domingo, 21 de outubro de 2012

O inimigo se chama sedentarismo



Uma forma eficaz de combatê-lo é a corrida, que faz 
bem para todo o organismo e não exige equipamentos


Ernani d'Almeida
A atriz Ana Paula Arosio, que há oito anos corre todo dia: "Correr é um comprometimento consigo mesmo, uma forma de ser mais cuidadoso com o corpo e a mente"

O tempo cobra do corpo um preço alto. A partir dos 30 anos, o metabolismo fica mais lento, a capacidade pulmonar diminui, coração e vasos sanguíneos perdem elasticidade. Ossos e articulações tornam-se mais frágeis, o que mais tarde pode comprometer a mobilidade e o bem-estar. Combater de maneira eficaz os efeitos da idade é um dos grandes desafios da medicina. Para os especialistas, o recurso que mais se aproxima de um elixir da juventude é simples: a prática regular de exercícios físicos. Os médicos são unânimes em afirmar que as pessoas que se exercitam vivem mais e com melhor qualidade. Como escolher o exercício ideal? Depende do gosto de cada um, mas os que mais ajudam a melhorar o condicionamento físico e desenvolver a capacidade cardiorrespiratória são os aeróbicos, ou seja, aqueles que fazem suar. No Brasil, o exercício que mais tem adeptos, depois do futebol, é a corrida. Calcula-se que, hoje, 4 milhões de brasileiros corram regularmente. A corrida se tornou um sucesso porque todos podem praticá-la. Tomadas as precauções necessárias em qualquer esporte – como exames cardiológicos e uma avaliação física –, basta colocar um par de tênis apropriado e preparar o fôlego.
Quem corre costuma falar de sua atividade com entusiasmo. A atriz Ana Paula Arosio, de 33 anos, começou a correr em 2001. Ela precisava treinar a respiração para ensaiar uma peça na qual ficava em cena por duas horas, sem interrupção. Desde então, tornou-se fã incondicional da corrida. Diz ela: "Correr é um comprometimento consigo mesmo, uma forma de ser mais cuidadoso com o corpo e a mente. Às vezes corro mais de uma vez por dia, pois nunca sei se no dia seguinte terei tempo disponível". A corrida beneficia o organismo de diversas formas. O médico fisiologista Rogério Teixeira da Silva, coordenador do Núcleo de Estudos em Esportes e Ortopedia, explica: "Correr diminui os riscos de doenças cardiovasculares, respiratórias e das articulações. Além de tudo, ajuda a manter o humor em alta, porque aumenta os níveis de serotonina, neurotransmissor associado às sensações de bem-estar e felicidade. Uma pessoa livre de todos esses problemas certamente vive mais e melhor". A corrida, quando aliada a uma alimentação saudável, torna-se uma das melhores atividades para enxugar as gordurinhas, o que contribui, também, para a boa relação com o espelho.
Muita gente tem dificuldade em conciliar as atividades diárias com a prática de exercícios físicos. Vale a pena tentar, já que os riscos do sedentarismo são consideráveis. A Organização Mundial de Saúde recomenda a prática de, no mínimo, vinte minutos de atividade aeróbica vigorosa – como a corrida – três vezes por semana. O sedentarismo, somado a outros fatores de risco, como o fumo ou os maus hábitos alimentares, pode resultar em doenças como a hipertensão e favorece a ocorrência de derrames. Esses males afetam 23 milhões de pessoas no Brasil e estão entre as principais causas de morte no país.
O arquiteto paulistano Marcelo Faisal, de 47 anos, corre desde os tempos de colégio. Há um ano, passou a abdicar do carro para ir trabalhar – vence correndo os 8 quilômetros do percurso. Faz o mesmo quando vai a locais próximos de sua casa, como o parque e o supermercado. Segundo seus cálculos, hoje ele faz 20% de seus trajetos correndo. Diz ele: "Correr e trabalhar são as minhas duas fontes de juventude. Tive de integrar a corrida à minha rotina de trabalho para não abandonar essa prática, que me faz tão bem". Qualquer folguinha durante o dia é suficiente para dar o primeiro trote. Basta ter força de vontade para começar.

