Uma pesquisa realizada pela USP de Ribeirão Preto analisou a relação entre estresse e a dependência por alimentos doces.
Que atire o primeiro bombom quem nunca se atracou com um chocolate, em uma crise de ansiedade.
“Hoje eu tenho plena consciência que o estresse é o gatilho do doce, mas acho que durante a infância e a adolescência eu não tinha essa consciência. ‘Coitadinha, ela não conseguiu aquilo’. ‘Ai que bom ela conseguiu. Vamos comemorar, vamos comer’. ‘O dia hoje foi muito ruim, eu mereço um doce’. ‘O dia hoje foi muito bom, eu mereço um doce’”, afirma Bárbara Gomes, secretária.
Bárbara chegou a pesar 165kg.“Imediatamente após o fim do pedaço de chocolate, eu via que o estresse não passava e adquiria outro problema, que é o aumento de peso”, conta Bárbara.
Uma pesquisa realizada pela USP de Ribeirão Preto analisou a relação entre estresse e a dependência por alimentos doces.
“As mulheres dependentes nos momentos de fúria, de compulsão, se elas não tivessem ao alcance produtos considerados como tradicionais, como chocolates, biscoito, elas recorriam a açúcar de mesa misturado com água, açúcar puro, macarrão instantâneo amolecido com mel”, explica Danielle Marques Macedo, nutricionista da USP/Ribeirão Preto, que completa: “Elas relataram agitação, crise de ansiedade, fraqueza, diarréia. Passa até por um processo químico e físico, como se fosse uma droga. Os mecanismos de ação são muito semelhantes”.
A pesquisa revelou que o estresse aumenta em sete vezes as chances de uma mulher se tornar dependente por substância doce.
“A gente encontrou mulheres dependentes que ficariam satisfeitas com um prato e outras que não ficariam satisfeitas nem com um prato, que precisariam de uma quantidade muito maior. Isso retrata também que a dependência tem estágios de evolução”, afirma a nutricionista e acrescenta: “Vai ficando cada vez pior. Ao longo dos anos, traz outras consequências a saúde, que são as doenças crônicas não transmissíveis: pressão alta, diabetes”.
As doenças cardiovasculares parecem companheiras do estresse.
“A pessoa não vai extravasar comendo um prato de salada de alface e tomate. Ela vai extravasar no chocolate, em uma sobremesa, que vai provocar excesso de peso, uma série de problemas de saúde, colesterol, pressão alta e que por consequência vai aumentar esse estresse da vida dessa pessoa, com certeza”, ressalta Viviane Laudelino Vieira, nutricionista da FSP/USP.
Maria Célia do Carmo é diarista e o marido zelador de um prédio em São Paulo. Ela tem pressão alta e se diz muito estressada.
“Eu tento ficar calma, mas tem horas que, eu tento assim, fazer de tudo mas às vezes, aqui fica. Sabe? Me atormentando. Diz que eu estou na pré-menopausa. Então, assim, de uns tempos para cá, eu ando meio com os nervos à flor da pele. Eu já percebi que o estresse, além de me deixar com enxaqueca, eu fico mal humorada. Eu sinto dores no corpo todo e assim, eu quero ficar quieta. Porque, às vezes, as pessoas querem falar comigo e estão felizes”, diz Maria Célia.
Mas o que será que vem primeiro? A pressão alta deixa Maria Célia estressada ou é o estresse que faz a pressão subir?
“Isso é uma história importante. A pressão alta está ligada na genética. Pessoas que já nascem carimbadas para pressão alta, qualquer situação muito estressante, a pressão sobe muito mais. Mas sempre o estresse eleva a pressão, porque é uma questão fisiológica. A hora que você se estressa, você eleva os hormônios. Esses dois hormônios: a adrenalina e o cortisol, eles fazem a pressão subir”, explica o cardiologista do Incor/FMUSP, Carlos Alberto Pastore, que completa: “Mas não esqueça que você tem outros fatores de risco. Você tem um pouco mais de idade, você já tem um colesterol alto, uma diabete, uma obesidade. Tudo isso pode ser um fator de risco e, na subida da pressão, desencadear um processo, tipo um infarto, um derrame”.
Uma nova alimentação tem sido fundamental para o tratamento anti-estresse de Maria Célia. Aos poucos, a família toda está tomando gosto pelo novo cardápio.
“Nós não vivemos sem o estresse. O estresse faz parte da sua vida. Nós precisamos do estresse para fazer determinadas ações. Quando você tem objetivos importantes. Esse estresse é altamente positivo. Isso não me traz doença. Agora, existem pessoas extremamente ansiosas, que não conseguem fazer as coisas que não sejam com grande ansiedade. Você precisa criar, dentro do seu dia-a-dia, momentos que você tire a adrenalina do ar. Acho que esse é o grande truque. Porque se você viver constante adrenalina, a repercussão corporal é muito forte.”, afirma Carlos Alberto Pastore.
Bárbara está conseguindo. À noite, depois do trabalho, é hora de caminhar. Na praça, cheia de tentações.
“A atividade física em si, ela é responsável pela liberação da mesma substância, responsável pela sensação de prazer. A sensação de alívio, que o doce causa”, ressalta Danielle Marques Macedo.
Quanta força de vontade. É uma prova de fogo.
“A prática de exercícios físicos poderia ser uma alternativa, um mecanismo a ser utilizado para diminuir os sintomas do estresse”, completa a nutricionista.
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