sábado, 15 de setembro de 2012

O dilema da reposição hormonal.


Mais de uma década estudos questionam segurança do tratamento, hoje aprovado por especialistas.


Debate. A reposição hormonal foi tema de discussão do evento do GLOBO na Casa do Saber; riscos de câncer pelo tratamento são superestimados, segundo os especialistas
Foto: Simone Marinho
Debate. A reposição hormonal foi tema de discussão do evento do GLOBO na Casa do Saber; riscos de câncer pelo tratamento são superestimados, segundo os especialistasSIMONE MARINHO
De um lado, uma geração de mulheres com medo de se submeter à reposição hormonal, já que, há mais de um década, um estudo bombástico colocou a terapia na berlinda. De outro, homens que nunca ouviram falar do Déficit Androgênico do Envelhecimento Masculino (Daem) — ou, numa analogia à menopausa, da andropausa. Dúvidas e orientações sobre a queda, na meia-idade, da produção de hormônios, foram debatidas durante a sexta edição dos Encontros O GLOBO Saúde e Bem-Estar, na última quarta-feira, na Casa do Saber. Para a plateia lotada, principalmente de mulheres, um alento: os palestrantes garantiram que a reposição não é prejudicial, e sim oferece uma série de vantagens, desde que seja individualizada e acompanhada por especialistas. Para os homens, um alerta: eles não estão livres da baixa hormonal e precisam ficar atentos aos sintomas, que não são tão aparentes como no corpo feminino.
— Escolhemos o tema da reposição hormonal masculina e feminina porque há muitos mitos e verdades sobre isso. Ela tem riscos, mas tem enormes benefícios — afirmou o cardiologista Cláudio Domênico, curador do evento, que teve mediação da editora de Ciência e Saúde do GLOBO, Ana Lucia Azevedo.
Década passada foi período negro da reposição hormonal
No início da década de 2000, uma série de estudos passou a mostrar os malefícios da reposição hormonal e, no ano 2002, foi lançada a pesquisa Iniciativa da Saúde na Mulher (WHI, na sigla em inglês), que fez com que uma legião de mulheres jogasse fora seus remédios. Acompanhando por cinco anos mais de 160 mil mulheres após a menopausa, com idades entre 50 e 79 anos, foram apontados diversos prejuízos do seu uso: trombose, AVC, infarto agudo do miocárdio e até câncer de mama. Passada uma década, a endocrinologista Amanda Athayde, diretora do Departamento de Endocrinologia Feminina e Andrologia da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem), diz que o medo ainda paira entre as mulheres e até na classe médica, apesar de, segundo ela, ser injustificado.
— Foi um período negro da terapia de reposição hormonal, muitas mulheres deixaram de se beneficiar dela — afirmou Marina, que criticou o estudo. — A Sbem se posicionou, afirmando que os hormônios utilizados eram errados (progestágeno e estrógeno equino conjugado, semelhantes, mas não iguais aos produzidos pela mulher) e que as mulheres foram selecionadas de maneira errada. Eram mais velhas e tinham começado a fazer a reposição muito tempo depois da menopausa.
A especialista pondera, entretanto, que a reposição não é indicada para mulheres com histórico de trombose ou câncer de mama.
— O estrogênio não causa câncer de mama, mas ele faz com que uma célula maligna cresça, por isso não pode ser prescrito para mulheres que tiveram a doença — afirmou Amanda.
O cardiologista Cláudio Domênico também desaconselha a prescrição de hormônios às pacientes com problemas cardiovasculares:
— A mulher que nunca teve problema cardíaco, como infarto, tem baixo risco. A mulher com problema prévio de coração, a princípio, deve evitá-la.
“Saúde do homem é negligenciada”, diz endocrinologista
Se na mulher os sintomas do climatério (período pré e pós a interrupção da menstruação comumente confundido com a menopausa) ocorrem geralmente por volta dos 50 anos e são bastante típicos —ondas de calor, diminuição da libido, pele seca, incômodo na relação sexual e dores de cabeça —, no homem, a baixa do hormônio masculino (testosterona) não acontece sempre na meia-idade e não acomete todos.
— Nem todos os homens chegam a ter uma andropausa, ou seja, nem sempre os hormônios masculinos vão a níveis tão baixos que cheguem a criar problema, embora esses hormônios já venham caindo desde os 30 anos (em 1% ao ano) — explicou o diretor do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia Luiz Capriglione (Iede), Ricardo Meirelles.
A chamada andropausa faz referência à menopausa, utilizando-se o prefixo andro, que significa homem. Mas apesar de termos similares, os fenômenos têm aspectos diferentes. A deficiência, por exemplo, é diagnosticada por um exame de sangue, colhido pela manhã, que indica os níveis de testosterona.
— O homem não tem queixas características que mostrem que ele está com pouca testosterona. Por isso se confunde com situações comuns do envelhecimento — explicou Meirelles, que deu exemplos de alguns sintomas típicos da queda hormonal masculina. — Quando falta testosterona, a primeira coisa que vem à mente é o comportamento sexual: diminui a libido e pode ocorrer disfunção erétil. Mas também existem outras coisas que são muito importantes, como aumento da gordura corporal, o que faz com que o homem possa ter problemas cardiovasculares. A massa muscular diminui ao longo do tempo, principalmente se ele não fizer atividade física. Dores musculares, articulares e perda de massa óssea também aparecem.
Além da diferença de sintomas, a andropausa se distancia da menopausa no peso que se dá ao tratamento, inclusive por cientistas e médicos.
— Nós começamos a nos preocupar com a reposição hormonal feminina muito antes da masculina. Não se dava nenhuma atenção à andropausa. Somente há dez, 15 anos, que se começou a ver isto com uma preocupação maior — reconheceu Meirelles. — A situação está mudando, mas a saúde masculina é negligenciada, principalmente pelos próprios homens.
Dados da Sociedade Brasileira de Urologia mostram exatamente esta situação: uma pesquisa com cinco mil homens acima de 40 anos de nove capitais brasileiras constatou que 66% dos entrevistados não sabiam o que era andropausa. Além disso, 64% deles nunca tinham feito um exame para medir os níveis de testosterona e 38% não costumavam ir ao médico com frequência.
Além de ignorância, o medo — de ocorrência de câncer de próstata — é outro fator que afasta homens do tratamento de reposição hormonal.
—Isto é curioso, porque não há razão científica que o justifique. Só houve um trabalho, há mais de 40 anos, que mostrou a ocorrência de câncer de próstata num homem que recebia hormônio, mas eram só três pacientes — lembrou Meirelles, ressaltando a importância do acompanhamento médico. — Tomar testosterona livremente tem vários riscos, como o de problemas cardiovasculares.

Níveis de atividade física são melhores indicadores de mortalidade do que obesidade e hipertensão.



