sábado, 1 de dezembro de 2012

Doença de Alzheimer: como ocorre o depósito de placas amilóides?



A doença de Alzheimer (DA) que é a forma mais comum de demência senil, está associada a depósito de placas b-amilóides (Ab) e proteína tau no cérebro. Entretanto como se dá esse depósito e qual é o mecanismo desencadeador que  causa esse acúmulo é uma incógnita. Uma pesquisa que acaba de ser publicada na revistaMolecular Psychiatry, coordenada pelo Dr. C. Soto da Universidade do Texas, mostrou resultados surpreendentes. Esses pesquisadores injetaram extrato de cérebro de  uma paciente que havia falecido com DA em camundongos e esses desenvolveram a patologia da DA.
Recordando
A DA, que afeta principalmente indivíduos com mais de 65 anos, é caracterizada por uma perda progressiva da memória e da capacidade cognitiva. Mais de 90% dos casos não são hereditários, felizmente. Com o envelhecimento da população a incidência e as consequências do ponto de vista  social e médico da DA tem aumentado significativamente. O depósito de placas compostas principalmente da proteína  Ab  com uma conformação anormal, formando agregados  no cérebro das pessoas afetadas, tem sido apontado como o principal responsável por induzir as alterações cerebrais características da DA. Entretanto não sabemos o que causa essa proteína, que é normalmente produzida pelo organismo, a assumir uma conformação errada e depositar-se no cérebro.
O depósito de agregados proteicos ocorre em outras doenças degenerativas
O acúmulo de agregados ocorre em várias outras doenças neurodegenerativas,  como a doença de Parkinson e a esclerose lateral amiotrófica (ELA). Nos dois casos há morte de neurônios, ou células nervosas: neurônios dopaminérgicos ou produtores de dopamina (na doença de Parkinson) e neurônios motores  no caso da ELA. Do mesmo modo que a DA, essas doenças são  na maioria das vezes esporádicas, isto é, não hereditárias. Mas há um outro grupo de doenças, as causadas por prions, que chamaram a atenção do mundo, pois elas podem ter um  caráter contagioso.
O que têm em comum as  doenças de prion (ou da “vaca louca”)  e a DA?
A descoberta das doenças de prion, ou popularmente da “vaca louca”,  nas quais além das formas hereditárias, a doença pode ser transmitida pela ingestão de carne de vaca acometida pela doença, deram um prêmio Nobel ao cientista  Stanley Prusiner, em 1997, por desvendar  um  mecanismo dessa doença. Ela é causada por um agente infeccioso.  Os  autores da pesquisa  com doença de Alzheimer, liderada pelo Dr. Soto, que acaba de ser publicada, chamam a atenção para o fato de que o agente infeccioso responsável pelas doenças de prion também é uma proteína de conformação errada que tem a capacidade de se propagar rapidamente e alterar a proteína normal, a qual  também adquire uma conformação errada, acumula-se formando agregados e causa a destruição do tecido cerebral.
Como foi feita a pesquisa liderada pelo Dr. Soto e o que ela mostrou?
Para descobrir se a DA poderia propagar-se como uma doença de prion, os cientistas preparam homogeneizados de tecido cerebral obtidos de autopsia de uma mulher de 90 anos afetada pela DA e de um bebê de 163 dias – que não tinha nenhum depósito de b-amiloide no cérebro. Os homogeneizados (do cérebro com DA e normal)  foram injetados no cérebro de camundongos transgênicos ( de 165 dias)  que não apresentam depósitos Ab durante sua vida. Surpreendentemente, somente os animais injetados com extratos de cérebro com DA formaram placas amilóides no cérebro. Esses depósitos  espalharam-se pelo cérebro e observou-se um aumento do acúmulo com o tempo.
As grandes questões
Os autores dessa pesquisa questionam-se a DA em humanos não poderia obedecer a um mecanismo semelhante. Isto é, o acúmulo de placas Ab seria  induzido pela exposição de proteínas  Ab de conformação anormal que “contaminariam” as proteínas normais, levando-as a assumir também uma  conformação errada, a acumular-se e formar agregados no cérebro. Se isto é verdade ou não ainda não sabemos. Mas a boa notícia é que a geração desse modelo de camundongo permitirá inúmeras pesquisas que poderão resultar em novos tratamentos promissores para a DA.
Por Mayana Zatz

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