quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Câncer de pulmão em pacientes que já fumaram tem 10 vezes mais mutações



Descoberta pode levar ao desenvolvimento de novas terapias que ataquem especificamente os genes que sofreram mutações

Câncer de pulmão
O câncer de pulmão é considerado um dos mais letais, uma vez que sua detecção é feita em estágios tardios da doenç(Thinkstock)
O câncer de pulmão tem 10 vezes mais mutações genéticas em pacientes com histórico de fumante, do que naqueles que nunca fumaram. Segundo a pesquisa conduzida pela Universidade de Washington, a descoberta reforça ainda mais o alerta de que o cigarro é prejudicial à saúde, jogando luz sobre a possibilidade de fumantes desenvolverem tumores mais agressivos. O estudo foi publicado no periódico Cell.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Genomic Landscape of Non-Small Cell Lung Cancer in Smokers and Never-Smokers

Onde foi divulgada: revista Cell

Quem fez: Ramaswamy Govindan e equipe

Instituição: Universidade de Washington

Dados de amostragem: 17 pacientes com câncer de pulmão

Resultado: Pacientes que desenvolveram o câncer de pulmão, e que têm histórico de fumantes, tinham 10 vezes mais mutações genéticas no tumor.
“Não ficamos surpresos pelo fato do genoma do fumante ter mais mutações do que o daqueles que nunca fumaram”, diz Richard K. Wilson, autor sênior e diretor do Instituto do Genoma da Universidade de Washington. Mas, segundo ele, a surpresa foi detectar que essas mutações eram 10 vezes maiores. “Isso reforça a velha mensagem: não fume.”
Pesquisa — A análise identificou cerca de 3.700 mutações em todos os 17 pacientes com câncer de pulmão de 'não-pequenas células', o tipo mais prevalente da doença. Doze pacientes tinham histórico de fumante. Em cada um dos pacientes que nunca havia fumando, foi descoberto ao menos um gene que sofreu mutação e que pode ser usado como alvo para o tratamento com drogas que já estão no mercado ou que ainda estão em fase de teste clínico. Em todos os pacientes, foram identificados 54 genes com mutações já associados a drogas existentes.
“Se essas drogas vão realmente funcionar em pacientes com essas alterações no DNA, ainda não se sabe”, diz Ramaswamy Govindan, coordenador da pesquisa e oncologista do Siteman Cancer, do Hospital Barnes-Jewish, e da Universidade de Washington. “Mas pesquisas como essa abrem caminho para a compreensão do que está acontecendo. Agora, precisamos ir mais a fundo e fazer estudos para compreender como essas mutações causam e promovem o câncer, e como elas podem servir de alvo para terapias.”
Câncer — O câncer de pulmão é dividido em dois tipos: pequenas células e não-pequenas células, este último sendo responsável por cerca de 85% dos casos. Dentro dos cânceres de não-pequenas células, existem três classificações diferentes. A análise feita pelos pesquisadores inclui duas delas. Dezesseis pacientes tinham adenocarcinoma e um, carcinoma de células grandes.
Govindan e Wilson também estavam envolvidos em um estudo genômico grande de 178 pacientes que tinham o terceiro tipo, carcinoma de células escamosas. Essa pesquisa, recentemente publicada na Nature, era parte do projeto The Cancer Genome Atlas, um esforço nacional para descrever a genética de cânceres comuns.
“Ao longo do próximo ano, teremos estudado quase 1.000 genomas de pacientes com câncer de pulmão, como parte do The Cancer Genome Atlas”, diz Govindan, que atua como co-presidente do grupo. “Estamos na direção correta: caminhando para testes clínicos futuros que irão focar na biologia molecular específica do câncer do paciente.”
Terapia — Com base nas pesquisas genéticas que vêm sendo realizadas e que demonstram mutações comuns em diferentes tipos de câncer, Wilson especula que o campo pode alcançar um ponto onde os médicos poderão classificar e tratar um tumor com base nos genes que tiveram mutações, e não no órgão afetado. Em vez de câncer do pulmão, por exemplo, eles podem chamar isso de câncer EGFR, de acordo com o nome do gene com mutação e que causa o tumor. Mutações no EGFR foram descobertas em diversos cânceres, incluindo os de pulmão, colo e mama.
De acordo com Wilson, essa classificação é relevante, porque as terapias alvos atuais são aprovadas com base no órgão ou no tecido afetados. O Herceptin, por exemplo, é essencialmente uma droga para o câncer de mama. Mas Wilson tem pacientes, por exemplo, com câncer de pulmão com mutações no mesmo gene que o Herceptin ataca.
“Se o sequenciamento do genoma revela que um paciente com câncer de pulmão tem uma mutação conhecida por ser sensível a uma droga que funciona para os tumores na mama com a mesma alteração genética, você poderá usar a mesma droga nos pacientes com câncer de pulmão”, ele diz. “Nos próximos anos, esperamos tratar o câncer com base mais na alteração genética do que por seu tecido de origem.”

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