Essa é uma das conclusões de um estudo que procurou mensurar a influência dos esportes sobre a saúde da população dos países

Atividade intensa: exercícios rápidos aumentam o uso do açúcar disponível na corrente sanguínea, prevenindo o diabetes 2
Atividade física: países ainda não têm dados consistentes sobre níveis de exercícios praticados pela populaçao(Thinkstock)
Baixos índices de atividades físicas entre a população de um país são melhores indicadores de mortalidade do que problemas como obesidade ou hipertensão. Por isso, os níveis de exercícios devem ser considerados como um sinal vital, e o hábito precisa ser mais frequentemente aconselhado aos pacientes pelos profissionais de saúde. Essas são as conclusões de um estudo feito por um time de pesquisadores de universidades dos Estados Unidos, Canadá, Austrália e Noruega, que buscaram mensurar a influência do esporte sobre a saúde da população mundial. A pesquisa foi publicada nesta sexta-feira na revista The Lancet, e é o primeiro de uma série de artigos que o periódico vai divulgar sobre exercícios físicos, aproveitando a proximidade da Olímpiada de 2012, que começa neste mês em Londres.
Segundo os autores do estudo, ainda são escassos os dados dos países sobre os níveis de exercícios praticados pela população, mas as evidências existentes já mostram que, se as pessoas passarem a fazer mais atividade física, a saúde física e mental da população vai melhorar drasticamente. Eles acreditam que isso possa ser possível se os médicos e outros profissionais de saúde passarem a aconselhar o hábito — e recomendá-lo como parte do tratamento — aos pacientes. É o mesmo, de acordo com os pesquisadores, que ocorreu quando os médicos começaram a indicar o fim do tabagismo a pacientes com determinadas doenças — o que, segundo o artigo, reduziu as taxas de fumantes em muitos países.
No artigo, a equipe cita alguns estudos recentes que respaldam essas conclusões. Uma pesquisa feita em 2010, por exemplo, mostrou que pessoas sedentárias que passaram a jogar futebol de duas a três vezes por semana demonstraram significativa redução do risco de doenças cardiovasculares, diabetes e osteoporose. Além disso, segundo os pesquisadores, outros trabalhos indicaram que comprometer-se com algum esporte melhora a percepção e o conhecimento das pessoas em relação à saúde. “A evidência de que a atividade física é a principal e mais eficaz abordagem de saúde pública para a prevenção de doenças, além de uma potencial abordagem de tratamento, aumentou significativamente nos últimos anos. Nós acreditamos que pequenas mudanças nas políticas e iniciativas dos países para aumentar os níveis de exercício físico entre a população são necessárias e suficientes para melhorar a saúde", concluíram os autores.

Em 2012, 37% dos casos de câncer no Brasil estarão relacionados ao tabagismo.



Estimativa do Inca ainda mostrou que cânceres relacionados ao cigarro podem reduzir em até 6 anos a expectativa de vida de homens e em 5 a de mulheres

Cigarros
Cigarros: tabagismo tem forte relação com câncer de pulmão e câncer colorretal (Stockbyte/Getty Images)
Neste ano, 37% dos novos casos de câncer podem estar relacionados ao tabagismo, segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (Inca) divulgadas nesta quinta-feira, 31, Dia Mundial sem Tabaco. De acordo com os dados, os cânceres de pulmão e colorretal estão fortemente associados ao fumo.
Esse recorte é inédito e foi baseado nas estimativas do Inca sobre os novos casos de câncer em 2012, que previu 520 mil novos casos da doença neste ano. De acordo com o órgão, embora a taxa de fumantes no Brasil esteja pela primeira vez abaixo dos 15%, segundodados da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) de 2011, o número de casos de câncer associados ao tabagismo continuam preocupantes. "O país já obteve muitos avanços na luta contra o tabagismo, mas ainda é preciso regulamentar definitivamente a lei dos ambientes 100% livres do tabaco e dar mais um grande passo em prol da saúde dos brasileiros", diz o diretor-geral do Inca, Luiz Antonio Santini.
Regiões — Os dados do Inca mostraram que os percentuais de cânceres associados ao tabagismo em relação a todos os registrados em 2012 serão de 34% entre homens e 45% entre mulheres da região Norte; 33% e 38%, respectivamente, no Nordeste; 35% e 40% no Centro-Oeste; 38% e 33% no sudeste; e 43% e 35% na região Sul.
Mortalidade — O Inca destacou que não só os novos casos, mas também a taxa de mortalidade, são alarmantes. As estimativas revelaram que, se for considerada uma expectativa de vida até os 80 anos de idade, os homens podem chegar a viver 6 anos menos, e as mulheres 5 anos menos, caso desenvolvam um câncer associado ao cigarro.
Ainda de acordo com os dados, o câncer de pulmão é o principal tipo da doença associado ao cigarro. Segundo o Inca, essa doença corresponde a aproximadamente 30% das mortes por câncer que ocorrem no Brasil entre o sexo masculino. Entre as mulheres, além do câncer de pulmão, o colorretal, bastante relacionado ao tabagismo, também é representativo, correspondendo a 20% das mortes por câncer na região Sudeste, por exemplo.
Outras causas — O Inca ainda chamou atenção para o fato de que o cigarro pode prejudicar a saúde de uma pessoa não somente pelo fumo, mas também pelo processo de produção, por exemplo. Desmatamento, uso de agrotóxico, incêndios e poluição do ar, além de afetarem o meio ambiente, danificam a saúde de trabalhadores, como os agricultores, e da população. "Basta manter um cigarro aceso para poluir o ambiente. A fumaça do cigarro contém mais de 4.700 substâncias tóxicas e cancerígenas, além de corantes e agrotóxicos em altas concentrações. Imagine a quantidade de toxicidade que várias pessoas fumando deixam no nosso planeta", diz a coordenadora da Divisão de Tabagismo do Inca, Valéria Cunha.
O fumo passivo também é outra maneira pela qual o tabagismo afeta as pessoas. De acordo com o Inca, estudos revelam que pessoas que não fumam, mas são expostas ao cigarro, apresentam um risco 30% maior de desenvolver câncer no pulmão e doenças cardíacas e têm de 25% a 35% mais chances de sofrer de doenças coronarianas agudas. O órgão indica que, no Brasil, ao menos sete pessoas que não fumam morrem por doenças provocadas pela exposição à fumaça do tabaco no Brasil.

Estilo de vida saudável adotado já na velhice também aumenta longevidade.



Hábitos como praticar atividades de lazer e não fumar, mesmo se seguidos após os 75 anos de idade, elevam em até cinco anos a expectativa de vida

O cérebro dos idosos não perde para o dos jovens em velocidade em algumas tarefas
Idosos: Estilo de vida saudável seguido por pessoas com mais de 75 anos eleva em até cinco anos a longevidade(Thinkstock)
Um idoso que decide adotar uma vida mais saudável, mesmo já tendo passado pelos 75 anos de idade, também pode ter aumentada a sua expectativa de vida, sugere um novo estudo do Instituto Karolinska, na Suécia. Segundo a pesquisa, mudanças adotadas em uma idade avançada, como emagrecer, parar de fumar ou deixar de beber excessivamente, podem estender a vida de uma pessoa mais velha em até cinco anos.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Lifestyle, social factors, and survival after age 75: population based study

Onde foi divulgada: periódico British Medical Journal (BMJ)

Quem fez: Debora Rizzuto, Nicola Orsini, Chengxuan Qiu, Hui-Xin Wang e Laura Fratiglioni

Instituição: Instituto Karolinska, Suécia

Dados de amostragem: 1.800 idosos com mais de 75 anos de idade

Resultado: Pessoas com mais de 75 anos, mesmo que tenham uma doença crônica, podem viver até cinco anos a mais se adoterem hábitos como praticar atividades de lazer com frequência, não fumar ou largar o cigarro, consumir menos bebida alcoólica, não ter sobrepeso e seguir uma dieta correta
Essas conclusões foram publicadas nesta semana no site do periódicoBritish Medical Journal (BMJ). No artigo, os autores explicam que já é sabido que um estilo de vida não saudável pode contribuir para a mortalidade de pessoas idosas e que hábitos saudáveis adotados ao longo de toda a vida reduz esse risco. No entanto, eram incertos os efeitos desses hábitos adotados pela terceira idade sobre a longevidade de um indivíduo.
Essa pesquisa analisou, ao longo de 18 anos, a sobrevivência de 1.800 idosos maiores do que 75 anos com base em fatores modificáveis, como comportamento, atividades de lazer, estilo de vida, profissão e relacionamento social. Até o final do estudo, 92% dos participantes morreram e metade viveu mais do que 90 anos.
Sobrevivência — As pessoas com maior expectativa de vida foram mais propensas a ser do sexo feminino, a ter um maior nível de escolaridade, a seguir hábitos saudáveis, como praticar atividade física, seguir uma alimentação correta e não ter sobrepeso, a apresentar melhores relacionamentos sociais e a participar mais frequentemente de atividades de lazer do que os indivíduos que viveram por menos tempo.
Segundo o estudo, esses idosos com o menor risco de mortalidade viveram, em média, quatro anos (para mulheres) e cinco anos (para homens) a mais do que os participantes com maior risco de morrerem — ou seja, aqueles que fumavam, bebiam excessivamente, não praticavam atividades físicas ou de lazer e tinham um pobre relacionamento social. Essa maior expectativa de vida foi observada mesmo se o indivíduo tinha mais do que 85 anos e apresentava alguma doença crônica.
A pesquisa também mostrou que, em média, os fumantes morreram um ano mais cedo do que o restante dos indivíduos — tanto aqueles que nunca fumaram quanto os que deixaram o cigarro após os 40 anos de idade. Isso sugere, segundo os autores, que parar de fumar na vida adulta reduz os efeitos do tabagismo sobre a mortalidade. “Nossos resultados mostram que estimular comportamentos de vida favoráveis, mesmo em idades avançadas, pode aumentar a expectativa de vida, provavelmente por redução da morbidade", concluem os autores.

