domingo, 2 de setembro de 2012

‘O importante é se mexer’, diz pesquisadora sobre prevenção do Alzheimer.



Risco da doença é 50% menor em idosos mais ativos ou que praticam exercícios.


A neurocientista Michal Schnaider Beeri: investimento em pesquisas sobre o Alzheimer está aumentando, mas ainda não se compara aos esforços contra o câncer
Foto: Agência O Globo
A neurocientista Michal Schnaider Beeri: investimento em pesquisas sobre o Alzheimer está aumentando, mas ainda não se compara aos esforços contra o câncerAGÊNCIA O GLOBO
TEL AVIV - A neurocientista Michal Schneider Beeri nunca vai esquecer a reação de seu pai quando o informou que seguiria carreira científica, deixando de lado o diploma de administração: “Tudo bem, minha filha, mas como você vai ganhar dinheiro?”. Vinte anos depois, Michal é uma estrela em ascensão no estudo do mal de Alzheimer, trabalhando na Escola de Medicina do Hospital Mount Sinai, em Nova York, e como diretora do Centro de Neurociência do Hospital Sheba, em Tel Aviv. Filha de um brasileiro e uma chilena, ela atualmente participa da criação de um banco de dados com informações de filhos de portadores de Alzheimer, em Israel, para detectar os primeiros sintomas e ajudar na prevenção da doença.

O GLOBO:
 A senhora escreveu um editorial sobre um estudo da Universidade de Rush, de Chicago, publicado na “Neurology”, segundo o qual ser fisicamente ativo reduz o risco de contrair o mal de Alzheimer. De que tipo de atividade estamos falando?
MICHAL SCHNAIDER BEERI:Qualquer atividade. Os pesquisadores amarraram um aparelhinho no pulso de pacientes com média de idade de 82 anos e mediram todos os movimentos deles por mais de três anos: andar, cozinhar, lavar louça, varrer a casa, dirigir, subir escadas, brincar com os netos. Os resultados mostram que as pessoas, incluindo os idosos, que se movimentam menos, têm duas vezes mais chance de desenvolver o mal de Alzheimer. O importante é se mexer, ser ativo, não importa como e em que idade.
O GLOBO: O que mais está provado que ajuda a reduzir o risco de contrair Alzheimer?
MICHAL: Um fator importante é a educação formal. Analfabetos têm mais risco de desenvolver a doença, por exemplo. Quanto mais anos de estudo você tem, menos chance terá de desenvolver a doença. Outro exemplo é a atividade cerebral. É fazer a cabeça funcionar. Isso vale com joguinhos de computador, de cartas, de tabuleiro. Quando você lê o jornal, deve ler não só as manchetes. Deve ler os artigos até o fim, pensar sobre eles, criticá-los, discuti-los com outras pessoas.
O GLOBO: Quer dizer que joguinhos no computador não são perda de tempo?
MICHAL: Não, mas é preciso que haja um equilíbrio. Exercícios físicos ainda são mais vantajosos, porque exercitam o corpo e o cérebro ao mesmo tempo. Quando você está jogando bola com os amigos, tem que pensar onde a bola vai cair, calcular a velocidade para chegar até ela, pensar numa estratégia. Isso tudo é exercício mental, além de físico.
O GLOBO: Há muito investimento na pesquisa sobre cura e prevenção do mal de Alzheimer hoje?
MICHAL: Está aumentando, mas ainda não pode ser comparado ao financiamento para a cura do câncer, por exemplo. O conceito de investir em velhice ainda não é bem aceito. Mas as coisas estão mudando, porque a demografia no mundo está mudando. A faixa de idade de 85 anos em diante é o segmento populacional que mais cresce.
O GLOBO: Mas houve avanços que a senhora considere importantes no tratamento da doença na última década?
MICHAL: Do lado terapêutico, não. Há alguns remédios novos, mas essas drogas têm efeitos colaterais fortíssimos. Houve um avanço grande, no entanto, no entendimento de que a doença começa por volta dos 40 anos de idade, três ou quatro décadas antes da manifestação dos primeiros sintomas clínicos. Quando eles surgem, já é tarde demais. O problema é detectar os sintomas tão cedo. Procuramos sinais biológicos que acendam uma luz vermelha. A genética é um deles. Mas a maior parte dos casos não tem a ver com genética. Os fatores de risco mais conhecidos são doenças como diabetes e seus sintomas, além de hipertensão, colesterol e triglicerídeos altos, excesso de peso e estresse. Tudo o que é ruim para o coração ou outros órgãos, é ruim para o cérebro.
O GLOBO: Sua ligação com o Brasil foi importante para seu sucesso profissional?
MICHAL: Deixei o Brasil com 17 anos mas sinto que a alegria de viver, a animação, a energia positiva que faz as pessoas ao meu redor quererem trabalhar duro, vieram da minha cultura brasileira.

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