RIO - Um exame de sangue capaz de revelar o quão rápido se está envelhecendo — e oferece a perturbadora possibilidade de estimar o quanto de vida resta — está previsto para ser posto à venda para o público em geral no Reino Unido no fim do ano que vem, informa reportagem do jornal "Independent". O controverso teste mede estruturas vitais na ponta dos cromossomos, conhecidas como telômeros, que os cientistas acreditam ser um dos mais importantes e acurados indicadores da velocidade do envelhecimento.
Os pesquisadores por trás do exame de 435 libras (cerca de R$ 1.150) dizem que será possível dizer se a "idade biológica" da pessoa, medida pelo comprimento de seus telômeros, é maior ou menor do que sua idade cronológica em anos. Embora os cientistas não acreditem que possam prever com exatidão o exato número de meses e anos que a pessoa ainda poderá viver, diversos estudos já mostraram que indivíduos com telômeros mais curtos que o normal tendem a morrer mais jovens do que os que têm telômeros mais longos.
Autoridades de saúde acreditam que os testes de telômeros se tornarão generalizados dentro de cinco a dez anos, mas já há cientistas que questionam seu valor e a necessidade de se estabelecer controles éticos mais estritos para seu uso. Além da preocupação sobre a reação das pessoas ao saberem o quão "velhas" estão, alguns pesquisadores temem que os exames de telômeros sejam usados por organizações inescrupulosas para vender remédios antienvelhecimento e outros elixires da juventude não comprovados cientificamente.
Os resultados dos testes também podem despertar o interesse de empresas que oferecem seguros de vida ou assistência médica, cujas coberturas dependem do risco de uma pessoa ficar seriamente doente ou morrer prematuramente. Já há crescente consenso científico de que o comprimento dos telômeros de uma pessoa pode ajudar a prever o risco de ela sofrer de males relacionados à idade que vão desde doenças cardiovasculares a Alzheimer e câncer.
— Sabemos que pessoas que nascem com telômeros menores que o normal têm uma expectativa de vida menor — diz Maria Blasco, do Centro Nacional de Pesquisa de Câncer da Espanha e inventora do novo teste comercial de telômeros. — Mas não sabemos ainda se telômeros mais longos se traduzem em uma expectativa de vida maior. Isso ainda não está comprovado em humanos. A novidade deste teste é que ele é muito preciso. Podemos detectar pequenas diferenças no comprimento dos telômeros com uma técnica muito simples e rápida que permite que muitas amostras sejam analisadas simultaneamente. E, o que é mais importante, podemos determinar a presença de telômeros perigosos, aqueles que são muito curtos.
A empresa de Blasco, chamada Life Length ("Duração da Vida", em tradução livre), está em negociações com empresas de diagnósticos médicos por toda Europa para vender o teste e coletar o sangue para análise em seu laboratório na Espanha. Um acordo com uma empresa no Reino Unido deve ser fechado dentro de um ano, acredita a médica.
— Precisamos que uma empresa de análises clínicas nos envie as amostras de sangue. Estamos em contato com diversos grupos interessados— conta Blasco.
A Life Length espera receber centenas de pedidos de pessoas interessadas em testarem seus telômeros e acredita que a demanda chegará a milhares depois de a companhia conseguir reduzir os custos dos exames com os ganhos de escala. Embora não seja a única empresa que esteja vendendo testes de telômeros, somente a Life Length está se preparando para vendas diretas ao público e tem um exame acurado o suficiente para ser de uso prático, destaca o professor Jerry Shay, do centro médico da Universidade do Sudoeste do Texas, em Dallas.
— O teste criado por Blasco é tão acurado que deverá fornecer mais informações úteis do que muitos dos outros exames atualmente no mercado — considera Shay, que também é consultor científico da Life Length. — O que importa no envelhecimento são os telômeros menores, que são os responsáveis por interromper o crescimento das células, e não o comprimento médio dos telômeros, que é o que os outros exames buscam. Todo mundo fala da sua idade cronológica, mas também existe a idade biológica e o comprimento dos telômeros é uma boa representação dela. Os telômeros são importantes e não há dúvidas quanto a isso.
Questionado sobre o interesse do público em geral em fazer o exame, Shay disse acreditar que “todos são curiosos quanto à própria mortalidade”.
— Se você perguntar para as pessoas qual a sua maior preocupação, a maioria vai dizer que é morrer. Elas podem dizer: "se vou morrer em 10 anos, vou gastar todo meu dinheiro agora", ou "se vou viver mais 40 anos, terei um estilo de vida mais conservador". O preocupante é que, se essa informação se torna verosímil, as companhias de seguros vão passar a exigí-la. Se você fuma ou é obeso, o prêmio de seu seguro é mais alto, e se você tiver telômeros mais curtos, ele também será.
As pesquisas sobre telômeros passaram a ser consideradas uma das áreas mais excitantes das ciências biomédicas atualmente. No ano passado, o Prêmio Nobel de Medicina foi dividido entre três cientistas pioneiros no campo. É interessante notar que uma das ganhadoras do Nobel, Elizabeth Blackburn, da Universidade da Califórnia em São Francisco, é uma entusiasta dos exames dos telômeros, enquanto uma outra, Carol Greider, da Escola de Medicina de Harvard, tem dúvidas quanto a seus benefícios.
— Você realmente acha útil ter um monte de empresas oferecendo exames do comprimento dos telômeros para que as pessoas saibam o quão velhas são? Acredito que não — disse ela em recente entrevista à revista "Science".
Blasco, ex-aluna de pós-doutorado no laboratório de Greider, no entanto, está mais certa dos benefícios:
— Será útil saber sua idade biológica e talvez mudar seus hábitos de vida se descobrir ter telômeros curtos.
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