Corrida em ritmo moderado aumenta expectativa de vida em até seis anos.



Estudo apontou que benefício é melhor com até 2,5 horas da prática na semana do que correr em intensidade exagerada

Praticar corrida já foi mais barato
Correr reduz risco de morte em até 44% (Thinkstock)
Praticar corrida regularmente aumenta a expectativa de vida de homens e mulheres em ao menos cinco anos, concluiu uma nova pesquisa apresentada nesta quinta-feira no encontro anual da Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC, na sigla em inglês), em Dublin, na Irlanda. Segundo o estudo, uma maior longevidade pode ser alcançada com entre uma e duas horas e meia da atividade por semana em ritmo lento ou moderado.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Jogging-healthy or hazard?

Onde foi divulgada: encontro anual da Sociedade Europeia de Cardiologia, Irlanda

Quem fez: Peter Schnohr, cardiologista chefe do Estudo do Coração da Cidade de Copenhague

Instituição: Estudo do Coração da Cidade de Copenhague

Dados de amostragem: 20.000 homens e mulheres de 20 a 93 anos

Resultado: Correr de uma a duas horas e meia por semana reduz chances de morte em até 44% em homens em mulheres, além de aumentar em 6,2 e 5,6 anos a expectativa de vida dos sexos masculino e feminino, respectivamente. O benefício é maior quando a atividade é feita com essa frequência e em ritmo leve a moderado
Essa conclusão faz parte do Estudo do Coração da Cidade de Copenhague, um trabalho que vem sendo feito na Dinamarca desde 1976 com mais de 20.000 pessoas com idades entre 20 e 93 anos. Esse levantamento busca aumentar o conhecimento sobre prevenção de doenças cardíacas e também sobre outros problemas, como os de sono e de alergia, por exemplo. Mais de 750 pesquisas já foram publicadas ao longo desses anos a partir de resultados do estudo.
Como explicam os pesquisadores, há diversos trabalhos que sugerem que a corrida pode ser prejudicial para a saúde de adultos e idosos. No entanto, o novo estudo, segundo os próprios autores, ao buscar oferecer uma resposta definitiva ao assunto, concluiu que correr é bom para a saúde e aumenta a longevidade. “A corrida proporciona vários benefícios à saúde: melhora a absorção de oxigênio, aumenta a sensibilidade à insulina, reduz a pressão arterial e melhora as funções cardíaca e respiratória. E a boa notícia é que você não precisa fazer muito para conseguir esses efeitos positivos”, afirma Peter Schnohr, cardiologista chefe do estudo.
A pesquisa — Foram acompanhados, de 1976 a 2003, 1.116 homens e 762 mulheres que costumavam praticar corrida, e suas informações foram comparadas com as do restante dos indivíduos cadastrados no estudo, os quais não costumavam correr. Todos os participantes responderam a questionários sobre a frequência e o ritmo (lento, médio ou rápido) em que corriam. Os dados foram coletados quatro vezes: entre 1976 e 1978; entre 1981 e 1983; entre 1991 e 1994; e de 2001 a 2003.
No período do estudo, 10.158 pessoas que não praticavam corrida e 122 corredores morreram. A análise feita pelos especialistas mostrou que a corrida reduziu em 44% o risco de morte em indivíduos de ambos os sexos e aumentou a expectativa de vida em 6,2 anos entre os homens e em 5,6 anos entre as mulheres. Segundo os pesquisadores, o melhor benefício foi conquistado com a prática de uma a duas horas e meia de corrida por semana, especialmente quando esse tempo foi dividido em três sessões da atividade, em ritmo lento ou moderado, em uma semana. De acordo com os autores do estudo, essa intensidade é caracterizada quando uma pessoa, ao fazer esforço, se sente um pouco ofegante, mas não com muita falta de fôlego.
Segundo o trabalho, essa frequência surtiu efeitos mais positivos do que quando uma pessoa não corria ou realizavam exercícios com frequência e intensidade extremamente intensos. “Essa associação se parece com a estabelecida em relação ao consumo de álcool. Ou seja, o consumo moderado é melhor do que ser abstêmio ou ingerir quantidades excessivas da bebida”, diz  Schnohr .

Vitamina D e cálcio juntos podem aumentar expectativa de vida de idosos.



Ingestão diária de suplementos desses nutrientes reduz em 9% o risco de mortalidade em um período de três anos entre pessoas com 70 anos

idoso
Idoso: Combinar suplementos de vitamina D e de cálcio pode ajudar a prolongar a vida (Thinkstock)
Idosos que tomam suplementos de cálcio e vitamina D podem ter uma expectativa de vida maior do que aqueles que não ingerem quantidades suficientes dos nutrientes. Essa é a conclusão de um estudo publicado na edição deste mês do periódico Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism. Segundo a pesquisa, feita na Universidade da Aarhus, na Dinamarca, os suplementos reduzem em até 9% as chances de mortalidade em um período de três anos entre pessoas com idade média de 70 anos.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Vitamin D with Calcium Reduces Mortality: Patient Level Pooled Analysis of 70,528 Patients from Eight Major Vitamin D Trials

Onde foi divulgada: periódico Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism

Quem fez: Lars Rejnmark, Alison Avenell, Tahir Masud, Frazer Anderson, Haakon Meyer, Kerrie Sanders, Kari Salovaara, Cyrus Cooper, Helen Smith, Elizabeth. Jacobs, David Torgerson, Rebecca Jackson e outros

Instituição: Universidade da Aarhus, Dinamarca

Dados de amostragem: 70.528 idosos com idade média de 70 anos

Resultado: Fazer uso de suplementos de cálcio e vitamina D pode reduzir em até 9% as chances de mortalidade em um período de três anos
“Uma diminuição de 9% em relação ao risco de morte pode parecer um benefício pequeno, mas, essa redução entre uma população de idosos já é de grande importância”, disse à agência Reuters o coordenador do estudo, Lars Rejnmark. “Há poucas intervenções conhecidas capazes de reduzir a mortalidade entre pessoas dessa faixa etária. A principal é o fim do tabagismo, mas é preciso descobrir outras".
Os autores da pesquisa chegaram a essa conclusão após analisarem outros oito estudos clínicos sobre os efeitos de suplementos de vitamina D e de cálcio sobre a saúde do indivíduo. Ao todo, esses trabalhos envolveram mais de 70.000 idosos, a maior parte mulheres aos 70 anos.
De acordo com a pesquisa, esse benefício foi encontrado com a ingestão diária suplementos contendo de 10 a 20 microgramas de vitamina D e 1.000 miligramas de cálcio — quantidades correspondentes às recomendações do Ministério da Saúde. O estudo ainda observou que, sozinho, o suplemento de vitamina D não tem impacto sobre a redução da mortalidade.
Para os pesquisadores, embora estudos anteriores tenham mostrado que a combinação desses dois suplementos pode evitar a osteoporose entre idosos, principalmente do sexo feminino, isso não explica a diminuição da mortalidade. Segundo Rejnmark, pode ser que os suplementos ajudem a reduzir a incidência de mortes por câncer, mas são necessários outros trabalhos para que essa hipótese avaliada. 

