Depois da proibição da venda de antibióticos sem receita, há três anos, a atenção se volta agora para a venda indiscriminada de anti-inflamatórios. Apesar da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) estabelecer que remédios com tarja vermelha na embalagem só devem ser vendidos com prescrição médica, já que podem causar efeitos colaterais nocivos, na prática a realidade é outra. Por isso, médicos defendem que haja um controle mais rigoroso na venda desses medicamentos, pois se forem utilizados de maneira indevida, podem causar complicações sérias como hemorragias, lesão aguda da mucosa gástrica, úlceras, entre outras.
Para tentar amenizar o problema, a Anvisa institui um grupo de trabalho formado por representantes da indústria farmacêutica, associações médicas e mercado varejista do setor com o objetivo de estimular o uso racional de medicamentos por meio da exigência de prescrição médica no ato da venda. A medida foi publicada hoje (11) no Diário Oficial da União e deverá ser colocada em prática nos próximos meses.
Os medicamentos tarja vermelha correspondem a 65% do mercado de remédios. Para a maioria desses produtos, a legislação sanitária exige apenas a apresentação da receita médica no ato da compra. Nessa categoria enquadram-se os anti-inflamatórios, os medicamentos indicados para distúrbios imunológicos, entre outros.
De acordo com o presidente da Federação Brasileira de Gastroenterologia, José Roberto Almeida, em grande parte do país os medicamentos (em especial os anti-inflamatórios) são comercializados de maneira indiscriminada e ingeridos de forma abusiva. “Se você chegar agora em uma farmácia, reclamando que está com dor, o balconista vai lhe vender um anti-inflamatório. O que é um perigo, principalmente para pessoas idosas, que muitas vezes já estão tomando medicações para o coração e diabetes ou são hipertensas. A partir dos 60 anos, o organismo do indivíduo vai perdendo a capacidade de defesa e também se torna mais sensível. Por conta disso, a mistura de remédios pode trazer sérios problemas. Já cansei de receber pacientes com problema no estômago pelo uso abusivo de medicamentos”, comenta ele.
“Anti-inflamatório é para desinflamar a mucosa, tirar a dor. Se com acompanhamento médico já devemos ficar atentos a possíveis efeitos colaterais, imagine o indivíduo que toma [esse medicamento] como se fosse água? Você vai no setor de emergências do hospital público e muita vezes está lotado. E a grande maioria dos casos é de indivíduos com hemorragias e problemas no estômago por causa da ingestão indevida de medicamentos. São fatores que poderiam ser prevenidos”, lamenta o especialista.
Os números comprovam que esses medicamentos são os mais vendidos no território brasileiro. São acessíveis, não são tão caros e na maioria das vezes promovem alívio imediato da dor. Em 2012, foram comercializadas 129 mil caixas de anti-inflamatórios, segundo levantamento da Sindusfarma (Sindicato da Indústria Farmacêutica no Estado de São Paulo). Em 2010, haviam sido vendidas 106.043, ou seja, houve alta de 21,9% em dois anos.
Outro grande problema é que muitas pessoas acabam tomando, sem saber, anti-inflamatórios em demasia para dores musculares e também nas articulações. Entretanto, esse consumo indevido é um dos principais responsáveis por casos de insuficiência renal.
Para Almeida, é preciso que haja mais fiscalização por parte dos órgãos reguladores, para que os remédios com tarja vermelha sejam, de fato, vendidos sob prescrição médica. Ele também se diz a favor de campanhas de conscientização para alertar sobre o uso indiscriminado de medicamentos. “Outro problema que encontramos é que às vezes o balconista simplesmente muda a prescrição do médico. Ele diz: ‘Leva este aqui que é mais barato. É o mesmo produto’. Isso é um perigo, porque não é o mesmo produto. O medicamento pode estar associado a outras drogas as quais o paciente não pode ser submetido. Acredito que as pessoas também precisam se conscientizar”, finaliza o médico.
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