domingo, 21 de outubro de 2012

A ciência da vida longa



A expectativa de vida aumentou em todo o mundo. O desafio é 
fazer com que esses anos a mais sejam vividos com saúde e alegria


Randy Faris/Corbis/Latinstock/RF
TRÊS ETAPAS DA VIDA
Os músculos começam a diminuir aos 25 anos. Dos 45 anos em diante, quem 
não faz exercícios regularmente perde, em média, 
1% da massa muscular ao ano


VEJA TAMBÉM
A fantasia de permanecer jovem para sempre acompanha o homem, provavelmente, desde o início da civilização. Embora seja impossível deter a marcha do calendário, nos últimos 100 anos a medicina deu passos largos no sentido de retardar processos ligados ao envelhecimento. Primeiro vieram as melhorias nas condições sanitárias, a descoberta das vacinas, a invenção dos antibióticos e dos recursos para combater doenças como o diabetes, os males cardíacos e alguns tipos de câncer. Todos esses avanços resultaram na adição de anos na expectativa de vida da população. Agora, está em curso um novo e revolucionário capítulo da ciência da longevidade. O que se procura é proporcionar qualidade de vida e uma existência feliz às populações que estão vivendo mais. Nas últimas três décadas, a expectativa de vida aumentou em onze anos no Brasil. As doenças crônicas do coração e dos pulmões, bem como as artrites, aparecem, hoje, entre dez e 25 anos depois do que surgiam em gerações passadas. Os 60 anos de idade são os novos 50. Os 50, os novos 40, e assim por diante. Esse atual cenário, em que os males associados à idade chegam cada vez mais tarde, promove mudanças profundas na maneira de encarar o envelhecimento. "A idade cronológica está deixando de ser um parâmetro determinante da juventude de uma pessoa", diz o geriatra Renato Maia Guimarães, presidente da Associação Internacional de Gerontologia e Geriatria. Hoje, vivemos mais e queremos viver cada vez melhor. Para que isso seja possível, o estudo da velhice adquiriu um caráter de urgência.
Estamos fadados a envelhecer. O nascimento é o início desse processo irreversível. As incontáveis reações químicas e divisões celulares que se dão ao longo da vida são, cada uma, pequeninas etapas que levam, em último grau, à senescência das células e do organismo como um todo. Recentemente, descobriu-se que o envelhecimento, ao contrário do que se acreditava, não é produto de uma única variável, mas de uma equação complexa. Nela se incluem fatores tão diferentes quanto os genes, a alimentação e a quantidade de exposição ao sol ao longo da vida. Sabe-se, também, que o peso de cada um dos fatores para o ritmo com que um organismo perde o viço não segue um único padrão – ele muda de uma pessoa para outra. Mas, afinal, o que nos faz envelhecer? Por que as células não se mantêm saudáveis indefinidamente?
As teorias que tentam explicar o envelhecimento se dividem em dois grupos. O primeiro abrange aquelas segundo as quais ele obedece a um cronograma preestabelecido pela natureza – o mesmo que determina, por exemplo, que o cérebro das crianças se desenvolva e que o aparelho reprodutivo dos adolescentes amadureça. O outro grupo de teorias aposta no ambiente como o grande vilão da juventude. Segundo elas, o impacto de agentes externos ao organismo causaria danos às células que, acumulados, inviabilizariam o funcionamento a contento do corpo. A maioria dos cientistas considera que as duas vertentes que explicam o envelhecimento não se excluem – provavelmente, o processo é resultado tanto da máquina pré-programada pela natureza quanto de fatores ambientais que a alteram.
Aos avanços no que se sabe sobre a biologia do envelhecimento, somam-se descobertas cujo efeito é de ordem prática. Muitos estudos científicos recentes se ocupam da identificação de fatores de risco e de formas eficazes para prevenir doenças ou aumentar a chance de ter uma vida saudável por mais tempo. Os primeiros estudos ambiciosos desse tipo tiveram início nos anos 50, e seu foco eram as doenças cardiovasculares. Nessa época, o fumo, o colesterol alto e a hipertensão entraram na lista negra dos cardiologistas. Os estudos que identificaram esses fatores como inimigos da juventude do organismo marcaram o começo de uma revolução que ainda está em curso na medicina e não tem data para acabar. Nos últimos anos, criaram-se exames que possibilitam a detecção de tumores minúsculos e descompassos hormonais mínimos. Com isso, aumenta-se a probabilidade de cura de cânceres ou de melhorar as condições de quem sofre de hipotireoidismo, que deixa a glândula tireoide mais preguiçosa e compromete a qualidade de vida dos pacientes.
Descobriu-se, não faz muito tempo, que apenas 35% da longevidade conquistada por uma pessoa se deve à herança genética. Mais determinantes que os genes para prolongar a vida são os hábitos. Abandonar as 5 000 substâncias tóxicas que cada baforada de cigarro leva ao organismo pode fazer com que se viva cinco anos a mais. Praticar atividades físicas regularmente estende o tempo de vida em até três anos. O mesmo vale para quem segue uma dieta balanceada. Um trabalho publicado neste ano por pesquisadores japoneses avaliou dados de quase 90 000 pessoas, entre homens e mulheres, e mostrou que aqueles com melhor condicionamento físico sofriam menos infartos, derrames e outros males do gênero. Para chegarem a essa conclusão, eles submeteram os pacientes a testes de esforço similares ao que os primos Gabriel Salomão Neto e Flávio Jancowski fizeram a pedido de VEJA (veja reportagem).No estudo japonês, os pacientes que registraram níveis de consumo de oxigênio mais altos viveram mais.
Pascal Broze/Getty Images
A IMPORTÂNCIA DO SONO
Durante o sono profundo, ocorre a liberação do hormônio do crescimento, o GH, um grande aliado da juventude. Noites mal dormidas provocam reduções drásticas nos níveis de GH

