Estudo inédito pretende melhorar o tratamento da hipertensão.
RIO - Estima-se que 30% dos brasileiros sofrem de pressão alta, segundo a Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH). A doença afeta mais de 50% das pessoas acima de 60 anos e já atinge 5% das crianças e dos adolescentes no país. Ela é responsável por 40% dos infartos, 80% dos casos de acidentes vasculares cerebrais (derrames) e 25% dos registros de insuficiência renal terminal. Para piorar essa situação, menos da metade (40%) dos hipertensos estão sendo tratados e só 10% têm a pressão arterial corretamente controlada, dizem médicos do Instituto Nacional de Cardiologia (INC), no Rio. Esses dados mostram que o perfil desses pacientes é bem conhecido. Agora, cardiologistas estão iniciando uma pesquisa inédita que vai traçar o perfil de quem não sofre desse mal.
O estudo, uma parceria do INC e da UFRJ, acompanha homens e mulheres de 20 a 70 anos e permitirá aos médicos, ao final de quatro anos, comparar os dados de pessoas saudáveis e hipertensas. Os resultados vão possibilitar entender melhor a doença e identificar mais fatores de risco, o que pode mudar a estratégia de tratamento e a sua eficácia.
- Há anos lidamos com pacientes que apresentam hipertensão resistente a tratamento, e hoje conhecemos bem o perfil antropométrico deles. Se conseguirmos estudar o perfil das pessoas saudáveis, vamos saber mais sobre a importância de cada variável no desenvolvimento da hipertensão - diz o cardiologista Ivan Cordovil, chefe do Serviço de Hipertensão do INC e coordenador da pesquisa.
Os autores estimam recrutar para o estudo cem pacientes voluntários no Rio de Janeiro, os chamados normotensos. Segundo o cardiologista Marco Antonio de Mattos, diretor do INC, os indivíduos saudáveis não apresentam os fatores de risco para hipertensão, como herança genética, sedentarismo, obesidade e consumo em excesso de sal na dieta diária.
- Em pelo menos 90% dos casos a hipertensão não tem causa específica, mas sim uma série de fatores. Em 10% a doença é decorrente de estreitamento de aorta, aterosclerose da artéria renal e tumor de glândula adrenal, entre outras causas - explica Mattos.
Ele lembra que a pratica de exercícios e o consumo de dieta específica ajudam a reduzir os níveis de pressão e são medidas recomendadas a todos.
- A perda de peso diminui a pressão arterial sistólica, o maior valor, em pelo menos 5 mmHg; a alimentação rica em frutas, vegetais, cereais e pouca gordura, peixe, frango em mais de 8 mmHg; a restrição de consumo de sal em mais de 2 mmHgMMhg, e a atividade física regular aeróbica em mais de 4 mmHg - diz o cardiologista.
Uma dificuldade no tratamento da hipertensão é que ela pode se tornar resistente e o paciente muitas vezes precisa tomar mais de um comprimido para estabilizar os seus níveis. Além disso, as drogas causam efeitos colaterais indesejáveis como disfunção erétil, tosse seca, inchado dos pés e dor de cabeça.
- Acredito que um dia o tratamento da hipertensão será individualizado a partir do estudo do genoma dos pacientes. Assim ele será mais eficaz e vamos reduzir os danos colaterais - afirma Mattos.
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