A corrida da boa saúde

Correr é a atividade física cujo número de adeptos mais cresce no país. 
Calcula-se que 4 milhões de brasileiros pratiquem corrida, esporte que 
proporciona benefícios como...
Lailson Santos
O arquiteto Marcelo Faisal, que faz 20% de 
seus trajetos correndo: "É a minha fonte
da juventude"
...JUVENTUDE PROLONGADA
O ritmo de envelhecimento do organismo de um corredor acima de 50 anos é 50% mais lento que o de um sedentário
...MENOR RISCO DE VIDA
A probabilidade de morrer por infartos, derrames e cânceres é 60% menor nas pessoas com mais de 50 anos
...BOM HUMOR
Atividades aeróbicas intensas, como a corrida, reduzem pela metade os sintomas da depressão
...VISÃO PRESERVADA
O risco de sofrer de degeneração macular, a principal causa de cegueira em pessoas com mais de 60 anos, cai 20% para quem corre 2 ou mais quilômetros por dia
...MELHOR CAPACIDADE RESPIRATÓRIA
Ela pode aumentar 50% em comparação ao início do treinamento
...ARTICULAÇÕES SAUDÁVEIS
Problemas articulares, como artrite reumatoide e artroses, manifestam-se, em média, doze anos mais tarde entre corredores

Fontes: Daniel Magnoni, cardiologista e nutrólogo; Maria Cecília Damasceno, 
química médica; Rene Abdalla, ortopedista; e Carlos Hossri, cardiologista


Primo atleta X primo sedentário

Veja submeteu ambos ao teste ergométrico
Fotos Lailson Santos
GABRIEL 
COMPLETOU O TESTE
FLÁVIO 
PAROU NO MEIO
O empresário Gabriel Salomão Neto, de 31 anos, e o arquiteto Flávio Jancowski, de 35, são primos de primeiro grau. Ambos são saudáveis e têm biótipo parecido – mas estilo de vida completamente diferente. Gabriel é esportista. Faz sete horas de ginástica por semana, entre sessões de musculação, pilates, corrida e bicicleta. Flávio é sedentário. Não costuma se exercitar nem mesmo nas horas de lazer com os dois filhos pequenos. A pedido de VEJA, ambos se submeteram a um teste de esforço na esteira com a supervisão de médicos do Hospital do Coração, em São Paulo, para avaliar seu condicionamento físico. Quanta diferença nos resultados.
Gabriel, o esportista, correu por treze minutos, completando as seis etapas do teste. Flávio, o sedentário, abandonou a esteira pouco depois da metade do exame. O consumo de oxigênio de Flávio foi inferior ao do primo, o que mostra que Gabriel está mais bem condicionado. Em repouso, a frequência cardíaca de ambos era de 78 batimentos por minuto. Ao final, a de Gabriel subiu para 192 batimentos, considerada ótima, enquanto Flávio atingiu o limite máximo de segurança antes de completar o teste. A pressão arterial do primo atleta, inicialmente 12 por 7, aumentou para 16 por 7, dentro do esperado. "A pressão sistólica aumentou e a diastólica se manteve, o que significa que o coração bombeou o sangue para as artérias com mais intensidade e eficiência durante o exercício", diz o cardiologista Raul Santos, do Instituto do Coração. A pressão arterial cardíaca de Flávio subiu de 13 por 8, ligeiramente alta, para 18 por 9. "A pressão mínima e a máxima subiram, mostrando que o coração, embora tenha bombeado mais sangue para as artérias, precisou se esforçar muito para fazê-lo", diz Santos. Conclusão: o sistema cardiovascular do primo esportista teve uma resposta mais adequada ao exercício.

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