Nos últimos anos, houve a comprovação científica de uma hipótese formulada pela ciência na década de 60 – a de que os aspectos emocionais têm papel relevante no prolongamento da juventude. Um estudo recente da Universidade de Boston, publicado em abril no Jornal da Sociedade Americana de Geriatria, revelou que o otimismo e o bom humor ajudam a viver mais. Depois de avaliarem 246 filhos de pessoas que ultrapassaram a barreira dos 100 anos, todos eles com idade em torno de 75, os cientistas descobriram que os traços de personalidade tinham uma importância maior na longevidade e no bem-estar do que a predisposição genética a desenvolver doenças ou mesmo seus hábitos alimentares. Os menos neuróticos e extrovertidos, que lidavam melhor com o stress, tinham menos diabetes, hipertensão e doenças cardíacas. Dormir bem também ajuda na conquista da longevidade. Durante o sono profundo ocorre a liberação de hormônio do crescimento, o GH. Essa substância é uma das grandes fontes de juventude do corpo: favorece a fixação da massa muscular e dos minerais nos ossos, melhora o desempenho físico, a sustentação da pele e até mesmo o brilho do cabelo. Dos 16 aos 50 anos, a concentração de GH sofre uma queda natural de 35 para 10 microgramas por litro de sangue. A falta de sono causa uma redução ainda mais drástica. Em adultos jovens, uma noite de sono ruim leva a taxa de hormônio do crescimento para 5 microgramas por litro – metade do nível normal de um adulto mais velho. "Essa é uma das razões de nos sentirmos envelhecidos depois de dormir mal", afirma a biomédica Deborah Suchecki, da Universidade Federal de São Paulo, especialista em bioquímica do sono.
O futuro da ciência da longevidade acena com recursos que vão muito além de um receituário com bons hábitos de vida. À medida que o conhecimento sobre o organismo avança, uma nova gama de teorias emerge. Algumas pesquisas mostram que certos genes se manifestam na velhice e encurtam a longevidade. Saber como as mutações nos genes ocorrem, por sua vez, pode ter um papel fundamental no alongamento da vida das células. Há, inclusive, um ramo de pesquisas que tenta entender como o corpo conserta as moléculas de DNA que dia a dia são danificadas e por que, ao longo dos anos, ele perde essa capacidade. Uma pista veio à luz em 2004, quando pesquisadores da Universidade da Califórnia descobriram que o stress encurta o telômero, a tampa bioquímica que fica na ponta dos cromossomos. Sua função é manter a integridade do DNA e impedir que a molécula se desfaça. Cada vez que uma célula se divide, o telômero fica um pouco menor, até atingir um ponto crítico. A partir daí, a célula não se reproduz mais e acaba morrendo – a falta de reposição das células que morrem é um dos fatores cruciais do declínio da vida saudável. Enquanto a ciência não desvenda por completo os mecanismos do envelhecimento, o mais sensato é seguir as recomendações que hoje se tem para manter a máquina humana funcionando sem pane – e por mais tempo.
FOTOS ANDERSEN ROSS, CHRIS WARE/GETTYIMAGES, P. MARAZZI E STERE HORRELL/SPL/LATINSTOCK



7 razões para não aposentar



Foi-se o tempo em que se aposentar significava trocar o batente
pelo ócio. Continuar trabalhando é bom para o corpo e a mente

Roberto Setton
Raul Boesel, ex-piloto de Fórmula Indy, deixou as pistas de corrida e se tornou DJ: "Emocionante como correr as 500 Milhas de Indianápolis"

A imagem convencional do aposentado que passa os dias descansando, vendo TV e improvisando pequenas atividades para matar o tempo está se tornando uma fotografia desbotada do passado. Com o aumento da expectativa de vida e os avanços da medicina, a maior parte dos brasileiros que hoje chegam à idade de se aposentar forma um contingente de pessoas bem-dispostas, saudáveis e com muito a oferecer ainda à sociedade. Passar o dia de pijama deixou de ser um objetivo na vida da maioria das pessoas – e os estudos científicos comprovam que essa é a melhor opção para uma vida longa e com mais qualidade. Prosseguir trabalhando após a aposentadoria traz benefícios de ordem física, psicológica e prática. O mais evidente deles é engordar o orçamento mensal. Mesmo que a remuneração na nova atividade não seja equivalente à recebida no auge da carreira, manter-se ativo faz com que o aposentado continue a se sentir útil e engajado no mundo. Além disso, segundo estudos médicos, manter a mente ativa é a melhor prevenção contra a diminuição das capacidades cognitivas do cérebro e contra doenças degenerativas como Alzheimer.
A seguir, VEJA apresenta uma lista de bons motivos para evitar a aposentadoria, elaborada com a ajuda de especialistas de diversas áreas.

