sábado, 21 de fevereiro de 2015

70% dos idosos estão insatisfeitos com próprio corpo; autoimagem influi na saúde.


Quanto pior a pessoa se enxerga, menos se cuida; autoimagem ruim está ligada a estereótipos negativos ligados à velhice

É tudo uma questão de como a pessoa se vê. O tempo passa, a idade avança, o corpo muda e as rugas aparecem. A noção de ancião com muita experiência passa longe do contexto e logo aquele jovem independente se torna um idoso que morre de medo de dar trabalho para os outros. Não se trata apenas de vaidade, estudos mostram que quanto pior a percepção da autoimagem, pior é o cuidado do idoso com saúde, alimentação, socialização e atividade física. Basicamente, menos longeva a pessoa será.
Thinkstock/Getty Images
Insatisfação com a imagem tem relação com a falta de cuidado com a saúde
Um estudo realizado nos Estados Unidos com 338 homens e 322 mulheres mostrou que aqueles que tinham autopercepção mais positiva do envelhecimento, sem ligar a velhice à decadência física, por exemplo, tiveram maior sobrevida ao longo de 23 anos de observação.
No Brasil, a geriatra Laura Mariano da Rocha analisou a autoimagem e a autoestima de pessoas com mais de 60 anos em Porto Alegre e constatou que 70% dos pesquisados tinham alguma insatisfação corporal. Os homens queriam estar mais fortes e as mulheres, mais magras. Mais do que isso, ela concluiu que aqueles que se compreendiam como envelhecendo mal, tinham uma percepção ruim da saúde e da imagem corporal.
“A questão é que, quanto pior esta percepção, pior é o cuidado com a saúde, com o uso das medicações, com a atividade física. Pior é o envelhecimento”, diz. Para a geriatra, é preciso que os próprios idosos entendam que envelhecer é um processo que faz parte da vida. “Você sabia que a maioria dos idosos de Porto Alegre faz apenas uma refeição por dia? Seja porque não tem companhia, seja porque não tem autonomia para cozinhar.”
Veja galeria de famosos que viveram mais de 100 anos:
Niemeyer  - Figura chave da arquitetura moderna brasileira, ele morreu a 10 dias de completar 105 anos. Lúcido, trabalhou até o fim da vida. Foto: Reprodução
Dona Canô  - Mãe de oito filhos, entre eles os músicos Caetano Veloso e Maria Bethânia, ela morreu aos 105 anos, no dia de Natal de 2012, em casa . Foto: Resprodução
Dercy Gonçalves – Reconhecida pelo Guinness Book como a atriz com maior tempo de carreira no mundo, ela morreu em 2008, aos 101 anos. Foto: Reprodução
Jean Delannoy- cineasta francês, autor de filmes com artistas e intelectuais como Jean Cocteau, Anthony Quinne, Jean-Paul Sartre morreu aos cem, em 2008. Foto: Divulgação
Leni Riefenstahl - defensora do Hitler, a cineasta alemã dirigiu o Triunfo da Vontade, um dos maiores documentários e peças de propaganda. Ela morreu aos 101, em 2003. Foto: Divulgação
Jeanne Calment – A francesa, que fez esgrima até os 85 anos e fumou até os 117, morreu aos 122, em 1997. Ela conheceu Vincent Van Gogh e, aos 114, atuou em Vincent and Me. Foto: Divulgação
Irving Berlin – compositor, que compôs mais de 3 mil músicas, incluindo God Bless America e White Christmas, morreu aos 101, em 1989. Foto: Divulgação
James Strom Thurmond - o senador americano deixou o posto aos 100 anos e morreu seis meses depois. Foto: Divulgação
Henri Fabre - pioneiro da aviação francesa morreu em 1984, aos 102 anos. Foto: Divulgação
George Burns - comediante e ator americano marcado por sua sobrancelha arqueada e pelo charuto morreu 49 dias após completar 100 anos. Foto: Divulgação
Eugenio Gudin - Economista brasileiro foi ministro da Fazenda entre 1954 e  1955, durante o governo de Café Filho. Morreu em 1986, anos 100 anos. Foto: Divulgação
