O lançamento feito pela companhia Life Length em Madrid de um kit que permitiria prever qual é a sua expectativa de vida a partir do tamanho dos seus telômeros causou um frenesi internacional. Uma enquete no site de VEJA indica que 68% dos leitores fariam o teste para saber quanto tempo têm ainda para viver. Fiquei surpresa porque certamente eu não me submeteria a esse teste. Prefiro não saber quanto tempo tenho ainda para viver. Mas será que no futuro o tamanho dos telômeros será usado para avaliar a nossa saúde? Qual é realmente o valor preditivo dos telômeros na estimativa da nossa expectativa de vida? Para responder a essas perguntas a revista Nature entrevistou a maior expert no assunto: a doutora Elizabeth Blackburn, que ganhou o prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina, em 2009, justamente por suas pesquisas em telômeros. Ela também é consultora de uma companhia – Telome Health - que estuda os telômeros e seus impactos na nossa saúde. A resposta de Maria A. Blasco e outros pesquisadores que estão na Life Length foi imediata. As duas estão em companhias concorrentes.
O que são os telômeros
Já falei a respeito em uma coluna anterior quando entrevistei o doutor Rodrigo Calado, que é um expert no assunto, logo após o anúncio do prêmio Nobel a doutora Elizabeth Blackburn.
Na ocasião, ele explicou em uma linguagem simples que os telômeros são as pontas dos nossos cromossomos, como verdadeiros protetores contra danos externos. Eles funcionam mais ou menos como aquele plástico nas pontas de um cadarço de sapato, que não deixam que o cadarço se desfie, estrague e perca a sua função. Entretanto, da mesma forma como aquele plástico acaba se estragando com o passar do tempo e você não consegue mais passar o cadarço pelos buracos do sapato ou do tênis, o telômero também se desgasta e se encurta com as divisões da célula, impedindo que ela continue a se dividir. As células-tronco, para evitar esse desgaste, contêm uma enzima especial chamada telomerase, que repara os telômeros e preserva o seu comprimento, permitindo assim que essas células tão importantes continuem a se multiplicar e manter, por exemplo, as células do sangue constantemente durante toda a nossa vida, como os glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas.
Mas vamos lá, o que pensa a cientista Elizabeth Blackburn sobre o anúncio dos kits da Life Length para medir telômeros ? Vou reproduzir em parte a sua entrevista à revista Nature.
Nature: O telômero pode realmente predizer quanto tempo você vai viver?
Elizabeth Blackburn: Isso é uma bobagem, não? Há realmente uma conexão com a mortalidade, mas é bobagem dizer que o telômero vá prever a sua longevidade. Isso tem que ser considerado com outras informações.
Elizabeth Blackburn: Isso é uma bobagem, não? Há realmente uma conexão com a mortalidade, mas é bobagem dizer que o telômero vá prever a sua longevidade. Isso tem que ser considerado com outras informações.
Nature: Então o que ele pode dizer-lhe?
Elizabeth Blackburn: Nós e outros grupos estamos observando uma associação entre o encurtamento dos telômeros e o risco para várias doenças comuns complexas tais como doenças cardiovasculares, diabetes e alguns tipos de câncer. Estudamos também alterações psicológicas crônicas tais como depressão e “stress” pós-traumático e cada vez mais estamos observando uma associação com o encurtamento dos telômeros. Um resultado muito interessante foi observado com alterações no tamanho dos telômeros com o tempo. Pessoas que tinham uma diminuição dos telômeros num período de 2.5 anos tinham uma probabilidade 3 vezes maior de morrer de problema cardíaco durante os próximos 9 anos do que as pessoas que mantinham os telômeros com o mesmo tamanho.
Elizabeth Blackburn: Nós e outros grupos estamos observando uma associação entre o encurtamento dos telômeros e o risco para várias doenças comuns complexas tais como doenças cardiovasculares, diabetes e alguns tipos de câncer. Estudamos também alterações psicológicas crônicas tais como depressão e “stress” pós-traumático e cada vez mais estamos observando uma associação com o encurtamento dos telômeros. Um resultado muito interessante foi observado com alterações no tamanho dos telômeros com o tempo. Pessoas que tinham uma diminuição dos telômeros num período de 2.5 anos tinham uma probabilidade 3 vezes maior de morrer de problema cardíaco durante os próximos 9 anos do que as pessoas que mantinham os telômeros com o mesmo tamanho.