1
 É A CHANCE DE MUDAR DE PROFISSÃO
Stefan

Ao longo da vida, muitos projetos permanecem guardados por falta de tempo. O envolvimento integral com uma profissão torna impossível realizá-los. Os cabelos grisalhos podem ser a grande chance de pôr esses sonhos em prática. Uma pesquisa recente encomendada pela MetLife, empresa americana de previdência privada, mostra que a vontade de experimentar um novo tipo de trabalho é o principal motivo pelo qual aposentados entre 60 e 65 anos voltam à ativa nos Estados Unidos. "No Brasil não é diferente", diz Matilde Berna, diretora de transição de carreiras da consultoria profissional Right Management. "Muitos transformam um hobby antigo em trabalho", ela conclui. O curitibano Raul Boesel, ex-astro da Fórmula Indy, 51 anos, aposentou-se das pistas de corrida para estrear nas pistas das baladas noturnas. Aos 45 anos, Boesel começou a frequentar festas de música eletrônica e se apaixonou por esse estilo musical. Encantou-se com Ibiza, na Espanha, a meca dos DJs, e desde então vai todos os anos para lá. Há dois anos, virou DJ profissional e apresenta-se em casas noturnas todo fim de semana. Como corredor, Boesel estava acostumado a acordar às 7 e meia da manhã. Hoje, é comum que chegue do trabalho a essa hora. "Só me falta tocar em Ibiza", ele diz. "Deve ser emocionante como correr as 500 Milhas de Indianápolis."

MANTER A RENDA MENSAL
Para quem não tem poupança ou plano de previdência privada, a aposentadoria pode representar uma queda significativa no padrão de vida. Continuar trabalhando, desde que se tenha saúde e disposição, é uma boa saída para complementar o orçamento. "Muita gente pensa que, quando se aposentar, vai gastar menos e, portanto, precisará de menos dinheiro. Mas algumas despesas aumentam com a idade, como os gastos com saúde", diz José Roberto Savoia, professor de finanças da Universidade de São Paulo. A professora paulista Vera Bruschi, de 55 anos, perdeu 40% de seu rendimento quando se aposentou, há dez anos. Prevendo a redução, decidiu investir na carreira. Fez um mestrado e hoje dá aulas de pedagogia. "Meus filhos ainda não eram independentes e, se não continuasse a trabalhar, não poderia ajudá-los com a faculdade", ela conta. Com a renda extra – o salário novo é o dobro do valor da aposentadoria –, ela planeja comprar um apartamento. "Se eu contasse apenas com o dinheiro do INSS, teria de me conformar com uma vida muito simples", conclui Vera.
Oscar Cabral
O engenheiro gaúcho Paulo Bello (com a mulher, Maria Augusta) presta consultoria e mantém uma pousada na praia: "Assim, continuo a encontrar amigos com interesses comuns"

3 NÃO CHATEAR A FAMÍLIA
Manter alguma atividade profissional, mesmo diferente da que se teve durante toda a vida, evita que se passe mais tempo com a família do que é aconselhável. Muitos aposentados tornam mais frequentes as visitas à casa dos filhos e netos. O risco é que, baseados em sua experiência de vida, eles acabem interferindo indevidamente na rotina familiar e na educação das crianças. "Aproveitar a companhia dos filhos adultos e dos netos que chegam pode ser muito gostoso, mas é preciso respeitar o espaço deles", adverte o psicólogo Hélio Deliberador, da PUC de São Paulo. Estadas longas na casa dos filhos costumam ser especialmente problemáticas. Muitos pais encontram dificuldade em entender que a casa dos filhos tem uma dinâmica própria. É mais provável que sua interferência produza – e não solucione – conflitos. Muitas vezes o desentendimento se instala na própria casa do aposentado. O cônjuge não está acostumado a conviver diariamente por tanto tempo com ele. Rusgas que antes eram esquecidas ao longo do período em que o marido ou a esposa estava no escritório se reforçam.

4 NÃO PERDER SUA TURMA
Quem se aposenta se afasta dos colegas de trabalho de um dia para o outro. Isso significa perder os interlocutores com quem mais se tem afinidade de assuntos e interesses comuns. É questão de tempo para que o aposentado sinta falta das conversas sobre temas relacionados à profissão que exerceu durante décadas. O engenheiro gaúcho Paulo Bello, de 66 anos, e sua mulher, Maria Augusta, moravam nos Estados Unidos e costumavam vir em férias a Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. Quando Paulo se aposentou, passou a prestar consultoria em sua área, para não se afastar totalmente dos colegas de profissão. "Com as consultorias, eu me mantenho atualizado, sem ter de enfrentar a rotina massacrante de trabalho das grandes empresas", ele diz. Além disso, o casal transformou a casa de Angra numa pousada, na qual hospeda os amigos de longa data – inclusive antigos colegas de Paulo. Diz Maria Augusta: "Acho que não vamos recuperar o investimento, mas não importa. O meu retorno é em vitalidade. Não quero ficar parada".
Oscar Cabral
O carioca Sohaku Bastos, professor de acupuntura e caratê: "Se parar de trabalhar, fico deprimido e adoeço"

5 TRABALHAR FAZ BEM À SAÚDE
A ideia de que se aposentar faz bem à saúde porque propicia mais tempo para o descanso é ultrapassada. Hoje a ciência tem como certo que manter o cérebro ativo é essencial para preservar suas funções cognitivas. "Os circuitos do cérebro que são exercitados constantemente continuam saudáveis", explica a neurocientista Suzana Herculano, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O carioca Sohaku Bastos, de 61 anos, acredita nisso. Especializado em acupuntura, durante décadas ele trabalhou doze horas por dia.Viajou diversas vezes a países do Oriente para se aperfeiçoar e chegou a ter como cliente a família do presidente do Sri Lanka. Seus serviços foram tão apreciados que hoje ele é cônsul daquele país no Brasil. Nos últimos anos, Bastos diminuiu o ritmo de trabalho, mas nem pensa em se aposentar. Ele mantém uma clínica no Rio de Janeiro onde, além de acupuntura, ministra caratê e dá orientação alimentar. "Se parar de trabalhar, fico deprimido e adoeço", diz Bastos.

