Produto, que libera um medicamento frequentemente utilizado no combate às dores de cabeça, é uma solução para pessoas que sofrem de enxaquecas acompanhadas de náuseas. Mas o preço pode ser um empecilho: 90 dólares
Vivian Carrer Elias
Zecuity, adesivo corporal desenvolvido pela empresa NuPathe: Produto libera medicamento que combate os sintomas da enxaqueca e, como não precisa ser absorvido pelo sistema digestivo, é solução para quem sofre do problema acompanhado de náuseas (Thinkstock)
Um adesivo corporal (patch) utilizado para o tratamento de enxaquecas acaba de ser aprovado pelo Food and Drug Administration (FDA), órgão de saúde americano que regula alimentos e medicamentos. O Zecuity, produzido pela empresa NuPathe, funciona com uma bateria e libera no organismo do paciente a substância sumatriptano, um medicamento frequentemente receitado a pacientes que sofrem de fortes dores de cabeça. O adesivo recebeu aval da agência americana em 17 de janeiro e espera-se que ele passe a ser comercializado no país entre outubro e dezembro deste ano.
O sumatriptano foi o primeiro medicamento desenvolvido especificamente para tratar a enxaqueca e até hoje é indicado pelos médicos a pacientes que têm o problema. Ele é eficaz em reduzir sintomas da condição que, além das fortes dores de cabeça, incluem enjoos e sensibilidade à luz ou a sons. Embora a droga em si não seja uma novidade, disponibilizá-la em forma de adesivo elimina a absorção da substância pelo sistema digestivo e, portanto, é uma solução para as pessoas que sofrem de enxaqueca acompanhada de náuseas, um dos sinais mais comuns das crises.
"É normal que, com a enxaqueca, o indivíduo apresente sintomas gástricos. A velocidade do esvaziamento do estômago em direção ao intestino pode diminuir e, com isso, a absorção de medicamentos orais torna-se mais difícil. Além disso, o paciente com esses sintomas eventualmente vomita, o que dificulta ainda mais que esses remédios sejam absorvidos e façam efeito. O adesivo faz com que essa intolerância gástrica seja superada, e esse é o seu principal benefício", disse ao site de VEJA Tarso Adoni, neurologista do Hospital Sírio-Libanês.
Como funciona — De acordo com informações sobre o Zecuity disponibilizadas pelo FDA, o adesivo deve ser colado sobre a perna ou o braço. O paciente, então, precisa apertar um botão para que o medicamento seja fornecido ao organismo — são 6,5 miligramas de sumatriptano liberados ao longo de aproximadamente cinco horas. Uma luz acende quando o adesivo começa a funcionar e se apaga quando a substância chega ao fim.
Apesar de o adesivo fornecer sumatriptano ao organismo do paciente ao longo de cinco horas, o efeito na dor de cabeça é muito mais rápido, segundo Adoni. "Os estudos com o produto mostram que na pele ele leva de 20 a 30 minutos para trazer benefício", disse o neurologista. O produto, portanto, é indicado para eliminar os sintomas da enxaqueca, e não para prevenir o problema ou reduzir a sua frequência.
Comprovação — O FDA aprovou o adesivo a partir dos resultados de um estudo feito com 800 pacientes. Nele, 18% das pessoas que utilizaram o Zecuity não sentiram mais nenhuma dor de cabeça após duas horas e 50% afirmaram que as dores diminuíram — entre os pacientes que usaram um adesivo contendo placebo, essas taxas foram de 9% e 29%, respectivamente. Além disso, o adesivo contendo sumatriptano aliviou as náuseas em 84% dos indivíduos que usaram o produto. A melhora ocorreu em 63% dentre aqueles que receberam placebo.
Os efeitos colaterais mais comuns do Zecuity foram dores, formigamentos e desconforto no local da aplicação. As informações sobre o adesivo ressaltam que pacientes com histórico de doenças cardíacas não devem fazer uso do patch.
Segundo Tarso Adoni, um ponto negativo do adesivo é o seu alto custo. "Os médicos acreditam que ele entrará no mercado americano a um preço de 90 dólares cada". Ou seja, caso o produto chegue no Brasil — o que pode acontecer somente a partir de 2014, segundo o neurologista —, poderá custar quase 200 reais para que apenas uma crise de enxaqueca seja aliviada, já que os adesivos não são reaproveitados.
De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Brasil possui medicamentos orais à base de sumatriptano, mas ainda não há nenhum pedido de autorização de adesivos contendo a substância.
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