Saiba mais

CÁLCIO
O cálcio pode ser encontrado em alimentos como os laticínios, alguns vegetais, especialmente os de folhas verdes (brócolis, couve-flor e repolho roxo), peixes como sardinha e salmão, feijão, entre outros. O Ministério da Saúde recomenda o consumo de 1.000 miligramas de cálcio ao dia para adultos e de 700 miligramas para crianças de 7 a 10 anos. 100 gramas de queijo muzzarela, por exemplo, tem 875 miligramas de cálcio.
VITAMINA D
Também chamada calciferol, a vitamina D promove a absorção do cálcio pelo organismo após a exposição solar. 90% da vitamina D que precisamos vem da exposição ao sol. A deficiência da vitamina pode provocar raquitismo, alterações no crescimento e nos ossos, além de reduzir a imunidade. A vitamina D está relacionada ainda ao bom funcionamento do coração, do cérebro e da secreção de insulina pelo pâncreas. A presença significativa da substância é vista em poucos alimentos, como fígado, óleos de peixes gordurosos e gema de ovo.

Vitaminas, a química da vida.


Os cientistas descobrem que superdoses de algumas vitaminas podem ajudar a evitar o enfarte, certos tipos de câncer e retardar o envelhecimento
Os médicos estão reaprendendo quase tudo sobre as vitaminas. Algumas descobertas recentes mostram que essas substâncias podem retardar o aparecimento dos sinais da velhice, afastar alguns tipos de câncer e diminuir pela metade as chances de um ataque cardíaco. Mas atenção: as pesquisas mostram também que as dietas mais saudáveis e diversificadas, aquelas à base de legumes, carnes, peixes e frutas, fornecem apenas a quantidade e variedade de vitaminas necessárias à boa nutrição. É pouco. Para se beneficiar dos efeitos de cura, as pessoas precisam ingerir algumas vitaminas em dosagens tão elevadas que é preciso recorrer às cápsulas, à venda no mercado. A indústria farmacêutica está rindo à toa. 
Os cientistas de alguns dos mais sérios centros de pesquisa do mundo garantem que não se trata de um golpe publicitário. "Os resultados são fortes demais para ser ignorados", diz o americano Meir Stampfer, pesquisador da Escola de Medicina de Harvard, co-autor de um trabalho revolucionário sobre as vitaminas e a saúde do coração que saiu no mês passado no The New England Journal of Medicine, a mais respeitada publicação médica dos Estados Unidos. Stampfer e seus colegas chegaram à conclusão de que 100 unidades de vitamina E por dia, seis vezes mais que a dosagem convencionalmente recomendada pelos médicos, diminuem em mais de 40% o risco de ataques cardíacos em homens.
EM CAUSA PRÓPRIA - Para obter com alimentos 100 unidades de vitamina E, a pessoa precisa comer 1,5 quilo de alface, 3,5 quilos de gema de ovo ou 20 quilos de banana. A vitamina E é vendida em cápsulas de 100 a 1.000 unidades em farmácias brasileiras a preços que variam de 400.000 a 1,2 milhão de cruzeiros cada caixa. Se o que se busca é apenas a vitamina em questão, fica mais barato comprar a cápsula em vez de passar na feira. "A nova geração de pesquisas sobre vitaminas pode estar encontrando um jeito muito mais econômico de tratar e prevenir as doenças crônicas", acredita o médico Charles Butteworth, da Universidade do Alabama. A conta de Butteworth se baseia em conclusões que muitas pesquisas estão revelando. Doses elevadas de vitaminas, além de proteger o coração, ajudam a combater a fadiga crônica e adiar a perda de cálcio dos ossos, que começa por volta dos 40 anos de idade.
Alguns tipos de câncer, como o de pulmão, ao qual os fumantes são mais suscetíveis, poderiam ser evitados em muitas pessoas com megadoses de vitaminas. Um estudo recente da Universidade do Alabama, nos Estados Unidos, mostrou que os fumantes que tomam vitamina B 12 e ácido fólico (1.000 microgramas por dia) têm menos chance de desenvolver câncer de pulmão que os fumantes que não ingerem suplementos. Esse novo poder atribuído às vitaminas está surpreendendo os médicos. A maior surpresa é que eles próprios estão se servindo das pílulas, convencidos de que elas podem ajudá-los a viver melhor e por mais tempo. O médico americano Jerome Cohen, professor de Medicina Interna da Universidade de Saint Louis, confessou à revista Newsweek que nunca acreditou que as vitaminas pudessem fazer alguma coisa "por um adulto já saudável". Mudou de idéia. Hoje Cohen toma todos os dias uma cápsula com 400 unidades de vitamina E - a mesma quantidade de vitamina que seria fornecida por 25 xícaras cheias de amendoins.
VELHA TRINCHEIRA - Os médicos brasileiros também aderiram. Esse é o indicador mais confiável de que o papel das vitaminas na manutenção da saúde e exorcização das doenças mudou para melhor. Até bem pouco tempo atrás, havia muita resistência à idéia de que superdosagens de vitaminas pudessem ter um papel na prevenção de doenças cardíacas, de alguns tipos de câncer ou na atenuação dos sinais da velhice. Como regra geral, os médicos preferiam receitar a seus pacientes as pequenas dosagens recomendadas oficialmente pelas autoridades de saúde. As novas pesquisas abriram a possibilidade para os médicos de receitar doses maiores a si próprios e a seus pacientes. "Existem evidências concretas de que as vitaminas A, C e E desaceleram o envelhecimento. É por isso que eu as estou tomando", diz Elisaldo Carlini, professor de Psicobiologia da Escola Paulista de Medicina. Uma das maiores autoridades brasileiras em drogas e medicamentos, Carlini é uma voz insuspeita. Ele dirige o Cebrid, um centro de pesquisas que há anos é uma trincheira de combate a laboratórios fraudulentos e à mania brasileira de automedicação. A trincheira de Carlini continua a mesma. A vitamina é que virou coisa séria.
VELHO MITO - O cardiologista carioca Carlos Scherr, um médico jovial de vida social intensa, é um entusiasta dos efeitos da vitamina C. Ele toma até 4 gramas dela todos os dias. A vitamina C parece ser uma boa aposta. As pesquisas mais recentes serviram para dinamitar um velho mito em torno dessa vitamina. Descobriu-se que, ao contrário do que se acreditava, ela pode pouco contra os resfriados. Em compensação, mostrou-se uma promissora arma de ataque contra alguns males mais insidiosos do mundo moderno. Toda a popularidade das vitaminas começou nos anos 60, quando o prestigiado cientista americano Linus Pauling, duas vezes ganhador do Prêmio Nobel, anunciou que curava suas gripes com doses de até 10 gramas diárias de vitamina C. Até hoje nenhuma pesquisa conseguiu mostrar que a vitamina C tem o poder de curar a gripe ou de preveni-la. O máximo que se comprovou nesse campo, numa pesquisa com 641 crianças americanas em 1974, é que os sintomas da gripe duram menos e são menos intensos em pessoas que tomam 500 miligramas diárias de vitamina C.
COQUETEL DE SAÚDE - Pauling, hoje com 92 anos, está sofrendo de câncer na próstata. O Nobel de Química não se abalou quando admitiu em público a doença. "Ganhei vinte anos", disse ele. O câncer de próstata se manifesta mais comumente por volta dos 70 anos de idade. Em Pauling a doença só apareceu depois dos 90. O velho cientista, hoje aposentado em seu rancho na Califórnia, aconselha as pessoas a ficar de olho: "Agora que a ciência resolveu levar a sério as vitaminas muitas novidades boas surgirão para quem as toma regularmente". Os cientistas conseguiram decifrar recentemente o que se passa no íntimo das células quando elas são banhadas com hiperdosagens de um coquetel de vitaminas C, E e betacaroteno. Esse grupo de vitaminas chamadas "antioxidantes" é uma das mais promissoras fronteiras de combate preventivo a doenças abertas pela medicina moderna.
O que os cientistas enxergaram no metabolismo celular regado por esse coquetel foi algo formidável. Essas vitaminas mostraram-se capazes de conter a ação dos chamados radicais livres, substâncias que, à semelhança de seus homônimos na política, destroem o tecido celular, deixando o organismo mais vulnerável a todo tipo de agressão. As vitaminas funcionariam como poderosos lança-chamas químicos, fortes o bastante para volatilizar os radicais livres, compostos tóxicos que vagam pela corrente sanguínea corroendo as membranas das células e perturbando o bom funcionamento dos órgãos internos. Os radicais livres, que as vitaminas combatem, estão na raiz de muitos males, desde a fadiga até doenças mais graves como o câncer e moléstias degenerativas como a catarata. Para muitos médicos as evidências atuais já bastam para que os adultos sadios aumentem seu consumo de vitaminas. Antes eles aconselhavam que, na dúvida, era preciso esperar mais para aderir aos coquetéis de vitaminas. Agora dizem que, mesmo que algumas dúvidas ainda persistam, o melhor a fazer é correr até a farmácia da esquina.
VIDA LONGA - Só agora surgiram as primeiras evidências científicas incontestáveis de que o banho químico das vitaminas pode ser um bom investimento no corpo. No ano passado, o médico James Enstron, epidemiologista da Escola de Saúde Pública da Universidade da Califórnia, Los Angeles, divulgou um estudo que mostra o impacto do consumo de vitamina C na atenuação de alguns sinais de envelhecimento. Durante dez anos, Enstron monitorou 11.348 pessoas, com idade entre 25 e 74 anos. Descobriu diversos efeitos positivos em homens que tomaram uma boa quantidade de vitamina C - em média de 300 miligramas por dia, ou cinco vezes a dose mínima convencional. Em primeiro lugar, quem ingeriu vitamina C teve 42% menos ataques cardíacos do que o grupo que não tomou nenhum nutriente. Em segundo lugar, observou-se que os consumidores de altas doses de vitamina C tiveram menos distúrbios de visão ao longo do tempo. Com base em suas observações, Enstron fez uma projeção: as pessoas que tomam 300 miligramas de vitamina C por dia têm chances de viver, em média, seis anos mais do que aquelas que não ingerem suplementos vitamínicos.
A promoção das vitaminas da condição de alimento para a de remédio está permitindo aos médicos abordar certas doenças com mais sucesso do que podiam há alguns anos. Uma vitamina chamada ácido fólico, que até recentemente era receitada em pequenas doses para evitar o aparecimento de um tipo de anemia comum apenas entre populações miseráveis submetidas a uma fome etíope, agora é vista de outra forma. Médicos do Centro de Controle de Doenças de Atlanta descobriram que ele é capaz de reduzir à metade o risco de uma deformação congênita da espinha dorsal do embrião que ataca uma em cada 1.000 crianças. Para proteger-se, não basta que as mulheres grávidas comam alimentos ricos em ácido fólico. Segundo as pesquisas recentes, elas precisariam tomar pílulas com megadosagens de 400 a 800 microgramas diárias da substância durante as seis primeiras semanas de gravidez.