EVITAR A DEPRESSÃO
Ao se distanciar do ambiente de trabalho e da massa de novas informações que ele proporciona no dia a dia, o aposentado pode se sentir alijado da sociedade. Ler jornais ou assistir à TV dá a sensação de que, enquanto o mundo avança, ele se tornou um personagem do passado. Segundo os especialistas, esse tipo de sentimento é uma porta aberta para a depressão. "O aposentado corre o risco de se sentir velho e inútil, o que ele não é", diz a psicóloga Anete Farina, da Universidade de São Paulo. Uma nova atividade, mesmo que não traga retorno financeiro, pode evitar essa armadilha. Após trabalhar por mais de quatro décadas num dos maiores escritórios de advocacia do país, a advogada paulista Clemência Wolthers, 69 anos, nem pensou em descansar quando se aposentou. Montou um escritório em casa. Hoje representa uma organização de advogados, é conselheira da OAB, dá palestras e frequenta congressos sobre direito. Diz Clemência: "Consigo dividir tudo o que aprendi nesses anos e me mantenho a par do que acontece. As mulheres de minha geração cresceram achando que virariam vovozinhas simpáticas. Eu não virei".

NÃO DESPERDIÇAR A EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL
Muita gente quer largar o trabalho por estar farta de horários, chefes e reuniões. Mas jogar fora a experiência de uma vida em determinado ramo profissional é um desperdício. O mais lógico é tirar partido desse conhecimento acumulado para ter horários mais flexíveis e agenda menos apertada. O primeiro passo é descobrir como fazer isso. "Não se deve pensar em quanto se vai ganhar, e sim em que áreas é possível ser produtivo", aconselha Matilde Berna, da consultoria Right Management. Isso porque dificilmente se conseguem rendimentos iguais aos do tempo em que se estava na ativa. Abrir uma consultoria ou prestar serviços para a antiga empresa são as alternativas mais comuns, mas não as únicas. Quando decidiu se aposentar, aos 56 anos, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, a psicóloga Malvine Zalcberg começou a dar palestras sobre psicanálise em centros culturais. Hoje viaja frequentemente pelo país para encontrar suas plateias. Dedicou-se também a escrever livros sobre o assunto – já está no terceiro. "Eu me aposentei de um trabalho, mas não da vida. Vejo essa fase como um momento de renovação", afirma Malvine.

Fabiano Accorsi
A advogada paulista Clemência Wolthers dá palestras e vai a congressos para se manter atualizada: "Estou a par de tudo o que acontece na profissão"

A receita de quem parece não envelhecer



A genética ajuda, mas não faz milagre. O visual jovem depende de muitos fatores. Aqui, seis exemplos de pessoas que conseguem retardar a passagem do tempo


Todo mundo conhece alguém que parece desafiar o calendário e aparentar menos idade do que registra a certidão de nascimento. Qual o segredo desses felizardos? A ciência diz que diversos fatores concorrem para a aparência física, entre eles a predisposição genética, a alimentação e os níveis de stress. Há muitas outras variáveis, como o clima em que se vive e até os remédios que se tomam. Como cada um envelhece de uma maneira, não há receita única para preservar a aparência com o passar dos anos.
A maioria das pessoas que parecem mais jovens do que são, no entanto, costuma cultivar hábitos que favorecem essa característica. VEJA perguntou a seis personalidades de áreas diversas, todas com uma estampa surpreendente para a idade que têm, quais os segredos de sua juventude. Desse painel pode-se tirar uma lição: mesmo quando a genética é favorável, ela não faz milagre. É preciso empenho para suar a camisa nos exercícios físicos, tempo para cuidar da pele, cabeça no lugar para combater o stress e vontade de ser feliz.

Combate sem trégua ao stress

Raí de Oliveira, empresário e ex-jogador de futebol 
Idade: 44 anos
Lailson Santos

A que atribui sua juventude: 
"Faço tudo para combater o stress. O futebol me ajudava a descarregar a ansiedade. Quando parei de jogar, busquei outras maneiras de combatê-la. Fiz terapia com psicólogo e comecei a escrever textos sobre meus sentimentos. Quando voltei ao Brasil, depois de um ano estudando em Londres, vendi o carro para não me estressar no trânsito. Ando de metrô, táxi, bicicleta e carona".
Quando começou a se cuidar: "Depois de deixar os campos, nove anos atrás. Decidi estudar e cuidar da cabeça, além de continuar exercitando o corpo".
Alimentação: "Reduzi a ingestão de carne vermelha a no máximo duas vezes por semana, evito refrigerantes, fast-food e guloseimas".
Atividade física: "Corro 45 minutos, três vezes por semana, e jogo tênis durante uma hora e meia, uma ou duas vezes por semana. Às vezes, passo um mês sem malhar".
Cuidados com a pele: "Nenhum cuidado específico".
Cirurgia plástica: "Nunca fiz".


