Academias americanas começam a recrutar treinadores mais velhos para seus clientes com mais idade
The New York Times
Quando Ellen Guest decidiu procurar os serviços de um "personal trainer", ela criou uma imagem mental de como seria essa pessoa: "Corpo definido, bronzeado, jovem, bastante sério – e homem", disse Guest, hoje com 65 anos e moradora de San Diego. Em vez disso, ela acabou com Sharon Hill, uma animada loira apenas quatro anos mais nova que Guest. "Fiquei muito contente", disse Guest. "Porque então percebi que não teria de corresponder à ideia de malhação de alguém com 30 anos. Ali estava alguém que podia entender como é ter mais idade."
À medida que mais idosos se dirigem às academias, seja por questões de saúde ou apenas vaidade, muitas vezes quem os recebe é alguém muito similar a eles. Exceto, talvez, por um pouco mais de tonificação. Estudos da IDEA, uma organização mundial de profissionais de fitness, mostram um aumento regular no número de adultos mais velhos escolhendo trabalhar no negócio dos exercícios.
A IDEA também afirma que o número de treinadores e instrutores com mais de 55 anos comparecendo à sua Convenção Mundial de Fitness, em Los Angeles, cresceu de 5%, em 2004, para 12% no ano passado. A tendência é confirmada pelo público de outros eventos da IDEA, incluindo o anual Instituto de Personal Trainers, em Alexandria, na Virginia – onde, no ano passado, 42% dos visitantes tinham entre 45 e 64 anos.
"Sem nenhuma dúvida, estamos vendo pessoas mais velhas entrando na indústria do fitness", diz Kathie Davis, diretora executiva da IDEA. "Hoje as pessoas envelhecem e não estão prontas para se aposentar. Elas querem se manter ativas e envolvidas, e veem os exercícios como uma forma de fazer isso."
E os beneficiários muitas vezes são seus iguais. "Trabalhar com uma pessoa mais velha pode ter algumas vantagens bastante distintas", explica Hank Williford, professor de ciência dos exercícios na Universidade Auburn, em Montgomery. "Alguns jovens provavelmente se interessam pelo treino como um meio de vida, e não uma paixão, enquanto o treinador mais velho possui um interesse além do aspecto monetário."
"Nunca pensei em fazer isto para viver", diz Jules Winkler, de 79 anos, um aposentado de Medford, em Nova York, que se formou como treinador há cinco anos. Winkler, um ex-halterofilista e talentoso maratonista, disse: "Eu só queria fazer outros idosos enxergarem o que o exercício poderia fazer por sua qualidade de vida. Então comecei a ganhar um pouco de dinheiro com isso, e ficou sendo um bônus."
O caminho que levou Sharon Hill a uma carreira pós-aposentadoria como personal trainer na academia Fitness Quest 10, em San Diego, foi um pouco diferente. Hoje com 61 anos, ela tinha uma carreira de 32 anos em vendas, trabalhando para empresas como IBM, DigitalEquipmentCorp. e Xerox. Quando chegou aos 50, diz ela, "Eu estava exaurida".
O estilo de vida sedentário e estressante da gerência corporativa de vendas, em que ela acumulava 100 mil milhas aéreas por ano, estava cobrando seu preço. "Precisava fazer uma mudança", disse ela. "Minhas refeições eram a comida dos aviões. Eu dormia pouco e não me exercitava".
Em outubro de 2001, determinada a se colocar em melhor forma, ela impulsivamente entrou numa academia recém-inaugurada perto de sua casa, na seção de Scripps Ranch, em San Diego.
Hill iniciou um treinamento particular com Todd Durkin, o dono da academia, e se juntou a um grupo de prática de caminhadas e corridas nos finais de semana. Em pouco tempo, ela já fazia coisas que nunca havia sonhado serem possíveis: vencer em sua faixa etária numa corrida local de 5 quilômetros, fazer três barras sem assistência, reduzir seu manequim de 38 para 34.
"Me tornei a pupila de ouro", brincou Hill. "Todd me apresentava aos novos clientes. Era como se ele dissesse: 'Se ela consegue fazer isso com mais de 50, você também pode!'"
Ao mesmo tempo, Hill pensava em se aposentar do exaustivo trabalho com vendas. Mas ela queria continuar trabalhando, ao menos em meio período, e preferivelmente em algo que ela gostasse. "Finalmente perguntei a Todd: 'Você consideraria contratar alguém como eu como treinadora?'"
