A longevidade e como alcançá-la é um assunto que sempre fascinou o ser humano. Recentemente foram publicadas duas pesquisas a esse respeito. Como era de se esperar, ocuparam muito espaço na imprensa. O primeiro, publicado na revista Science em 2010 tratava de uma pesquisa feita com o genoma de centenários. Segundo os autores, o resultado da pesquisa havia permitido a identificação dos genes da longevidade.
A outra pesquisa, mais recente, associava o tamanho dos telômeros (as sequências de DNA que ficam nas extremidades dos cromossomos) com a nossa expectativa de vida. E novamente, os interesses comerciais foram à frente da comprovação dos achados científicos.
Os dois estudos tinham a proposta de usar esses dados para prever qual será a nossa expectativa de vida
A proposta de usar a medida dos telômeros para determinar quanto tempo ainda vamos viver foi logo questionada por uma grande especialista no assunto, a cientista Elizabeth Blackburn, que ganhou o prêmio Nobel em 2009 – justamente estudando os telômeros. A conclusão é que o tamanho dos telômeros é uma estimativa e não é suficiente para determinar quanto vamos viver. E agora, foi o artigo da Science publicado em 2010 pelos cientistas Paola Sebastiani e Thomas Perls da Universidade de Boston, com famílias de centenários, que acaba de ser retirado.
Naquele artigo, os pesquisadores diziam ter identificado 150 variáveis associadas à longevidade baseando-se no estudo do genoma de 1000 centenários. De acordo com os autores, os resultados desse estudo permitiriam estimar com 77% de certeza se uma pessoa teria expectativa de vida longa. Entretanto, uma nova análise mostrou resultados muito diferentes e os pesquisadores retiraram seu artigo da revista Science. Aparentemente esses autores vão submeter novos resultados para publicação. Vamos aguardar.
A longevidade é determinada por uma herança complexa onde o ambiente tem um papel importante
Estudos anteriores haviam estimado que a contribuição genética para a longevidade é da ordem de 25% e o ambiente contribui com 75%. Ou seja, a grosso modo, o ambiente seria três vezes mais importante que os nossos genes para determinar a nossa longevidade. E foi esse o motivo que levou outros pesquisadores a questionarem os resultados dos doutores Sebastiani e Perls publicados em 2010 com os genomas dos centenários. O bioestístico Anatoli Yashin, da Duke University, logo exclamou: “ não acredito nesses dados”.
Uma regra de ouro na pesquisa científica é que os resultados precisam ser replicados por diferentes grupos
Caso contrário, caem em descrédito. Estudos como esse não são fáceis de ser realizados e devido ao alto custo às vezes não são feitos com a metodologia ideal. Foi o que aconteceu. Os autores haviam analisado os centenários por um método e quiseram aproveitar os dados já existentes dos controles (população normal) . Mas o problema é que esses controles haviam sido analisados por outro método e por isso os dados não poderiam ter sido comparados. A economia nesses casos pode por tudo a perder. Foi o que aconteceu. Outros pesquisadores não conseguiram replicar esses dados.
Uma pesquisa muito importante: os oitenta-mais
Para entender melhor o que controla a longevidade na nossa população, o centro do genoma da USP está realizando um estudo colaborativo com a Faculdade de Saúde Pública e o Instituto de Pesquisas do hospital Albert Einstein que chamamos de oitenta-mais. Estamos coletando dados demográficos, DNA para o estudo do genoma e analisando a imagem cerebral de pessoas que se mantêm saudáveis do ponto de vista cognitivo e fisico com mais de 80 anos. Queremos coletar dados de pelo menos 1.000 pessoas. Os resultados dessa pesquisa vão nos ensinar muito. Se você quiser participar ou conhece pessoas com esse perfil, por favor entre em contato conosco. O endereço é: 80mais@gmail.com
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