Energia da família e dos amigos

Carla Marins, atriz 
Idade: 41 anos
Ernani d’Almeida

A que atribui sua juventude:
 "Procuro cultivar bons pensamentos e viver um dia de cada vez. Ter meu primeiro filho, naturalmente, aos 40 anos, me renovou. A família e os amigos trazem muita energia boa. Devo muito da minha juventude ao contato com eles".
Quando começou a se cuidar: "Aos 17 anos passei a prestar mais atenção à alimentação e a praticar atividades relacionadas à consciência corporal. Nunca fumei".
Alimentação: "Fui vegetariana por sete anos, mas voltei a comer frango e peixe em 2001, para ter uma dieta mais balanceada. Não como frituras e procuro ingerir alimentos naturais, sem conservantes ou agrotóxicos. Bebo um copo de suco de babosa e tomo suplementos alimentares orgânicos diariamente".
Atividade física: "Faço cinquenta minutos de musculação e quarenta minutos de corrida todos os dias".
Cuidados com a pele: "Uso filtro solar e cremes orgânicos de áloe vera para a região dos olhos e faço hidratação".
Cirurgia plástica: "Nunca fiz".


Energia da família e dos amigos

José Otávio Marfará, empresário 
Idade: 50 anos
Lailson Santos

A que atribui sua juventude: 
"Na minha família, quase todos aparentam ter menos idade. A genética me é favorável, mas sei que preciso ajudá-la. Tenho hábitos de vida saudáveis e gosto de ficar perto da natureza".
Quando começou a se cuidar: "Faço exercícios regularmente desde os 16 anos. Há dez, comecei a fazer atividades específicas para combater dores nas costas".
Alimentação: "Cortei a carne vermelha do cardápio. Como pouco carboidrato e gordura, mas sou menos rigoroso com a dieta nos fins de semana".
Atividade física: "Faço uma hora de musculação quatro vezes por semana. Três vezes por semana caminho ou corro por uma hora".
Cuidados com a pele: "Duas vezes por ano vou ao dermatologista. Uso hidratante no rosto, mas só aplico protetor solar quando vou à praia ou à piscina".
Cirurgia plástica: "Retirei bolsas sob os olhos dois anos atrás. Aos 17 anos, corrigi uma calosidade no nariz"


Força na malhação

Anuar Tacach, empresárioIdade: 35 anos
Lailson Santos

A que atribui sua juventude:
 "A prática regular de exercícios despertou meu interesse em pesquisar mais sobre o funcionamento do corpo. Gosto de entender tudo o que se passa no meu organismo e, dessa forma, aprendo os cuidados que preciso tomar para mantê-lo o mais jovem possível".
Quando começou a se cuidar: "Pratico exercícios desde criança. Há doze anos participo de maratonas em vários lugares do mundo. Costumo refazer a prova no ano seguinte para melhorar a performance".
Alimentação: "Tomo uma cápsula de multivitamínico diariamente, mas não sigo alimentação regrada".
Atividade física: "Faço uma hora de corrida ou bicicleta e musculação vigorosa, seis vezes por semana, mesmo quando viajo".
Cuidados com a pele: "Uso protetor solar".
Cirurgia plástica: "Nunca fiz".


A idade pode ser aliada

Totia meireles, atriz 
Idade: 50 anos
Ernani d’Almeida

A que atribui sua juventude: "Aceito os meus 50 anos e procuro manter o bom humor para diminuir o peso da idade. Acho que os personagens que interpreto ampliam minha visão do mundo e ajudam a ver os outros de maneira mais flexível".
Quando começou a se cuidar: "Quando completei 40 anos, percebi que a idade é implacável e que precisava me cuidar mais. Comecei a cuidar da pele e da alimentação".
Alimentação: "Não como frituras nem janto. À noite, faço apenas um lanche. Tento resistir aos bolos caseiros, meu ponto fraco".
Atividade física: "Fiz balé até recentemente. Duas ou três vezes por semana, vou à academia praticar uma hora de exercício aeróbico e uma hora de musculação".
Cuidados com a pele: "Uso protetor solar e seis cremes para o corpo e o rosto".
Cirurgia plástica: "Tirei bolsas de gordura sob os olhos".


O chip da felicidade

Astrid Fontenelle, apresentadora de TV 
Idade: 48 anos
A que atribui sua juventude: "À vontade de ser feliz. Há pouco tempo, deixei para trás um trabalho e mudei de cidade, pois acreditei que minha felicidade estava ao lado de uma pessoa. Deu errado. Foi terrível, mas decidi não me entregar. Tive fé e corri atrás da minha felicidade de novo. Está dando certo. Adotei uma criança, Gabriel, de 11 meses, e vou reestrear meu programa na TV. Ser mãe me deixou mais feliz, bonita e até mais magra".
Quando começou a se cuidar: "Desde a adolescência presto atenção ao que como. Faço cursos e leio livros sobre temas diversos, como artes e religião, para exercitar a mente".
Alimentação: "Evito frituras, carne vermelha e feijão-preto. Não tomo refrigerante. Dou preferência a alimentos integrais e grelhados. Cachorro-quente e outras guloseimas só muito de vez em quando e, ainda assim, eu mesma os preparo, para evitar gordura em excesso".
Atividade física: "Corro ao ar livre, em média, quarenta minutos, três vezes por semana. Pratiquei ioga regularmente por cinco anos".
Cuidados com a pele: "Uso protetor solar, cremes antirrugas, sabonete especial diariamente e Botox. Nunca durmo com maquiagem".
Cirurgia plástica: "Nunca fiz"