"Achei que era uma ideia muito interessante", lembrou Durkin. "Com sua experiência corporativa, achei que ela poderia ter a habilidade de se conectar a alguns de nossos clientes melhor do que os treinadores mais jovens."
Com o estímulo de Durkin e de seu marido, Bob, Sharon se matriculou num programa de certificação como personal trainer na Universidade da Califórnia, em San Diego. "Foi difícil voltar a estudar", reconheceu ela. "E eu tinha aulas de anatomia e fisiologia dos exercícios, o que envolvia muita memorização".
Ela completou o programa em 10 meses, passou no exame de certificação do Conselho Americano de Exercícios – uma das maiores instituições de certificação para personal trainers no país – e, no outono de 2002, voltou a Durkin.
A única oportunidade que ele tinha era para treinar um marido e sua esposa, dois ocupados executivos, às 5 da manhã. "Todd não conseguia nenhum treinador que aceitasse trabalhar tão cedo", lembrou Sharon. "Aceitei na hora."
Pelos dois anos seguintes, ela chegou para o trabalho às 5 horas. Logo, o crescente número de clientes mais velhos da Fitness Quest 10 queria treinar com ela.
Hoje, Sharon trabalha apenas dois dias por semana, começando num horário mais civilizado – 8h30 da manhã. A maioria de seus clientes (atualmente 14, com média de idade de 55 anos) treina com ela por 60 minutos uma ou duas vezes por semana, trabalhando em particular ou em sessões semiprivadas com outro cliente. Os clientes pagam em média US$ 70 por hora, que Sharon e a academia dividem meio a meio.
Para ajudar os clientes a desenvolver força e equilíbrio, algo especialmente importante para adultos mais velhos, Sharon usa grandes bolas de estabilidade, bolas medicinais, pranchas de equilíbrio, além dos tradicionais aparelhos de musculação. Mas ela também dedica tempo para explicar aos clientes, que muitas vezes nunca se exercitaram no passado, como seus exercícios fazem parte de um estilo de vida saudável – um estilo que pode ser adotado mesmo com as limitações da idade avançada.
Para essa lição, ela costuma usar a si mesma como exemplo. "Eles se identificam com o fato de que eu comecei tarde", disse. Agora que ela começou, porém, eles não querem que ela pare tão cedo. "Adoro treinar com a Sharon", diz Guest. "Não sei o que vou fazer quando ela se aposentar."
À medida que mais idosos se dirigem às academias, seja por questões de saúde ou apenas vaidade, muitas vezes quem os recebe é alguém muito similar a eles. Exceto, talvez, por um pouco mais de tonificação. Estudos da IDEA, uma organização mundial de profissionais de fitness, mostram um aumento regular no número de adultos mais velhos escolhendo trabalhar no negócio dos exercícios.
A IDEA também afirma que o número de treinadores e instrutores com mais de 55 anos comparecendo à sua Convenção Mundial de Fitness, em Los Angeles, cresceu de 5%, em 2004, para 12% no ano passado. A tendência é confirmada pelo público de outros eventos da IDEA, incluindo o anual Instituto de Personal Trainers, em Alexandria, na Virginia – onde, no ano passado, 42% dos visitantes tinham entre 45 e 64 anos.
"Sem nenhuma dúvida, estamos vendo pessoas mais velhas entrando na indústria do fitness", diz Kathie Davis, diretora executiva da IDEA. "Hoje as pessoas envelhecem e não estão prontas para se aposentar. Elas querem se manter ativas e envolvidas, e veem os exercícios como uma forma de fazer isso."
E os beneficiários muitas vezes são seus iguais. "Trabalhar com uma pessoa mais velha pode ter algumas vantagens bastante distintas", explica Hank Williford, professor de ciência dos exercícios na Universidade Auburn, em Montgomery. "Alguns jovens provavelmente se interessam pelo treino como um meio de vida, e não uma paixão, enquanto o treinador mais velho possui um interesse além do aspecto monetário."
"Nunca pensei em fazer isto para viver", diz Jules Winkler, de 79 anos, um aposentado de Medford, em Nova York, que se formou como treinador há cinco anos. Winkler, um ex-halterofilista e talentoso maratonista, disse: "Eu só queria fazer outros idosos enxergarem o que o exercício poderia fazer por sua qualidade de vida. Então comecei a ganhar um pouco de dinheiro com isso, e ficou sendo um bônus."
