012)7 publicaram resultados de uma coorte na Suécia na qual 34.670 mulheres entre 49 e 83 anos foram seguidas por mais de 10 anos. Neste trabalho, o consumo de ácidos graxos ômega-3 provenientes de fontes marinhas (EPA e DHA) associou-se de forma significativa com a redução do risco de AVC (-16%). Não houve associação entre a quantidade total de gordura saturada, monoinsaturada, ALA e ômega-6, e o risco de AVC. Por outro lado, o consumo de colesterol esteve associado a aumento estatisticamente significante do risco de AVC.
Outros pesquisadores analisaram também o efeito do consumo de peixes sobre o risco de AVC10. Atkinson et al. (2011)1 seguiram mulheres de 45 a 59 anos durante 18 anos e encontraram uma pequena associação inversa entre consumo de peixe e risco de AVC. Na coorte da Suécia8, o maior consumo de peixe (3 porções/semana) foi associado a menor risco para a ocorrência de AVC, quando comparado ao menor nível de consumo (1 porção/semana). De maneira intrigante, o consumo de peixes magros foi responsável pela maior redução de risco, enquanto peixes como salmão e arenque não foram associados à diminuição no risco de AVC.

Os autores sugerem que a ausência de associação entre peixes gordos e risco de AVC pode ter ocorrido porque na população estudada eles são ingeridos após defumação e salga, e sabe-se que a dieta rica em sódio está associada a aumento significativo do risco de AVC. Já os peixes magros tendem a ser consumidos com menos sal na Suécia, sendo preferencialmente cozidos, assados ou fritos8.

Este tema merece maior investigação, pelo seu importante potencial de contribuir para redução do risco de uma das maiores causas de morbidade e mortalidade em todo o mundo. Não obstante, a adoção de uma dieta com quantidade reduzida de gordura saturada e trans e rica em gorduras poli-insaturadas, especialmente ácidos graxos da série ômega-3, é recomendada pelo seu papel cardioprotetor. Em termos de prevenção do AVC, os demais fatores de estilo de vida, como exercícios regulares, cessação do tabagismo, manutenção do peso e controle da pressão arterial também devem ser considerados6.
Referências:

1) Atkinson C, Whitley E, Ness A, et al. Associations between types of dietary fat and fish intake and risk of stroke in the Caerphilly Prospective Study (CaPS). Public Health 2011; 125(6): 345-348.
2) de Goede J, Verschuren WM, Boer JM, et al. Alpha-linolenic acid intake and 10-year incidence of coronary heart disease and stroke in 20,000 middle-aged men and women in the Netherlands. PLoS One 2011; 6(3): e17967.
3) Galimanis A, Mono ML, Arnold M, et al. Lifestyle and stroke risk: a review. Curr Opin Neurol 2009; 22(1): 60-68.
4) Goldstein LB, Bushnell CD, Adams RJ, et al. Guidelines for the primary prevention of stroke: a guideline for healthcare professionals from the American Heart Association/American Stroke Association. Stroke 2011; 42(2): 517-584.
5) Hankey GJ. Nutrition and the risk of stroke. Lancet Neurol 2012; 11(1): 66-81.
6) He K, Xu Y, Van Horn L. The puzzle of dietary fat intake and risk of ischemic stroke: a brief review of epidemiologic data. J Am Diet Assoc 2007; 107(2): 287-295.
7) Larsson SC, Virtamo J, Wolk A. Dietary fats and dietary cholesterol and risk of stroke in women. Atherosclerosis 2012; 221(1): 282-286.
8) Larsson SC, Virtamo J, Wolk A. Fish consumption and risk of stroke in Swedish women. Am J Clin Nutr 2011; 93(3): 487-493.
9) Lotufo PA, Bonseñor IM. Stroke mortality in Brazil: one example of delayed epidemiological cardiovascular transition. International Journal of Stroke 2009; 4: 40-41.
10) Mozaffarian D, Longstreth WT Jr, Lemaitre RN, et al. Fish consumption and stroke risk in elderly individuals: the cardiovascular health study. Arch Intern Med 2005; 165(2):200-206.

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