O inimigo se chama sedentarismo



Uma forma eficaz de combatê-lo é a corrida, que faz 
bem para todo o organismo e não exige equipamentos


Ernani d'Almeida
A atriz Ana Paula Arosio, que há oito anos corre todo dia: "Correr é um comprometimento consigo mesmo, uma forma de ser mais cuidadoso com o corpo e a mente"

O tempo cobra do corpo um preço alto. A partir dos 30 anos, o metabolismo fica mais lento, a capacidade pulmonar diminui, coração e vasos sanguíneos perdem elasticidade. Ossos e articulações tornam-se mais frágeis, o que mais tarde pode comprometer a mobilidade e o bem-estar. Combater de maneira eficaz os efeitos da idade é um dos grandes desafios da medicina. Para os especialistas, o recurso que mais se aproxima de um elixir da juventude é simples: a prática regular de exercícios físicos. Os médicos são unânimes em afirmar que as pessoas que se exercitam vivem mais e com melhor qualidade. Como escolher o exercício ideal? Depende do gosto de cada um, mas os que mais ajudam a melhorar o condicionamento físico e desenvolver a capacidade cardiorrespiratória são os aeróbicos, ou seja, aqueles que fazem suar. No Brasil, o exercício que mais tem adeptos, depois do futebol, é a corrida. Calcula-se que, hoje, 4 milhões de brasileiros corram regularmente. A corrida se tornou um sucesso porque todos podem praticá-la. Tomadas as precauções necessárias em qualquer esporte – como exames cardiológicos e uma avaliação física –, basta colocar um par de tênis apropriado e preparar o fôlego.
Quem corre costuma falar de sua atividade com entusiasmo. A atriz Ana Paula Arosio, de 33 anos, começou a correr em 2001. Ela precisava treinar a respiração para ensaiar uma peça na qual ficava em cena por duas horas, sem interrupção. Desde então, tornou-se fã incondicional da corrida. Diz ela: "Correr é um comprometimento consigo mesmo, uma forma de ser mais cuidadoso com o corpo e a mente. Às vezes corro mais de uma vez por dia, pois nunca sei se no dia seguinte terei tempo disponível". A corrida beneficia o organismo de diversas formas. O médico fisiologista Rogério Teixeira da Silva, coordenador do Núcleo de Estudos em Esportes e Ortopedia, explica: "Correr diminui os riscos de doenças cardiovasculares, respiratórias e das articulações. Além de tudo, ajuda a manter o humor em alta, porque aumenta os níveis de serotonina, neurotransmissor associado às sensações de bem-estar e felicidade. Uma pessoa livre de todos esses problemas certamente vive mais e melhor". A corrida, quando aliada a uma alimentação saudável, torna-se uma das melhores atividades para enxugar as gordurinhas, o que contribui, também, para a boa relação com o espelho.
Muita gente tem dificuldade em conciliar as atividades diárias com a prática de exercícios físicos. Vale a pena tentar, já que os riscos do sedentarismo são consideráveis. A Organização Mundial de Saúde recomenda a prática de, no mínimo, vinte minutos de atividade aeróbica vigorosa – como a corrida – três vezes por semana. O sedentarismo, somado a outros fatores de risco, como o fumo ou os maus hábitos alimentares, pode resultar em doenças como a hipertensão e favorece a ocorrência de derrames. Esses males afetam 23 milhões de pessoas no Brasil e estão entre as principais causas de morte no país.
O arquiteto paulistano Marcelo Faisal, de 47 anos, corre desde os tempos de colégio. Há um ano, passou a abdicar do carro para ir trabalhar – vence correndo os 8 quilômetros do percurso. Faz o mesmo quando vai a locais próximos de sua casa, como o parque e o supermercado. Segundo seus cálculos, hoje ele faz 20% de seus trajetos correndo. Diz ele: "Correr e trabalhar são as minhas duas fontes de juventude. Tive de integrar a corrida à minha rotina de trabalho para não abandonar essa prática, que me faz tão bem". Qualquer folguinha durante o dia é suficiente para dar o primeiro trote. Basta ter força de vontade para começar.

A corrida da boa saúde

Correr é a atividade física cujo número de adeptos mais cresce no país. 
Calcula-se que 4 milhões de brasileiros pratiquem corrida, esporte que 
proporciona benefícios como...
Lailson Santos
O arquiteto Marcelo Faisal, que faz 20% de 
seus trajetos correndo: "É a minha fonte
da juventude"
...JUVENTUDE PROLONGADA
O ritmo de envelhecimento do organismo de um corredor acima de 50 anos é 50% mais lento que o de um sedentário
...MENOR RISCO DE VIDA
A probabilidade de morrer por infartos, derrames e cânceres é 60% menor nas pessoas com mais de 50 anos
...BOM HUMOR
Atividades aeróbicas intensas, como a corrida, reduzem pela metade os sintomas da depressão
...VISÃO PRESERVADA
O risco de sofrer de degeneração macular, a principal causa de cegueira em pessoas com mais de 60 anos, cai 20% para quem corre 2 ou mais quilômetros por dia
...MELHOR CAPACIDADE RESPIRATÓRIA
Ela pode aumentar 50% em comparação ao início do treinamento
...ARTICULAÇÕES SAUDÁVEIS
Problemas articulares, como artrite reumatoide e artroses, manifestam-se, em média, doze anos mais tarde entre corredores