O caminho que levou Sharon Hill a uma carreira pós-aposentadoria como personal trainer na academia Fitness Quest 10, em San Diego, foi um pouco diferente. Hoje com 61 anos, ela tinha uma carreira de 32 anos em vendas, trabalhando para empresas como IBM, DigitalEquipmentCorp. e Xerox. Quando chegou aos 50, diz ela, "Eu estava exaurida".
O estilo de vida sedentário e estressante da gerência corporativa de vendas, em que ela acumulava 100 mil milhas aéreas por ano, estava cobrando seu preço. "Precisava fazer uma mudança", disse ela. "Minhas refeições eram a comida dos aviões. Eu dormia pouco e não me exercitava".
Em outubro de 2001, determinada a se colocar em melhor forma, ela impulsivamente entrou numa academia recém-inaugurada perto de sua casa, na seção de Scripps Ranch, em San Diego.
Hill iniciou um treinamento particular com Todd Durkin, o dono da academia, e se juntou a um grupo de prática de caminhadas e corridas nos finais de semana. Em pouco tempo, ela já fazia coisas que nunca havia sonhado serem possíveis: vencer em sua faixa etária numa corrida local de 5 quilômetros, fazer três barras sem assistência, reduzir seu manequim de 38 para 34.
"Me tornei a pupila de ouro", brincou Hill. "Todd me apresentava aos novos clientes. Era como se ele dissesse: 'Se ela consegue fazer isso com mais de 50, você também pode!'"
Ao mesmo tempo, Hill pensava em se aposentar do exaustivo trabalho com vendas. Mas ela queria continuar trabalhando, ao menos em meio período, e preferivelmente em algo que ela gostasse. "Finalmente perguntei a Todd: 'Você consideraria contratar alguém como eu como treinadora?'"
"Achei que era uma ideia muito interessante", lembrou Durkin. "Com sua experiência corporativa, achei que ela poderia ter a habilidade de se conectar a alguns de nossos clientes melhor do que os treinadores mais jovens."
Com o estímulo de Durkin e de seu marido, Bob, Sharon se matriculou num programa de certificação como personal trainer na Universidade da Califórnia, em San Diego. "Foi difícil voltar a estudar", reconheceu ela. "E eu tinha aulas de anatomia e fisiologia dos exercícios, o que envolvia muita memorização".
Ela completou o programa em 10 meses, passou no exame de certificação do Conselho Americano de Exercícios – uma das maiores instituições de certificação para personal trainers no país – e, no outono de 2002, voltou a Durkin.
A única oportunidade que ele tinha era para treinar um marido e sua esposa, dois ocupados executivos, às 5 da manhã. "Todd não conseguia nenhum treinador que aceitasse trabalhar tão cedo", lembrou Sharon. "Aceitei na hora."
Pelos dois anos seguintes, ela chegou para o trabalho às 5 horas. Logo, o crescente número de clientes mais velhos da Fitness Quest 10 queria treinar com ela.
Hoje, Sharon trabalha apenas dois dias por semana, começando num horário mais civilizado – 8h30 da manhã. A maioria de seus clientes (atualmente 14, com média de idade de 55 anos) treina com ela por 60 minutos uma ou duas vezes por semana, trabalhando em particular ou em sessões semiprivadas com outro cliente. Os clientes pagam em média US$ 70 por hora, que Sharon e a academia dividem meio a meio.
Para ajudar os clientes a desenvolver força e equilíbrio, algo especialmente importante para adultos mais velhos, Sharon usa grandes bolas de estabilidade, bolas medicinais, pranchas de equilíbrio, além dos tradicionais aparelhos de musculação. Mas ela também dedica tempo para explicar aos clientes, que muitas vezes nunca se exercitaram no passado, como seus exercícios fazem parte de um estilo de vida saudável – um estilo que pode ser adotado mesmo com as limitações da idade avançada.
Para essa lição, ela costuma usar a si mesma como exemplo. "Eles se identificam com o fato de que eu comecei tarde", disse. Agora que ela começou, porém, eles não querem que ela pare tão cedo. "Adoro treinar com a Sharon", diz Guest. "Não sei o que vou fazer quando ela se aposentar."
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