Outro exemplo de virada espetacular é a nicotinamida. Há décadas os médicos sabem que a ausência total dessa vitamina na dieta aprofunda as anemias. O que se descobriu agora é que altas doses de nicotinamida podem aliviar os efeitos de uma doença muito mais séria, a diabete juvenil. Uma pesquisa mostrou que os diabéticos juvenis que tomaram várias vezes a dosagem diária convencional de nicotinamida conseguiram preservar uma parte das células pancreáticas que normalmente são danificadas pela diabete. "Essa pesquisa é uma revolução no tratamento da diabete juvenil", diz o endocrinologista paulista Geraldo Medeiros, um dos mais atualizados médicos brasileiros. "Doses grandes de nicotinamida administradas na idade certa podem preservar até metade das células que, de outra forma, seriam destruídas pela doença."
DESCALCIFICAÇÃO - Médicos da universidade americana de Tufts mostraram no ano passado que as pessoas com mais de 60 anos precisam tomar quase 3 miligramas de vitamina B 6 por dia, ou seja, 30% a mais do que os adultos jovens. O mesmo estudo demonstrou que a necessidade de vitamina D cresce com o passar dos anos. De 200 unidades diárias na idade adulta a pessoa deve aumentar o consumo para 400 unidades depois dos 60 anos, para evitar danos aos rins e adiar os efeitos da perda de cálcio pelos ossos. Os médicos recomendam que as mulheres depois da menopausa tomem também todos os dias até 500 microgramas de vitamina K. Essa vitamina, que nos organismos jovens regula a coagulação sanguínea, nas mulheres mais velhas ajudaria a diminuir em até 50% a velocidade da descalcificação óssea.
MERCADO DA PREVENÇÃO - São chamadas vitaminas treze substâncias orgânicas que desempenham um papel vital no organismo: ajudam a regular as reações bioquímicas que mantêm vivas as células. Na primeira metade deste século, descobriu-se que doenças como o beribéri e o escorbuto são causadas pela escassez de vitaminas e que elas têm um papel no combate às deficiências nutricionais. A ciência vive hoje a segunda onda das vitaminas, marcada pela descoberta de que seus efeitos vão muito além da nutrição. Vitaminas são encaradas como remédios poderosos capazes de prevenir doenças crônicas e até segurar um pouco o passo do relógio do envelhecimento.
Como seria de esperar, os laboratórios já perceberam o mercado explosivo que se está abrindo para eles com a terapia das megadoses. "As vitaminas são um campo ainda inexplorado para as indústrias, que sempre investiram em como curar e não em como prevenir", afirma Luís Roberto Bonecker, gerente de marketing do laboratório Roche, líder do mercado brasileiro de vitaminas. Na corrida para ganhar o mercado, muitas vezes o atropelo funciona em prejuízo do consumidor. São tantas as marcas e as formulações de suplementos vitamínicos que é imprescindível consultar um médico antes de começar a engolir as cápsulas. Só os médicos ou as pessoas que já puseram o pé na senda das vitaminas sabem que marcas são mais adequadas. O problema é que há vitaminas e vitaminas. Numas, os números do rótulo podem estar mentindo sobre a composição. Noutras, são feitas associações de ingredientes que não interessam igualmente a todas as pessoas. Muitas vitaminas vendidas no Brasil, entre elas algumas importadas, lançaram-se num verdadeiro pôquer químico.
"MAIS VIRIL" - O exemplo mais gritante é o das cápsulas de vitamina E. A dosagem máxima diária que as pesquisas sérias admitem é de 400 unidades. Isso já significa multiplicar por 25 a dose convencional. Não satisfeitos, alguns laboratórios sugerem nas bulas de seus remédios que cada pessoa tome 1.200 unidades diárias de vitamina E, o que significa multiplicar por oitenta a dose convencional recomendada. Nessa dosagem a vitamina E só faz bem para o bolso daqueles que a vendem. Outros oferecem vitaminas em combinação com elementos que há alguns anos se julgavam inócuos, mas cujos benefícios foram colocados em dúvida por pesquisas feitas recentemente. É o caso do ferro, que de panacéia passou a ser visto com ressalvas pelos médicos. "Os homens que tomam doses suplementares de ferro correm riscos maiores de sofrer ataques cardíacos", conclui o médico Medeiros. No Brasil, estão à venda fórmulas, como o Geri-All do laboratório americano Sundown, que oferecem numa única cápsula 50 miligramas de ferro, cinco vezes a dose recomendada. É por coisas assim que vale a pena obter o conselho de um profissional antes de fazer a lista das vitaminas e sair para a ronda das prateleiras.
Outra esperteza muito comum dos importadores de vitaminas é "esquentar" a bula. É o caso do polivitamínico importado dos Estados Unidos Maximum Potential for Men, fabricado pelo laboratório Good'N Natural. O rótulo americano não faz nenhuma promessa de aumento da potência sexual, mas a tarja brasileira, feita pela importadora Greenville, de São Paulo, informa que a vitamina "ajuda a desenvolver mais potência ao homem, tornando-o mais viril". A importadora comete dois crimes na bula. Um contra a língua portuguesa. Outro contra a boa-fé das pessoas. Nos Estados Unidos essa mentira daria cadeia. Os balconistas das farmácias costumam sugerir a compra de cápsulas de vitamina E para combater a impotência sexual. Outra armadilha. A vitamina E, em estudos com ratos de laboratório, teve um papel no aumento da fertilidade. Isso não tem nada a ver com potência sexual.
CUIDADOS ÓBVIOS - Os médicos advertem também que ninguém deve consumir cápsulas com muita vitamina B 5 na esperança de que o cabelo volte a crescer. Também é bobagem tomar superdoses de vitamina A na expectativa de enxergar melhor ou empanturrar-se de B 12 para aguçar a memória e a concentração. Não existe ainda a cápsula da beleza, da inteligência ou da vida eterna. Tampouco há a cápsula que substituiu todos os nutrientes de uma bela refeição - nem os prazeres. Mas já é possível, à luz da ciência, comer fartamente sem sobrepeso ao organismo ou à consciência. Pesquisas recentes mostram que o vinho tinto, o azeite de oliva e uma iguaria, o foie gras, apesar de saborosos fazem um bem enorme à saúde. O que se descobriu a respeito das superdoses de vitaminas aponta para ganhos extraordinariamente significativos que afastam o espectro de doenças fatais como o enfarte e o câncer. Mas não se trata, ainda, de uma droga mágica. Muitos médicos temem que o entusiasmo pelas vitaminas contamine os pacientes, que, sentindo-se protegidos, passem a negligenciar cuidados óbvios com a saúde, como fazer algum tipo de exercício físico, alimentar-se com uma dose razoável de bom senso e não abusar de álcool ou do fumo. "É um erro entupir-se de cápsulas de vitamina e achar que só isso dá saúde", diz Scherr.
O mercado brasileiro de vitaminas já começa a mudar ao sabor da revolução que está em andamento nas farmácias, principalmente dos Estados Unidos. Até pouco tempo atrás as pessoas consumiam dois tipos básicos de vitamina: as cápsulas de vitamina (sobretudo a C, como o Redoxon, do laboratório Roche) e alguns poucos compostos que misturavam vitaminas com outros princípios ativos, como o Rarical. Hoje há uma invasão de vitaminas importadas nas farmácias e uma nova geração de complexos lançados pelos laboratórios instalados no país. A variedade é enorme e pode confundir o consumidor desavisado. Algumas vitaminas, como a E, por exemplo, são medidas em unidades. No caso específico da vitamina E, cada unidade equivale a 1 miligrama. Outras, como a C, são dosadas em miligramas. Outras ainda são vendidas em microgramas. Há vitaminas associadas entre si ou com sais minerais. Outras são vendidas isoladamente. São essas as mais receitadas pelos médicos.
PRIMEIRO LUGAR - Há uma tendência entre os médicos de receitar cada vitamina em separado, em vez de recorrer aos complexos. As informações sobre as dosagens mudaram muito e nem todos os multivitamínicos acompanharam as novas pesquisas. Há compostos com ferro demais e vitamina E de menos que foram formulados numa época em que as pesquisas não haviam ainda mostrado a importância relativa dessas duas substâncias. Receitando vitaminas isoladamente, os médicos conseguem fazer uma cesta básica mais de acordo com as necessidades de cada paciente.
Estima-se que cerca de 1 milhão de brasileiros consome regularmente vitaminas em cápsulas, movimentando um mercado de 140 milhões de dólares por ano. São números que não se comparam à legião dos aficionados nos Estados Unidos, onde quatro em cada dez pessoas tomam cápsulas de vitaminas. Mas o número de brasileiros que colocam fé nas vitaminas está crescendo. Há cerca de dois anos, as vitaminas desbancaram os analgésicos no primeiro lugar do mercado de medicamentos vendidos sem receita médica.
REVOLUÇÃO JÁ - Há uma superexposição às vitaminas no Brasil. Nas farmácias elas já têm prateleiras especiais colocadas na frente do caixa, bem ao alcance dos clientes. São comercializadas em supermercados e até em academias de ginástica. É impossível não vê-las. Muita gente já as coloca no arsenal de beleza ao lado dos cremes de última geração que prometem adiar o aparecimento das rugas. A modelo carioca Fernanda Barbosa, diretora da agência Ford Models, sempre que viaja para o exterior compra potes do complexo vitamínico Centrum. A modelo e atriz mineira Patrícia Novais, 29 anos, também toma 4 gramas diários de vitamina C e 400 unidades de vitamina E. Patrícia tomou a decisão por influência de colegas da academia de ginástica. Até a atriz e modelo Luiza Brunet começou, há quatro meses, a ingerir doses diárias de vitamina C.
Embora não seja prioridade número 1 para as crianças - nessa fase da vida as proteínas e minerais, como ferro, são muito mais vitais do que as vitaminas -, já se está tornando um hábito complementar a alimentação delas com cápsulas mastigáveis vitaminadas. "Fico satisfeita quando as crianças tomam as vitaminas", afirma a pedagoga paulista Regina Gonçalves, que dá vitaminas americanas da marca Solotron Junior a seus dois filhos, Luís Cláudio, de 6 anos, e Daniel, de 10. "As crianças adoram porque elas têm um formato imitando bichinhos", acrescenta.
A revolução das superdoses chegou agora graças às pesquisas que começaram a ser feitas no começo da década de 80. Elas prometem desovar grandes novidades nos próximos anos. Ao contrário de outras promessas da ciência médica, como a vacina contra a Aids ou um tratamento eficaz para todos os tipos de câncer, que vão exigir ainda muito investimento dos centros de pesquisa e paciência dos doentes para esperar alguns anos pelos resultados, a terapia das vitaminas está já ao alcance de quase todo mundo.