Fontes: Daniel Magnoni, cardiologista e nutrólogo; Maria Cecília Damasceno, 
química médica; Rene Abdalla, ortopedista; e Carlos Hossri, cardiologista


Primo atleta X primo sedentário

Veja submeteu ambos ao teste ergométrico
Fotos Lailson Santos
GABRIEL 
COMPLETOU O TESTE
FLÁVIO 
PAROU NO MEIO
O empresário Gabriel Salomão Neto, de 31 anos, e o arquiteto Flávio Jancowski, de 35, são primos de primeiro grau. Ambos são saudáveis e têm biótipo parecido – mas estilo de vida completamente diferente. Gabriel é esportista. Faz sete horas de ginástica por semana, entre sessões de musculação, pilates, corrida e bicicleta. Flávio é sedentário. Não costuma se exercitar nem mesmo nas horas de lazer com os dois filhos pequenos. A pedido de VEJA, ambos se submeteram a um teste de esforço na esteira com a supervisão de médicos do Hospital do Coração, em São Paulo, para avaliar seu condicionamento físico. Quanta diferença nos resultados.
Gabriel, o esportista, correu por treze minutos, completando as seis etapas do teste. Flávio, o sedentário, abandonou a esteira pouco depois da metade do exame. O consumo de oxigênio de Flávio foi inferior ao do primo, o que mostra que Gabriel está mais bem condicionado. Em repouso, a frequência cardíaca de ambos era de 78 batimentos por minuto. Ao final, a de Gabriel subiu para 192 batimentos, considerada ótima, enquanto Flávio atingiu o limite máximo de segurança antes de completar o teste. A pressão arterial do primo atleta, inicialmente 12 por 7, aumentou para 16 por 7, dentro do esperado. "A pressão sistólica aumentou e a diastólica se manteve, o que significa que o coração bombeou o sangue para as artérias com mais intensidade e eficiência durante o exercício", diz o cardiologista Raul Santos, do Instituto do Coração. A pressão arterial cardíaca de Flávio subiu de 13 por 8, ligeiramente alta, para 18 por 9. "A pressão mínima e a máxima subiram, mostrando que o coração, embora tenha bombeado mais sangue para as artérias, precisou se esforçar muito para fazê-lo", diz Santos. Conclusão: o sistema cardiovascular do primo esportista teve uma resposta mais adequada ao exercício.

Canela e pé são as maiores vítimas da corrida, mostra estudo


Canela, calcanhar e planta do pé são as maiores vítimas do impacto que ocorre na corrida --e não os joelhos, tão lembrados quando se fala em lesão de atletas.


É o que revela estudo pioneiro da Universidade Cidade de São Paulo publicado na "Sports Medicine", da Nova Zelândia, revista que lidera o ranking internacional de publicações sobre ciência do esporte feito pelo "Journal Citation Reports".
Para chegar a esse resultado, os pesquisadores analisaram 2.924 artigos. "Revisamos todas as pesquisas que descreveram as principais lesões em corredores", diz Alexandre Dias Lopes, fisioterapeuta, professor da Unicid e coordenador de um grupo de pesquisas sobre o tema.
No final da peneira científica, que descartou textos redundantes ou com definições insuficientes, só oito estudos foram considerados. No total, acompanharam 3.500 corredores e constataram 28 tipos de lesão. As três principais são: síndrome do estresse medial da tíbia (canelite), tendinopatia de Aquiles (tendinopatia do calcâneo) e fascite plantar (veja ao lado).
"Não dá para dizer qual é a principal. Essas três são as mais comuns", diz Lopes, que supervisionou o estudo conduzido pelo mestrando Luiz Carlos Hespanhol Júnior.
Nos consultórios, também são as campeãs, diz Jomar Souza, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte
São lesões causadas por sobrecarga, nenhuma é traumática (tipo pisar num buraco). Diferentemente do futebol, que machuca por macrotrauma, a corrida causa lesões por microtrauma de repetição. "Alguma estrutura biológica não aguenta o estresse e sofre inflamação", diz Lopes.
Márcio Freitas, especialista em pé e tornozelo, acrescenta: "A causa principal dessas patologias é o excesso de treino, com pouco tempo de recuperação dos tecidos [osso, tendão, músculo]".
Rogério Teixeira da Silva, ortopedista e coordenador do Núcleo de Estudos em Esportes e Ortopedia, bate na mesma tecla: "Uma das causas mais comuns de sobrecargas ósseas e de tendão é o músculo não estar forte o suficiente para suportar os treinos; no caso da fascite plantar e nas tendinites de joelho e de Aquiles, o encurtamento muscular também é uma causa importante".
Quando a advogada Cinthia Andrade, 35, sentiu pontadas no meio da canela, achou que era cansaço.
Os sintomas surgiam nos treinos e eram amenizados quando ela, que corre há seis anos, reduzia a intensidade ou caminhava. Com o tempo, a dor passou a prejudicar seu desempenho.
"Em maio, numa prova de 10 km, tive de caminhar a partir do km 6. Em setembro, participei de outra e tive de caminhar já no km 3. Fico chateada porque estou preparada, mas não consigo desenvolver por causa da dor."
Sem nunca ter deixado de treinar ""corrida até quatro vezes por semana mais bicicleta ao menos um dia--, resolveu enfim ir ao médico.
O exame indicou canelite nas duas pernas. Agora, ela começa nova etapa: fisioterapia, fortalecimento muscular, aplicação de gelo e redução do volume de treinos. Os resultados devem aparecer em um mês e meio.
A advogada quer acabar com a dor logo e se preparar para a São Silvestre, principal prova de rua do país."Vou correr de qualquer jeito!"
Editoria de Arte/Folhapress
MENOS, MENOS
O tratamento, pelo menos num primeiro momento, é sempre a redução do treinamento, tanto em volume (quilômetros rodados por semana) quanto em intensidade (ritmo). Há situações em que o corredor deve mesmo interromper seus treinos. E precisa tomar outras medidas.
"Além de fisioterapia, o paciente deve seguir um programa específico de treinamento, envolvendo alongamento e fortalecimento muscular. Como terapia complementar, a acupuntura, o RPG e a quiropraxia podem ser utilizados", diz Moisés Cohen, diretor do Instituto Cohen de Ortopedia, Reabilitação e Medicina do Esporte.
Os resultados dependem da paciência da pessoa, nem sempre disposta a abrir mão de seu esporte, constata Freitas: "Nós, que tratamos corredores, ficamos muitas vezes de mãos atadas, pois essas lesões requerem um tempo de tratamento, o que não é aceito por eles e, muitas vezes, não temos tecnologia para abreviar esse tempo, que é determinado pela biologia, não pela opinião médica".