Nature: Por que os testes medem os telômeros em glóbulos brancos?
Elizabeth Blackburn: Por que são células fáceis de se obter. O tamanho do telômero varia em diferentes tecidos mas geralmente seu tamanho é comparável em diferentes tecidos.
Elizabeth Blackburn: Por que são células fáceis de se obter. O tamanho do telômero varia em diferentes tecidos mas geralmente seu tamanho é comparável em diferentes tecidos.
Nature: Poderíamos desenvolver drogas para proteger ou aumentar o tamanho dos telômeros?
Elizabeth Blackburn: Nosso grupo não está interessado em drogas nesse momento apesar que tenho certeza que há gente interessada nisso. Todo mundo quer uma pílula mágica, mas há um longo caminho antes de se descobrir qualquer tipo de pílula. Não é uma ideia estúpida, mas precisamos ser realistas em relação a quanto tempo isso levará.
Elizabeth Blackburn: Nosso grupo não está interessado em drogas nesse momento apesar que tenho certeza que há gente interessada nisso. Todo mundo quer uma pílula mágica, mas há um longo caminho antes de se descobrir qualquer tipo de pílula. Não é uma ideia estúpida, mas precisamos ser realistas em relação a quanto tempo isso levará.
Nature: Quais são as próximas perguntas na pesquisa?
Elizabeth Blackburn: Se os telômeros têm um valor estatístico preditivo interessante, as perguntas são: Como explicar isso do ponto de vista biológico? Como abordar os diferentes efeitos – quais são genéticos e quais são não-genéticos? Quais são causais e quais são relacionados? Os desafios na medicina estão mudando de “tratar os sintomas depois que a casa pegou fogo” para “como preservar a casa”? Podemos aplicar o que aprendemos sobre processos de doenças para prevenção ou intervenção precoce?
Elizabeth Blackburn: Se os telômeros têm um valor estatístico preditivo interessante, as perguntas são: Como explicar isso do ponto de vista biológico? Como abordar os diferentes efeitos – quais são genéticos e quais são não-genéticos? Quais são causais e quais são relacionados? Os desafios na medicina estão mudando de “tratar os sintomas depois que a casa pegou fogo” para “como preservar a casa”? Podemos aplicar o que aprendemos sobre processos de doenças para prevenção ou intervenção precoce?
Nature: Como testes de telômeros podem ser úteis em medicina?
Elizabeth Blackburn: Eles mostram uma associação estatística com o risco para doenças comuns como cardiopatias e diabetes. As intervenções médicas poderiam incluir medidas para ajudar as pessoas a lidar com o stress e encorajar a prática de exercícios pois novos estudos estão mostrando que eles estão associados a uma manutenção no tamanho dos telômeros. Se você fizer exercício, talvez isso possa servir como um biomarcador para avaliar o efeito do exercício.
Elizabeth Blackburn: Eles mostram uma associação estatística com o risco para doenças comuns como cardiopatias e diabetes. As intervenções médicas poderiam incluir medidas para ajudar as pessoas a lidar com o stress e encorajar a prática de exercícios pois novos estudos estão mostrando que eles estão associados a uma manutenção no tamanho dos telômeros. Se você fizer exercício, talvez isso possa servir como um biomarcador para avaliar o efeito do exercício.
Meus comentários:
O importante é que as duas cientistas concordam que o tamanho dos telômeros é uma estimativa estatística e não é determinístico. Ainda bem. Se fosse, imagino que logo as companhias de seguro saúde e seguro de vida iriam pedir – entre outros exames - a medida dos seus telômeros. E os preços seriam calculados de acordo com seu tamanho. Algo assim: “Meu senhor, os seus telômeros estão muito curtos. Não precisa fazer um seguro saúde a longo prazo por que o senhor não vai viver muito. Em compensação, se o senhor quiser fazer um seguro da vida… Já imaginaram?
A boa notícia é que a prática de exercícios está mostrando cada vez mais que consegue prevenir o encurtamento dos telômeros. Questiono, porém, se é uma boa ideia medi-los para avaliar se o exercício está realmente tendo esse efeito, usar esse parâmetro como um biomarcador como sugere a doutora Blackburn. É claro que se fosse observado que seus telômeros não diminuíram de tamanho seria uma motivação a mais. Por outro lado, se apesar da prática de exercícios seus telômeros continuarem a encurtar isso poderá ser um desestímulo e até desencorajá-lo a continuar a praticá-los.
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