Uma terapia que dá gosto
A boa mesa que protege o coração
Uma dieta de saúde que protege o coração e afasta o perigo do câncer deve incluir um copo de bom vinho tinto, de preferência um Bordeaux, patê de fígado, muito azeite e um pouco de alho. Parece bom demais para ser verdade? Segundo pesquisadores de algumas das escolas de medicina mais conceituadas do mundo, o único problema com a dieta acima é o preço. Com respeito à saúde não pode haver comida melhor. Em 1991 o Inserm, o equivalente francês do Ministério da Saúde, anunciou os resultados de uma longa pesquisa sobre hábitos alimentares. O Inserm concluiu que o vinho tinto protege o coração, dissipando as plaquetas, que provocam coágulos e entopem as artérias. "Os franceses comem mais gordura, exercitam-se menos, mas têm 40% menos ataques cardíacos do que os americanos graças ao consumo de vinho tinto", afirma a pesquisa do Inserm.
Na mesma época descobriu-se que o componente benéfico da bebida é o resveratrol, presente em quase todos os tipos de vinho tinto mas especialmente abundante naqueles da região de Bordeaux. Viva a França! Poucos meses depois, os cientistas encontraram substâncias protetoras da saúde em outra glória da mesa francesa, o foie gras, o fígado de ganso. Isso mesmo, aquela deliciosa pasta gordurosa faz bem ao coração. Os habitantes da Gasconha, região francesa onde se come, em média, cinqüenta vezes mais foie gras do que no resto do mundo, têm as menores taxas de ataque cardíaco do país.
Da boa mesa de saúde já faziam parte dois outros ingredientes preciosos, o azeite de oliva e o alho. Embora contenha muitas calorias, o azeite de oliva apresenta certos componentes, como o ácido linoléico e o ácido oléico, que ajudam o fígado a sintetizar HDL, o chamado bom colesterol, que funciona como um desentupidor de artérias. As potencialidades do alho na supressão de células cancerosas estão sendo estudadas nas universidades de Yale e Stanford, ambas de grande tradição científica nos Estados Unidos. Os resultados preliminares são encorajadores. Na Alemanha, numa pesquisa supervisionada pelo governo, 261 pacientes receberam diariamente cápsulas com 800 miligramas de extrato de alho desodorizado. O resultado foi uma redução de 12% nas taxas de colesterol. Vinho, foie gras, azeite e alho já permitem fazer um belo almoço. No final, tendo ou não dor de cabeça por causa do vinho, pode-se tomar um comprimido de aspirina. Um estudo publicado no The New England Journal of Medicine há quatro anos mostrou que um comprimido de aspirina a cada dois dias pode diminuir em 44% as chances de um ataque cardíaco.