Conselho proíbe médicos do país de aplicar terapia antienvelhecimento




Tratamento com hormônios, vitaminas e antioxidantes não teria resultado.
CFM permite uso de substâncias em caso de deficiência diagnosticada.

 Resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) publicada nesta sexta-feira (19) no Diário Oficial da União proíbe aos médicos do país a indicação e a aplicação dos chamados tratamentos antienvelhecimento, que usam hormônios, antioxidantes ou vitaminas, sob risco de cassação da licença do profissional.
O uso dessas substâncias permanece permitido no tratamento de problemas de saúde em que a aplicação delas tenha eficácia comprovada pela ciência. Não é o caso dos métodos de rejuvenescimento agora proibidos, que foram, inclusive, relacionados com casos de câncer e alterações hormonais graves, segundo informa Elisa Franco de Assis Costa, membro da Câmara Técnica de Geriatria do CFM.
A partir da publicação, profissionais ficam impedidos de oferecer tratamentos antienvelhecimento com a substância EDTA (etilenodiaminatetraacetico), classificada como "quelante", que promete quebrar o efeito de minerais como ferro, cálcio e alumínio que se acumulam no organismo, ou com o DHEA (dehidroepiandrosterona), um propulsor hormonal que reduziria marcas da idade.
Também fica vedada a aplicação do hormônio do crescimento e a indicação de ingestão de antioxidantes como gincobiloba, vitaminas C e E, para tratamentos rejuvenescedores.
“Há alguns anos esses tratamentos vêm se proliferando pelo Brasil. Isso explora a ilusão humana. Depois de analisarmos vários estudos relacionados ao tratamento antienvelhecimento, o conselho viu que não há comprovação de resultados positivos do uso de hormônios, antioxidantes, vitaminas, além da trocaína (um anestésico aplicado na veia para rejuvenescimento)”, explica a profissional.
Segundo o conselho, a nova regra reforça limitação imposta pelo Código de Ética Médica, em vigor desde 2010, que também desautoriza o emprego de técnicas sem comprovação cientifica.
A resolução atual também dialoga com os conteúdos das resoluções 1938/2010, que alerta para a ineficácia das práticas ortomoleculares com o intuito de combater processos como o antienvelhecimento, e a 1974/2011, que trata de publicidade médica. A norma do ano passado proíbe médicos de anunciarem e prometerem resultados aos pacientes divulgarem o uso de métodos sem comprovação cientifica.
Cursos de especialização em xeque
Segundo o conselho, uma das preocupações recentes que levaram à publicação da norma foi o surgimento de cursos de extensão, de educação continuada e pós-graduação em medicina antienvelhecimento.
De acordo com o Diário Oficial, há preocupação com o “treinamento de profissionais para a prescrição de hormônios e outros tratamentos ainda sem comprovação científica, com o suposto objetivo de prevenir, retardar, modular ou reverter o processo de envelhecimento”.
Segundo a médica do CFM, um dos motivos de acelerar a publicação da normativa foi a chegada de uma solicitação ao conselho para avaliar a criação de um curso de modulação hormonal, que ainda não existia no Brasil e para a qual não há comprovação científica de eficácia.
“Por enquanto não há ainda uma solução [para retardar a velhice]”, disse. Segundo Elisa, alguns tratamentos, como a ingestão de vitamina E, já são relacionados com casos de câncer de próstata em homens. Ela afirma também que o tratamento com o hormônio DHEA pode provocar distúrbios, como aumento das taxas de hormônios masculinos em mulheres.
Pacientes podem denunciar profissionais que ainda utilizarem os métodos ou divulgarem benefícios sobre eles para o CFM, que repassará informações aos Conselhos Regionais de Medicina (CRM). Caso haja a constatação da ilegalidade, um processo de investigação deverá ser aberto e o profissional pode perder a licença médica de forma definitiva como punição.
Hábitos de vida retardam envelhecimento
Segundo doutora Elisa, para ter um envelhecimento saudável é preciso ter melhores hábitos de vida e atividades mentais, além de controlar fatores de riscos para doenças e tratar problemas de saúde crônicos.
“Até a cidade em que vivemos influencia o envelhecimento saudável. Cabe ao profissional médico buscar e recomendar aquilo que funcione para o paciente e que vai lhe trazer benefícios”, conclui.