Claude Lévi Strauss - Antropólogo belga, morreu aos 100 anos, em 2009. Estudioso dos povos indígenas lecionou sociologia, de 1935 a 1939, na recém-criada USP. Foto: Divulgação
Charles Lane - Quando morreu, aos 101, em 2007, era o mais velho ator americano vivo. Fez mais de 250 filmes, além de programas de TV. Foto: Divulgação
Bob Hope - Artista nascido em Londres em 1903 migrou para os EUA na juventude e morreu aos cem anos, em 2003. Foto: Divulgação
Albert Hofmann - Suíço, descobriu o LSD e estudioso de outras substâncias alucinógenas, morreuu em 2008, anos 102 anos. Foto: Divulgação
Rainha Elizabeth - Conhecida como a rainha-mãe, monarca morreu aos 101 anos, em 2002. Foto: Divulgação
Niemeyer - Figura chave da arquitetura moderna brasileira, ele morreu a 10 dias de completar 105 anos. Lúcido, trabalhou até o fim da vida. Foto: Reprodução
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Essa autoimagem ruim não é por acaso. Os estereótipos negativos relacionados ao envelhecimento são criados pela sociedade e assimilados ao longo da vida. “Eles são aceitos e incorporados pelos jovens sem muito questionamento. Ao envelhecer, estes conceitos prévios fazem parte da personalidade dos indivíduos e podem produzir efeitos negativos de incapacidade e inutilidade”, afirma Laura em sua dissertação de mestrado defendida na PUC-RS.
Qualidade de vida pra quem?
Envelhecer com qualidade é o grande desafio, principalmente para um país como o Brasil, que terá um rápido envelhecimento da população nos próximos 20 anos. No entanto, qualidade de vida é um valor subjetivo. Acesso a bons médicos, exames com bons resultados e conta bancária podem dizer que tudo está bem, mas o idoso pode não sentir que tem qualidade de vida. O contrário também acontece. “Mesmo a pessoa numa condição objetivamente ruim, pode nas piores condições achar a vida boa”, disse Sérgio Paschoal, médico geriatra do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Sem voz numa sociedade que não respeita a opinião dos mais velhos e com uma autoimagem ruim, a depressão em idosos se torna mais corriqueira. Um dado que mostra isso é a taxa de suicídio para homens brancos com mais de 65 anos ser cinco vezes mais alta do que a da população em geral.
De acordo com dados de estudo liderado por Maria Cecília Minayo, da Fiocruz, a taxa de suicídios de pessoas com mais de 65 anos passou de 12 a cada cem mil pessoas para 15,8 a cada cem mil, entre 1980 a 2006. A situação é considerada de média gravidade quando passa de dez suicídios a cada cem mil.
“Não é por achar que a vida econômica está ruim, mas achar que perdeu o sentido de viver. Eu posso até ser pobre, mas o que importa é a vida fazer sentido”, disse Sérgio Paschoal.
O sentido da vida para João Antônio Ramos, de 91 anos, é beber seu vinhozinho diário, receber a família para jantar e planejar suas viagens anuais para Portugal. Muita coisa aconteceu desde o dia que o engenheiro eletricista português chegou ao Brasil, em 1954. Era para permanecer apenas seis meses. O tempo passou e ele foi ficando. Logo se casou, teve seis filhos, 14 netos e agora uma bisneta. “Ainda”, brinca.
A aposentadoria há 30 anos não o deixou deprimido, como é comum acontecer. “É uma mudança, mas a gente supera com outras coisas. Em vez de trabalhar, lê um livro. Querendo, não falta coisa para fazer”, diz com a serenidade típica de quem pode se tornar um centenário.
Até lá, segue sua rotina. Acorda às 9 horas, lê o jornal, faz exercícios como “saltitar, baixar e levantar”, depois dá uma volta, vai ao banco ou encontra um parente. Em julho pretende ir a Portugal encontrar os primos. “Pois meus pais já morreram”, brinca.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Seis passos para se tornar um idoso saudável