O sono difícil de Itamar
A única vitamina que o presidente Itamar Franco toma com regularidade é a C. Mas sua relação com os remédios não é apenas brigar com os laboratórios. Itamar só tem dormido com a ajuda de um sonífero, o Dormunid, do laboratório Roche, que induz o sono profundo em apenas vinte minutos. "A vantagem do Dormunid é que ele não se acumula no organismo e é facilmente eliminado pelo corpo. Em doses grandes e continuadas, no entanto, pode causar dependência", diz Eliane Gandolfi, presidente do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo. "O remédio é seguro, mas, se o presidente precisar acordar durante a noite, pode ter problemas de concentração e memória", diz o endocrinologista Geraldo Medeiros. Até recentemente, Itamar dormia sob o efeito de um calmante, o Lexotan. De dois meses para cá, o Lexotan perdeu o efeito para o presidente. Foi aí que ele apelou para o Dormunid. A colunista Danuza Leão já tomou o sonífero e aprovou. "Ele derruba rapidamente", diz ela.
Itamar evita tomar vários remédios ao mesmo tempo. Só faz isso quando é necessário. Há dois meses teve uma gripe forte acompanhada de infecção dentária. Usou o analgésico Parenzyme para combater a dor de dente e já achou demais tomá-lo junto com a vitamina C. O presidente também não gosta de complexos vitamínicos. Há algumas semanas, o ministro de Minas e Energia, Paulino Cícero, ofereceu a Itamar um multivitamínico comprado nos Estados Unidos, mas o presidente refugou. Disse que não ia ter paciência para tomar treze pílulas diárias - a dose recomendada da droga.

Qualidades medicinais do vinho.


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A incidência de doenças cardíacas entre os franceses é significativamente mais baixa do que entre americanos e ingleses. Há muito tempo sabemos dessa estatística, mas foi em 1992 que o médico Serge Reinaud publicou um interessante trabalho na revista Lancet, com suas conclusões a respeito do comportamento do francês à mesa. Apesar de os gauleses comerem fígado gordo de ganso, usarem muita manteiga, adorarem uma costela de carneiro, e se deliciarem com batatas fritas, nunca apresentaram altos índices de doenças do coração em comparação aos nervosos, apressados e agitados americanos.
Ainda de acordo com a pesquisa de Reinaud, os franceses, italianos, portugueses e espanhóis (todos tradicionais bebedores de vinho tinto, assim como os franceses) apresentavam índice de mortalidade por infarto de miocárdio quatro vezes menor que os anglo-saxões, calculando-se o número de eventos cardíacos por grupo de 100.000 habitantes de cada país. O trabalho causou um certo espanto na União Européia, pois os alemães e austríacos, que sempre preferiram o vinho branco, não pareciam se beneficiar das excelentes qualidades medicinais e protetoras do vinho tinto do grupo do Mediterrâneo. A chave do segredo, portanto, estava no consumo do vinho tinto de forma regular durante as refeições.
A propriedade miraculosa do vinho
Só em 2006, no entanto, é que tomamos conhecimento de que existe no vinho tinto um produto químico, de nome complicado, chamado resveratrol (para facilitar vamos abreviar para restrol). Esta substância já era conhecida pelos botânicos e pertencem ao grupo dos flavonóides. São elas que dão ao vinho nuances de cor, sabores especiais, sensações gustativas de adstringência e aromas. Estes flavonóides têm, em geral, no ser humano, propriedades vaso-dilatadoras e antioxidantes. Esta última qualidade é importante porque todas nossas células do corpo, em suas funções específicas, consomem energia, produzem agentes químicos e hormônios, liberam calor, mas ficam com resíduos chamados “radicais livres” (o “lixo” das células). O corpo deve ser livrar, rapidamente, destes radicais livres fazendo uma oxidação neutralizadora.
Daí a vantagem de darmos uma mãozinha ao metabolismo usando oxidantes como os flavonóides do vinho, vitamina C, beta-caroteno, selênio e zinco entre outros. Mas vamos voltar ao resveratrol (ou restrol). O doutor Sinclair, da Universidade de Harvard, EUA, e seus colaboradores começaram a estudar os benéficos efeitos desta molécula. Eles verificaram que a adição de restrol a uma colônia de leveduras (S. Cerevisiae) em contínuo crescimento aumentava em 70% o tempo de vida útil destes fungos. Admirados, os pesquisadores tentaram verificar o efeito do restrol em um conhecido verme (C. elegans) e constataram que a adição diária do produto à alimentação do animal, aumentava a longevidade do C. elegans. Outros pesquisadores notaram que o restrol aumenta em 30% o tempo de vida da famosa mosca-da-fruta (Drosófila). Por aí se constata que esta maravilhosa molécula química pode aumentar o tempo de vida de seres vivos, pelo menos em estudos laboratoriais.
O efeito salutar do vinho na área cardiovascular
Há muito tempo os médicos reconhecem que a inflamação crônica de artérias, com depósito de colesterol, induz doenças graves tanto no coração (infarto do miocárdio), como na área cerebral (acidente vascular cerebral). Este entupimento de importantes artérias depende de vários fatores conhecidos: obesidade de longa duração, hábito de fumar, pressão alta, presença de diabetes não controlado e sedentarismo. A artereosclerose e suas conseqüências a longo prazo é a mais evidente e freqüente causa de óbito em países desenvolvidos ou em desenvolvimento. Como reduzir o avanço das alterações físico-químicas que levam a este “engrossamento” de artérias? Existem boas provas científicas de que os flavonóides podem diminuir a formação de ateromas (placas dentro de artérias).
Em países nos quais a população toma vinho tinto regularmente existe menor mortalidade por doenças cardíacas causadas pelo entupimento de artérias. Um estudo realizado em 13.000 pessoas adultas mostrou que outras bebidas alcoólicas não possuem esta propriedade, ou seja, somente o vinho tinto, em doses moderadas (cerca de 2 copos por refeição principal) mostra efeito benéfico na redução do infarto de miocárdio e acidentes vasculares cerebrais. Outros cinco estudos populacionais, em diferentes países (Estados Unidos e União Européia) confirmam este fenômeno. Para finalizar um estudo publicado na revista Circulation revela que a dieta do Mediterrâneo (peixe, frutas, vegetais, grãos e vinho tinto), comparativamente à tradicional dieta norte-americana (hambúrgueres, batatas fritas, salgadinhos e pizza), reduz em 70% o risco de doenças coronarianas em período de observação de 4 a 5 anos.
O resveratrol não está presente em todos os vinhos
É evidente que os benefícios do vinho são diretamente relacionados à concentração do resveratrol no líquido final oferecido ao consumidor. Os enólogos descobriram que esta substância química é uma defesa da uva a agentes agressivos como fungos. Tudo indica que o resveratrol está em maior concentração em vinhos produzidos a partir de uvas Pinot Noir e Merlot. Estas uvas com casca mais fina são mais suscetíveis de serem atacadas por fungos. O resveratrol produzido, por sua vez, protege a uva do ataque fúngico. Decorre deste fato que vinhos de uva Pinot Noir e Merlot terem maior concentração deste maravilhoso elemento químico (resveratrol).
E os vinhos brancos? Geralmente não contém o restrol, mas alguns enólogos obtiveram vinho branco com cerca de 40% dos flavonóides do vinho tinto, simplesmente deixando o suco de uva recém-fermentado em contato com as cascas por um certo tempo. Já é um bom começo para quem gosta de vinho branco. Mas tinto ou branco, o consumo moderado de vinho faz bem à saúde, sem deixar de lado, é óbvio, uma alimentação saudável e o exercício físico.

Vinho tinto faz bem à saúde. Lenda ou verdade?


Você já deve ter ouvido falar que tomar vinho tinto faz bem à saúde e pode aumentar a expectativa de vida. Se você for um apreciador dessa bebida isso deve soar como um bálsamo aos seus ouvidos. O que há de verdade nisso?  Pesquisas  parecem comprovar que uma molécula  denominada resveratrol,  presente no vinho tinto, seria a responsável por essa propriedade, mas os mecanismos pelos quais ela atua são ainda assuntos de muito debate.  Em um artigo publicado na revista Nature Medicine (5 de abril de 2012), três cientistas — Leonard Guarente, Joseph Baur e Antonello Mai — discutem como pesquisas recentes estão contribuindo para revelar o modo de atuação do resveratrol e a implicação dessas descobertas para o desenvolvimento de novas drogas.
Os efeitos benéficos da restrição calórica no aumento da expectativa de vida
Já foi demonstrado, que a restrição calórica aumenta a longevidade e os efeitos negativos de doenças metabólicas relacionadas ao envelhecimento. Isso já foi observado em organismos inferiores como fungos e vermes (o famoso C. Elegans) e até em roedores e primatas.  Há várias hipóteses para explicar  porque a ingestão diminuída de alimentos tem o efeito benéfico no organismo. Um dos mecanismos propostos seria pela ativação de moléculas denominadas sirtuins(do inglês silence information regulators). As sirtuins são ativadas quando o nível de energia da célula está baixo. Ela entra então em uma “situação de economia”, os genes reduzem a produção de várias proteínas e enzimas inclusive aquelas envolvidos com a apoptose, ou morte celular.
O que o resveratrol tem a ver com isso?
Segundo as novas pesquisas, o resveratrol atuaria ativando essas sirtuins (SIRT1) , ou seja teria um papel semelhante à restrição alimentar. De acordo com Leonard Guarente (cientista do laboratório de ciência e envelhecimento em Cambridge, Massachusetts nos Estados Unidos) não sabemos se a atuação do resveratrol na SIRT1 ocorre de forma direta ou através de outros compostos. “É fascinante pensar como estamos desvendando, na era da ciência e tecnologia, os benefícios de um hábito milenar de tomar vinho. Descobrir os mecanismos que ativam a SIRT1 poderá permitir o desenvolvimento de drogas importantes para doenças relacionadas ao envelhecimento afirma esse cientista”. Para  Joseph A. Baur (professor da Universidade da Pensilvãnia , EUA) o quebra-cabeças para explicar os efeitos benéficos do vinho tinto está longe de estar completo. Segundo Antonello Mai (professor da universidade Sapeienza em Roma, Itália) após a descoberta de que o resveratrol de fato aumenta a longevidade em diferentes organismos, vários estudos estão sendo realizados para verificar seus possíveis efeitos em câncer, doenças inflamatórias, neurodegeneração, metabolismo e doenças do envelhecimento. Esses estudos poderão permitir a descoberta de novos medicamentos.
Em resumo, há um consenso de que o resveratrol, presente no vinho tinto tem realmente um efeito benéfico na saúde. É claro que ele não substitui ter hábitos alimentares saudáveis e atividade física regular. Mas vamos convir que se a ideia é aumentar a expectativa e a qualidade de vida, melhor que seja tomando vinho tinto do que passando fome, concordam?
Por Mayana Zatz

Goles de juventude.



O resveratrol, encontrado no vinho tinto, retarda
o envelhecimento, segundo uma pesquisa americana

Anna Paula Buchalla
Pedro Rubens

Nenhuma bebida atrai tanto a atenção da medicina quanto o vinho tinto. Seu consumo está associado a uma série de benefícios à saúde. A mais recente descoberta sobre a bebida estende seus efeitos ao aumento da expectativa de vida – ao menos em ratos. Isso graças ao resveratrol, substância com propriedades antioxidantes e antiinflamatórias encontrada na casca e nas sementes das uvas vermelhas. O estudo, feito por pesquisadores da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, e publicado na revista científica PLoS One, revelou que não são necessárias doses altas de resveratrol para que a substância tenha ação antienvelhecimento. "Em baixas quantidades e consumido a partir dos 40 anos, já é possível obter os benefícios antiidade", diz um dos autores do trabalho, o brasileiro Tomas Prolla. O processo pelo qual o resveratrol retarda o envelhecimento se dá pelos mesmos mecanismos da restrição calórica. Vários trabalhos (também em animais) já provaram que uma redução de 20% a 30% nas calorias consumidas diariamente aumenta em até 40% a longevidade – sem os efeitos mais perniciosos do envelhecimento. Em ambos os casos, há uma alteração num conjunto de centenas de genes envolvidos na degradação celular.
A aposta da medicina no resveratrol é alta. Na semana passada, a gigante do setor farmacêutico GlaxoSmithKline pagou 720 milhões de dólares pelo laboratório Sirtris, que desenvolve medicamentos baseados em moléculas análogas à do resveratrol. O fundador do Sirtris, o médico David Sinclair, da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, descobriu que o resveratrol também age em outra frente antiidade: estimula a produção e o funcionamento de uma família de enzimas conhecidas como sirtuínas, que agem como guardiãs das células. Em quantidades elevadas, essas enzimas tornam-se mais eficientes no reparo do DNA e, assim, prolongam a vida das células. Beber vinho faz bem, mas, quando se fala em doses moderadas, não cabem aí subjetividades. O ideal são poucos copos por semana para todo mundo. "O consumo excessivo da bebida neutraliza seus benefícios. Adquire-se peso e, na pior das hipóteses, cirrose", diz o cardiologista Daniel Magnoni.

Os benefícios atribuídos ao vinho

Antienvelhecimento
O resveratrol é uma substância encontrada na casca da uva vermelha. O estudo mais recente indica que ela atua em um conjunto de genes associados ao envelhecimento. A substância retarda o processo de envelhecimento de vários tecidos, como o cerebral, o muscular e o cardíaco, em especial

Combate às doenças cardiovasculares
O resveratrol aumenta o HDL, o bom colesterol, e diminui o LDL, o colesterol ruim. Além disso, a substância é um potente vasodilatador que, ao relaxar as artérias, melhora a circulação sanguínea

Prevenção do câncer
Estudos em animais indicam que o resveratrol, por seus poderes antioxidantes, ao combater a ação dos radicais livres, preservaria as células de lesões que podem levar ao câncer

Combate a dores articulares
Atribui-se aos polifenóis, grupo do qual o resveratrol faz parte, capacidade analgésica – sobretudo em pacientes vítimas de artrite. A analgesia, ainda que baixa como mostram os estudos, deve-se às características antiinflamatórias da substância

Prevenção da doença de Alzheimer
O resveratrol, sugerem os estudos em neurologia, evitaria o depósito no cérebro das placas de proteína tóxicas, que levam os neurônios à morte