Por Maria Fernanda Ziegler  - Atualizada às 

Herança genética é apenas uma das razões da vida longa; viver bem e bastante implica em cuidar da saúde física e emocional

Reuters
Manter cabeça e corpo ativos faz a vida ter mais graça; boa autoestima aumenta longevidade
Quem não quer uma velhice segura e livre de doenças? Se existisse uma receita infalível para isso, certamente ela já teria sido vendida e publicizada há muito tempo. Mas não, não há uma fórmula com garantia de eficácia e telefone de contato para reclamações futuras. O que existe, isso sim, são algumas dicas que podem ajudar na busca por qualidade de vida.  
Genética, alimentação saudável e atividade física são fatores que estão na linha de frente para conquistar uma vida mais longeva. Além disso, pesquisadores, cada vez mais, apostam na fórmula de levar a vida mais leve e saber se relacionar como um trunfo para a uma boa velhice. O clichê “vive mais quem vive bem” está mais que em alta.
Para fazer valer o clichê, dizem os médicos, os cuidados têm de começar cedo, muito antes da chamada terceira idade. “Esta preocupação tem que começar antes da infância. Tem que estar no currículo escolar”, diz o geriatra Salo Buksman. O consolo é que, mesmo tarde, ainda vale a pena. As indicações para ter uma vida saudável e combater doenças valem para os 30, 40, 50, 60 e até para quem tem 100 anos.
Veja abaixo alguns itens para ficar de olho: 
1. Genética
Ainda não se sabe exatamente o peso da genética na longevidade. Mas ela conta. Por isso, é bom saber como e com quantos anos morreram avós, bisavós e tataravós. De acordo com o geriatra Salo Buksman, a genética explica porque algumas pessoas consomem grodura e outros alimentos pouco saudáveis e continuam cheias de saúde por muitos anos.
O também geriatra Alessandro Campolina afirma que quem tem avós e pais longevos deve ter ainda mais empenho em se cuidar. “Essa informação é importante para quem tem uma genética favorável. Ter avós que viveram 90 anos pode ser um indicativo maior para se cuidar e chegar com saúde aos 100 anos”, disse.
2. Atividade Física
Este é o fator de envelhecimento saudável número um, já que para a genética é preciso contar com a sorte. Buksman afirma que o ideal é fazer atividades aeróbicas - como caminhada - e também as que fortaleçam a musculatura. “Além de fazer bem para a saúde, ajuda a manter a força muscular, o que evita quedas" diz.
A frequência e a intensidade de atividade física variam de idade para idade. Antes dos 60 anos, a indicação é que a pessoa saudável não seja sedentária, que caminhe pelo menos 40 minutos por dia e faça semanalmente atividades que fortaleçam os músculos. Depois disso, vale a máxima 'faça o quanto é bom para você'. Mas nada de preguiça, hein? Velhinhos de 90 ou 100 anos devem percorrer algumas vezes um corredor, por exemplo, ou fazer uma série de três levantadas seguidas da cadeira. Já está mais que bom.
3. Atividade Mental
“É preciso se manter ativo socialmente, se sentir útil, senão a vida perde a graça”, diz Buksman. Para isto, ele afirma que vale cuidar dos netos, ser voluntário depois de se aposentar e principalmente criar, produzir algo novo. Se levarmos em conta que a expectativa de vida do brasileiro é atualmente de quase 80 anos, ainda há muita história pela frente quando se chega aos 60. Não é o caso de se manter inativo, sem nada para criar ou produzir.
Para evitar o envelhecimento acompanhado de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e mal de Parkinson, especialistas indicam exercícios mentais, como leitura, jogos de palavra cruzada, música. “Mas não é para fazer uma coisa ou outra, é preciso exercitar todas as funções cognitivas”, diz Paulo Camiz, geriatra do Hospital das Clínicas.
4. Dieta Saudável
Médicos afirmam que uma dieta pobre em gorduras prolonga a vida. A mais indicada é a dieta mediterrânea. Ao valorizar o consumo de peixe, frutas, verduras, legumes e cereais, e limitar o de carnes vermelhas e laticínios, a dieta evita os quilos extras que vêm com o envelhecimento e reduz os riscos de doenças cardiovasculares.
Conheça alimentos ricos em antioxidantes
FRAMBOESA. Foto: Getty Images
ESTRAGÃO. Foto: Getty Images
NOZES. Foto: Getty Images
PIMENTA VERMELHA. Foto: Getty Images
CHOCOLATE MEIO AMARGO. Foto: Getty Images
MANJERONA FRESCA. Foto: Getty Images
TOMILHO FRESCO. Foto: Getty Images
MOSTARDA AMARELA (SEMENTE). Foto: Getty Images
PIMENTA PRETA. Foto: Getty Images
GENGIBRE EM PÓ. Foto: Getty Images
PIMENTA BRANCA. Foto: Getty Images
CURRY EM PÓ. Foto: Getty Images
COMINHO (SEMENTE). Foto: Getty Images
CACAU EM PÓ. Foto: Getty Images
MANJERICÃO SECO. Foto: Getty Images
NOZ MOSCADA. Foto: Getty Images
SALSA. Foto: Getty Images
AÇAÍ. Foto: Getty Images
BAUNILHA EM FAVA. Foto: Getty Images
AÇAFRÃO-DA-TERRA. Foto: Getty Images
CANELA. Foto: Getty Images
TOMILHO SECO. Foto: Getty Images
ALECRIM SECO. Foto: Getty Images
ORÉGANO SECO. Foto: Getty Images
CRAVO. Foto: Getty Images
FARELO DE SUMAGRE. Foto: Getty Images
FRAMBOESA. Foto: Getty Images
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Moderação também é importante. ”Comer excessivamente também é ruim. É preciso evitar a obesidade, que desencadeia várias doenças: desde as no coração até as artroses, que limitam o idoso e fazem com que ele perca a autonomia”, afirma o geriatra Salo Buksman
5. Vida emocional estável
Estudos mostram que ter uma boa vida em família tem relação com a longevidade. Ter um casamento estável, baseado em uma relação de muito amor e confiança é uma característica comum entre as pessoas longevas. Isto porque a maneira como lidamos com as emoções também conta para a longevidade. “As preocupações e os problemas da vida têm um peso alto na longevidade”, disse Marcelo Levites, médico de Família do Hospital 9 de Julho.
Uma pesquisa recente mostrou que a solidão aumenta o risco de morte de idosos ainda mais que a obesidade. “Vemos que chegar a muitos anos de vida é uma conquista que tem relação muito forte entre a estabilidade no casamento, com a família, além da ausência de eventos de depressão", diz Buksman.
6. Controle rigoroso de doenças degenerativas
Os problemas cardiovasculares e o câncer são as doenças que mais matam no mundo. Além de cuidados com a alimentação e  a prática de atividades física, hábitos como o álcool e o fumo também são fatores de risco. Alguns estudos até atribuem a maior longevidade das mulheres em relação aos homens por causa do menor consumo de álcool e cigarro. “Temos uma população grande que morre antes dos 80, 70 por causa destas doenças”, resume Buksman.